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a igreja católica em diálogo - Centro Loyola de Fé e Cultura / PUC-Rio

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forma <strong>de</strong> ética global. O propósito <strong>de</strong> difundi-la no seio <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> diversas religiões constitui-<br />

se um passo importante para a paz mundial, sendo louvável por si só. Igualmente, a colaboração<br />

entre as religiões, contra os <strong>de</strong>srespeitos aos direitos humanos e a injustiça socioeconômica, é ad-<br />

mirável. Tal programa enten<strong>de</strong> o <strong>diálogo</strong> como uma forma <strong>de</strong> lobby ou força-tarefa – ele se difere<br />

do <strong>diálogo</strong> entre nações e corporações, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> motivação, mas não <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> estrutura.<br />

De qualquer forma, isso não implica que todo o <strong>diálogo</strong> precisa se enquadrar <strong>em</strong> um programa, a<br />

fim <strong>de</strong> ser autêntico, por si. Pelo contrário, concordo com meu pre<strong>de</strong>cessor Jan Van Bragt: um dos<br />

objetivos que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> o <strong>diálogo</strong> intelectual é o fato <strong>de</strong> ele existir s<strong>em</strong> objetivo. 1<br />

A insistência pela forma <strong>de</strong> fórum do <strong>diálogo</strong> livre <strong>de</strong> objetivos secundários não contraria es-<br />

ses objetivos, <strong>de</strong> modo algum. Apenas afirma que a clareza <strong>de</strong> pensamento também é servida pelo<br />

ambiente que se distancia das insistentes preocupações do presente. Não há discussão <strong>de</strong> que tal<br />

afastamento é concretamente impotente, carente <strong>de</strong> uma orientação histórica. Dizer que tais fatos<br />

não constitu<strong>em</strong> suas preocupações imediatas, não é dizer que constitu<strong>em</strong> preocupações que não<br />

serão consi<strong>de</strong>rados no <strong>diálogo</strong> ou <strong>em</strong> algum outro fórum. Em outras palavras, a reivindicação do<br />

s<strong>em</strong> propósito só po<strong>de</strong> ser sustentada se consi<strong>de</strong>rarmos o fórum do <strong>diálogo</strong> como um asceticismo<br />

<strong>de</strong>liberado, mas provisório. O <strong>diálogo</strong> intelectual não é um estado permanente <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> religi-<br />

osa, ou mesmo <strong>de</strong> reflexão religiosa. O <strong>diálogo</strong> não t<strong>em</strong> por objetivo ser a plenitu<strong>de</strong> da crença reli-<br />

giosa, junto da prática religiosa. N<strong>em</strong> é, ao menos, um "ingrediente" permanente no simples auto-<br />

conhecimento religioso. O fórum do <strong>diálogo</strong>, por si, auxilia questões mais amplas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

histórica e moralida<strong>de</strong>, porque a ativida<strong>de</strong> do fórum não está subordinada a nada. Como um jogo<br />

que per<strong>de</strong> sua qualida<strong>de</strong> quando é submetido a algum propósito além do próprio jogo, o <strong>diálogo</strong><br />

floresce <strong>em</strong> sua falta <strong>de</strong> propósito.<br />

Por essa razão, é um erro consi<strong>de</strong>rar o envolvimento no <strong>diálogo</strong> como o trabalho <strong>de</strong> especialis-<br />

tas treinados. O <strong>diálogo</strong> t<strong>em</strong> mais êxito como resultado da experiência, do que da perícia. Tentati-<br />

vas <strong>de</strong> estabelecer "regras básicas" específicas para o discurso inteligente, entre crentes <strong>de</strong> diferen-<br />

tes fés, geram inevitavelmente um sacerdócio <strong>de</strong> peritos para monitorar os resultados dos encon-<br />

tros e avaliar seu sucesso ou fracasso. Para evitar isso, é preciso enten<strong>de</strong>r o <strong>diálogo</strong> como um b<strong>em</strong>,<br />

cujo propósito é não estar voltado a nenhum outro propósito.<br />

Sutra IV - O <strong>diálogo</strong> é seletivo quanto à tradição, e po<strong>de</strong> até mesmo requerer a dispensa<br />

completa da tradição<br />

Quando uma tradição doutrinal encontra outra, não há obrigação <strong>de</strong> representar a totalida<strong>de</strong><br />

1 Jan Van Bragt, A ;î Á Ê u “Û B (Questões no <strong>diálogo</strong> inter-religioso), Nanzan Institute for Religion and<br />

Culture, ed.; C ;î o k 5 :;î u Á Ê D (Religião e cultura: O <strong>diálogo</strong> entre religiões). Kyoto: Jinbun Shoin, 1994, 45.<br />

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