902-911 - Universidade de Coimbra
902-911 - Universidade de Coimbra
902-911 - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>de</strong> todos os bandidos polilieos que trem<br />
levado o país á ruína vergonhoza em<br />
que se encontra ôje.<br />
Ora incomodar um partido inteiro,<br />
sem a mais lijeira esperança <strong>de</strong> vitoria,<br />
expondo os nossos correlijionarios a prezenciarem<br />
resignadamente o roubo ignóbil<br />
dos votos que <strong>de</strong>pnzeram ria urna,<br />
roubo cometido na prezente conjuntura,<br />
unicamente "para que os arautos agaloados<br />
d'essa safada quadrilha <strong>de</strong> politiqueiros<br />
mizeraveis possam clamar reverentes,<br />
perante o Senhor que os manda,<br />
a gloria ipócrita <strong>de</strong> terem exterminado<br />
os últimos vestijios do republicanismo do<br />
Norte, parece-nos tarefa <strong>de</strong>maziadamente<br />
dispensável.<br />
Não; o que é precizo é iniciar um<br />
largo movimento <strong>de</strong> protesto e <strong>de</strong> reaçãn<br />
contra semelhante infamia, tanto mais<br />
que todos reconhecem ôje que essa revoltante<br />
batota se pratica no criminozo<br />
intuito <strong>de</strong> protelar in<strong>de</strong>finidamente nas<br />
mãos d'uma oligarquia <strong>de</strong>testada a faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r explorar livre e <strong>de</strong>zassombradamente<br />
o país.<br />
Para isso po<strong>de</strong>ríamos e <strong>de</strong>veríamos<br />
apelar <strong>de</strong> novo para todos os portuguezes<br />
onestos, para as forças vivas da Nação,<br />
que bem acabam <strong>de</strong> mostrar quanto<br />
lhes repugna a continuação do sistema<br />
<strong>de</strong> piihagem em que vivemos, e sobretudo<br />
para aqueles que teem por nobre<br />
missão <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a patria dos seus inimigos<br />
tanto externos como internos, e sem<br />
cujo apoio tão patente ignominia á muito<br />
teria <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> se consentir.<br />
Fechar por via <strong>de</strong> taes processos as<br />
portas do parlamento a quem quer que<br />
possa lejilimamente reprezentar o povo,<br />
em pais que se diz reprezentativo, é<br />
levar ao requinte do cinismo a <strong>de</strong>sfaçatez<br />
do absolutismo.<br />
A um movimento d'essa natureza<br />
associar-se-iam certamente todos aquelles<br />
a quem repugna a torpeza d'essa mistificação<br />
aviltante, a que os nossos omens<br />
públicos chamam pompozamente — eleição—e<br />
que todos conhecem como a mais<br />
in<strong>de</strong>coroza batota.<br />
Foz, 19-5—904.<br />
Pela Republica!<br />
De V. Ex. s ,<br />
Correlijionario venerador,<br />
J. Nunes da Ponte.<br />
Vem <strong>de</strong> alistar-se na imprensa republicana<br />
o nosso prezado coléga Semana<br />
Alcobacense.<br />
Abertamente, e uma nobre e patriótica<br />
<strong>de</strong>cizão, fás a profissão da sua nova<br />
fé, que promete <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r com todo o<br />
entuziásmo e intranzíjencia.<br />
Saudamos muito afétuózamenteo novo<br />
camarada <strong>de</strong> luta.<br />
Parabéns.. -<br />
Uma comissão <strong>de</strong> senhores do Jardim<br />
Zoolojico foi aprezentar ao sr. Pequito<br />
felicitaçõis pela sua ascenção nos conselhos<br />
da coroa.<br />
Não tem reparado que os cavalheiros<br />
do Limoeiro são menos amaveis?<br />
Que nos conste nunca mandarão <strong>de</strong>putação<br />
aos colegas que tão alto tem<br />
conseguido grimpar-se...<br />
Centro Eleitoral Republicano<br />
José Falcão<br />
Devem inaugurar-se brevemente neste<br />
«Centro» series <strong>de</strong> conferencias e palestras<br />
instrutivas, que abrirão uma epoeha<br />
<strong>de</strong> entusiástica e perseverante propaganda<br />
nesta cida<strong>de</strong>.<br />
Sabemos que ao Centro Jozé Falcão<br />
vão fazer conferencias alguns dos vultos<br />
mais prestigiozos do partido republicano,<br />
versando com a sua notável proficiência<br />
assunto^ <strong>de</strong> politica e administração.<br />
Nomeação<br />
Foi nomeado medico da colonia Villa-<br />
Fernando o sr. dr. João <strong>de</strong> Matos Cid.<br />
Ao agraciado, que reúne apreciaveis<br />
qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> carater e largos recursos<br />
<strong>de</strong> saber, enviamos o nosso cartão <strong>de</strong><br />
parabéns.<br />
Empreitadas<br />
Foi adjudicada ao sr. Joaquim dos<br />
Santos Machada, d'Abrunheira, a obra<br />
<strong>de</strong> calcetamento e conslreção <strong>de</strong> passeios<br />
da rua <strong>de</strong> Lourenço d'Almeida Azevedo.<br />
A adjudicação foi feita pela quantia<br />
dc 1. í iOíOCO réis.,<br />
© espirito<br />
Tulherias<br />
Não foi em 1869, como erradamente<br />
saiu no ultimo artigo, mas em 1870,<br />
no proprio ano da quéda do império, que<br />
teve logar o plebiscito Em 18CW fôrão as<br />
eleições jerais, que reprezentárão, por<br />
assiin dizer, o <strong>de</strong>spertar da França.<br />
A preocupação excluziva do imperador<br />
era afogar, era <strong>de</strong>struir os republicanos.<br />
Em França avia mais partidos.<br />
Mas o mais perigozo <strong>de</strong> todos era o republicano.<br />
0 gran<strong>de</strong> perigo é essel dizia bastas<br />
vezes o imperador.<br />
E era. Era o gran<strong>de</strong> perigo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1793! 0 gran<strong>de</strong> perigo para todas as<br />
monarquias europeias 1 A Republica era<br />
a meta, era o objetivo, era o fim! A<br />
Revolução feriu <strong>de</strong> morte o espirito monárquico.<br />
Aniquilou o para sempre.<br />
Quantas torrentes <strong>de</strong> sangue vertido,<br />
quantas somas fabulozas <strong>de</strong>sperdiçadas,<br />
quantos prejuízos <strong>de</strong> toda a or<strong>de</strong>m, quantas<br />
<strong>de</strong>sgraças, quantos crimes, por se<br />
não compreen<strong>de</strong>r esta verda<strong>de</strong> !<br />
Adiar soluçõis, impostas pela fatalida<strong>de</strong><br />
das circunstancias e do tempo, é<br />
o maior erro que se pô<strong>de</strong> cometer na<br />
vida dos indivíduos ou na vida dos povos.<br />
Erro que se paga sempre com juros<br />
exorbitantes, arrancados mais do que á<br />
nossa bolsa; também á nossa onra, também<br />
ao nosso sangue!<br />
0 gran<strong>de</strong> perigo é essel dizia o imperador.<br />
Tudo, menos rnpublicanos I<br />
Contra os republicanos se fês êsse<br />
odiozissimo golpe d'estado <strong>de</strong> dois <strong>de</strong> <strong>de</strong>*<br />
zernóro,acompanhado e seguido,na França<br />
inteira, <strong>de</strong> assassinatos, <strong>de</strong> infamias, <strong>de</strong><br />
atrocida<strong>de</strong>s sem nome.<br />
Contra os republicanos se fês a campanha<br />
da Criméa, isto é, como dis Taxile<br />
Delord na sua Istoire Ilmtrée du Second<br />
Ernpire, para que a França esquecesse<br />
o dois <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, e o exercitó os seus<br />
antigos chefes.<br />
Contra os republicanos se fês a guerra<br />
<strong>de</strong> Italia, isto é, como dis ainda o citado<br />
istoriador, para que a França esquecesse<br />
a sua liberda<strong>de</strong> perdida.<br />
Contra os republicanos se organizou<br />
a expedição do México, isto é, para ce<strong>de</strong>r<br />
ás manobras, para satisfazer as exijencias<br />
dos clericais, uma das forças em<br />
que se apoiávão as Tulherias, na sua<br />
guerra ferós, e constante, á <strong>de</strong>mocracia.<br />
Contra os republicanos se fés a guerra<br />
<strong>de</strong> 1870, isto é, para apagar o efeito das<br />
eleições <strong>de</strong> 18B9, do plebiscito <strong>de</strong> 1870,<br />
do assassinato <strong>de</strong> Vitor Noir, para <strong>de</strong>sfazer<br />
a onda <strong>de</strong> indignação e <strong>de</strong> revolta,<br />
que tinhão produzido tantas infamias,<br />
tantos crimes, onda que crescia <strong>de</strong> instantes<br />
a'instantes, que se avolumava,<br />
que se alíeava, emfim, a correr, ameaçando<br />
pavorozamente, como um castigo<br />
<strong>de</strong> Deus. cair com estrondo, cair com<br />
fúria, esmagando-as, subvertendo-as, sobre<br />
as Tulherias.<br />
Contra os republicanos se <strong>de</strong>u a capitulação<br />
<strong>de</strong> Metz e a capitulação <strong>de</strong><br />
Sédan.<br />
A Republica era um espetro, que se<br />
erguia ameaçador, que se erguia orrendo,<br />
aos olhos das Tulherias. Era precizo tirar<br />
d'ali o espetro, corre-lo, afujenta-lo, mata-lo,<br />
que as Tulherias querião viver<br />
tranquilas, querião dormir <strong>de</strong>scançadas.<br />
Para isso tudo se fazia. Tudo era admissível.<br />
Tudo era licito. Tudo ! Tudo!<br />
Fazia-se uma lei <strong>de</strong> imprensa, que<br />
não <strong>de</strong>ixasse escapar nada pela malha.<br />
Mas, mesmo assim, em surdina, chegava<br />
cá fóra um lijeiro protesto? Jornais apreendidos<br />
e suprimidos. Portas das tipografias<br />
fechadas e seladas. Jornalistas e tipógrafos<br />
expulsos á coronhada. No melhor<br />
cazo, um policia á porta da tipografia<br />
para não <strong>de</strong>ixar sair ninguém, salvo'o<br />
outro policia, o que estava lá <strong>de</strong>ntro,<br />
para levar, á censura, a primeira folha<br />
que se imprimisse!<br />
Não imajine ninguém que, por mais<br />
que o pareça, estamos fazendo a istória<br />
<strong>de</strong> outros paizes. Nós estamos fazendo a<br />
istória da França no segundo império,<br />
fstoria <strong>de</strong> rigoroza verda<strong>de</strong>. Lê-<strong>de</strong>, e<br />
vereis! os livros já por nós citados, e<br />
todos aquêles que quizer<strong>de</strong>s.<br />
Chuz! Ruz 1 Nem palavra. Nem pio.<br />
Pedia-se licença para uma reunião? Negada<br />
a licença. Projétava-se fazer a reunião<br />
sem licença? Ocupado militarmente<br />
o local da reunião. No melhor cazo,<br />
dava-se a licença? Dissolvida a reunião,<br />
á primeira palavra mais viva que se<br />
pronunciasse. Nem acompanhar os mortos<br />
ao cemiterio. Os pobres mortos! As<br />
ruas apinhávão-se <strong>de</strong> tropa para impedir<br />
o cortejo fúnebre. Os cemiterios érão<br />
ocupados militarmente, para impedir, não<br />
já os discursos, mas os soluços, mas as<br />
lagrimas, mas o ultimo a<strong>de</strong>us, á beira<br />
tia sepultura. Os pobres mortos! E os<br />
StttZI&TEiVCl A llonúngo, 22 <strong>de</strong> llaio <strong>de</strong> 1004<br />
jornais recebião or<strong>de</strong>m para não dizer<br />
palavra no dia seguinte.<br />
A liberda<strong>de</strong> eleitoral era como a liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> imprensa, era como a liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> reunião, como a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
associação, como a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> catedra,<br />
como a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tribuna. As Tulherias<br />
não querião republicanos na camara!<br />
Mas a vós <strong>de</strong> Vitor Hugo, a vós <strong>de</strong><br />
Quinet, e d'outros, a d'esses dois sobretudo,<br />
trovejava do exilio, e chegava á<br />
França, por mais guardas fiscaes que<br />
ouvesse na fronteira, e mais beleguins a<br />
espiar os comboios e os correios. Respondia-Ihe<br />
o silencio. Mas esse silencio<br />
era como o silencio dos tumulos. Metia<br />
mêdo!<br />
0'! Silencio sepulcral, silencio orroroso,<br />
que, <strong>de</strong>mais, tinha este contra: <strong>de</strong>ixava<br />
que se ouvisse o bramir da consciência<br />
!<br />
E as Tulherias, apavoradas, procuravam<br />
gente que as <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>sse, que as<br />
apoiasse. E as Tulherias recorriam a<br />
todos os réclames, a todos os expedientes<br />
<strong>de</strong> popularida<strong>de</strong>. E as Tulherias, para<br />
embriagar, para esquecer, lançavatn-se<br />
n'um rodopio <strong>de</strong> festas, rfuma vida doida<br />
<strong>de</strong> prazeres, custasse o que custasse,<br />
estimulando as classes ricas, e todos os<br />
viciosos, ao mesmo rejimen <strong>de</strong> gôzos e<br />
folganças.<br />
0 amôr do oiro, diz Taxile, tornou<br />
se o sentimento dominante das classes<br />
elevadas, e, até, d'aquelas que se gabavam<br />
<strong>de</strong> ter por regras únicas da vida o<br />
<strong>de</strong>zinteresse e a onra. As pessoas <strong>de</strong><br />
negócios, acrescenta, uzavam dos meios<br />
<strong>de</strong> influencia, que dão a intriga e a corrução,<br />
para obter monoplios, privilejios,<br />
outros <strong>de</strong> natureza equivalente. Os empregados<br />
<strong>de</strong> categoria venciam por tres<br />
e mais empregos. E esta socieda<strong>de</strong> nova,<br />
escreve ainda o referido istoriador, este<br />
mundo exquisito, composto d'altos funcionários<br />
com tríplices vencimentos, <strong>de</strong><br />
financeiros enriquecidos por processos<br />
in<strong>de</strong>corozós, <strong>de</strong> traficantes <strong>de</strong> toda a or<strong>de</strong>m,<br />
<strong>de</strong> intrigantes e cortezãs, espalhava<br />
o oiro a mãos cheias e vivia em festas<br />
permanentes.<br />
Ao par e passo que a mizeria publica<br />
crescia! O preço dos jeneros alimentícios,<br />
da carne sobretudo, chegou a um ponto<br />
assustador. As abitações dos pobres tornaram<br />
se mizeraveis e caríssimas, por<br />
isso que nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s os bairros<br />
velhos foram substituídos por bairros<br />
opulentos. Cazas novas, mas ele rendas<br />
elevadas, sem ninguém pensar em construir<br />
cazas ijienicas e baratas para as<br />
mais Ínfimas classes sociaes. Os rendimentos<br />
do estado não chegavam para<br />
tamanhas vorajens <strong>de</strong> loucuras. Os municípios<br />
endividavam-se extraordinariamente.<br />
Portanto, novos impostos, crescendo<br />
dia a dia, agravavam a infelis situa<br />
ção do povo.<br />
As Tulherias, ao mesmo tempo que<br />
continuavam nas suas cruéis ezijencias<br />
<strong>de</strong> dinheiro, engulindo o que era licito e<br />
o que era ilícito, finjiam ter dó das multidões,<br />
e orgartisavam kermesses, benefícios,<br />
subscrições, mealheiros em favor<br />
iFelas.<br />
A imperatriz, sabendo tudo, diz Taxile,<br />
que se pô<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r no < Sacré<br />
Coeur, era uma mulher piedoza, <strong>de</strong> profunda<br />
<strong>de</strong>voção temendo a Deus e amando<br />
os pobres. Lançou-se, <strong>de</strong> braços abertos,<br />
no partido clerical. Os bispos tiveram<br />
nela a sua amiga, o seu baluarte, a<br />
sua força. Por sua intervenção se impozeram,<br />
mandaram, governaram. Aliados,<br />
ela e eles, no santo ardor da fé contra<br />
os republicanos, contra os livres pensadores<br />
1 Era ela, é sempre Taxile que c<br />
refere, quem fazia lêr, e assinalava a<br />
seu marido, os artigos menos agradaveis<br />
ao trono e ao altar, incitando o imperador<br />
a fazer sjiprirrrr os jornaes que os<br />
publicavam. Os padres reinavam, com<br />
toda a amplitu<strong>de</strong>. O dogma da Imaculáda<br />
Conceição foi recebido, em toda a França<br />
com estrondosas manifestações oficiaes<br />
<strong>de</strong> Jubilo. O clero recebe or<strong>de</strong>ns para<br />
ensinar ás creanças, nas escolas, os arti -<br />
gos do «Silabus». Do «Silabus», do<br />
« Silabus », o supremo atentado á dignida<strong>de</strong><br />
umana I<br />
Amôr, com amôr se paga. Ao batisado<br />
do príncipe imperial assistiram 86<br />
bispos! O imperador, viajando, não<br />
atravessava uma diocese sem que o bispo<br />
viesse, ; á frente do clero, saudar o «Salvador<br />
da socieda<strong>de</strong> »<br />
0 recrutamento dos a<strong>de</strong>ptos fazia-se<br />
entre omens sem escrupulos, aventureiros<br />
sem valor moral, jeralmente <strong>de</strong> medíocre<br />
valor inteletual. Também, o que<br />
o imperador preferia eram «omens <strong>de</strong><br />
pulso! »<br />
Saint Arnaud avia sido caixeiro viajante,<br />
comediante, mestre <strong>de</strong> armas, etc.<br />
Magnan, outro aventureiro. Fleuri, um<br />
« viveur», foi feito ajudante do imperador<br />
só por montar bem a cavalo. Espi<br />
nasse, um imbecil, foi feito presi<strong>de</strong>nte<br />
do conselho só por ser um soldado bru-<br />
L I T E R A T U R A & A R T E<br />
K ATUCHA<br />
Cheia <strong>de</strong> graça e frêsca como as rozas<br />
Viveu tecendo, sob o olhar <strong>de</strong> Deus,<br />
Os sonhos que nas tar<strong>de</strong>s silenciozas<br />
— Jezus sonhou, fitando os claros ceos.<br />
Ouviu, tremendo, a muzica dos ninhos,<br />
Amou, cantando, as lúcidas es'pra"ças,<br />
Como a sorrir, á beira dos caminhos<br />
— Jezus amou, <strong>de</strong>scalço, entre as creanças.<br />
Depois, maldita, por têr muito amado,<br />
O dôce e triste, <strong>de</strong> que o mundo ria,<br />
Chorou o pranto que na crus pregádo.<br />
— Jezus chorou na ora da agonia.<br />
Errante, pelos sonhos, perseguida,<br />
Quantas vêzes, nas noites dolorozas,<br />
Se não lembrou que fôra noutra vida<br />
Cheia <strong>de</strong> graça e frêsca como as rozas. . .<br />
Espirito gentil que pelo mundo<br />
Como Jezus, sonhou, amou, chorou. . .<br />
Ergue p'ra o sol o teu olhar profundo<br />
Cristo resuscitou!<br />
( Do numero único<br />
A<strong>de</strong>lina Abranches) CARLOS AMARO.<br />
tal, capaz <strong>de</strong> todas as violências para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
o trono.<br />
Toda essa gente era festejada, favorecida,<br />
agrupada num fim único: combater<br />
os republicanos.<br />
A monarquia resumia a sua vida neste<br />
ponto: afujentar o espetro, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se<br />
da Republica.<br />
Era a sua obcecação. Nesse intuito<br />
arriscou tudo, jugo» tudo. Violências,<br />
festas, corruções, batalhas, miravam só a<br />
isto: vencer, ou, pelo menos, adormecer<br />
a opinião.<br />
Quando a opinião acordou enfurecida,<br />
quando em 186g, elejeu uns poucos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>putados republicanos, entre eles Gambeta<br />
e Rochefort, quando a quinta parte<br />
do exercito, no plebiscito <strong>de</strong> 1870, se<br />
manifestou contra o império, apezar <strong>de</strong><br />
todas as corruções e brutalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caserna,<br />
a monarquia jogou a ultima cartada<br />
: a guerra <strong>de</strong> 1870.<br />
E jogou-a como o batoteiro reduzido<br />
aos extremos da infamia.<br />
Razaine, em Metz, foi o requinte da<br />
pulhice. Napoleão, em Sédan, não lhe<br />
ficou a <strong>de</strong>ver nada.<br />
Este biltre, que, nas vesperas do<br />
golpe <strong>de</strong> estado, do dois <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro,<br />
dizia aos militares, que tinham a<strong>de</strong>rido<br />
á conspiração: «Je ne vous dirais pas:»<br />
Slarehez, je vous suls : « mais je<br />
vous dirais: » tle marche, sulvezmol!<br />
não teve força moral, nem fizica,<br />
para montar a cavalo, e cair vencido<br />
como um ornem, ou morto, á frente das<br />
suas tropas.<br />
Só teve esse grito <strong>de</strong> angustia, esse<br />
grito <strong>de</strong> dôr, <strong>de</strong> fraqueza, <strong>de</strong> urriilhação,<br />
<strong>de</strong> covardia, que Zola na «Debacle » lhe<br />
atribue:<br />
01 ce cânon, ce cânon, qui ne cesse<br />
pas I<br />
Contra os republicanos, isto é, contra<br />
a liberda<strong>de</strong>, contra a verda<strong>de</strong>, contra o<br />
direito, não dizia: «Marche, eu vos sigo,»<br />
Dizia: «Eu marcho, segui-me.» Contra o<br />
inrnigo da patria não sabia marchar, nem<br />
seguido dos outros, nem seguindo os outros!<br />
Sabia carpir, sabia lamentar o tiro<br />
do canhão, que lhe ajitava a bexiga e os<br />
rins, para acabar por escrever ao rei.<br />
da Prússia, ao Monsieur mon Frère ele,<br />
le bom Frère Napolèon, remetendo-lhe a<br />
sua espada, que só para esse ato ignóbil<br />
saia da bainha!<br />
A' óra em que o pobre cabo João, o<br />
valente cabo João, o cabo <strong>de</strong> esquadra<br />
intemerato e fiel, o cumpridor austero<br />
do <strong>de</strong>ver, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas fadigas, <strong>de</strong><br />
tantos sofrimentos, <strong>de</strong> tantas dôres, <strong>de</strong><br />
tantos perigos, só confiava no pôr do sol<br />
como termo <strong>de</strong> martírios.<br />
Ce cochon <strong>de</strong> soleil!.<br />
Qiiand il será couc.hê e qríil fera muit,<br />
on ne se balra plus, peut étre !<br />
E o sol põe-se, emfim. Emfim ! Emfim<br />
!<br />
A ce cochon <strong>de</strong> soleil, le vóila donc<br />
qui se conche.<br />
Emfim! Emfim 1<br />
Como este grito sujestivo vale só poti<br />
si por um poema !<br />
A noite traz a paz, o <strong>de</strong>scanço, uma<br />
trégua d'algumas óras. Paz e <strong>de</strong>scanço<br />
para os mortos, que não serão pisados<br />
a patas <strong>de</strong> cavalo. E paz e <strong>de</strong>scanço<br />
para os vivos, qne irão daí a pouco,<br />
quando as aves romperem o canto alegre<br />
da alvorada, cair, por sua vez, ao lado<br />
<strong>de</strong>les. Morrer por um frascario sem pudor.<br />
0 vil frascario! Morrer pelas Tulherias,<br />
um antro <strong>de</strong> vícios e vergonhas.<br />
Morrer, enviando aos filhos, á mulher<br />
amada, o ultimo suspiro. Como WeísS,<br />
ali, aos olhos <strong>de</strong> Inriqueta, fuzilado contra<br />
um muro, como um cão! Como o<br />
sargento, Onorio, lá em cima, sobre a.<br />
peça, agarrando a carta <strong>de</strong> Silvina, no<br />
ultimo estertor, e apertando-a contra o<br />
coração!<br />
Pôr do sol <strong>de</strong> ignominia, nascer do<br />
sol <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mção.<br />
0 império morria ao anoitecer. A<br />
Republica surjia com a aurora.<br />
E a Republica foi, para a França, uma<br />
verda<strong>de</strong>ira re<strong>de</strong>nção!.<br />
•' '• Í iíff!f;> ! j iíífilJjÇIOlQ<br />
Pelo licen<br />
D'O Povò d'Aveiro. <br />
O prazo para a entrega <strong>de</strong> requerimentos<br />
para os exames <strong>de</strong> instrução<br />
primaria do 2.° gráu é <strong>de</strong> 15 a ^0 do<br />
proximo més <strong>de</strong> Junho, e <strong>de</strong> 20 a 30 do<br />
mesmo mês para a entrega das relações<br />
dos alunos propostos para exame do 1.°<br />
gráu.<br />
Os alunos só pó<strong>de</strong>m ser propostos a<br />
exame do 1.° gráu pelos professores lega'mente<br />
inscritos na secretaria da inspéção,<br />
ou pelos chefes <strong>de</strong> familia, quando<br />
a educação dos candidatos ao exame se<br />
ája efétuadi no ensino domestico.<br />
Consta que, ao contrario do que era<br />
esperado, este ano só po<strong>de</strong>rão fazer exame<br />
do 2.° gráu os alunos que tiverem feito<br />
o ano passado o 1° rráu, não a\endo,<br />
portanto, portaria que dispense a aprezentação<br />
do ceitificado d'exame do 1.°<br />
gráu no áto da entrega dos requerimentos<br />
para o 2.°.<br />
Os exames do 1.° gráu terão logar<br />
nas escolas durante o mês <strong>de</strong> Julho e os<br />
do 2.° no mês d'Agosto.<br />
Rrevemente serão publicados editais<br />
regulaudo a fórma dêsses exames.<br />
Foi pedida autorização para serem<br />
removidos da ca<strong>de</strong>ia da Figueira da Fós<br />
para a <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> os prezos Joaquim<br />
Marques e Inácio d'Assumção.<br />
0 Grupo Muzical Jozé Mauricio, comemora<br />
no proximo domingo o ti. 0 aniversario<br />
da sua fundação.