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A influência do modernismo brasileiro na literatura angolana

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e Olá!Negro de Jorge de Lima são bem semelhantes, são poemas longos, musicaliza<strong>do</strong>s num<br />

mesmo ritmo, buscan<strong>do</strong> uma identidade puramente <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, utilização de uma linguagem<br />

coloquial e vocabulário comum. Os <strong>do</strong>is poemas têm por tema o negro, o tempo e o espaço<br />

que são marca<strong>do</strong>s de maneira também igual. A<strong>na</strong>lisan<strong>do</strong> esses poemas, a crítica Elisalva<br />

Madruga Dantas, ao mesmo tempo em que reitera as aproximações feitas pelo referi<strong>do</strong> crítico,<br />

destaca algumas diferenças, a exemplo <strong>do</strong> tratamento da<strong>do</strong> às figuras representativas da raça<br />

negra por ambos os poetas. Enquanto para Jorge de Lima elas são vistas ape<strong>na</strong>s como parte <strong>do</strong><br />

folclore <strong>brasileiro</strong>, e mostram em da<strong>do</strong>s momentos traços negativos, para Viriato da Cruz,<br />

essas figuras traduzem positividade.<br />

Em um da<strong>do</strong> momento, <strong>na</strong> poesia de Jorge, o poeta que canta o negro é visto como<br />

falso, como no trecho <strong>do</strong> poema Olá!Negro: “Os poetas, os liberta<strong>do</strong>res, os que derramaram/<br />

babosas torrentes de falsa piedade/ não compreendiam que tu ias rir!”, e <strong>na</strong> poesia de Viriato,<br />

ao contrário, ele é valoriza<strong>do</strong> como voz que se ergue em favor <strong>do</strong> negro, no poema Mamã<br />

Negra. Percebemos isso no trecho que se segue: “Vozes vindas <strong>do</strong>s ca<strong>na</strong>viais <strong>do</strong>s arrozais <strong>do</strong>s<br />

cafezais <strong>do</strong>s/[seringais <strong>do</strong>s algo<strong>do</strong>ais...”.<br />

Em alguns momentos, a poesia de Jorge mostra-se mais preocupada com os<br />

sentimentos <strong>do</strong> homem branco <strong>do</strong> que com a desalie<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> negro, mais uma vez exposto no<br />

poema Olá!Negro “... eu melhor compreen<strong>do</strong> agora os teus blues / nesta hora triste da raça<br />

branca, negro!”. Já em Viriato, vemos isso de forma contrária, pela maneira crítica como fala<br />

da opressão <strong>do</strong> negro e aponta para a construção da mudança dessa situação:<br />

Mas vejo também que a luz roubada aos teus olhos, ora esplende<br />

demoniacamente tenta<strong>do</strong>ra-como a Certeza...<br />

cintilantemente firme-como a Esperança...<br />

em nós outros teus filhos,<br />

geran<strong>do</strong>, forman<strong>do</strong>, anuncian<strong>do</strong><br />

-o dia da humanidade<br />

O DIA DA HUMANIDADE...<br />

Olá!Negro traz dúvida, “O dia está <strong>na</strong>scen<strong>do</strong> ou será a tua gargalhada que vem /<br />

vin<strong>do</strong>?”. Mamã Negra, poema já cita<strong>do</strong> anteriormente, traz a certeza de um futuro diferente.<br />

Assim, percebemos como o negro no poema de Jorge de Lima continuava a ser ape<strong>na</strong>s<br />

um objeto poético. Era aceitável no plano estético, mas, no plano social, era visto como um<br />

ser inferior em relação à raça branca. Em alguns aspectos se via ainda o preconceito em<br />

relação ao negro, presente no espaço <strong>brasileiro</strong>.<br />

Um outro escritor <strong>brasileiro</strong> que cantou o negro em sua poesia foi o gaúcho Oliveira<br />

Silveira. E o fez, identifican<strong>do</strong>-se com o negro, ressaltan<strong>do</strong> seus valores e, muitas vezes,<br />

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