Revista Sinais Sociais N19 pdf - Sesc
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a outro da cultura política; os processos de diferenciação social e de<br />
democratização foram gerando aos poucos uma nova cultura política,<br />
já não ibérica, mas também distinta da cultura individualista e liberal<br />
predominante no mundo anglo-saxão. Se isso é verdade, há que se<br />
dar sequência à reflexão de Raízes do Brasil, buscando fazer o esboço<br />
dessa nova cultura política e das afinidades e tensões que apresenta<br />
em relação ao processo de democratização em curso.<br />
No que diz respeito a esse processo mesmo de democratização, ele<br />
vem sendo extremamente lento e parcial. A “nossa revolução”, identificada<br />
nos anos 1930 por Sérgio Buarque, continuou se desenvolvendo;<br />
a industrialização incorporou e gerou camadas sociais novas que, por<br />
longo tempo, não foram incluídas plenamente na competição política.<br />
Seguramente, na experiência democrática limitada posterior à Segunda<br />
Guerra Mundial, a competição política incorporou de modo subalterno<br />
parte dessas camadas sociais, mas não as mais pobres e iletradas. Essa<br />
inclusão política muito parcial, promovida por parcela da elite política,<br />
foi percebida como ameaça anárquica e, de novo, o poder se concentrou<br />
em uma ditadura, não caudilhesca, mas do establishment militar.<br />
Só o processo de liberalização política dos anos 1970 e o movimento<br />
de democratização dos anos 1980 quebrariam o ciclo polarizado do<br />
poder oligárquico, oscilante entre a descentralização liberal e o autoritarismo<br />
centralizador. A democratização plasmada na Constituição de<br />
1988 ampliou os direitos políticos (voto para os analfabetos e para os<br />
maiores de 16 anos); garantiu os direitos de associação e a liberdade<br />
de expressão; universalizou também os direitos sociais, de educação,<br />
saúde, previdência e assistência social, incluindo camadas sociais até<br />
então excluídas desses direitos; fez do concurso público a principal via<br />
de acesso ao quadro administrativo do Estado, aumentou o controle<br />
da atividade do Estado pelo fortalecimento do ministério público e<br />
instituiu uma forma democrática de governo.<br />
A onda democratizante foi seguida de um processo de liberalização<br />
econômica que reduziu o peso do Estado na vida material e franqueou<br />
o mercado nacional para empresas estrangeiras. Esse processo acabou<br />
por reorganizar e acelerar o desenvolvimento capitalista no Brasil. Os<br />
dois processos – de democratização e de liberalização econômica – se<br />
materializaram em uma nova ordem política, estruturada, desde 1995,<br />
por uma forma de Estado moderadamente liberal e democratizante.<br />
Esse esboço sumário das inovações políticas do período após a<br />
Segunda Guerra Mundial mostra a lentidão com que o processo de<br />
SiNAiS SoCiAiS | Rio DE JANEiRo | v.7 nº19 | p. 40-59 | mAio > AgoSto 2012<br />
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