902-911 - Universidade de Coimbra
902-911 - Universidade de Coimbra
902-911 - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Editor<br />
T<br />
PUBLICA-SE AOS DOMINGOS E OUINTAS-FEIRAS<br />
MANUEL D OLIVEIRA AMARAL Redacção e Administração = Rua Ferreira Borges<br />
Typ. Democratíca<br />
ARCO DE ALMEDINA, IO<br />
N.° 912 COIMBRA—Quinta-feira, 23 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1904 IO-. 0 ANO<br />
CANDIDATOS REPUBLICANOS<br />
São candidatos republicanos pelo circulo <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, nas eleiçõis<br />
que se realízão no dia -26, os seguintes cidadãos:<br />
Bernardino SLuis Machado ^niinaráis (Dr.) professor<br />
da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.<br />
Manuel <strong>de</strong> Arriagfa (Dr.), advogado.<br />
Afonso Augusto da Costa (Dr.j, professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> e advogado.<br />
Antonio «Jozé <strong>de</strong> Almeida (Dr.), medico.<br />
l*aulo «Bíozé Falcão (Dr.), advogado.<br />
1F<br />
Bf<br />
Conferencia do dr. Afonso Costa<br />
Realiza ôje neste centro, pelas 8 e meia da noite, uma<br />
conferência eleitoral, o ilustre republicano e candidato por<br />
este circulo, sr. dr. Afonso Costa.<br />
A U R N A<br />
Vejamos a obra parlamêntar dos<br />
últimos ãnos, Que rasgos nobres<br />
<strong>de</strong> patriotismo a impõem? Que torneios<br />
luzidos <strong>de</strong> eloquência a abrilhantão?<br />
Que medidas, que providências,<br />
que atos e severas liçôis<br />
<strong>de</strong> civismo a valorizão ? Discutírãose<br />
i<strong>de</strong>ias, falárão consciências, revelárão-se<br />
ómens? O parlamento foi<br />
acázo uma gran<strong>de</strong> assembleia on<strong>de</strong><br />
a alma nacional vibrasse em Ímpetos<br />
<strong>de</strong> revolta, se expandisse em<br />
<strong>de</strong>zafôgos justos, tremesse na ajitação<br />
duma sagráda cólera ou dum<br />
vivificador entuziasmo ? Elevarãose,<br />
em toda a imponência da sua<br />
grandêza civica, ómens como Passos<br />
Manoel, para falar a linguajem<br />
austéra que fás encolher os aulicos<br />
e baixar a cabeça aos reis?<br />
Nada disso. O parlamento foi<br />
intelétualmênte e moralmênte uma<br />
assembleia sertaneja, um sinédrio<br />
<strong>de</strong> labrêgos sórdidos. Nem elevação<br />
moral, nem brilho intelétual:<br />
uma vacuida<strong>de</strong> insondável on<strong>de</strong> não<br />
é permitido, aos <strong>de</strong> melhor boa-von<br />
ta<strong>de</strong>, colher uma i<strong>de</strong>ia, rejistar um<br />
lánce digno, marcar uma providência<br />
util. Não foi a reunião dos reprezêntantes<br />
da nação, lejitimamênte<br />
investidos do mandato <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendêrem<br />
e onrarem: foi uma comédia,<br />
uma aventura, um bródio <strong>de</strong><br />
sujeitos que fizérão da politica um<br />
fácil e <strong>de</strong>zonésto ganha-pão e o tablado<br />
propicio ás cabriolas das suas<br />
vaida<strong>de</strong>s.<br />
O ministério do reino arrebanhou-os,<br />
em varas, e <strong>de</strong>u-lhes sustênto<br />
farto nos comissariados réjios,<br />
nos sindicatos, nos altos empregos<br />
da burocracia inútil. Os<br />
sujeitos comêrão e, a exigencias dos<br />
dônos, roncárão agra<strong>de</strong>cimentos,<br />
em nótas arrepiantes <strong>de</strong> servilismo<br />
malandro.<br />
Os outros, os que têm papel <strong>de</strong><br />
opozição, seguírão-lhe no encalço.<br />
Armonizárão-se, comhinárão-se, distribuirão-se<br />
amigavelmente os papeis.<br />
Vibrou o pais, em gran<strong>de</strong>s comoçõis<br />
que o sacudirão num repelão<br />
brusco <strong>de</strong> enerjia reviviscênte.<br />
Quando foi da questão relijióza,<br />
ergueu-se a reclamar contra os aten-<br />
tados da reação á liberda<strong>de</strong>; suádamente<br />
coríquistada em eroicas pelejas.<br />
Pois no parlamênto nenhuma<br />
vós se ergueu a <strong>de</strong>batêr a questão<br />
primacial, e, daquéla chusma <strong>de</strong><br />
liberais fogozos, não saiu um grito,<br />
um protesto, uma i<strong>de</strong>ia a secundar<br />
essa campanha febril e ruidóza, (yie<br />
convulsionava o país!<br />
Fês-se o silencio. O ?not-d'ordre<br />
viéra do alto, das altas filiadas do<br />
Sdçrê-Ccenr.<br />
Os reprezêntantes do país érão<br />
assim contra o país!<br />
Por ocazião do convénio a opi<br />
nião moveu-se em prenúncios <strong>de</strong><br />
insurreição patriótica. Estalárão cóleras.<br />
Retinirão brados <strong>de</strong> incitação<br />
A mocida<strong>de</strong> das escolas realentou-se<br />
na ameaça <strong>de</strong>ssa infamia. Soldados<br />
valoróz*os levárão até ás assembleias<br />
lejislativas o seu protesto, grandiôzo<br />
por singularissimo em tempos <strong>de</strong> bas<br />
tardos poltrõis.<br />
Pois no parlamento não ouve a<br />
comoção que <strong>de</strong>veria dominar uma<br />
assembleia nacional no lance duma<br />
ajitação tão jeral. Vozes frouxas<br />
arrastadamênte <strong>de</strong>scutírão o convénio,<br />
como quem o fás por incumbência<br />
penóza. No fundo todos esta\<br />
ão <strong>de</strong> acordo. 1 A negociata a<br />
todos aproveitava, e a infamia a ninguém<br />
cauzava engulhos.<br />
Os reprezentantes do pais erão<br />
assim contra o país !<br />
E quando foi do contráto Wil<br />
liams, das propostas da fazenda e <strong>de</strong><br />
tantos outros negocios e assuntos<br />
<strong>de</strong> tomo, o parlamênto <strong>de</strong>u mostras<br />
do que é e do que vale, mantendo<br />
se na inferiorida<strong>de</strong> abjecta duma<br />
junta <strong>de</strong> paroquia <strong>de</strong> ignorantes e<br />
<strong>de</strong> prevérsos.<br />
Pelo que respeita a <strong>Coimbra</strong>,<br />
quando a multidão coleáva por essas<br />
ruas, alucinada e trovejante, pedindo<br />
justiça e gritando contra a<br />
iniquida<strong>de</strong>, no parlamênto não ouve<br />
uma vós que traduzisse os sofrimentos<br />
e as cóleras do povo, que se incendêsse<br />
na justiça da sua revolta,<br />
que falásse, ru<strong>de</strong>mente,, a linguájem<br />
inflamada das reivindicaçõis. Ninguém<br />
se comoveu, ninguém levou<br />
para aquêle recinto bafiento e<br />
escuro um pouco <strong>de</strong>ssa cólera que<br />
conjestionava as almas, esbrazeáva<br />
os espíritos, punha em todas as vozes<br />
um frémito <strong>de</strong> odio e uma tremura<br />
<strong>de</strong> lagrimas. Nada ! Ali ninguém<br />
se comoveu. Todos tremêrão-<br />
E limitárão-se uns timidamente a<br />
perguntar o que avia, outros a pedir<br />
que a or<strong>de</strong>m se restabelecêsse,<br />
alguns a protestar contra os fuzilamêntos<br />
. . . sem todos os toques.<br />
Mas o país inteiro adótou a cauza<br />
da revolta <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>. E os<br />
reprezentantes do pais érão assim<br />
contra o pais!<br />
Jamais o fato <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> assinalar-se.<br />
A mesma subserviência, e<br />
mesma <strong>de</strong>pressão, a mesma covardia.<br />
Quando o Porto mandou ao<br />
parlamento três <strong>de</strong>putados republicanos,<br />
abriu-se um parentesis consolador.<br />
Falárão ali ómens, revela<br />
rão-se consciências, ouve pavôres<br />
• |nas óstes monarquicas. E para logo<br />
se pensou em evitar, por todos os<br />
processos, que os rebel<strong>de</strong>s lá voltassem,<br />
a traduzir com todo o po<strong>de</strong>r da<br />
verda<strong>de</strong> a vonta<strong>de</strong> nacional.<br />
Os <strong>de</strong>putados republicanos são<br />
temidos por isso mesmo que, não<br />
cumplicitando em combinatas crimi<br />
nózas, mantém toda a sua in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia<br />
para fazerem a <strong>de</strong>fêza do<br />
país. Não se amoldão a convenien<br />
cias, não t^fn a sustê-los as ferropeias<br />
<strong>de</strong> interesses mesquinhos.<br />
Comprehen<strong>de</strong>-3e assim que o<br />
rejimen os ostiiize, e procure por<br />
todas as formas <strong>de</strong>sviar <strong>de</strong> si o ataque<br />
impetuôzo e invencível em que<br />
êles o exterminarião.<br />
Mas <strong>de</strong>ve compreêncler-se também<br />
que o pais, que reclama moralida<strong>de</strong><br />
e economia, que tem sido espoliado<br />
e oprimido, os prefira aos testas<br />
<strong>de</strong> ferro dos partidos do existente.<br />
Votar nos candidatos republicanos<br />
é um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>ver. Todos os<br />
que não estão enfeudados a grupos,<br />
nem prêzos a interésses ilejitimos,<br />
nem sujeitos ao mando <strong>de</strong>primente<br />
<strong>de</strong> caciques <strong>de</strong>spoticos, ão-<strong>de</strong> saber<br />
cumpri-lo nobremênte.<br />
À urna pelos candidatos<br />
republicanos.<br />
CANDIDATOS MONÁRQUICOS<br />
Marlaao «ie Canalho<br />
Meta<strong>de</strong> do pais conhece este cavalheiro.<br />
A outra meta<strong>de</strong> .. conhece-a ele.<br />
Serjio dc Castro<br />
Em Portugal existem logares escandalozos.<br />
Assim á um sr. Sarzedas que<br />
é inspetor das aguas mineraes com remuneração<br />
farta.<br />
O sr. Serjio <strong>de</strong> Castro é inspêtor das<br />
aguas-ar<strong>de</strong>ntes, mas sem remuneração...<br />
E' ura benemérito.<br />
Yotem nêle! »<br />
O REJIMEN<br />
A