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a igreja católica em diálogo - Centro Loyola de Fé e Cultura / PUC-Rio

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eclamam freqüent<strong>em</strong>ente que o <strong>diálogo</strong> é uma tentativa camuflada <strong>de</strong> fundir tradições religiosas<br />

existentes, uma na outra, <strong>em</strong> seus pontos <strong>de</strong> contato. Por outro lado, os críticos da predominância<br />

da presença cristã no <strong>diálogo</strong> se queixam <strong>de</strong> que essa é uma tentativa camuflada <strong>de</strong> converter ou-<br />

tras religiões à doutrina cristã, ou pelo menos ao modo cristão <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r doutrina.<br />

O <strong>diálogo</strong> intelectual, como insisti anteriormente, é s<strong>em</strong>pre mais do que um fórum para o <strong>de</strong>-<br />

bate intelectual ou a troca <strong>de</strong> informações entre especialistas versados. Não é meramente sobre<br />

religião, segundo o modo da filosofia, da sociologia, da psicologia ou da história da religião, mas,<br />

<strong>em</strong> um sentido importante, é por si um ato religioso - um exercício da fé. Todavia, isso não implica<br />

na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mudança <strong>de</strong> afiliação ou qualquer outra tentativa <strong>de</strong> ajustar os compromis-<br />

sos institucionais anteriores dos indivíduos. A experiência do <strong>diálogo</strong> po<strong>de</strong>, é claro, incitar uma<br />

conversão <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada religião estabelecida para outra, ou simplesmente uma conversão que<br />

afaste <strong>de</strong> uma religião estabelecida. Mas tais conseqüências não se constitu<strong>em</strong> a preocupação do<br />

<strong>diálogo</strong>. Ocorr<strong>em</strong> fora <strong>de</strong>le, no mundo repleto <strong>de</strong> tradição e prática religiosas, on<strong>de</strong> as condições<br />

austeras do <strong>diálogo</strong> não têm influência.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po, é preciso admitir que <strong>de</strong>ntro dos parâmetros do <strong>diálogo</strong>, diferenças <strong>de</strong> cren-<br />

ças que separam uma religião da outra são geralmente ignoradas. Em termos <strong>de</strong> interação entre<br />

diferentes <strong>igreja</strong>s cristãs engajadas <strong>em</strong> religiões como o Budismo, é verda<strong>de</strong> que há um certo clima<br />

<strong>de</strong> ecumenismo espontâneo que predomina e põe <strong>de</strong> lado preocupações secundárias, que tirariam<br />

<strong>de</strong> curso todo o funcionamento <strong>de</strong> um colóquio entre religiões. Embora o sectarismo budista seja<br />

muito diferente do que se encontra no mundo cristão, e o progresso do movimento ecumênico in-<br />

tra-budista ainda esteja engatinhando, esse sectarismo n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é pertinente e com freqüência<br />

precisa ser negligenciado, <strong>em</strong> prol do esclarecimento do assunto <strong>em</strong> discussão. Não há nenhuma<br />

razão, <strong>em</strong> princípio, para que este hábito, bastante comum no <strong>diálogo</strong> intelectual, seja levado para<br />

a esfera mais ampla da teoria e da prática religiosas, <strong>em</strong>bora não seja impossível que o que se t<strong>em</strong><br />

observado no <strong>diálogo</strong> não <strong>de</strong>va fazê-lo também. Repetindo, as condições do <strong>diálogo</strong> não geram<br />

n<strong>em</strong> inib<strong>em</strong> <strong>de</strong>cisões posteriores sobre dar fim a disjunções sectárias antiquadas, ou mesmo a fusão<br />

<strong>de</strong> religiões diferentes <strong>em</strong> alguma forma nova <strong>de</strong> religião. Para ser<strong>em</strong> avaliadas, tais <strong>de</strong>cisões re-<br />

quer<strong>em</strong> muito mais do que as ferramentas do <strong>diálogo</strong> intelectual - e o distanciamento <strong>de</strong>liberado do<br />

<strong>diálogo</strong> apenas acentua esse fato.<br />

A esse respeito, é bom <strong>de</strong>scartar aqui a crítica <strong>de</strong> que o Cristianismo, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> seu mono-<br />

teísmo, ten<strong>de</strong> a promover um exclusivismo e um conflito entre religiões que são alheias ao inclusi-<br />

vismo inveterado e à aproximação harmoniosa das religiões orientais não-monoteístas. No Japão, o<br />

argumento é usado para apoiar a alegação <strong>de</strong> que a difusão do Cristianismo, com sua suposição <strong>de</strong><br />

que religião requer que cada indivíduo afirme sua afiliação a uma instituição e negue sua afiliação<br />

a qualquer outra, é responsável pela política <strong>de</strong> separar Xintoísmo e Budismo, inaugurada no pri-<br />

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