902-911 - Universidade de Coimbra
902-911 - Universidade de Coimbra
902-911 - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Editor<br />
PUBLICA-SE AOS DOMINGOS E QUINTAS-FEIRAS<br />
MANUEL D'OLIVEIRA AMARAL Redacção e Administração — Rua Ferreira Borges<br />
Candidatos republicanos<br />
São candidatos republicanos<br />
pelo circulo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, nas eleiçõis<br />
que se realízâo no dia 26, os<br />
seguintes cidadãos:<br />
Bernardino Luis Machado<br />
C*uimarãis (Dr.) professor<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Manuel <strong>de</strong> Arriaga<br />
(Dr.), advogado.<br />
Alonso Aug-usto d a<br />
Costa (Dr.), professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> e advogado.<br />
Antonio jozé <strong>de</strong> Almeida<br />
(Dr.), medico.<br />
Paulo Jozé Falcão<br />
(Dr.), advogado.<br />
Em Portugal, mercê dos processos<br />
<strong>de</strong> violência e corrução uzados<br />
pelo Po<strong>de</strong>r, a politica provocou<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong>ns e <strong>de</strong>sprezos. Desvirtuou-selhe<br />
a significação eleváda e púra<br />
Esta expressão — politica — passou<br />
a <strong>de</strong>zignar um amontoado <strong>de</strong> pra<br />
ticas indignas, <strong>de</strong> abilida<strong>de</strong>s torpes,<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>spotismos revoltantes. Como<br />
seus reprezêntantes indicárão-se vi<br />
lõis <strong>de</strong> vária classe e aparência,<br />
dês<strong>de</strong> o conselheiro, que na capita'<br />
trafica em larga escála, aos cágados<br />
que nas rejedorías sertanéjas se<br />
pronuncião com a autorida<strong>de</strong> na<br />
barriga.<br />
O conceito alto da politica foi<br />
posto <strong>de</strong> parte, e esta palavra pas<br />
sou a ter fóros duma das obscenida<strong>de</strong>s<br />
arrepiantes. A politica <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />
ser uma sinteze <strong>de</strong> principios;<br />
para ser uma profissão lucrativa <strong>de</strong><br />
vários salafrários inúteis, umagazúa,<br />
um alcouce.<br />
Admitido tal significado, e provado<br />
que a essência dos factos estava<br />
fielmente concor<strong>de</strong> com tal<br />
indicação, a politica provocou a abstenção,<br />
crescente duma gran<strong>de</strong><br />
mássa <strong>de</strong> indivíduos, a quem enojava<br />
a cumplicida<strong>de</strong> em tais trapáças.<br />
E eis porque a imoralida<strong>de</strong> cresceu,<br />
os atentados redobrárão <strong>de</strong><br />
violência e frequência, e o país <strong>de</strong>rivou<br />
a esta vergonhóza situação,<br />
que fás pena e fás nauzéas, que<br />
contrista e revolta.<br />
Ficárão em campo, sem peias,<br />
sem ameáças, os sujeitos que da<br />
politica se senhoreárão como bom<br />
filão a explorar.<br />
Manobrárão á vonta<strong>de</strong>. Afirmárão,<br />
falsificárão, subornárão, roubárão.<br />
E rirão da Justiça, dos códigos,<br />
dos vários podêres organizádos<br />
ripara assegurar os direitos dos cidadãos.<br />
Érão mariolas, traficantes,<br />
gatunos, mas ao abrigo da lei, com<br />
visto dos podêres públicos e licênça<br />
do ordinário. /<br />
Assim a politica portuguêza se<br />
transformou em terrível encruzilháda,<br />
on<strong>de</strong> nem mesmo <strong>de</strong> bacamarte<br />
aperrado é seguro pôr a salvo a vida<br />
e a carteira.<br />
Ora este estado <strong>de</strong> coizas á<br />
muito que vem fomentando protéstos<br />
e reclamaçõis. Á um mal estar<br />
formidável. Os mais calmos temperamentos<br />
se conjestiónão em crizes<br />
arrebatadas. E que é preeizo moraizar<br />
a politica, dignificál-a, restituir-lhe<br />
o significado justo, arrancála<br />
das mãos da matulájem que a<br />
prostituiu, é ôje uma opinião jeral,<br />
repetida com insistência, gritada<br />
com <strong>de</strong>zespêro. Mas moralizar a<br />
politica importa con<strong>de</strong>nar os políticos<br />
que a <strong>de</strong>smoralizárão. Protestar<br />
contra êles é tudo. Fazer aseléção,<br />
<strong>de</strong>sprezá-los, pô-lós ao canto, e trazer<br />
para a frente, para a lús, os que<br />
tenhão sido preteridos e roubados,<br />
precizamente porque lhes sobrem<br />
cabedais <strong>de</strong> intelijencia e caráter,<br />
é a gran<strong>de</strong> missão a realizar.<br />
Bater a indiferença e o <strong>de</strong>zalento<br />
que relegárão para uma inativida<strong>de</strong><br />
funésta uma rná^sa enorme <strong>de</strong> cidadãos,<br />
eis o ponto por on<strong>de</strong> é preeizo<br />
rompêr.<br />
Nem sempre os que grítão contra<br />
a imoralida<strong>de</strong> da politica se dispõem<br />
a combater efétivamente essa<br />
imoralida<strong>de</strong>. Antes a auxilíão e<br />
mantém, esquecendo as suas palavras<br />
com vergonhóza facilida<strong>de</strong>. Se<br />
os compromissos tomados em lance<br />
<strong>de</strong> protéstos se cumprissem, se os<br />
fátos acompanhassem coerente e<br />
onradamênte as palavras, outra seria<br />
a nossa situação.<br />
Nas eleiçõis se tem principalmente<br />
revelado a doblês <strong>de</strong> caráter<br />
<strong>de</strong> muitos. E é em virtú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa<br />
doblês que os protestos <strong>de</strong> certa<br />
or<strong>de</strong>m e <strong>de</strong> certas classes são <strong>de</strong>zautorizádos<br />
e impotêntes para compelir<br />
os govêrnos á adóção <strong>de</strong> nóvas<br />
praticas administrativas.<br />
Assim é preeizo que todos sáibão<br />
cumprir, e cumprir onradamente<br />
os seus <strong>de</strong>vêres cívicos. Intervir<br />
na politica, com onra e com<br />
patriotismo, não é cumplicitar com<br />
as suas torpêzas, é procurar levanta-la,<br />
purifica-la.<br />
Todos os que protéstão tem<br />
obrigação <strong>de</strong> ser coerêntes, e assim,<br />
em todos os momêntos propícios,<br />
manifestarém-se praticamente em<br />
armonia com as suas opiniõis.<br />
Aquêles que <strong>de</strong>smentem, por<br />
átos, as suas palávras, serão tudo<br />
menos ómens <strong>de</strong> bem e <strong>de</strong> convicçõis.<br />
E é por se não terem juntado<br />
todos os ómens <strong>de</strong> bem e <strong>de</strong> ccnvicçõis<br />
que a politica <strong>de</strong>sceu tanto.<br />
No momênto, tem todos os que<br />
reclâmão contra esta politica <strong>de</strong><br />
bandidos e <strong>de</strong>zéjão uma politica <strong>de</strong><br />
onra e <strong>de</strong> patriotismo, ocazião excelênte<br />
<strong>de</strong> provarem a sua sincerida<strong>de</strong>,<br />
lavrando um magnifico protésto.<br />
Vão realizar-se as eleiçõis, <strong>de</strong>ntro<br />
em breve, a 26 do corrente. O<br />
partido republicano aprezênta os<br />
seus candidatos—nomes todos con<br />
sagrados pelas altas qualida<strong>de</strong>s que<br />
os abrilhantão e pelo exemplo da<br />
sua vida, enobrecida no culto intranzijênte<br />
d'uma i<strong>de</strong>ia.<br />
Votar nos candidátos republicânos<br />
é votar contra a corrução<br />
dominante e pelo advênto duma<br />
politica nova <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> e liber-<br />
da<strong>de</strong>: é lavrar um protesto digno<br />
contra todos os atentados, todas as<br />
vergonhas e todas as extorsõis <strong>de</strong><br />
que o pais tem sido vitima, e <strong>de</strong><br />
que ainda á pouco se fês com duro<br />
rigor o famôzo inventário: é consagrar<br />
uma alta prova <strong>de</strong> justiça a<br />
nomes <strong>de</strong> ómens que todo o país<br />
conhece e admira pela excecionalida<strong>de</strong><br />
dos seus nobres predicados: é<br />
emfim dar aos governantes uma<br />
sevéra lição, mostrando-lhes que os<br />
seus abuzos, os seus <strong>de</strong>sprêzos, as<br />
suas violências não pássão impunes,<br />
e que o país não abdicou ainda da<br />
sua lejitima soberania para ser tratado<br />
como um passivo e ignóbil re>banho<br />
<strong>de</strong> escravos.<br />
Votár nos candidátos monárquicos,<br />
é votár pela permanência duma<br />
politica <strong>de</strong> bandoleirismo audaciôzo<br />
que tem explorádo e vexádo o<br />
país, <strong>de</strong>ixando-o sem exército, sem<br />
marinha, sem instrucção, sem crédito,<br />
aos acázos da caprichóza loucura<br />
<strong>de</strong> cínicos e megalomanos incuráveis:<br />
é votar pela confuzão dos<br />
dois erários, pela correjedoria, pelo<br />
rejimen do convénio, da reação relijioza,<br />
do contrato Wiliams, das<br />
embaixadas á China, <strong>de</strong> todas as<br />
vergonhas e <strong>de</strong> todos os escandalos<br />
que teem <strong>de</strong>zonrado o nosso nome:<br />
é votar contra a Liberda<strong>de</strong> e a Justiça<br />
pelo prcviléjiu e pela iniquida<strong>de</strong>,<br />
contra a onestida<strong>de</strong> e o civismo pela<br />
corrução e o abastardamento: é<br />
sancionar todo o Passado <strong>de</strong> inqualificáveis<br />
vilanias>é votar contra um<br />
futuro <strong>de</strong> reivindicaçõis nobilitadôras.<br />
Os eleitores do circulo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
são chamados a escolher, e<br />
francamente lhes diremos que quem<br />
fôr onesto, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e patrióta<br />
á-<strong>de</strong> escolher os candidátos républicanos.<br />
Eles não temem discussõis<br />
nem confrontos. Eezafião o<br />
odio dos adversários, com a serena<br />
corajem <strong>de</strong> quem está bastante alto<br />
para que a lama lhe chegue. São<br />
reprezentantes d'um gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al<br />
<strong>de</strong> justiça e <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, cuja <strong>de</strong>fêza<br />
teem feito com um brilho e uma<br />
grandêza moral que não <strong>de</strong>páiâo<br />
egual no campo adverso.<br />
Fáção o confronto. E escôlhão<br />
com consciência, com onra e com<br />
patriotismo:<br />
A' xirna poios oanciídatosrepulblicanos!<br />
Apreençõis<br />
Revolta-nos ,esta ipocrizia amavel em<br />
uzo 11a imprensa portuguêza <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reçar<br />
condolências aos coléjas vitimados<br />
pela fúria do Po<strong>de</strong>r.<br />
Palavra-, palavras, palavras. Uma<br />
indignação postiça que agrava mais a<br />
revolta sincéramente sentida pelos que<br />
não sofrem a condição <strong>de</strong> escravos que<br />
os governos pretên<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ferir-lhes.<br />
Mostras fracas <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> que<br />
não rezistem á menor prova séria e é<br />
apenas um anteparo para a covardia do<br />
maior numero.<br />
0 «Mundo» e o «Debate» tem sido<br />
apreendidos, Escuzado é dizêr que protestamos<br />
contra o assalto; mas escuzado<br />
é também insistir em que, dispostos a<br />
um protesto sério, e efétivo, qualquer<br />
que ele seja nos repugna estar todos os<br />
dias a lamuriar as velhas frazes <strong>de</strong> estilo.<br />
Para o que quizerem, menos para<br />
comedias.<br />
• Centro Eleitoral Republicano<br />
3ozi Falcão<br />
TVo Ceaír» «Fozé Falcão são<br />
fornecidos iodos os dias, das<br />
8 oras da noite em <strong>de</strong>ánte,<br />
quaisquer esclarecimentos e<br />
informaçôis áeerca do áto eleitoral,<br />
po<strong>de</strong>ndo ali ser consultados<br />
por tôdos os eleitores<br />
os recenseamentos das respétivas<br />
freguesias.<br />
Os benefícios do rejimen<br />
Aos oloitoros<br />
Não à exercito<br />
«0 exército não está bem vestido,<br />
está mal calçado, o que é talvês peior<br />
do que estar <strong>de</strong>scalço, está <strong>de</strong>zarmado,<br />
não tem rezérvas em condiçõis <strong>de</strong> soli<strong>de</strong>s,<br />
não tem <strong>de</strong>pózijos, não tem quadros<br />
inferiores.em armonia com as unida<strong>de</strong>s<br />
contribuídas não pô<strong>de</strong> mobilizar-se nem<br />
sequer instruir-se como déve e como<br />
quér...Í<br />
(Carta do tenente-Cororiel Xavier<br />
Machado, publicado em apênso do Diário<br />
Ilustrado <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1904.)<br />
Não ú marii)ba<br />
« Nem um navio <strong>de</strong> combate, a não<br />
ser um cruzadôr que talvês se possa empregar<br />
ao largo; <strong>de</strong>fêza torpe<strong>de</strong>ira.núla.<br />
Nem organização, nem pessoal <strong>de</strong>vidamente<br />
abilitado, nem a instrucção preciza.<br />
E' ama triste verda<strong>de</strong>,^ mas é preeizo<br />
que o país saiba que se <strong>de</strong>zenga<br />
nem os não profissionais, se, vendo esses<br />
poucos navios que possuimos, imaginão<br />
que éles pó<strong>de</strong>m reprezentar alguma couza<br />
como elementos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fêza.<br />
Não servirão senão para sacrificar<br />
aquêles que, pela onra da ban<strong>de</strong>ira que<br />
<strong>de</strong>fendém, queirão morrêr pela Patria no<br />
dia em que a Patria morrêr. »<br />
(Conferência do eapitão-tenente da<br />
Armada, João Batista Ferreira, extratado<br />
no Diário Ilustrado.)<br />
São palavras <strong>de</strong> monárquicos<br />
— para que em espíritos rezistente<br />
mente injénuos não fiquem suspeitas<br />
<strong>de</strong> que <strong>de</strong>svirtuamos ou menti<br />
mos.<br />
Não á exército.<br />
Não á marinha.<br />
Em compensação temos as instituiçõis<br />
monarquicas constitucionais.<br />
. .<br />
Vótem por élas!<br />
Ros comicios realizados<br />
contra as medidas da fazenda<br />
provárão-se as responsabilidã<br />
<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todos os partidos na<br />
situação <strong>de</strong> ignominia e <strong>de</strong><br />
ruina que esmaga o pais.<br />
Votár#nos candidatos aprezentãdos<br />
por esses partidos é<br />
fazer uma afirmação <strong>de</strong> crimi<br />
rcoza cumplicida<strong>de</strong>.<br />
Têm andado açodados os grosbonnets<br />
políticos cá do burgo.<br />
Parece até que o acôrdo rotativísta<br />
í a finjir, e que a lista leva jeites duma<br />
memorável conflagração.<br />
0 que é que os fará andar assim,<br />
em tão laborióza azáfama, batendo á porta<br />
dos eleitores pancadinhas respeitozas,<br />
com o seu melhor sorrizo e as suas palávras<br />
máis dôces?<br />
E' a intervenção dos républicanos na<br />
lista eleitoral ?<br />
Pedimos mil <strong>de</strong>scolpas, meus senhôres,<br />
se é essa a orijem das doidas correrias.<br />
Não era intenção nossa incommodar...<br />
Typ. Democratiea<br />
ARCO DE) ALMEDINA, IO<br />
A FARÇADA<br />
A reação vem <strong>de</strong> têr a sua óra<br />
<strong>de</strong> êxito ostensivo e arrogante.<br />
Impudêntemente, sob o pretexto<br />
<strong>de</strong> comemorar o quinquajenario da<br />
Definição dogmatica da Imaculada<br />
Conceição, éla ascen<strong>de</strong>u ao monte<br />
Sameiro pela simples ancia do exibicionismo.<br />
Com o intuito aparênte <strong>de</strong> consagrar<br />
é radicar mais a submissão<br />
cultual por um facto que a ciência,<br />
a razão e a istoría repelem para o<br />
domínio do absurdo e irrizorio, não<br />
fês mais do que patenteár a sua<br />
força e a sua audacia com o orgulho<br />
inflexível <strong>de</strong> quem vê aluir e<br />
findar irremedialmente o arbitrario<br />
po<strong>de</strong>rio e a supremacia intranzijente<br />
d'outr'ora.<br />
A singular ipocrizia com que<br />
preten<strong>de</strong>u exaltar a fé n'essa manifestação<br />
injustificável não mascarou<br />
e ocultou também a manigancia<br />
capcióza das vaida<strong>de</strong>s e interésses,<br />
postos em jogo, e bem altos e evi<strong>de</strong>ntes<br />
para atestar irredutivelmente<br />
a vilêza e a insincerida<strong>de</strong> dos seus<br />
propózitos.<br />
Todavia, repetimos, a reação<br />
'cercada das regalias e privilejios,<br />
que n'este pais largamente se conce<strong>de</strong>m<br />
a tudo o que se bazeie n'um<br />
principio inaceitavel e mau, teve<br />
os seus momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sforçado<br />
triunfo.<br />
Para que fosse o mais retumbante<br />
possivel não faltárão, n'um<br />
espirito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> disciplinada,<br />
as simpatias excepcionais d'altissimas<br />
figuras, o concurso unanime<br />
dos chefes da Igreja, o beaterio<br />
aristocrático e galanteios núcleos<br />
d'organização clerical e a comparência<br />
ou a<strong>de</strong>são dos seus elementos<br />
d'ação.<br />
E' certo. Mas não obstante isso<br />
este triunfo foi simplesmente <strong>de</strong><br />
farça.<br />
Repare-se nessa Aca<strong>de</strong>mia em<br />
que por vezes se <strong>de</strong>u largas a uma<br />
loquacida<strong>de</strong> inconveniente e inverozimil,<br />
atente-se na macaqueação<br />
reles ç^ridicula, sem objetivos muito<br />
<strong>de</strong>votos, das procissõis noturnas<br />
á Lour<strong>de</strong>s, e n'esses cortejos, acentuadamente<br />
pagãos, que constituirão<br />
nóvos e in<strong>de</strong>fetiveis <strong>de</strong>poimentos<br />
da mariolatria com essa mirabolante<br />
cena da coroação, que não<br />
veio a ser o fecho apoteotico da<br />
pantomima, como se projetava, em<br />
virtu<strong>de</strong> da inabalavel e impassível<br />
contrarieda<strong>de</strong> da Natureza.<br />
Dir-nos-ão porem que nem tudo<br />
foi exteriorização ufanante, nem<br />
conquista astucióza <strong>de</strong> certos fins,<br />
ainda ocultos, dada a afluência respeitável<br />
dos fieis a manifestar o<br />
crescente e arraigado sentimento<br />
religiôzo da nação.<br />
O'! não nos iludamos.<br />
Essa multidão que acorreu ás<br />
chamadas festas jubilares não reprezenta<br />
o fervor da crença, mas personifica<br />
a Inconsciência que, aproveitando<br />
o ensejo excelente, se precipitou<br />
naturalmente para o <strong>de</strong>sfrute<br />
d'um íestival raro com <strong>de</strong>slumbramentos<br />
espetaculózos e pompózos,