COIvl - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
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<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o mercado caminhe em direção a uma TV <strong>de</strong> outras dimensões. Nessa colo-<br />
cação prospectiva talvez esteja uma solução para o até então insolúvel problema da dis-<br />
tribuição <strong>de</strong> um produto final em ví<strong>de</strong>o para gran<strong>de</strong>s audiências, numa tela <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />
dimensões. Os passos iniciais nesse sentido já foram dados pelos "telões", ainda um<br />
tanto <strong>de</strong>ficientes no que diz respeito à qualida<strong>de</strong> da imagem final. O advento <strong>de</strong> gran-<br />
<strong>de</strong>s ví<strong>de</strong>oteatros <strong>de</strong> forma inrreversível é uma questão <strong>de</strong> tempo já que projeções regu-<br />
lares em salas <strong>de</strong> pequenas dimensões são feitas há alguns anos. O que não <strong>de</strong>ve ser me-<br />
nosprezado nessas consi<strong>de</strong>rações é a própria necessida<strong>de</strong> que a indústria eletrônica tem<br />
<strong>de</strong> conquistar, para sua sobrevivência, esse e outros segmentos que não discutimos aqui<br />
ou nem sequer imaginamos. Resta ainda uma pergunta: o uso <strong>de</strong> tanta tecnologia não<br />
acabará violentando a criativida<strong>de</strong> do diretor? Para Francis Coppola, que usou o vi<strong>de</strong>o-<br />
tape nas gravações e edição inicial dos filmes "Apocalypse Now" e "One From the<br />
Heart" (seu mais recente filme), o ví<strong>de</strong>o é um instrumento a mais nas mãos do direitor,<br />
que permite inclusive um apromoramento a mais nas mãos do diretor, sobretudo na<br />
montagem. Ele tem se utilizado da gravação <strong>de</strong> "story-boards", do controle da filma-<br />
gem com câmera <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o e da pré-edição em vi<strong>de</strong>otape. Coppola está <strong>de</strong>finitivamente<br />
convencido das facilida<strong>de</strong>s e potencialida<strong>de</strong>s do "cinema eletrônico" procurando sem-<br />
pre ter acesso ao equipamento mais mo<strong>de</strong>rno, encontrando no ví<strong>de</strong>o um importante<br />
elemento para seu trabalho <strong>de</strong> expressão, ainda cinematográfico. Acredita que o filme<br />
possui qualida<strong>de</strong>s que o ví<strong>de</strong>o não po<strong>de</strong> duplicar mas tem projetos para uma obra total-<br />
mente produzida em ví<strong>de</strong>o.<br />
Vários produtores já caminham nessa direção, especialmente os oriundos da pró-<br />
pria televisão. No Brasil, os filmes do grupo "Os Trapalhões" são um exemplo recente:<br />
os filmes são produzidos inteiramente em ví<strong>de</strong>o e copiados para 35 mm utilizando-se<br />
do recurso <strong>de</strong> "chroma-key"o diretor joga sobre o fundo azul neutro do estúdio ima-<br />
gens <strong>de</strong> cenários, obtidos muitas vezes com fotografia, economizando somas incontá-<br />
veis pela eliminação <strong>de</strong> gravações externas com atores. 0 efeito obtido evi<strong>de</strong>ntemente<br />
não é nada convincente, e repleto <strong>de</strong> imperfeições, mas alcança sem sombra <strong>de</strong> dúvida<br />
o espectador, que se <strong>de</strong>ixa envolver pela trama, aceitando tacitamente o código propos-<br />
to. Tal grosseria é, <strong>de</strong> certa forma, típica da produção para a TV e isso pesa muito<br />
contra o vi<strong>de</strong>o, mas nada impe<strong>de</strong> que se crie uma obra exclusivamente para o ví<strong>de</strong>o,<br />
com todos os seus recursos, sob a direção <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> realizador. Um exmeplo, que<br />
aparece no cenário internacional com um gran<strong>de</strong> atraso, é o filme <strong>de</strong> Michelangelo An-<br />
tonioni "O Mistério <strong>de</strong> Oberwald" (produzido para a TV italiana). A cor é a principal<br />
preocupação do diretor, sobreposta sobre personagens e cenários <strong>de</strong> maneira proposi-<br />
talmente artificial, impressionando o espectador como um elemento dramático a mais<br />
na obra. Antonioni afirma que tais efeitos só po<strong>de</strong>riam ser conseguidos eletronicamen-<br />
te. Em seu estágio atual <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, a imagem eletrônica não po<strong>de</strong> competir<br />
com a textura do filme, mas Antonioni procurou justamente acentuar a característica<br />
mais contrastada da imagem do ví<strong>de</strong>o. A eventual crítica a imperfeição dos efeitos ou á<br />
grosseria da idéia <strong>de</strong>ve curvar-se diante do potencial aberto pelo uso do ví<strong>de</strong>o não so-<br />
mente como um processo técnico, mas como uma nova concepção estética. Os traba-<br />
lhos <strong>de</strong> Coppola e Antonioni, nesse sentido, têm um caráter já histórico, como teste-<br />
munhos da entrada do cinema comercial numa nova era — a eletrônica — há muito, e<br />
que ao contrário <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir, vai transformá-lo.<br />
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