a igreja católica em diálogo - Centro Loyola de Fé e Cultura / PUC-Rio
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íblico, foi e é o da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os seres humanos, criados à imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança <strong>de</strong> Deus.<br />
Pelo contrário, o antijudaísmo preten<strong>de</strong> introduzir um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> discriminação com base na fé,<br />
consi<strong>de</strong>rando o povo ju<strong>de</strong>u – não a raça – como se tivesse sido rejeitado por Deus <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência<br />
da não-aceitação da mensag<strong>em</strong> do Cristo. Creio que a fronteira entre ambas concepções n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>-<br />
pre aparece muito clara, já que com freqüência se t<strong>em</strong> passado <strong>de</strong> uma à outra. A prova está <strong>em</strong><br />
que, na Península Ibérica, a questão da “pureza do sangue” (com fortes conotações racistas, anti-<br />
s<strong>em</strong>itas) foi levantada após a expulsão dos ju<strong>de</strong>us. Um ato que, nas suas motivações explícitas, era<br />
<strong>de</strong> antijudaísmo. As <strong>de</strong>nominações “cristão novo” ou “marrano”, por ex<strong>em</strong>plo, parec<strong>em</strong> ocultar<br />
certa dose <strong>de</strong> racismo, <strong>em</strong>bora s<strong>em</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma teoria biológica explícita, que não é<br />
própria daquela época. Mas não se po<strong>de</strong> esquecer que, enquanto o anti-s<strong>em</strong>itismo via, na elimina-<br />
ção física do ju<strong>de</strong>u, a meta almejada, o antijudaísmo pretendia a conversão e a integração <strong>de</strong>le na<br />
socieda<strong>de</strong> cristã, ou sua expulsão, como se fosse um corpo estranho.<br />
Pelo que diz respeito à relação entre os ensinamentos dos cristãos – não só dos católicos,<br />
mas, <strong>em</strong> maior ou menor medida, <strong>de</strong> todas as Igrejas cristãs – e o Holocausto, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os reconhecer<br />
que o antijudaísmo gerou um clima cultural <strong>em</strong> que as consciências ficaram como que adormeci-<br />
das perante às violências cometidas contra os ju<strong>de</strong>us. Parece-me, porém, absolutamente fora <strong>de</strong><br />
propósito chegar a ver nele a causa direta do Holocausto. Basta indicar, a esse respeito, que o na-<br />
zismo rejeitava explicitamente o Cristianismo, o qual, na concepção hitlerista, era visto como um<br />
subproduto do Judaísmo, pelo que também <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>saparecer. A exaltação dos velhos mitos pa-<br />
gãos germânicos, recolhidos, por ex<strong>em</strong>plo, nas óperas <strong>de</strong> Wagner, mostra claramente qual era a<br />
meta almejada: um neopaganismo puramente mítico, s<strong>em</strong> outra crença que a pretensa superiorida-<br />
<strong>de</strong> da raça ariana. Faltou, certamente, visão aos cristãos para compreen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> essa relação manifes-<br />
ta entre a perseguição nazista e o caráter visceralmente anticristão do próprio nazismo, expressa-<br />
mente consignado no Mein Kampf, <strong>de</strong> Hitler. Houve uma minoria <strong>de</strong> clérigos e inclusive alguns<br />
Bispos, como o Car<strong>de</strong>al Innitzer, Arcebispo <strong>de</strong> Viena, que, num momento inicial, se <strong>de</strong>ixaram ar-<br />
rastar pelo patriotismo pangermânico, s<strong>em</strong> enxergar<strong>em</strong> a i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> base neopagã, absolutamente<br />
inaceitável. Do mesmo modo, também houve os que, como os Car<strong>de</strong>ais Von Gallen e Faulhaber, se<br />
opuseram abertamente ao avanço do nazismo, sendo con<strong>de</strong>nados pelo regime a um ostensivo os-<br />
tracismo. O probl<strong>em</strong>a que, a meu ver, se po<strong>de</strong> e se <strong>de</strong>ve apresentar é o <strong>de</strong> saber se os séculos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sprezo e <strong>de</strong> insultos ao povo ju<strong>de</strong>u, por parte dos cristãos, <strong>em</strong> geral - não só dos católicos, mas<br />
também dos outros cristãos, protestantes e ortodoxos -, não acabaram por gerar um clima <strong>em</strong> que<br />
as consciências ficaram adormecidas, possibilitando o surgimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias anti-s<strong>em</strong>itas, como<br />
a nazista.<br />
O ponto on<strong>de</strong> se concentrou a polêmica sobre esta questão, nos últimos t<strong>em</strong>pos, é o da atu-<br />
ação do Papa Pio XII, durante a Segunda Guerra Mundial. É curiosa a mudança <strong>de</strong> valoração das<br />
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