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902-911 - Universidade de Coimbra

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Editor<br />

MANUEL DOLIVEIRA AMARAL<br />

PUBLICA-SE AOS DOMINGOS E QUINTAS-FEIRAS<br />

Redacção e Administração = Rua Ferreira Borges<br />

Typ. Democratica<br />

ARCO DE) ALMEDINA, IO<br />

N.° 906 COIMBR×Domingo, 29 <strong>de</strong> maio áe 1904 IO. 0 ANO<br />

0 ACORDO<br />

Está feito o acordo entre rejeneradores<br />

e progressistas para as<br />

próximas eleições, e para quem<br />

tenha conhecimento dos processos<br />

á muito em voga na politica portuguêza<br />

não representa esse acontecimento<br />

uma aberração propicia<br />

a estranhezas e a comentários indignados.<br />

Sem duvida certos fatos á que,<br />

ainda que velhos e <strong>de</strong> nossa muita<br />

intimida<strong>de</strong>, nos revoltam e enojam<br />

quando se exhibem; mas o que nós<br />

preten<strong>de</strong>mos acentuar é que o accôrdo,<br />

mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terem já<br />

voado pelo ar setas, farpões e vários<br />

tiros inimigos, não dão matéria<br />

nova para afogueamentos <strong>de</strong> cólera<br />

puritana.<br />

Porque, reparando bem na istotoria<br />

da politica do rejimen, acharemos<br />

que o acordo <strong>de</strong> todos os<br />

seus ómens data <strong>de</strong> lonje, e que a<br />

momentanea diverjencia em questõis<br />

<strong>de</strong> lana caprina não exclue <<br />

concordância fundamental <strong>de</strong> pro<br />

cessos e orientação pelo que toca<br />

á exploração do país.<br />

As ameaças <strong>de</strong> ostilida<strong>de</strong>s feras<br />

que uns aos outros fazem é uma<br />

velha comedia. Pó<strong>de</strong>m ter amúos.<br />

Exijencias não satisfeitas pó<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>terminar caseiras tempesta<strong>de</strong>s<br />

Mas porque um procedimento mais<br />

estrondoso, no sentido <strong>de</strong> difficultar<br />

a acção governativa do grupo no<br />

po<strong>de</strong>r, importaria para o grupo ba<br />

rulhento o perigo <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sconceituado<br />

perante a suprema torça que<br />

presi<strong>de</strong> á rotação, rezulta que o ataqueque<br />

se fazem tem o caracter duma<br />

leve escaramuça para inglez ver,<br />

lembra uma manobra com tiroteios<br />

<strong>de</strong> polvora seca.<br />

O acôrdo dos monárquicos<br />

velho, é <strong>de</strong> sempre, e o que á tal<br />

vez a distinguir é a abilida<strong>de</strong> em<br />

disfarçal-o melhor ou peior, o cuidado<br />

maior ou menor em vestir-lhe<br />

'aparências guerreiras.,<br />

Um <strong>de</strong>putado <strong>de</strong>clarou, na ul<br />

tima lejislatura, que não conhecia<br />

ninguém no seu circulo e que se<br />

estava ali era tão somente por ace<br />

<strong>de</strong>ncia jentil do Ministério do reino<br />

E todos sabem <strong>de</strong> resto que os go<br />

vernos, e não o pais, é que faz as<br />

eleições, <strong>de</strong> tal forma que a maioria<br />

<strong>de</strong> ôje é a minoria <strong>de</strong> ámanhã;<br />

e todos sabem também que é firme<br />

o acôrdo entre todos os monárquicos<br />

para manter este statu-quo, obstando<br />

por todas as formas a que a<br />

manifestação livre do sufrajio possa<br />

perturbar esta cómoda e pacífica<br />

funçanata.<br />

Depois ão-<strong>de</strong> ter notado que os<br />

que na opozição combatem a obra<br />

dos governos, raríssimo <strong>de</strong>stroem,<br />

quando guindados ao po<strong>de</strong>r, essa<br />

obra; e, bem ao contrario, a <strong>de</strong>fendam<br />

e ampliam, esquecendo as suas<br />

fogosas <strong>de</strong>blaterações, os seus compromissos,<br />

as suas promessas.<br />

O que significa esta atitu<strong>de</strong>,<br />

senão a existencia dum acôrdo fundamental<br />

<strong>de</strong> processos ?<br />

Os attentados, os <strong>de</strong>satinos, as<br />

imoralida<strong>de</strong>s com tanto ardôr <strong>de</strong>nunciados,<br />

para logo se esquecem;<br />

e, no po<strong>de</strong>r, os bravos poritanos<br />

não fazem mais do que augmentar<br />

o<br />

numero <strong>de</strong>ssas feias cousas, tão<br />

combatidas, tão verberadas.<br />

Não á liberda<strong>de</strong>s, porque os partidos<br />

monárquicos acordárão em suprimil-as.<br />

Golpe que um lhes vibrasse,<br />

era golpe que os outros secundaríão,<br />

com raiva. Não á credito, porque<br />

os partidos monárquicos acordárão<br />

em fazel-o <strong>de</strong>saparecer pela pratica<br />

igual <strong>de</strong> <strong>de</strong>satinos semelhantes,<br />

ístamos reduzidos á condição <strong>de</strong><br />

um povo miserável, sem nada que<br />

o imponha ao respeito <strong>de</strong> extranhos<br />

mesmo ao entuziástico amôr dos<br />

seus, porque os partidos monárquicos<br />

acordárão na adoção duma mesma<br />

politica, que avia <strong>de</strong> leval-o<br />

fatalmente a este fim in<strong>de</strong>coroso.<br />

Emfim, o acôrdo vem <strong>de</strong> lonje, tem<br />

existido sempre. Nas pequenas terreolas<br />

provinciànas, os políticos<br />

ainda se esmurram por vêzes com<br />

alma. Mas na alta política todos<br />

êles se enten<strong>de</strong>m, porque existe o<br />

acôrdo que lhes garante a fruição<br />

<strong>de</strong> regalias e benesses mesmo em<br />

tempo <strong>de</strong> ostracismo.<br />

E <strong>de</strong> acôrdo com os partidos<br />

monárquicos, sancionando-lhes os<br />

processos, exorando-os com ã sua<br />

confiança, está a Corôa, sem a qual<br />

êles não po<strong>de</strong>ríão vivêr.<br />

De fórma que o acôrdo está <strong>de</strong><br />

á muito estabelecido entre os partidos<br />

monárquicos e a Corôa contra<br />

o paiz, que para êles nada reprezenta,<br />

e entra como ínfima comparsaria<br />

nas baixas comedias que promovem.<br />

O acôrdo <strong>de</strong> agora não é, pois,<br />

um fato novo, para admirações<br />

cóleras, mas é um fato que convém<br />

pôr em <strong>de</strong>staque, para que o país<br />

compreenda a triste figura que está<br />

fazendo.<br />

-^Centra Eleitoral Republicano Jozé Falcão<br />

CONFERENCIA<br />

O nosso eminente correi!<br />

glossário sr. dr. BSernardino<br />

Is achado realiza ámanhã, se<br />

gnnda-feira, pelas 8 horas da<br />

laolle, «iaa conferencia no<br />

«Centro IíSeitoral Stepubllca<br />

no», cujo tema será: Eleições<br />

A esta eonfereueia outras<br />

se seguirão, feitos por vários<br />

republicanos prestijiozisslmos.<br />

Parece que estão quebradas as<br />

relações entre a Santa-Sé e a França—<br />

a filha primojenita da Igreja.<br />

Nós sempre <strong>de</strong>sconfiamos que<br />

esta filha havia <strong>de</strong> envergonhar a<br />

familia, <strong>de</strong>ixando-se levar nos bra-<br />

ços do Satan revolucionário.<br />

Atinjiu a maiorida<strong>de</strong>, e<br />

Valeram as investações a retel<br />

lar domestico.<br />

Safou-se.<br />

Desgostos...<br />

nao<br />

a no<br />

Terminam no dia 21 <strong>de</strong> junho as aulas<br />

na Escola Nacional <strong>de</strong> Agricultura.<br />

« O MUNDO»<br />

Foi apreendido este nosso prezado<br />

colega e <strong>de</strong>nodado batalhador<br />

da causa republicana.<br />

Percorremos com escrupulosa<br />

inquizitorial atenção o numero<br />

vitimado pela fúria policiasca do<br />

sr. Intze Ribeiro: relemol-o com o<br />

interesse anciôzo <strong>de</strong> quem busca<br />

ilar as razôis dum fato insólito: e,<br />

mau grado todas as nossas pesquizas<br />

e longas cojitaçôis, não lobrigamos<br />

o motivo que justificasse a<br />

3rutalissima medida.<br />

O Mundo tratava <strong>de</strong> cazos vários<br />

da nossa politica, sem exaltação,<br />

com um comedimento, que<br />

está lonje da linguajem <strong>de</strong>stemperada<br />

<strong>de</strong> certos senhores, em momento<br />

em que o ostracismo a prolonga<br />

em excesso, e o estomago<br />

bazio provoca tresloucamentos furiozos.<br />

Nada que explicasse a apreensão,<br />

avia, o que significa que o<br />

odio velho do sr. Intze Ribeiro não<br />

cançou e se dispôi a serias exibiçóis<br />

perseguidoras, no duplo intento <strong>de</strong><br />

vingar antigos incomodos e obter o<br />

silencio pará certas tramóias.<br />

Escuzado será afirmar o nosso<br />

prezado coléga a nossa solidarieda<strong>de</strong><br />

e o protesto veemente contra o<br />

covardíssimo atentado.<br />

Parece que o sr. Pequito se<br />

dispõe a apresentar plano fazendario<br />

<strong>de</strong> tomo.<br />

Mas Pequito provadamente débil<br />

para o esforço <strong>de</strong> altas cavalarias,<br />

é neste caso um pseudonimo.<br />

Quem será o autor da obra<br />

anunciada ?<br />

Não <strong>de</strong>sponta na imprensa oficiosa<br />

<strong>de</strong>smentido algum sobre a<br />

anunciada viajem rejia.<br />

Para tranquilizar os ânimos dos<br />

patriotas forretas digam ao menos<br />

que Sua Majesta<strong>de</strong> vae ao extranjeiro<br />

em. . . comissão gratuita.<br />

E fica tudo satisfeito.<br />

Se já lá tem ido tanta jente.<br />

O sr. Teixeira <strong>de</strong> Souza vae<br />

arpoar ovação rija em Celeiros,<br />

Sabrosa, Alijó, Sanfins, etc., etc.<br />

O sr. Campos Enriques anda por<br />

Santo Tirso e outras localida<strong>de</strong>s a<br />

colher o triumfo.<br />

Estão a ver a politica portuguêza<br />

reduzida a um combate <strong>de</strong><br />

filarmónicas em arraial minhoto<br />

Anda em jornais que o financeiro<br />

Burnay vae <strong>de</strong> conta do go<br />

verno negociar um emprestimo no<br />

extranjeiro.<br />

Mais um serviço que o ilustre<br />

con<strong>de</strong> <strong>de</strong>bitará ao pais, a que com<br />

tão patrióticas intenções procura<br />

sempre ser util.<br />

Pelas intenções do nobre ju<strong>de</strong>u<br />

ficamos nós.<br />

Nele é tudo puro: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as intenções<br />

ás virjens do Centenario...<br />

Partido republicano<br />

Desataviadamente, em amotações simples,<br />

<strong>de</strong> lonje vimos prégando a necessida<strong>de</strong><br />

do partido republicano se organizar<br />

solidamente, propondo-se a execução<br />

d'uma gran<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> rejeneração e <strong>de</strong><br />

justiça.<br />

Num momento <strong>de</strong> amargura e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zalento, quando a consumação d'uma<br />

enorme infamia caia pezadamente, como<br />

uma <strong>de</strong>sgraça assoladora, sobre tantas<br />

almas crentes, á pouco ainda gritando<br />

cóleras e cantando esperanças, nós encontramos<br />

forças bastantes para opôr ao<br />

grito concitador da <strong>de</strong>bandada a vós animoza<br />

<strong>de</strong> reunir. E <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então que só<br />

palavras <strong>de</strong> incitamento temos <strong>de</strong>ixado<br />

aqui, tocadas da sincerida<strong>de</strong> que nasce<br />

da <strong>de</strong>voção pura e serena do nosso<br />

i<strong>de</strong>al.<br />

A patria sofrera mais um golpe brutal.<br />

Crescera a sua <strong>de</strong>sventura. E isso<br />

bastava para que d'ela nos aproximássemos<br />

mais, enternecidamente, na participação<br />

d'essa dôr que nos tocava, não<br />

com lagrimas nos olhos, dobrados por<br />

comoção entorpecedora, mas direitos e<br />

fortes, com a alma erguida e o espirito<br />

a retemperar-se num proposito <strong>de</strong> jeneroza<br />

vindita.<br />

Vieram com essas concitações <strong>de</strong><br />

moço entuziásmo palavras melancólicas,<br />

notas azedas <strong>de</strong> ceticismo, duros conceitos<br />

<strong>de</strong> revolta ?<br />

E' que a obra a fazer exijia, para<br />

que não fosse uma artificioza construção,<br />

<strong>de</strong> aparências vistozas mas <strong>de</strong> alicerces<br />

oscilantes e vigamentos gastos, que se<br />

falasse alto a linguajem clara e ríspida<br />

da Verda<strong>de</strong>. Era preciso dizer tudo,<br />

confessar tudo, para que não continuas<br />

semos <strong>de</strong>sunidos e inúteis, mentindo uns<br />

aos outros, mentindo a nós proprios., repelindo<br />

como incomoda a realida<strong>de</strong> dos<br />

fatos, guardando com ardor a nossa intolerância,<br />

favorecendo por mil processos<br />

a nossa própria dissolução.<br />

Para os nossos omens apelamos,<br />

porque por eles essa obra <strong>de</strong>via começar.<br />

Que se juntassem todos, pedíamos,<br />

não para constituírem simplesmente<br />

um núcleo, um centro, uma comissão,<br />

não para se pren<strong>de</strong>rem pelos laços frágeis<br />

d'uma camaradajem aci<strong>de</strong>ntal; mas<br />

pata se confundirem na comunhão sincera<br />

d'um mesmo i<strong>de</strong>al, para se i<strong>de</strong>nti<br />

ficarem na mesma aspiração <strong>de</strong> o impo<br />

rem triunfante, pai»a que enfim d'esse<br />

amor a um principio luminozo e alto,<br />

pren<strong>de</strong>ndo-os na mesma sedução, viesse<br />

o mutuo amor entre eles, como um bom<br />

fruto nascido já d'um congraçarnento fecundo<br />

e belo <strong>de</strong> todos os espíritos sãos<br />

e.<strong>de</strong> todas as almas elevadas...<br />

Formar núcleos, exten<strong>de</strong>l-os, levar a<br />

toda a parte palavras <strong>de</strong> revolta e <strong>de</strong><br />

crença, educar e levantar a massa indi<br />

ferente e ignorante, crear carateres, for<br />

mar corações, impor o nosso programa<br />

e os nossos omens, aproveitar todos os<br />

ensejos <strong>de</strong> protesto e <strong>de</strong> luta, fazer emfim<br />

um gran<strong>de</strong> e perseverante apostolado<br />

da nossa causa, tudo isso preconisamos<br />

e queremos.<br />

Mas preliminarmente reputamos que<br />

era preciso, para tal empreza, que nos<br />

robustecessemos, vestindo para a luta o<br />

arnez impervio d'urna autorida<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

todos os pérfidos ataques viessem <strong>de</strong>sfa^<br />

zer-se, armando-nos da arma po<strong>de</strong>rosa<br />

d'um exemplo dominador que vencesse<br />

<strong>de</strong>ciziv.imeute os nossos adversarios.<br />

Fazer omens, melhorar os omens<br />

Éramos fracos, vergavamoí , constranjidos,<br />

manietados, ao peso duro^ <strong>de</strong> mil<br />

preconceitos tristes, sob a carga <strong>de</strong> mil<br />

misérias ?<br />

Alijar esse gravame que nós. tolhia,<br />

endireitar o torso dobrado, reanimar a<br />

alma combalida <strong>de</strong> vicios e <strong>de</strong> azedas<br />

tristezas—eis o que nos cumpria fazer.<br />

E no mesmo ponto ôje e sempre insistiremos.<br />

Precizamos unir-nos, mas unirnos<br />

e enten<strong>de</strong>r-nos com a sincerida<strong>de</strong>, a<br />

lealda<strong>de</strong>, a justiça que <strong>de</strong>vem pôr na<br />

pratica os verda<strong>de</strong>iros omens <strong>de</strong> bem<br />

<strong>de</strong> convicções.<br />

Nem vaida<strong>de</strong>s, nem invejas, nem ambições.<br />

Á' altura do nosso i<strong>de</strong>al, sempre,<br />

ganhando para nós proprios, pela<br />

norma da nossa vida, o respeito que lhe<br />

é <strong>de</strong>vido.<br />

Omens que se juntam para uma obra<br />

<strong>de</strong> Verda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> Justiça, nunca omens<br />

que se reúnem para o lance d'uma aventura<br />

em que os egoísmos <strong>de</strong> uns e a<br />

cupi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> outros tenham interesses ou<br />

ourarias a arpoar.<br />

Eis o que precisamos <strong>de</strong> ser.<br />

O exemplo, por mais que o neguem,<br />

abala, comove, contajia.<br />

Ainda mesmo num meio dissoluto<br />

como o nosso, o exemplo exerce uma<br />

reação salutar, é um combate ao mal, é<br />

um meio <strong>de</strong> eficaz protesto.<br />

Sejamos o exemplo, para sermos os<br />

mais fortes, para sermos emfim os ven- í*<br />

cedores. Porque dos mais fortes será<br />

inevitavelmente, tar<strong>de</strong> ou cedo, a vitoria,<br />

e os mais fortes serão os mais onestos e<br />

os mais justos, todos os que viverem e<br />

lutarem com a pureza, o <strong>de</strong>sinteresse, a<br />

serenida<strong>de</strong> dos crentes.<br />

Ter um i<strong>de</strong>al, é viver para ele, e<br />

dar, para que ele triunfe, uma gran<strong>de</strong><br />

abnegação, , a própria vida. E não se<br />

compreen<strong>de</strong> que sejampequenos os omens<br />

que se dizem a<strong>de</strong>ptos d'um gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al,<br />

porque, se o professam sinceramente,<br />

á sua gran<strong>de</strong>za á <strong>de</strong> refletir-se neles,<br />

eleval-os, transfigural-os.<br />

Sejamos o exemplo.<br />

Andão separados por egoísmos, ambições,<br />

intrigas, os nossos adversarios?<br />

Sejamos o exemplo da armonia, da<br />

união, da solidarieda<strong>de</strong>, o exemplo forte<br />

e enorme <strong>de</strong>' como a força d'uui gfSm<strong>de</strong> *<br />

principio aproxima os omens e os liga<br />

num entendimento seguro <strong>de</strong> in<strong>de</strong>strutível<br />

cordialida<strong>de</strong>.<br />

Combatemos a iniquida<strong>de</strong>, arremeçamos<br />

à corrução os farpões dos nossos<br />

escrupulos e m revolta, prégamos a<br />

guerra á intolerância feroz que asphixia<br />

e <strong>de</strong>prime, ferimos com dureza o abastardamento<br />

d'um povo bal<strong>de</strong>ado a uma<br />

abjeção profunda ?<br />

Sejamos o exemplo da justiça, da<br />

onestida<strong>de</strong>, da liberda<strong>de</strong>, do civismo.<br />

Tudo isto sinceramente, <strong>de</strong> toda a nossa<br />

alma, sem exibições pompozas, <strong>de</strong>ixando<br />

que o nosso alto exemplo resplan<strong>de</strong>ça e<br />

cative pelo seu brilho.<br />

Sem isto nada faremos. Jentilezas,<br />

amabilida<strong>de</strong>s, ipocrisia, mentira—tudo á<br />

marjem: a verda<strong>de</strong>, só a verda<strong>de</strong>, sempre<br />

a verda<strong>de</strong>. Doe, por vezes, ofen<strong>de</strong><br />

melindres, amachuca vaida<strong>de</strong>s, pisa brios<br />

jentilhomescos ? Mas por fim triunfa, e<br />

convence, e é amada.<br />

Para nos lançarmos na gran<strong>de</strong> empreza<br />

precisamos , repetimos, robustecer-nos:<br />

ser verda<strong>de</strong>iros, ser fortes, ser<br />

omens. E esta união <strong>de</strong> nós todos obtem-se<br />

sem que ninguém precise abdicar<br />

opiniões sinceramente perfilhadas nem<br />

recalcar forçadamente melindres sentidos<br />

com onestida<strong>de</strong>. Opiniões afirmam-se e<br />

discutem-se. A' <strong>de</strong>sacordo? Muitas vezes<br />

a discussão, franca e sincera,serve a<br />

apagal-o. Ao contrario, o silencio fal-o<br />

viver. E importa acaso <strong>de</strong>saire para<br />

alguém ou é mostra <strong>de</strong> fraqueza a diverjencia<br />

inci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> doutrinas? Não. O<br />

que não é justo, e até é dissolvente, é a<br />

exijencia do silencio, a subordinação a maximas<br />

oficiaes por um obnoxio principio<br />

<strong>de</strong> disciplina atrofiante e barbara.<br />

Entendamo-nos assim, mantendo toda<br />

a nossa autonomia, e tendo como regulador<br />

da nossa atitu<strong>de</strong> um único interesse:<br />

o do nosso i<strong>de</strong>al.<br />

Vamos <strong>de</strong>pois para a luta, e o triunfo<br />

virá. Quando? Não importa. O<br />

nosso <strong>de</strong>ver é lutar: lutemos. Sem<br />

adiar, mas também sem precipitar. Com<br />

corajem, mas também com tatica. Com<br />

entuyasmo, mas também sem impaciências.<br />

Revolvamos o terreno, <strong>de</strong>sfaçamos-lhe<br />

as leiras aridas e duras, rasguemos-lhe<br />

o ventre em sulcos fundos e atiremos<br />

para lá a semente. Ela ha <strong>de</strong> jerminar<br />

e florescer. Quando? Não <strong>de</strong>sesperemos.<br />

Se estações passarem sem que o

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