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objeto e o homem, com livre arbítrio, que vai poder de fato manipular esse objeto constituído,<br />
construído pelo próprio homem.<br />
Contrato Social<br />
Mas há uma última característica e que configura todo o drama do homem burguês. E que chega<br />
a assumir características de tragédia, de certo modo. E essa última característica que é nova,<br />
profundamente burguesa, é o contrato social. Porque realmente se cada homem é um indivíduo e<br />
realiza a seu modo o individualismo, como é que vai se entender a própria possibilidade de uma<br />
vida coletiva, gregária, social, propriamente organizada? Se cada homem é uma ilha, se a minha<br />
liberdade, é uma frase cartesiana, se a minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro,<br />
como é que vai se organizar a sociedade? É um problema pungente e original da burguesia. O que<br />
está em causa de fato, é a idéia de que o burguês faz desse outro lado dele, que ele não tem e que<br />
ele procura suprir através da imaginação, através da utopia. O grande problema está aí. É aqui<br />
que se percebe a crise do burguês que começa já no ponto de partida, como é que o burguês pode<br />
viver de fato coletivamente, dentro de uma sociedade. Porque esse burguês inventa uma<br />
sociedade como uma utopia que um lugar que não tem unidade e que ele nunca a rigor vai<br />
conseguir atingir. Quer dizer, a crise do burguês começa já no nascimento do burguês nesse<br />
sentido, a dimensão coletiva, política do homem de certo modo fica preterida, é uma dimensão<br />
que fica marginalizada. A ética fica prejudicada, vamos voltar ao nosso ponto de partida, em<br />
nome da afirmação da moral e essa moral fica cada vez mais coincidente com a subjetividade do<br />
homem. Então, a partir daí se coloca a questão do contrato social, que encheu bibliotecas durante<br />
dois séculos mais ou menos.<br />
A questão está aí, e vejam bem, no início, quando estava se formando esse projeto burguês, todo<br />
ele, surgiu já o primeiro processo e muito forte com Thomas Hobbes com o Leviatã. Em o<br />
Leviatã, o Tomas Robb parte da idéia de que o homem é o lobo do homem. O homem sendo o<br />
lobo do homem, a vida coletiva, a vida a dois, a vida plural, ela se torna totalmente impossível. E<br />
Hobbes é o primeiro quem diz não, o projeto burguês, são palavras dele evidentemente, não são<br />
palavras minha, o projeto burguês é inexeqüível. Ele não pode ser construído, não pode ser<br />
realizado, se o homem é o lobo do homem. Quer dizer, se cada homem está preso em sua casa,<br />
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