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no cotidiano, o jornal se torna uma espécie de representação contínua e diária do que está se<br />
passando no mundo. Na verdade, Balsac compreendeu um momento, no momento inaugural do<br />
jornalismo, alguns traços, alguns problemas, ou algumas questões, que são questões<br />
extremamente vivas sobre o modo que literatura e jornal se relacionam com a realidade.<br />
Nós podemos dizer que a crítica que Balsac faz do jornalismo, dos jornalistas, em grande parte é<br />
uma defesa do escritor que vê o jornalismo tomar um espaço que era originalmente da literatura.<br />
Porque o jornalista se torna, de um certo modo, o intérprete diário do mundo, tomando, de certa<br />
maneira, o lugar do narrador, do escritor que interpreta a sociedade e, como sabemos, Balsac<br />
tinha um programa de representação da sociedade totalizante, totalizador e, ao seu projeto de<br />
romance, a comédia humana quer nada mais, nada menos do que abarcar toda a sociedade<br />
francesa e todas suas implicações e na verdade, ser uma espécie de Napoleão das letras, como<br />
Balsac mesmo se declarou. Então, o surgimento do jornalismo, com as suas características<br />
próprias, o modo de tratar a realidade, de certo modo avança nesse projeto, que nós podemos<br />
dizer, que certo modo, é hegemônico em Balsac, de querer representar a comédia humana como<br />
um todo. No entanto, diz ele, a comédia humana passa a ser representada nos jornais no dia a dia,<br />
e de certo modo, os jornalistas ao mesmo tempo falando da realidade, falam do mundo e dos<br />
próprios escritores através da crítica literária.<br />
Novos Personagens: os Jornalistas<br />
Então, diz ele, vou escrever um romance que está tratando de um assunto novo, os jornalistas,<br />
personagens que não existiam no tempo de Molière, por exemplo. Mas é preciso tratar desses<br />
personagens porque eles tratam de tudo. É como se fosse assim, é preciso incluir os jornalistas na<br />
comédia humana porque os jornalistas fazem diariamente a sua comédia humana, escrevem a sua<br />
comédia humana, sua versão da comédia humana.<br />
Nós podemos dizer, de fato, que o jornalismo é um para-literatura. No sentido de que é uma<br />
representação da realidade como a literatura também é. Só que o jornalismo segue outras regras<br />
de representação da realidade que, embora não sejam ficcionais, porque ela se propõe a falar da<br />
realidade, de fatos acontecidos, de fatos verídicos, portanto, de reportar a todo tempo ao real, nós<br />
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