a igreja católica em diálogo - Centro Loyola de Fé e Cultura / PUC-Rio

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Editorial O diálogo entre as religiões sempre esteve presente no conjunto de atividades do Centro Loyo- la. Datam da fundação do Centro os ciclos Diálogo Judeu-Cristão e Fé em Diálogo, que se ocupa- vam das questões inerentes a essa experiência tão enriquecedora. Por isso, a alegria que cerca o lançamento deste número da Revista Magis. Os textos apresentados pretendem levar o leitor a um passeio pelas características próprias de uma atitude dialogal: a descoberta do que aproxima, o respeito gerado pelo conhecimento mútuo e a construção de iniciativas comuns. Pe. Jesús Hortal Sánchez, SJ, reitor da PUC-Rio, e Ir. Alda, da congregação Nossa Senhora de Sion, assinam, respectivamente, o primeiro e o segundo texto desta Revista, que falam de questões próprias do Diálogo Judaico-Cristão. São textos escritos por duas personalidades ativas neste diá- logo específico, sempre dispostas a colaborar nas iniciativas que fazem aproximar o Cristianismo daquela religião que foi o berço do próprio Jesus Cristo. O terceiro texto, cujo tema é inédito em publicações do Centro Loyola, trata do diálogo entre o Cristianismo e o Budismo. Escrito pelo Pe. James Heisig, svd, que vive no Japão e trabalha no Instituto Nazan de Filosofia, pesquisando, especificamente, as questões que regem esta aproxima- ção, por muitos impensada. Em 2001, Pe. James Heisig esteve no Brasil, tendo proferido algumas conferências na PUC-Rio e no Centro Loyola sobre o mesmo tema. Naquela ocasião, foram apresentados os pontos de identidade entre as duas religiões, assim como as atitudes fundamentais para o diálogo entre as mesmas e que, agora, são relatados em seu texto “Seis Sutras no Diálogo entre Religiões.” Por fim, o último texto, de Gilbraz Aragão, não trata propriamente do diálogo interreligioso. “A Igreja na Cidade Pós-Moderna” é um chamado a uma nova postura da Igreja Católica, presente nas grandes cidades. Considerando as características pós-modernas da sociedade urbana, o autor percorre as necessidades de uma nova ação pastoral que venha ao encontro dos anseios típicos desse grupo social. O texto termina enfatizando o diálogo - entre as ciências, as religiões e os seres hu- manos – como ponto central para um encontro efetivo e transformador da realidade. Esperamos, pois, que esta Revista seja um incentivo ao incremento de uma cultura dialogal, alicerçada na certeza da construção de uma nova realidade, mais fraterna e justa. Boa leitura! A Equipe 4
A Igreja Católica frente à Shoah Reflexões por ocasião do Documento da Pontifícia Comissão para o Diálogo Religioso com o Judaísmo We Remember Pe. Jesus Hortal, S.J. Reitor da PUC-Rio Comecemos por uma afirmação, que pode parecer óbvia, mas que não deve deixar de ser feita: Todos nós, cristãos ou judeus, por exigência intrínseca do nosso ser humano e da nossa fé, não podemos deixar de olhar o racismo e suas nefastas conseqüências senão como algo intrinse- camente perverso. Sem dúvida, o Holocausto, a espantosa tentativa de eliminação física de um povo, pelo simples fato de pertencer ao que era considerado uma “raça inferior”, é uma das maio- res aberrações da História contemporânea. Infelizmente, não é a única. As inumeráveis vítimas dos regimes totalitários, especialmente da Alemanha hitlerista e da União Soviética stalinista, o massa- cre dos armênios pelos turcos, o genocídio contra o povo cambojano, durante o regime do Khmer Rouge, a eliminação de populações indígenas inteiras, não apenas nas Américas, mas também em outros lugares, como a Austrália e a Tasmânia, a escravidão das populações africanas, a brutal se- gregação do apartheid, afortunadamente abolido, o injusto regime de castas que, embora legalmen- te abolido, perdura na vida cotidiana da Índia, são alguns exemplos de que aquilo que chamamos civilização moderna não é a maravilha que muitos pensam ser. Inclusive recentemente temos assis- tido e ainda estamos assistindo à “limpeza étnica” de territórios onde tradicionalmente conviviam etnias, línguas e religiões diferentes. Nenhuma dessas tragédias pode ser esquecida. Ao contrário, devemos lembrar de todas e ficarmos sempre vigilantes, a fim de cortar pela raiz qualquer tentativa de espalhar ideologias ou concepções que possam conduzir a experiências tão amargas, como as citadas. Logicamente, cada um olha com maior atenção para os fatos que lhe dizem respeito mais diretamente. A Encíclica Tertio Millennio Adveniente, escrita como preparação para o Grande Jubileu do ano 2000, convida- nos a um exame de consciência sincero sobre as falhas dos cristãos, como preparação inaugural do Terceiro Milênio. Nesse contexto, a Igreja Católica, que já condenara em numerosas ocasiões o racismo (1) , voltou-se, de modo especial, para o anti-semitismo. De 30 de outubro a primeiro de (1) A 25 de março de 1928, um Decreto do Santo Ofício condenava o anti-semitismo: AAS 20 (1928) 103-104. Em 1937, o Papa Pio XI publicou a Encíclica Mit Brennender Sorge, excepcionalmente escrita em alemão, para que não houvesse a mínima dúvida sobre seus destinatários, onde declarava: “Quem toma a raça, o povo ou o Estado... ou qualquer outro valor fundamental da comunidade humana... separando-o da escala de valores... e os diviniza mediante um culto idolátrico, perverte e falsifica a ordem das coisas, criada e estabelecida por Deus.” A 13 de abril de 1938, a Sagrada Congregação (do Vaticano) para os Seminários e Universidades, dirigiu, por ordem do mesmo Papa, uma carta aos os Reitores e Decanos de Faculdades, impondo a todos os professores de Teologia a obrigação de refutar, segundo o método próprio de cada disciplina, as pseudoverdades científicas com as quais o regime nazista tentava justificar sua ideologia racista. Pio XI não chegou, porém, a concluir uma grande Encíclica, iniciada já em 1937, sobre a unidade do gênero humano, que representaria a condenação mais solene do racismo. Seu sucessor, Pio XII não chegou a completá-la, mas 5
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