A influência do modernismo brasileiro na literatura angolana
A influência do modernismo brasileiro na literatura angolana
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O poema Exortação é uma metapoética, pois, além de ser uma poesia angola<strong>na</strong>,<br />
mostra como essa poesia deve ser feita. Esteticamente, como já foi dito, fala da ruptura e, ao<br />
mesmo tempo, a realiza, visan<strong>do</strong> dar vez a uma poesia mais livre, construída a partir da<br />
realidade de Angola, com sua própria rima, sua própria musicalidade. Angola passa então a<br />
ser vista com outros olhos, não mais como uma realidade exótica, mas como uma realidade<br />
promissora.<br />
Nessa linha metapoética, observa-se que já a partir da segunda estrofe o eu-lírico<br />
começa a esboçar como deve ser feita, em termos estéticos e ideológicos, essa poesia.<br />
Esteticamente, deverá deixar de la<strong>do</strong> “moldes arcaicos”, “suaves endeixas”, “brandas<br />
queixas” e, ideologicamente, deve cantar a terra e sua beleza. Mas não de forma idealista,<br />
enfocan<strong>do</strong> ape<strong>na</strong>s as maravilhas, mas de mo<strong>do</strong> também crítico, mostran<strong>do</strong> a realidade sofrida,<br />
amargurada e triste, que impede o desenvolvimento de Angola. A terra e tu<strong>do</strong> que nela se faz<br />
presente (fau<strong>na</strong>, flora, topografia, povo, etc.) é, portanto, fonte de inspiração para os poetas. A<br />
poesia deve ser um espelho de Angola, que é rica em histórias, em fatos que podem ser<br />
canta<strong>do</strong>s. O eu-lírico, ao usar termos como, “corajosamente”, “inspira”, “ricos”, demonstra<br />
que o povo angolano tem uma bravura, uma fortaleza, que os possibilita se libertarem das<br />
algemas portuguesas e construírem um futuro diferente.<br />
A partir da quinta estrofe até a décima quarta, o eu-lírico faz uma descrição de Angola,<br />
cantan<strong>do</strong> emocio<strong>na</strong><strong>do</strong> os aspectos da região, as paisagens locais, mostran<strong>do</strong> de forma<br />
detalhada o que as constituem, a exemplo da região <strong>do</strong> Amboim, onde é cultiva<strong>do</strong> o café “tão<br />
famoso no mun<strong>do</strong>”; as quedas d´água <strong>do</strong> “Duque de Bragança”, “o deserto <strong>do</strong> Namibe”, entre<br />
tantas outras realidades.<br />
Aproprian<strong>do</strong>-nos das imagens <strong>do</strong> poema, para nós a terra angola<strong>na</strong> cantada pelo poeta,<br />
por sua grandeza, pode ser vista, assim como o deserto de Namibe, “como um polvo gigante”,<br />
e seus filhos como a “Wellwitshnia Mirabilis”, ou seja, como “jóias” que só ela a possui.<br />
Já as imagens de Angola, retratadas <strong>na</strong> no<strong>na</strong> estrofe, confirmam o que dissemos acima<br />
acerca da visão crítica <strong>do</strong> poeta, <strong>na</strong> medida em que mostram uma realidade um tanto adversa,<br />
em decorrência das “terras rendilhadas <strong>do</strong> litoral, / secas, rugosas, escalvadas / onde rei<strong>na</strong> o<br />
imbondeiro, / gigantesco Prometeu agrilhoa<strong>do</strong>, / visão estranha, infer<strong>na</strong>l, horrenda, / verde<br />
páli<strong>do</strong>, branco, cinzento, / lembran<strong>do</strong> líquen mágico, colossal...”.<br />
Na estrofe 11ª, a referência aos negros, ao mesmo tempo em que revela a dureza da<br />
exploração, mostra a forma por eles encontrada de resistirem ao sofrimento, através <strong>do</strong> canto,<br />
da dança, <strong>do</strong>s seus cultos religiosos, conforme podemos deduzir da menção aos “feiticeiros<br />
dançan<strong>do</strong> loucamente”, como a expurgar to<strong>do</strong> o mal.<br />
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