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a igreja católica em diálogo - Centro Loyola de Fé e Cultura / PUC-Rio

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da<strong>de</strong>-esperança <strong>de</strong> ruas tomadas por um povo dançante, b<strong>em</strong> alimentado pelo milho e aquecido<br />

pelas fogueiras (a propósito: por que a eucaristia não é celebrada com a comida simples daqui, que<br />

é o milho, como o pão <strong>de</strong> trigo era para Jesus e os europeus – ou o arroz é para os asiáticos?!).<br />

Tudo isso po<strong>de</strong> estar <strong>de</strong>saparecendo na socieda<strong>de</strong> que se mecaniza nas cida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> todo<br />

símbolo popular é transformado <strong>em</strong> espetáculo funcional e até as quadrilhas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser dança<br />

para todos (v<strong>em</strong> daí, inclusive, a sua música, forró: “for all”) e passam a ser “estilizadas”: um<br />

show “<strong>em</strong>presarialmente” tratado para o povo assistir. Mas resta a lição: ao anunciarmos a santida-<br />

<strong>de</strong> maior <strong>em</strong> Jesus Cristo, precisamos consi<strong>de</strong>rar a cultura ambiente e a saú<strong>de</strong> do povo – que do<br />

contrário fica mesmo é com São João do carneirinho, protetor do roçado e do rebanho, e com seus<br />

colegas José, Antônio e Pedro, encarregados <strong>de</strong> arrumar<strong>em</strong> chuva, casamento e casa. Através <strong>de</strong>les<br />

se busca (<strong>de</strong> um <strong>de</strong>us regulador e meio distante) soluções extraordinárias e individuais para as a-<br />

meaças sofridas da natureza ou dos po<strong>de</strong>rosos.<br />

Mas o recurso mágico ao santo po<strong>de</strong> também ser seguimento da sua vida ex<strong>em</strong>plar e <strong>em</strong>an-<br />

cipadora. Se estivermos junto ao povo, po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os passar da <strong>de</strong>pendência do milagre “sobrenatu-<br />

ral” que traz benefício do “santo”, para a crença na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sermos igualmente “santos” e<br />

capazes <strong>de</strong> fazer das nossas vidas um milagre “mais-que-natural” para a vida dos outros – pelo<br />

amor, que é (<strong>de</strong>) Deus! E disso São João é boa test<strong>em</strong>unha – e uma test<strong>em</strong>unha mais abrasileirada<br />

do que a santida<strong>de</strong> duplamente tri<strong>de</strong>ntina que se nos apresenta hoje como nossa (não imagino a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que as meninas e meninos da minha rua possam encontrar nessa santa <strong>de</strong> Trento, cha-<br />

mada Paulina, e n<strong>em</strong> entendo a razão <strong>de</strong> um bispo católico-brasileiro lutar na justiça para apresen-<br />

tar a mesma na “parada gay” do <strong>Rio</strong> – sendo revelador o pronunciamento do organizador <strong>de</strong>ssa<br />

parada: “O evento é uma manifestação <strong>de</strong> alegria e essa santa não combina”).<br />

“Recordam do filósofo que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> conhecer as favelas do<br />

<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> Janeiro, levado ao Cristo Re<strong>de</strong>ntor, saiu-se com esta:<br />

‘É triste que uma cida<strong>de</strong> tão <strong>de</strong>sumana tenha por cartãopostal<br />

um hom<strong>em</strong> que foi tão humano’?! Como é que a gente<br />

po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> Jesus, <strong>em</strong> meio a relações sociais – e eclesiais –<br />

tão <strong>de</strong>sumanas? L<strong>em</strong>bram daquela autorida<strong>de</strong> eclesiástica<br />

que proibiu a fala teologal da Beija-Flor quando tentou mostrar<br />

‘O luxo do lixo’, clamando por uma nova estética e nova<br />

ética – a partir do avesso do tecido social –; e aí quis botar<br />

justamente o Cristo Re<strong>de</strong>ntor na avenida, ele que é tão visto<br />

dos morros do <strong>Rio</strong>, para <strong>de</strong>sfilar na festa <strong>de</strong> Carnaval?! O<br />

coitado do santo teve <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> ‘fantasia’ – e Deus não se vê<br />

com os olhos da cara, mas com os da fantasia mesmo. Desfilou,<br />

ainda que coberto e amarrado, com um cartaz pendurado<br />

no peito que dizia: ‘Mesmo proibido, olhai por nós’...” 13<br />

13 ARAGÃO, G. O pluralismo religioso. In: SUESS, P. Os confins do mundo no meio <strong>de</strong> nós. São Paulo: Pau-<br />

linas, 2000, (135-162), p. 144.<br />

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