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a igreja católica em diálogo - Centro Loyola de Fé e Cultura / PUC-Rio

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nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1997, teve lugar, no Vaticano, um s<strong>em</strong>inário sobre As raízes do anti-s<strong>em</strong>itismo no<br />

ambiente cristão, organizado pela Comissão Central do Jubileu. Do mesmo modo que reuniões<br />

s<strong>em</strong>elhantes, <strong>de</strong> caráter acadêmico, esta não produziu nenhum documento conclusivo. Seus traba-<br />

lhos, <strong>de</strong> caráter bastante heterogêneo e que foram publicados na revista Tertium Millennium, são<br />

interessantes, mas, a meu ver, um tanto heterogêneos e incompletos.<br />

No dia 16 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1998, a Pontifícia Comissão para o Diálogo Religioso com o Juda-<br />

ísmo, único organismo oficial da Igreja Católica para essa tarefa, <strong>em</strong> nível mundial, publicou o<br />

documento We R<strong>em</strong><strong>em</strong>ber - A Reflection on the Sohah (Nós Recordamos - Uma Reflexão sobre a<br />

Shoah). O título indica claramente que sua finalida<strong>de</strong> não é tanto a <strong>de</strong> buscar responsabilida<strong>de</strong>s,<br />

quanto a <strong>de</strong> preservar uma m<strong>em</strong>ória, que alguns pretend<strong>em</strong> negar. A esse respeito, parece-me que<br />

o primeiro serviço que a Comissão realizou, num t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que se levantam vozes - <strong>de</strong>ntro e fora<br />

da Al<strong>em</strong>anha, inclusive no Brasil, para negar a realida<strong>de</strong> histórica do Holocausto (2) -, foi o <strong>de</strong> reco-<br />

nhecer, s<strong>em</strong> reticências ou meias-tintas, a realida<strong>de</strong> monstruosa daquele acontecimento.<br />

De 23 a 25 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1998, tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar da reunião do International<br />

Jewish-Catholic Liaison Committee, celebrada na Casa Santa Marta, no próprio Vaticano. O refe-<br />

rido documento estava nas mentes <strong>de</strong> todos. O Car<strong>de</strong>al Cassidy, <strong>em</strong> seu discurso <strong>de</strong> boas-vindas,<br />

fazendo-se eco das críticas avançadas contra o documento, perguntou com toda franqueza, aos<br />

participantes ju<strong>de</strong>us, se eles, olhando os passos dados pelos católicos, “estavam fazendo o mesmo<br />

esforço <strong>de</strong> compreensão <strong>em</strong> relação à Igreja Católica e à sua posição, <strong>em</strong> matérias tais como o a-<br />

borto ou a responsabilida<strong>de</strong> pela Shoah”. Com a mesma franqueza, o Dr. Gerhart Riegner, Vice-<br />

Presi<strong>de</strong>nte Honorário do Congresso Judaico Mundial, e Co-Presi<strong>de</strong>nte do nosso encontro, <strong>de</strong>cla-<br />

rou, referindo-se ao documento We R<strong>em</strong><strong>em</strong>ber, que estava profundamente impressionado com duas<br />

passagens: aquela <strong>em</strong> que a <strong>de</strong>claração vaticana é caracterizada como um ato <strong>de</strong> arrependimento<br />

(teshuvá) pelas falhas cometidas pelos filhos da Igreja, <strong>em</strong> qualquer época, e <strong>em</strong> que engaja os<br />

católicos numa ação para que nunca mais se repita nada s<strong>em</strong>elhante à Shoah; e aquela <strong>em</strong> que se<br />

reconhece a triste história do anti-judaísmo <strong>de</strong>senvolvido nos ambientes católicos, ao longo dos<br />

séculos. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, o Dr. Riegner se mostrava insatisfeito porque “o documento não dá<br />

respostas claras e porque evita, <strong>de</strong> modo especial, tomar posição sobre a relação entre os ensina-<br />

mentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo [<strong>em</strong> relação aos ju<strong>de</strong>us] e o clima político e cultural que tornou possível a<br />

Shoah”. Também se queixou, alegando que o documento vaticano não fala da culpabilida<strong>de</strong> da<br />

Igreja, e sim da “dos cristãos” ou “do mundo cristão”. Levantou, finalmente, algumas dúvidas so-<br />

aproveitou alguns parágrafos <strong>de</strong>la <strong>em</strong> sua primeira Encíclica Summi Pontificatus e na radiomensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> 1942, da qual<br />

falar<strong>em</strong>os mais adiante.<br />

(2) Por citar apenas dois nomes, pod<strong>em</strong>os l<strong>em</strong>brar Le Pen, na França, e Castán, no Brasil. São, por outro lado, numerosas<br />

as páginas da Internet, especialmente provenientes dos Estados Unidos, mas também <strong>de</strong> outros países, com a propaganda<br />

neonazista mais <strong>de</strong>scarada, on<strong>de</strong> se nega a realida<strong>de</strong> do Holocausto.<br />

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