86 <strong>–</strong> <strong>Vera</strong> <strong>Lúcia</strong> <strong>Marinzeck</strong> <strong>de</strong> <strong>Carvalho</strong> (<strong>ditado</strong> pelo Espírito: Patrícia) — Nas minhas férias — completou — faço sempre este trabalho. Aqueles que se per<strong>de</strong>m no vício são os verda<strong>de</strong>iros escravos, necessitados <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>. Gosto muito <strong>de</strong> colaborar neste socorro. Mas é ensinando que me realizo. Amo ensinar. — Também gosto — respondi — mas estou mais interessada em apren<strong>de</strong>r. D. Dirce, eu sou muito grata à senhora. Obrigada por tudo. O coral infantil veio nos brindar com lindas canções infantis, natalinas e alguns salmos. Estavam todos vestidos iguaizinhos, <strong>de</strong> amarelo clarinho. São lindas, não há crianças feias, todas saudáveis e felizes. Gostam <strong>de</strong> cantar, encantam quem as escuta. São tão alegres que irradiam felicida<strong>de</strong>: Lúcio, um dos meus alunos, aproximouse <strong>de</strong> mim e me entregou um poema que tinha feito. O poema simples exaltava o mestre e a alegria <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. Agra<strong>de</strong>ci comovida. — Patrícia, — disse ele — encarnado fui um doente mental, um excepcional. Há tempo <strong>de</strong>sencarnei, fui socorrido, aos poucos fui me recuperando e passei a trabalhar, a fazer pequenas tarefas. Orientadores insistiram para que estudasse, há pouco tempo interesseime em apren<strong>de</strong>r. Envergonhavame das minhas dificulda<strong>de</strong>s. Quando encarnado, escutava muito que era burro, sem inteligência. Sofri muito, tive muitas dores, fui <strong>de</strong>sprezado, passei fome, frio e fui muito doente. Desencarnei adulto. Aqui é tão diferente! Amo a Colônia! Sinto que não fui <strong>de</strong>ficiente em outras existências. Mas não quero recordar o passado, temoo. Orientadores me disseram que sou como um fruto ver<strong>de</strong>, não estou preparado, pronto para recordar o passado. Realmente, não quero. Não querendo recordar nada, tenho que apren<strong>de</strong>r novamente e agora faço com gosto. Lúcio afastouse, fiquei a pensar. D. Dirce, que se achava perto, vendome pensativa aproximouse. — Por que está tão pensativa? — Lúcio me contou que encarnado foi um excepcional. Que sente que foi inteligente, mas não quer recordar o passado, prefere apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> novo. — Patrícia, nenhum encarnado é excepcional sem motivos. E os motivos são vários. Lúcio, temendo o passado, não quer recordálo. São <strong>de</strong>ficiências que <strong>de</strong>vem ter origem pelo abuso <strong>de</strong> uma inteligência brilhante. Aqui se tem o cuidado <strong>de</strong> não fazer da recordação do passado um sofrimento e um empecilho ao crescimento Espiritual. O passado passou, não se muda. Construímos o presente e o futuro. Se Lúcio quisesse recordar, o <strong>de</strong>partamento que ajuda muitos a fazêlo iria estudar seu caso, só o ajudaria a recordar se fosse para seu próprio bem. Muitos são imaturos para isto. Recordando seu passado, se fosse instruído, lembraria e teria seus conhecimentos. — Mas ele tem dificulda<strong>de</strong>s para apren<strong>de</strong>r. — Ele ainda não conseguiu se livrar por completo <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>ficiência. Mas está apren<strong>de</strong>ndo, não só instruindo como também as lições Evangélicas são fixadas em sua mente. Reeducase. Meus alunos me presentearam com abraços, agra<strong>de</strong>cimentos e com um buquê <strong>de</strong> flores. Fiquei emocionada. A festa foi linda! O Natal se aproximava. Natal sempre foi festa para mim, embora papai sempre nos alertasse que datas não representam nada e que o Natal passou, para a maioria, a ser uma festa material.
87 <strong>–</strong> VIOLETAS NA JANELA Era a primeira vez que passava o Natal <strong>de</strong>sencarnada e estava curiosa.