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SOCIEDADE, ÉTICA E POLÍTICA - Início

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Balsac, o jornalista é aquele que fomenta as ilusões, cria as ilusões que ele mesmo vai desfazer<br />

depois. Como se ele produzisse valores que ele mesmo se encarrega de destruir. Valores que ele<br />

mesmo engendra, que ele faz nascer, que ele faz fluir.<br />

A Verdade da Imprensa<br />

O que está em questão, portanto, não é a idéia de que teríamos que voltar a uma espécie de<br />

verdade fundamental, como se fosse possível transpor ou conhecer o mundo através de uma<br />

espécie de pureza originária, que estaria, na verdade, e que ela fosse diretamente reportada, não é<br />

disso que se trata. Evidentemente nós sabemos que tanto a arte quanto o jornalismo produzem<br />

versões do mundo que são transformações deles. O que, no entanto, o que me parece, é que a<br />

compreensão disto, a compreensão do caráter ficcional da arte como do jornalismo contribui para<br />

entender melhor o próprio papel do jornalismo e o papel que ele tem na sociedade democrática,<br />

ou seja, a liberdade de imprensa deve estar diretamente ligada ao questionamento e a discussão<br />

da natureza do trabalho da imprensa e do poder que a imprensa tem, que é um poder inteiramente<br />

desigual em relação aos limites da pessoa. O poder que a imprensa tem de criar as suas próprias<br />

realidades.<br />

Vivemos em mundo em que as ilusões foram colocadas em cheque, no mundo das ilusões<br />

perdidas. E ao mesmo tempo vivemos num mundo que só se dá a conhecer, de certo modo,<br />

através de ilusões, através de imagens, através de versões, através de interpretações.<br />

Interpretações que podem nos vir através da arte ou do jornal, através dos meios de massa. Então,<br />

nós não temos ilusões para sustentar e no entanto, só nos sustentamos de ilusões e, é neste ponto<br />

que reside justamente a questão ética fundamental, que consiste numa consciência disto. Na<br />

verdade, o que está se dizendo aqui não é se fazer uma crítica negativa do trabalho do jornalista,<br />

por exemplo, mas ao contrário, levantar uma espécie de consciência de que é um dado<br />

constitutivo do trabalho do jornalista a mediação da ilusão, quer dizer, o jornalista está<br />

trabalhando com a ilusão, ele está trabalhando com ficção. E isso dentro dos moldes do trabalho<br />

jornalístico isto representa um enorme poder. Então, a consciência deste poder e de estar<br />

trabalhando com a ilusão me parece fecunda para a discussão da questão ética que envolve tanto<br />

a arte quanto o jornal.<br />

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