Revista Sinais Sociais N19 pdf - Sesc
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pó. A descrição de um fenômeno singular na época e no lugar ganha<br />
essa amplitude e esse alcance ao ser tratado como mais do que mera<br />
exposição, mas como ferramenta de conhecimento, como conceito.<br />
Só um autor de primeira ordem sabe fazer isso sem cair no palavrório<br />
oco, na criação de rótulos vazios para as coisas.<br />
A referência a Celso Furtado permite assinalar uma raiz dessa capacidade<br />
singular dos grandes autores. É a sua versatilidade, sua capacidade<br />
para examinar o mundo por diversos ângulos e converter esse exame<br />
diferenciado e ágil naquilo que importa: a formulação de problemas<br />
relevantes. Ser colônia significa ser arcaico? Construir instituições<br />
democráticas significa ser democrata? É possível modernizar-se com<br />
baixa industrialização? Um mundo social amarrado pelos finos fios<br />
de relações face a face tem como resistir à mudança? Tantas questões<br />
que, se não feitas e não examinadas, nos deixam desamparados na<br />
busca da compreensão do mundo em que vivemos agora e paralisados<br />
na tentativa de intervir nele.<br />
Essa versatilidade está presente em todos os autores estudados neste<br />
número da <strong>Sinais</strong> <strong>Sociais</strong>. (De passagem, em Celso Furtado ela é literal.<br />
Afinal, quantos casos se conhecem de alguém que ocupa o Ministério<br />
do Planejamento em um momento e o Ministério da Cultura em<br />
outro?) Caio Prado Jr. fazia historiografia, fazia geografia, examinava a<br />
economia, conhecia jurisprudência e conseguiu juntar tudo isso em<br />
uma decisão corajosa sob todos os pontos de vista: a adoção de uma<br />
perspectiva de análise contestada quando não ignorada que, no seu<br />
entender, oferecia elementos para pensar as questões da constituição<br />
histórica e das tendências da sociedade brasileira de modo integrado.<br />
De certo modo, Gilberto Freyre, antropólogo e sociólogo visceral, faz<br />
o caminho inverso: pulveriza tudo em microrredes de relações, examina<br />
com genuíno afeto temperado com boa disciplina do método os<br />
menores desvãos daquilo que, para ele, era o lugar onde tudo tomava<br />
forma. Legou-nos não poucas questões perturbadoras. Sérgio Buarque<br />
é examinado aqui por um ângulo de importância e atualidade centrais:<br />
a da democracia. E, neste ponto, vale a pena ficar atento para<br />
um aspecto da análise aqui apresentada, feita por quem é mestre nes-<br />
12<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº19 | p. 1-128 | mAio > AgoSto 2012