VJ JUN 2011.p65 - Visão Judaica
VJ JUN 2011.p65 - Visão Judaica
VJ JUN 2011.p65 - Visão Judaica
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Origem Origem da da semana<br />
semana<br />
LATIM DEUS DEUS IDEOGRAMA<br />
ROMANO SAXÃO CHINÊS<br />
Solis dies Sol Sol Sol<br />
Lunae dies Lua Lua Lua<br />
Martis dies Marte Tyr Fogo<br />
Mercuri dies Mercúrio Odin Água<br />
Jovis dies Júpiter Thor Madeira<br />
Veneris dies Vênus Freya Metal<br />
Saturni dies Saturno Saturno Terra<br />
O diretor de cinema dinamarquês Lars<br />
Von Trier foi expulso do Festival de Cannes<br />
em maio depois de comentários feitos durante<br />
uma coletiva de imprensa, aparentemente<br />
de brincadeira, em que declarava ser<br />
um nazista e um simpatizante de Hitler.<br />
“O conselho dirigente do festival lamenta<br />
profundamente que o evento tenha<br />
sido usado por Lars Von Trier para expressar<br />
comentários que são inaceitáveis, intoleráveis,<br />
e contrários aos ideais de humanidade<br />
e generosidade que presidem sobre<br />
a existência do festival”, disse na ocasião<br />
a organização num comunicado, em<br />
que condenou os comentários e declarou o<br />
diretor dinamarquês pessoa “non grata”.<br />
VISÃO JUDAICA<br />
Semana judaica?<br />
junho de 2011 Sivan / Tamuz 5771<br />
Jane Bichmacher de Glasman *<br />
O hábito de agrupar os dias em períodos de sete unidades,<br />
que hoje chamamos semana, é originário dos<br />
babilônios e foi adotado pelos gregos e pelos romanos,<br />
que deram nome a estes períodos sobre a base do nú-<br />
Portugal foi o único país que adotou os dias<br />
da semana derivados do latim eclesiástico. Os<br />
nomes antigos dos dias da semana, usados por<br />
povos pagãos, não foram seguidos na língua<br />
formar. Os dias da semana têm seus nomes na<br />
língua portuguesa devido à liturgia católica por<br />
iniciativa de Martinho de Dume, que denominava<br />
os dias da semana da Páscoa com dias<br />
santos em que não se deveria trabalhar, origimero<br />
sete. Os gregos denominaram hebdomadás, de<br />
hepta, sete, palavra que perdura até hoje entre nós em<br />
hebdomadário, que significa semanal, semanário. Em<br />
portuguesa, última das línguas romanas a se nando os nomes litúrgicos:<br />
Roma, adotou-se o nome septimana, que chegou ao<br />
português como semana. Mas foram os judeus, respeitando<br />
o relato bíblico que deram à semana (em<br />
LATIM PAGÃO<br />
dies Solis<br />
LATIM VULGAR<br />
Solis dies<br />
SIGNIFICADO<br />
Dia do sol<br />
LATIM LITÚRGICO I<br />
Prima Feria<br />
LATIM LITÚRGICO II<br />
Dominica dies<br />
PORTUGUÊS<br />
Domingo<br />
HEBRAICO<br />
Iom Echad / Rishon Dia Um (1º)<br />
hebraico shavúa, de shéva = sete [dias]) o sentido da<br />
mesma como uma unidade, a partir da unicidade no<br />
divino. Tendo sido o mundo criado por D-us em seis<br />
dias e no sétimo descansado, apresentou-se um mo-<br />
dies Lunae<br />
dies Martis<br />
dies Mercurii<br />
Lunae dies<br />
Martis dies<br />
Mercurii dies<br />
Dia da lua<br />
Dia de Marte<br />
Dia de Mercúrio<br />
Secunda Feria<br />
Tertia Feria<br />
Quarta Feria<br />
Secunda Feria<br />
Tertia Feria<br />
Quarta Feria<br />
Segunda-feira<br />
Terça-feira<br />
Quarta-feira<br />
Iom Sheni / 2º dia<br />
Iom Shlishi/ 3º dia<br />
Iom Revií / 4º dia<br />
delo inédito de concepção da divindade para os ho- dies Iovis Iovis dies Dia de Júpiter Quinta Feria Quinta Feria Quinta-feira Iom Hamishi / 5º dia<br />
mens: um ser único, sem imagem física, onipotente e<br />
onipresente, que ensina um caminho e, antes de qualquer<br />
coisa, dá seu exemplo para ser seguido.<br />
dies Veneris<br />
dies Saturni<br />
Veneris dies<br />
Saturni dies<br />
Dia de Vênus<br />
Dia de Saturno<br />
Sexta Feria<br />
Sabbatum<br />
Sexta Feria<br />
Sabbatum<br />
Sexta-feira<br />
Sábado<br />
Iom Shishi / 6º dia<br />
Iom Shvii/Shabat 7º dia / Shabat<br />
Nomes Nomes antigos<br />
antigos<br />
Na nomenclatura pagã, cada dia era dedicado a um<br />
astro ou a um deus que variava de acordo com a mitologia<br />
local de cada cultura e que foram conservados<br />
em outros idiomas.<br />
Do início da era cristã até o período medieval, vigoravam<br />
no mundo ocidental as propostas do filósofo grego<br />
Aristóteles (384 – 322 aec) e do astrônomo egípcio<br />
Cláudio Ptolomeu (100 – 170 ec), mescladas com a interpretação<br />
dada pela Igreja Católica. Acreditava-se que<br />
D-us criara o Universo em movimento circular perfeito e<br />
eterno. No centro encontrava-se a Terra com os quatro<br />
elementos: terra, ar, água e fogo; a seguir, oito esferas<br />
concêntricas contendo o “éter” e sustentando os astros.<br />
Este conjunto comporia o céu. Uma dessas esferas conteria<br />
o Sol. Outra, a Lua. Cinco delas conteriam os planetas<br />
conhecidos na época: Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus<br />
e Saturno. A oitava esfera conteria as estrelas.<br />
Dias Dias da da semana semana em em português português<br />
português<br />
O Sabbatum originou diretamente<br />
do hebraico Shabat, de conotação religiosa,<br />
em uma época em que os judeus<br />
e cristãos formavam um só povo<br />
e uma só cultura.<br />
O Shabat, último dia de seu calendário<br />
semanal, é o dia de descanso<br />
para os judeus.<br />
No início da era cristã, cristãos primitivos<br />
e judeus compartilhavam o sábado<br />
para suas reuniões em fé, porém<br />
em 189 ec, o Papa Vítor I mudou o dia<br />
de descanso dos cristãos para o domingo,<br />
em homenagem à ressurreição<br />
de Jesus. Em 325 ec, as orientações<br />
do Primeiro Concílio de Niceia confirmaram<br />
a decisão de Vítor I, mudando<br />
o nome de Solis Dies, que significa Dia<br />
do Sol - forma como os pagãos se referiam<br />
ao domingo - para Dominica<br />
Dies, que evoluiu para Dominus Dei<br />
(que em português quer dizer “dia do<br />
senhor”) mudando-o para domingo.<br />
Prima Feria (que hoje é o domingo, dia<br />
de descanso para os cristãos) era o dia<br />
em que cristãos passaram a se unir<br />
para fazer sua reunião de fé e de mercado,<br />
em dia seguinte ao dos judeus.<br />
Por que os dias da semana acabam<br />
com feira?<br />
O termo “feira” surgiu em português<br />
porque, na semana de Páscoa,<br />
todos os dias eram feriados - férias ou<br />
feiras - e, além disso, os mercados funcionavam<br />
ao ar livre. Com o tempo, a<br />
Igreja baniu das liturgias os nomes pagãos<br />
dos dias, oficializando as “feiras”.<br />
O domingo, que seria a primeira<br />
feira, conservou o mesmo nome por<br />
ser dedicado a D-us, fazendo a contagem<br />
iniciar-se na secunda feira, a<br />
segunda-feira.<br />
O sábado foi mantido em respeito<br />
à antiga tradição hebraica. Apesar da<br />
oposição da Igreja, as designações pagãs<br />
sobreviveram em todo o mundo<br />
cristão, menos no que viria a ser Portugal,<br />
graças ao apostolado de São<br />
Martinho de Braga (século VI), que<br />
combatia o costume de “dar nomes de<br />
demônios aos dias que D-us criou”.<br />
21<br />
Por que os dias da semana em português<br />
não são como em francês ou<br />
italiano?<br />
A resposta é simples. Como disse no<br />
início, sua origem remonta ao Antigo<br />
Testamento, à Torá, como o hebraico<br />
moderno: dia primeiro, segundo, etc.,<br />
conforme o relato da Criação, em Gênesis<br />
1. Em outras palavras, os dias da semana<br />
sobreviveram ao ataque do latim!<br />
Convém lembrar que a vinda dos<br />
portugueses para o Brasil trouxe consigo<br />
todos os empréstimos culturais<br />
e linguísticos que já haviam sido incorporados<br />
ao cotidiano ibérico, desde<br />
uma época anterior à Inquisição;<br />
assim, muitas palavras e expressões<br />
de origem hebraica foram incorporadas<br />
ao léxico da língua portuguesa<br />
mesmo antes de os portugueses chegarem<br />
ao Brasil. Elas encontram-se<br />
tão arraigadas em nosso idioma que<br />
muitas vezes têm sua origem confundida<br />
como sendo árabe ou grega.<br />
Em suma: a semana é judaica!<br />
* Jane Bichmacher de Glasman é escritora, doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura <strong>Judaica</strong> (USP), fundou e coordenou o Setor de Hebraico e o<br />
Programa de Estudos Judaicos da UERJ, professora adjunta e coordenadora do Setor de Hebraico da UFRJ (aposentada).<br />
Lars Von Trier expulso de Cannes<br />
O cineasta dinamarquês Lars von Trier,<br />
conhecido pelas frases e filmes polêmicos,<br />
ficou abalado com o banimento e considerou<br />
que, desta vez, foi longe demais. Pediu<br />
desculpas e disse que fizera uma brincadeira<br />
estúpida. Disse ainda que se sentiu<br />
muito mal pelo fato de "ter magoado<br />
algumas pessoas".<br />
Durante a entrevista à imprensa sobre<br />
o filme “Melancholia”, o diretor, em tom<br />
jocoso, se disse nazista e revelou ter certa<br />
simpatia por Hitler. Trier é conhecido na<br />
Europa por suas provocações e ainda por<br />
atacar grosseiramente Israel e seu povo.<br />
Só que desta vez ele se deu mal. Horas depois<br />
a direção do festival desclassificou<br />
seu filme e o expulsou do evento.<br />
Depois de afirmar que entendia Hitler<br />
e sentia compaixão por ele, sob o olhar<br />
incrédulo dos repórteres, aparentemente<br />
ainda não satisfeito, o cineasta concluiu<br />
sua fala com uma crítica a Israel e um elogio<br />
a Albert Speer, arquiteto oficial do Terceiro<br />
Reich.<br />
“É claro que gosto muito dos judeus -<br />
mas nem tanto, porque Israel é um pé no<br />
saco. Mesmo assim - como é que eu termino<br />
esta frase? - eu apenas gostaria de<br />
dizer, sobre a arte, que gosto muito de<br />
Speer”, indicou, destacando o “talento” do<br />
arquiteto nazista, condenado por crimes<br />
contra a humanidade.<br />
“O.K., então, sou um nazista”, disse<br />
Von Trier, dando de ombros.<br />
Ele passou dias seguidos se explicando<br />
em entrevistas e dizendo que se arrependeu<br />
do que disse, tentando justificar<br />
seu comportamento repreensível e declarando<br />
que não é e nunca foi nazista. Indagado<br />
por um repórter se iria assistir à cerimônia<br />
de encerramento, o cineasta ainda<br />
disse, fazendo troça: “Não, não poderei<br />
ir. Pelo que entendi, a decisão significa<br />
que eu estou proibido de chegar a 100<br />
metros do Palais. Mas acho que posso tomar<br />
sorvete ali por perto e olhar à distância<br />
(...) O que ouvi é que quando a gente<br />
vira persona non grata é para sempre.”