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VJ JUN 2011.p65 - Visão Judaica

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12<br />

* Tila Dubrawsky é<br />

a rebetzin, esposa<br />

do Rabino Yossef<br />

Dubrawsky, diretor<br />

do Beit Chabad de<br />

Curitiba, mãe, avó,<br />

coordenadora de<br />

programas<br />

educacionais e<br />

culturais,<br />

orientadora de<br />

pureza e harmonia<br />

familiar para<br />

noivas e mulheres<br />

de todas as idades.<br />

VISÃO JUDAICA junho de 2011 Sivan / Tamuz 5771<br />

á três mitsvot especificamenterelacionadas<br />

com a mulher<br />

judia: Chalá - a separação<br />

de uma porção<br />

da massa na hora de preparar<br />

o pão, Nidá - as leis de Pureza<br />

Familiar (mikvê) e Hadlacat haNer - o<br />

acendimento de pelo menos duas velas<br />

em honra ao Shabat e Iom Tov.<br />

Duas destas mitsvot, Chalá e Nidá são<br />

prescritas pela própria Torá e a terceira<br />

de Hadlacat haNer é uma das<br />

sete leis rabínicas.<br />

A primeira letra de cada uma destas<br />

mitsvot em hebraico forma o<br />

nome Chana. Chalá começa com a<br />

letra Chet, Nidá com a letra Nun e<br />

Hadlakat haNer com a letra Hei. O<br />

nome Chana é composto das três letras<br />

Chet, Nun e Hei.<br />

Muitas vezes na Cabalá estas<br />

mitsvot são associadas com utensílios<br />

sagrados do Santuário e Templo<br />

Sagrado. O acendimento das velas de<br />

Shabat corresponde à Menorá, o candelabro<br />

de sete braços que era aceso<br />

diariamente no Templo. Chalá é associada<br />

com o Lechem haPanim - Pão<br />

da Exposição que era assado uma vez<br />

por semana e colocado no Shulchan<br />

HaPanim - Mesa da Exposição. Nidá<br />

se relaciona ao Mizbeach haKetoret<br />

- Altar do Incenso. A palavra Ketoret<br />

em aramaico significa vínculo. O laço<br />

entre o povo judeu e D-us criado pelo<br />

Altar do Incenso corresponde ao laço<br />

singular criado entre marido e esposa<br />

pelas leis da Pureza Familiar.<br />

A mitsvá de Chalá se encontra na<br />

Torá no livro de Bamidbar – Números,<br />

nos cinco versículos 17-21 de capitulo<br />

15. “Reishit Arissotechem Chalá<br />

Tarimu” - “Vocês devem separar<br />

como oferenda a primeira porção da<br />

massa”. Na Mishná (lei oral) há um<br />

tratado inteiro, Chalá, dedicado a<br />

esta mitsvá. A lei requer que ao prepararmos<br />

uma massa que contém<br />

O segredo místico da chalá<br />

Tila Dubrawsky *<br />

quantia de farinha de 1 quilo e 666<br />

gramas para cima devemos recitar<br />

uma bênção e tirar um pedaço de<br />

massa de aproximadamente 28 gramas<br />

como “oferenda”. Somente depois<br />

moldamos os pães colocandoos<br />

para assar.<br />

Antigamente esta massa era<br />

doada ao Cohen, que dedicava seu<br />

tempo para cuidar da Casa de D-us.<br />

Hoje esta massa ainda pertence a<br />

D-us e não podemos utilizá-la, então<br />

ela é queimada.<br />

O Sefer Hachinuch que elabora os<br />

Taamei haMitsvot - as razões de cada<br />

preceito Divino explica que D-us queria<br />

achar um objeto físico do uso diário<br />

para investir nele uma mitsvá para<br />

que a Sua bênção pudesse repousar<br />

sempre sobre aqueles que a cumprem.<br />

Uma vez que o pão é o sustento<br />

básico do ser humano e uma parte<br />

intrínseca da nossa dieta, Ele escolheu<br />

a mitsvá de separar a chalá. Comendo<br />

pão o judeu recebe sustento<br />

físico; ao separar a massa ele recebe<br />

sustento espiritual.<br />

O midrash nota que a mitsvá de<br />

separar chalá na Torá é seguida pela<br />

proibição de idolatria. A justaposição<br />

destas duas leis nos ensina “que<br />

quem cumprir a esta lei é considerado<br />

como estivesse anulando a idolatria<br />

e quem não cumprir a esta lei é<br />

como apoiasse a adoração de ídolos”.<br />

(Maimônides: leis de idolatria) Qual<br />

é a ligação entre algo tão simples<br />

como separar um pedaço de massa e<br />

a anulação de idolatria, algo tão severo<br />

no judaísmo?<br />

Vamos observar os passos preliminares<br />

no processo que resulta em<br />

separar um pedaço elástico de massa<br />

no conforto da nossa cozinha. A<br />

terra tinha de ser arada, semeada e<br />

regada, o trigo colhido, debulhado e<br />

moído e a farinha peneirada e misturada<br />

com outros ingredientes até<br />

obter aquela massa homogênea<br />

pronta para assar.<br />

O fazendeiro, na antiguidade,<br />

ao se deparar com o fruto de seu<br />

labor era capaz de atribuir o seu<br />

sucesso e a sua riqueza a seu próprio<br />

esforço e perspicácia. Tudo<br />

bem, com um pouco de ajuda da<br />

“mãe natureza”. A Torá alerta sobre<br />

esta possibilidade dizendo:<br />

“Quando tiveres prosperado, sê<br />

cuidadoso para que tu não digas a<br />

ti próprio: ’foi minha própria força<br />

e poder pessoal que me trouxeram<br />

toda esta prosperidade’. Tu deves<br />

lembrar que é D-us quem te dá o<br />

poder para te tornares próspero”.<br />

(Deuteronômio 8:17-18)<br />

Pão, a base do nosso sustento físico<br />

é metáfora para todo materialismo.<br />

Em muitas culturas “massa” é<br />

gíria para dinheiro, “grana” em português,<br />

“dough” em inglês, pois o dinheiro<br />

nos possibilita comprar massa<br />

ou pão, e outras necessidades<br />

para nosso sustento físico. O termo<br />

ganha-pão se aplica àquele que traz<br />

o dinheiro para o sustento da casa.<br />

Assim como o fazendeiro poderia erroneamente<br />

atribuir o seu êxito a seu<br />

próprio esforço nós também somos<br />

capazes de atribuir o nosso sucesso<br />

material a nossa própria inteligência,<br />

beleza, criatividade ou carisma e esquecer<br />

de D-us. Isto é sinônimo de<br />

idolatria que na sua essência é a associação<br />

de boa sorte e sucesso a elementos<br />

além d’Ele.<br />

A idolatria se apresenta sob diversas<br />

formas. Antigamente faziam<br />

figurinos de madeira e pedra e prostraram-se<br />

diante deles. Hoje, com<br />

igual paixão adoramos os ídolos de<br />

riqueza, poder e sucesso. Ainda há<br />

outras formas mais sutis como a noção<br />

equivocada que após D-us criar<br />

os astros e outras partes da natureza<br />

Ele investiu neles poder independente.<br />

Na verdade nada tem poder<br />

independente, tudo é controlado por<br />

D-us. Acreditar que algo existe independentemente<br />

de D-us é de certa<br />

forma idolatria.<br />

O mundo que nós percebemos<br />

com os olhos nus parece gritar “existo<br />

independentemente”. Na realidade<br />

a única verdadeira realidade é D-us.<br />

O Rabi Schneur Zalmen de Liadi escreve<br />

no seu livro de Tanya que D-us<br />

está constantemente renovando a<br />

criação do mundo a cada instante.<br />

Se cessasse, o mundo reverteria à<br />

nulidade. Apesar de seu falso brilho<br />

o mundo é nada sem a força Divina<br />

que o vitaliza.<br />

É aí que entra Hafrashat Chalá.<br />

Os ingredientes têm sido bem misturados,<br />

a massa cresceu bem bonita.<br />

Um aroma permeia o ambiente. A<br />

mulher faz uma pausa para um momento<br />

de introspecção. Ela separa<br />

um pedacinho, fala uma Brachá, levanta<br />

a massa e diz “Harei zu Chalá”<br />

- “esta é a oferenda de Chalá”. Este<br />

ato consciente reflete a admirável<br />

qualidade feminina de reconhecimento<br />

e agradecimento. Declara<br />

que esta massa e por extensão toda<br />

nossa “massa” tudo que o ganhapão<br />

traz, todo nosso sucesso material<br />

não é simplesmente resultado<br />

do esforço humano, mas, sim uma<br />

dádiva de D-us. Este gesto simples,<br />

ainda grandioso, desvenda as falsas<br />

aparências, revela a Divindade oculta<br />

em nosso universo e nos torna receptáculos<br />

para captarmos cada vez<br />

mais da generosidade e bondade do<br />

nosso Criador.

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