a igreja católica em diálogo - Centro Loyola de Fé e Cultura / PUC-Rio
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espon<strong>de</strong>: “Não me é lícito fazer o que eu quero do que é meu?... Ou então o teu olho é mau por-<br />
que eu sou bom?” Seria injusto o que ele fez? A parábola, no fundo, quer mostrar não somente a<br />
Justiça <strong>de</strong> Deus, livre para promover uma Justiça eqüitativa, e também livre para exercer a miseri-<br />
córdia: “Seria que o teu olho é mal porque eu sou bom?”<br />
A Justiça não consiste <strong>em</strong> dar somente o merecido, mas <strong>em</strong> dar segundo as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
cada um. Aqui tocamos no aspecto humano e social <strong>de</strong> que a Justiça, que v<strong>em</strong> da ética bíblica, nos<br />
convida a praticar. L<strong>em</strong>bro-me <strong>de</strong> que a Encíclica Rerum Novarum foi muito louvada porque re-<br />
comendava o “salário família”, e creio que a Humanida<strong>de</strong> caminhou muito no sentido da justiça<br />
distributiva, sendo esta ainda hoje objeto <strong>de</strong> muitos estudos e n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre posta <strong>em</strong> prática.<br />
Voltando a Bíblia, gostaria <strong>de</strong> comentar um trecho do Evangelho segundo São Lucas, que<br />
aponta um aspecto interessante: “O óbulo da viúva” (Lc 21, 1-4). Segundo as Sagradas Escrituras,<br />
ela <strong>de</strong>positou duas moedinhas no cofre <strong>de</strong> esmolas, on<strong>de</strong> os ricos colocavam, <strong>em</strong> geral, gran<strong>de</strong>s<br />
somas. E Jesus, que vira o gesto, disse: “Esta viúva pobre <strong>de</strong>positou mais que todos os outros, pois<br />
todos tiraram do seu supérfluo para <strong>de</strong>positar nas ofertas, enquanto ela tirou <strong>de</strong> sua pobreza para<br />
<strong>de</strong>positar tudo o que tinha para viver.” Sua atitu<strong>de</strong> é louvada, não pela quantida<strong>de</strong> do dom, mas<br />
pela atitu<strong>de</strong> generosa. O conceito da Justiça, aqui, vai tomando uma conotação moral elevada. A<br />
supr<strong>em</strong>a norma do ato humano é a Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, a Lei <strong>de</strong> Deus, o Caminho do Senhor. Justo é<br />
qu<strong>em</strong> faz o que agrada a Deus.<br />
Com razão, o Salmo 119 faz o elogio da Lei, vendo-a <strong>de</strong> forma otimista, com olhos amoro-<br />
sos, e não como um severo juiz. O salmista pe<strong>de</strong> a Deus luzes e força, para cumpri-la: “Dá enten-<br />
dimento e observarei a tua Lei, e guardarei <strong>de</strong> todo coração” (v.34). Então, o cumprimento da Lei<br />
passa a ser uma alegria: “Delicio-me <strong>em</strong> teus <strong>de</strong>cretos, não esqueço tua palavra” (v.16). “De ti,<br />
senhor, espero a salvação, e a tua Lei constitui minhas <strong>de</strong>lícias” (v.174).<br />
Não é outro o pensamento <strong>de</strong> Isaias, que diz: “O justo é feliz, pois comerá o fruto <strong>de</strong> suas<br />
ações.” Em Ezequiel(3, 1-3), ele recebe a ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> comer o rolo da Lei: “Eu o comi; na minha<br />
boca ele tinha a doçura do mel.” Este sentido <strong>de</strong> Justiça - comportamento humano frente à Lei <strong>de</strong><br />
Deus, e sua recompensa - está presente <strong>em</strong> toda Literatura Sapiencial, especialmente nos Salmos.<br />
“Feliz daquele que t<strong>em</strong> ajuda do Deus <strong>de</strong> Jacó. Ele faz Justiça aos oprimidos, dá pão a qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong><br />
fome. O Senhor abre os olhos dos cegos, levanta os que esmorec<strong>em</strong>. o Senhor protege os migrantes<br />
dá apoio ao órfão e a viúva, mas confun<strong>de</strong> os passos dos maus” (Sl. 146,5).<br />
O Salmo 15 diz: “Senhor, qu<strong>em</strong> habitará na tua montanha santa? O hom<strong>em</strong> da conduta ín-<br />
tegra, que pratica a justiça, não <strong>em</strong>prestou seu dinheiro com usura, nada aceitou para <strong>de</strong>itar a per-<br />
<strong>de</strong>r um inocente. Qu<strong>em</strong> age assim permanece inabalável.” No Salmo 26, encontramos: “Faz-me<br />
Justiça, Senhor, pois minha conduta é íntegra, e confiei no Senhor s<strong>em</strong> vacilar. Senhor, submete-<br />
me a prova. Minha conduta é íntegra, liberta-me, por pieda<strong>de</strong>!” Aqui perguntamos: seria este grito<br />
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