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SOCIEDADE, ÉTICA E POLÍTICA - Início

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Nesse instante em que o fotógrafo, e eu penso no Cartier Bresson, em que o fotógrafo atravessa a<br />

rua e vê um bêbado se inclinando diante de um gatinho. As suas costas formam um ângulo<br />

perfeito com relação às escadas de incêndio dos prédios atrás. A sua cabeça parece compor como<br />

que um quadro com a figura do gatinho. É como se todo conjunto tivesse se articulado numa<br />

composição perfeita, num ajuste que só aquele instante foi capaz de reunir e que no minuto<br />

seguinte as coisas se dispersariam. O fotógrafo está ali para captar aquele momento de<br />

iluminação, aquele instante de magia em que todas as coisas encontram sua ordem antes de se<br />

dissolverem na desordem do mundo.<br />

Ora, será que o nosso olhar ainda é capaz de se abrir a essa magia? Será que ele ainda é capaz de<br />

registrar esses instantes em que todas as coisas se compõem? O fato do jornalismo é uma procura<br />

de imagens colada à ação. Ele vive do calor da hora. O correspondente de guerra é parecido com<br />

um repórter policial, todos eles estão tomados pela necessidade das emoções brutas no instante<br />

em que tudo se resolve, da violência, do tiro, da guerra.<br />

O Rosto e a Paisagem<br />

Ora, uma exposição em recente. reuniu vários fotógrafos em torno da seguinte questão: Se o<br />

mundo estivesse em paz, o que é que você fotografaria? 99% das fotos mostravam rostos e<br />

paisagens. É como se o fotógrafo, se ele tivesse tempo, ele se abriria pra tudo aquilo que escapa à<br />

ação, pra tudo aquilo que exige contemplação, pra tudo aquilo que exige um olhar mais atento: o<br />

rosto e as paisagens.<br />

A Cena e o Obsceno<br />

Será que as imagens são capazes, quando tudo parece à disposição, de respeitar? Manter as<br />

distâncias que pedem as coisas e as pessoas? Nós vivemos num mundo do Vaierismo, nós<br />

vivemos num mundo do exibicionismo. Será que as imagens são capazes de olhar com pudor? Os<br />

filmes de Kesovisky, só se aproximam das pessoas para mostrar que existem coisas que são<br />

vetadas às imagens. Esses filmes só se aproximam das pessoas, para mostrar que existem limites,<br />

os limites da intimidade, os limites que dividem a vida privada da vida pública. Não por acaso,<br />

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