Revista Sinais Sociais N19 pdf - Sesc
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encontra na discussão sobre o lugar e o papel do escravo africano no<br />
processo de constituição da sociedade brasileira. Em Casa-grande &<br />
senzala, livro em que o tema aparece de forma mais desenvolvida, a<br />
refutação das teses racistas e daquelas que superestimam o papel do<br />
indígena na formação nacional está apoiada em três pontos principais.<br />
No primeiro, via resgate dos traços psicossociais do negro, o autor<br />
aponta para a não inferioridade em relação aos brancos e ressalta sua<br />
adaptabilidade ao trópico. No segundo, por meio do levantamento<br />
dos elementos culturais africanos que fazem parte da formação nacional,<br />
procura demonstrar o resultado desse processo na constituição<br />
da sociedade brasileira, marcada por antagonismos em equilíbrio. No<br />
terceiro, buscando conferir-lhe lugar central na configuração da sociedade<br />
brasileira, qualifica o africano como colonizador, dando ênfase<br />
ao papel civilizador por ele desenvolvido.<br />
Em relação a esses pontos, inquire criticamente várias das interpretações<br />
do Brasil que antecedem sua reflexão. Discutindo com os indigenistas,<br />
afirma que as raízes da população brasileira estão assentadas<br />
nas três raças – ibérica, indígena, negra – sendo que os tipos eugênicos<br />
provêm antes do africano do que do índio. Argumenta contra os<br />
racistas mostrando a anticientificidade da tese da superioridade ou<br />
inferioridade de uma raça sobre outra. Ataca diretamente a explicação<br />
de Oliveira Vianna, que teria abordado a população africana de<br />
modo homogêneo, não considerando sua proveniência diferenciada<br />
segundo as diversas regiões da África. Nessa argumentação aponta sua<br />
diferenciação interna, em termos de complexidade cultural, acentuando<br />
a originalidade de sua própria tese: “Ideia extravagante para os<br />
meios ortodoxos e oficiais do Brasil, essa do negro superior ao indígena<br />
e até do português, em vários aspectos de cultura material e moral”<br />
(FREYRE, 1933, p. 305).<br />
A forma pela qual Gilberto Freyre aborda o avanço científico operado<br />
pela sociologia e pela antropologia é a discussão dos limites<br />
explicativos da sociobiologia, principalmente no que diz respeito à<br />
afirmação da transmissão dos caracteres adquiridos e da determinação<br />
do meio. Nessa direção, são criticadas as análises baseadas<br />
em Nina Rodrigues que consideram convergentes caracteres físicos<br />
e mentais. No sentido de construir positivamente o diálogo, lembra<br />
a plasticidade do negro, sua maior possibilidade de adaptação, pois<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº19 | p. 60-87 | mAio > AgoSto 2012<br />
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