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a igreja católica em diálogo - Centro Loyola de Fé e Cultura / PUC-Rio

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da<strong>de</strong> do espetáculo, sobressa<strong>em</strong> as técnicas <strong>de</strong> colag<strong>em</strong> e reciclag<strong>em</strong>, favorecidas pelo imediatismo<br />

das trocas, das migrações humanas e viagens <strong>de</strong> turismo, da circulação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> imagens,<br />

informações e mercadorias. Mas trata-se também <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> baseada nas re<strong>de</strong>s e conexões,<br />

no conhecimento e na liberda<strong>de</strong>, que permite até a passag<strong>em</strong> “do uni-verso para o multi-verso”<br />

como lugar da realida<strong>de</strong> humana e horizonte do seu conhecimento. Com esta consciência da “uni-<br />

multiplicida<strong>de</strong>” ressurge o apreço pelo divino e a abertura para a transcendência, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ela<br />

parta da imanência e do humano – que está “entre a célula e o céu, o dna e Deus...”.<br />

Para explicar a transição pela qual passamos já faz umas três décadas, pod<strong>em</strong>os, como na<br />

canção do xará à epígrafe, recorrer ao I Ching: os filósofos chineses viam a realida<strong>de</strong>, a cuja essên-<br />

cia primária chamaram Tao, como um processo <strong>de</strong> contínua mudança, sustentado pelos pólos ar-<br />

quetípicos Yin e Yang – relacionados aos modos <strong>de</strong> conhecimento intuitivo e racional, respectiva-<br />

mente. Segundo essa abordag<strong>em</strong>, o drama da nossa civilização é que favoreceu o Yang <strong>em</strong> <strong>de</strong>tri-<br />

mento do Yin, a mente <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento do corpo, a matéria <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento do espírito, o instrumen-<br />

tal <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento do comunicativo, a socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da natureza, o masculino <strong>em</strong> <strong>de</strong>tri-<br />

mento do f<strong>em</strong>inino.<br />

Contudo, alicerçada numa revolução tecnológica <strong>em</strong> curso, uma série <strong>de</strong> movimentos soci-<br />

ais <strong>de</strong> contracultura, da ecologia ao f<strong>em</strong>inismo, v<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvendo um processo <strong>de</strong> mutação cul-<br />

tural, com o suporte da física mo<strong>de</strong>rna (matéria é energia e portanto tudo na vida está interligado e<br />

toda evolução é in<strong>de</strong>terminada, relativa) e da teoria sistêmica (os sist<strong>em</strong>as vivos são organizados<br />

<strong>de</strong> modo que formam estruturas que constitu<strong>em</strong> um todo <strong>em</strong> relação a suas partes, e uma parte<br />

relativamente a todos maiores). O hom<strong>em</strong> olha a terra do espaço e o que antes parecia dividido,<br />

revela-se: um planeta, uma humanida<strong>de</strong>, muitos probl<strong>em</strong>as sinergicamente relacionados.<br />

E a questão primeva da sobrevivência, da vida na Terra, coloca-se <strong>de</strong> maneira crucial e<br />

pungente. Tanto <strong>em</strong> termos ambientais, no sentido da necessida<strong>de</strong> da manutenção e impl<strong>em</strong>ento do<br />

equilíbrio <strong>de</strong> toda a vida, quanto <strong>em</strong> termos éticos, face às gran<strong>de</strong>s e impon<strong>de</strong>ráveis <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

entre diversos grupos humanos; e também existenciais, consi<strong>de</strong>rando-se a felicida<strong>de</strong> e o conheci-<br />

mento, e a busca <strong>de</strong> novos termos para o seu <strong>de</strong>senvolvimento, fora do âmbito restrito do consumo<br />

e da sobrevivência material. A lógica <strong>de</strong> auto-eco-organização passa a permear todos os campos do<br />

saber e um novo paradigma científico se <strong>de</strong>lineia. Nele as noções <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência e autonomia<br />

são essenciais e o que importa não é alcançar um conhecimento geral, uma teoria unitária, mas<br />

estabelecer vínculos, articulações.<br />

Cresce a consciência da <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, da não-linearida<strong>de</strong>, da diferença, da necessida<strong>de</strong><br />

do <strong>diálogo</strong>, da polifonia, da complexida<strong>de</strong>, do acaso, do <strong>de</strong>svio. Faz-se uma avaliação ampla do<br />

papel construtivo da <strong>de</strong>sord<strong>em</strong>, da auto-organização e uma re-significação profunda das idéias <strong>de</strong><br />

crise e caos, compreendidas mais como informações complexas, do que como simples ausência <strong>de</strong><br />

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