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A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA ... - Blog do Levy

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Ministério da Educação e <strong>do</strong> Desporto<br />

Universidade Federal de Uberlândia - MG<br />

Instituto de Economia<br />

Curso de Mestra<strong>do</strong> em Desenvolvimento Econômico<br />

Dissertação de Mestra<strong>do</strong><br />

A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong><br />

<strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL:<br />

Transformações, determinantes e impactos<br />

ALUNO: LEVY REI DE FRANÇA<br />

ORIENTADOR: Prof. Dr. JOSÉ FLÔRES FERNANDES FILHO<br />

Uberlândia – Minas Gerais<br />

2000


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Universidade Federal de Uberlândia – UFU<br />

Instituto de Economia - IE<br />

Curso de Mestra<strong>do</strong> em Desenvolvimento Econômico – CMDE<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong><br />

<strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL:<br />

Transformações, determinantes e impactos<br />

Dissertação de Mestra<strong>do</strong> apresentada à<br />

Universidade Federal de Uberlândia – MG,<br />

como parte das exigências <strong>do</strong> Curso de Mestra<strong>do</strong><br />

em Desenvolvimento Econômico. Orienta<strong>do</strong>r:<br />

Prof. Dr. José Flôres Fernandes Filho<br />

Uberlândia – Minas Gerais<br />

2000<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

II


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Aos meus pais Otacílio (in memorian) e Balduína<br />

Aos meus filhos Gustavo e Felipe<br />

A minha esposa Estela<br />

Dedico<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

III


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Agradecimentos<br />

A Deus, por mais essa oportunidade de continuar a minha formação profissional.<br />

Ao Instituto de Economia da UFU, pela forma inova<strong>do</strong>ra de oferecer instrução.<br />

A FESURV, na pessoa <strong>do</strong> professor Sebastião Lázaro Pereira, pelo empenho na<br />

implantação <strong>do</strong> mestra<strong>do</strong> institucional.<br />

Ao Centro Educacional Quasar, pela concessão <strong>do</strong> tempo necessário para os meus estu<strong>do</strong>s.<br />

À equipe da empresa Rio Rações, por trilhar sozinha e com eficiência suas atividades,<br />

durante o meu afastamento.<br />

À Profa. Dra. Isabel Dias Carvalho, por ter assumi<strong>do</strong> uma de minhas disciplinas durante o<br />

mestra<strong>do</strong>.<br />

Ao Prof. Dr. José Flôres Fernandes Filho, pela transferência de conhecimento e pela forma<br />

objetiva com que orientou a construção desta dissertação de mestra<strong>do</strong>.<br />

À minha irmã Vera, pelo auxílio na tradução <strong>do</strong> sumário para o inglês.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

IV


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

SUMÁRIO DE ITENS<br />

INTRODUÇÃO 3<br />

CAPÍTULO I – A <strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE<br />

NO BRASIL<br />

I. 1 – Surgimento <strong>do</strong> Complexo Avícola Brasileiro 9<br />

I. 2 – Evolução da Produção e <strong>do</strong> Consumo 11<br />

I. 3 – Evolução das Exportações 17<br />

I. 4 – Custos de Produção e Impactos Sociais 18<br />

I. 5 – O Complexo Avícola Atual 21<br />

I. 6 – Conclusão 23<br />

CAPÍTULO II – AS TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

II. 1 – Mudanças na Área da Genética 25<br />

II. 2 – Mudanças na Nutrição 31<br />

II. 3 – Mudanças <strong>do</strong>s Equipamentos de Alimentação 39<br />

II. 4 – Mudanças na Indústria de Ração 42<br />

II. 5 – Mudanças <strong>do</strong>s Equipamentos de Climatização 46<br />

II. 6 – Mudanças nos Galpões 48<br />

II. 7 – Mudanças no Processo Industrial de Abate 51<br />

II. 8 – Mudanças na Área de Sanidade 53<br />

II. 9 – Mudanças na Criação 57<br />

II. 9. 1 – Criação com Lotes Sexa<strong>do</strong>s 57<br />

II. 9. 2 – Criação em Alta Densidade 58<br />

II. 10 – Mudanças no Padrão de Produção de Frangos de Corte 59<br />

II. 10. 1 – Verticalização da Produção 60<br />

II. 10. 2 – Mudanças no Modelo de Integração 62<br />

II. 11 – Conclusão 65<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

V


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

CAPÍTULO III - DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong><br />

<strong>TÉCNICA</strong><br />

III. 1 – Desagregação <strong>do</strong> Complexo Rural e Formação <strong>do</strong>s Complexos<br />

Agroindustriais<br />

III. 2 – Apropriacionismo e Substitucionismo Industrial 74<br />

III. 3 – Questões ligadas à Terra e ao Trabalho 77<br />

III. 4 – Políticas Públicas e Financiamento 81<br />

III. 4. 1 – A Participação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nos Complexos Agroindustriais 81<br />

III. 4. 2 – Políticas Públicas que Beneficiaram a Avicultura 83<br />

III. 4. 3 – Financiamentos Recentes para a Avicultura 86<br />

III. 5 – Conclusão 88<br />

CAPÍTULO IV - OS IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong><br />

<strong>TÉCNICA</strong><br />

IV. 1 – Relação Capital X Trabalho 90<br />

IV. 1. 1 – Sistema de “Produção Independente” 90<br />

IV. 1. 2 – Sistema de Produção “Cooperativo” 91<br />

IV. 1. 3 – Sistema de Produção por “Integração” 92<br />

IV. 2 – Pequena Propriedade e Mão-de-Obra Familiar 95<br />

IV. 3 – Especialização da Produção 98<br />

IV. 4 – Geração de Empregos 101<br />

IV. 5 – Localização das Granjas 102<br />

IV. 5. 1 – A Questão Locacional na Década de 70 102<br />

IV. 5. 2 – A Questão Locacional Atual 104<br />

IV. 6 – Impactos Previstos para Rio Verde 109<br />

IV. 7 – Conclusão 110<br />

CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

V. 1 – Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia 112<br />

V. 2 – Depreciação Tecnológica 114<br />

V. 3 – Os Gargalos da Avicultura 116<br />

V. 4 – A Emergência da Questão Ambiental 119<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

VI<br />

68


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

V. 5 – Conclusão Final 120<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 127<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

VII


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

SUMÁRIO DE GRÁFICOS<br />

GRÁFICO 1 – Evolução da Produção Brasileira de Carne de Frango, 1000t, 1970–<br />

1999.<br />

GRÁFICO 2 – Produção de Carne de Frango, 1.000t, 1994-1999, por País: os 6<br />

Maiores.<br />

GRÁFICO 3 – Consumo Per Capita de Carne de Frango, Kg/Ano, 1998 – 2000, por<br />

País: os 10 Maiores.<br />

GRÁFICO 4 – Consumo de Carne de Frango. 1000 t, 1994 – 1999.<br />

por País: os 6 maiores.<br />

GRÁFICO 5 – Exportações Brasileiras de Carne de Frango e seu Valor, 1975-1998. 18<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

VIII<br />

13<br />

14<br />

16<br />

17


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

SUMÁRIO DE TABELAS<br />

TABELA 1 – Produção Mundial das Três Principais Carnes em 1997<br />

(Milhões de Toneladas)<br />

TABELA 2 – Mixing de Produção Mundial das Três Principais Carnes – 1973/1997<br />

(em Milhões de Toneladas)<br />

TABELA 3 – Consumo Per Capita de Ovos e Carne de Frango, de Bovino e de Suíno,<br />

Brasil, 1970 – 1999<br />

TABELA 4 – Comparação de Índices Zootécnicos de Custos <strong>do</strong>s Principais Países<br />

Produtores de Frango de Corte<br />

TABELA 5 – POF – Consumo das Carnes Bovina (de 1 a ) e de Frango 1989/1998 –<br />

Kg Per Capita<br />

TABELA 6 – Brasil – Evolução da População Urbana e Rural em Meio Século –<br />

1940 e 1990 – em Milhões de Habitantes<br />

TABELA 7 – Desempenho de Frangos de Corte Desde 1945 27<br />

TABELA 8 – Peso Vivo de Frangos de Corte, Segun<strong>do</strong> a Idade e o Ano de Produção 28<br />

TABELA 9 – O Frango como Resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Desenvolvimento Científico 28<br />

TABELA 10 – Peso (g), Conversão (g/g), Rendimento de Carcaça (%), Rendimento<br />

de peito (%) por Linhagem e Idade<br />

TABELA 11 – Evolução <strong>do</strong> Uso de Alimentos para Aves 32<br />

TABELA 12 – 40 Anos de Progresso na Nutrição de Frangos de Corte 32<br />

TABELA 13 – Demonstração de Desperdício em Função da Forma de Abastecimento<br />

da Ração no Come<strong>do</strong>uros<br />

TABELA 14 – Estrutura e Evolução <strong>do</strong> CAI na Década de 70 72<br />

TABELA 15 – Participação % <strong>do</strong>s Principais Clientes nos Financiamentos<br />

Concedi<strong>do</strong>s pela Política de Preços Mínimos no Brasil<br />

TABELA 16 – Diferenciais de Preços <strong>do</strong> Milho e da Soja e Redução <strong>do</strong> Custo de<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

IX<br />

11<br />

12<br />

15<br />

19<br />

20<br />

21<br />

29<br />

41<br />

83


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Produção <strong>do</strong> Frango em Comparação com Goiás – 1990/95 106<br />

TABELA 17 – Variabilidade <strong>do</strong>s Rendimentos Físicos <strong>do</strong> Milho e da Soja por<br />

Regiões e Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Centro-Sul – 1980/97<br />

TABELA 18 – Balança Comercial da Avicultura Brasileira 1997 (Milhões de US$) 118<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

X<br />

107


RESUMO<br />

Analisou-se a evolução recente da avicultura de corte no Brasil, as transformações<br />

da base técnica, os seus determinantes assim como os seus principais impactos. A análise<br />

foi feita através <strong>do</strong>s seguintes instrumentos: coleta de da<strong>do</strong>s estatísticos para constatação da<br />

evolução da avicultura brasileira acumulada nos últimos 30 anos; leitura de contribuições<br />

de autores da economia para entendimento das mudanças tecnológicas que afetam a área<br />

rural; e levantamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s sobre os impactos da avicultura de corte recente bem como<br />

os novos investimentos no Centro-oeste. Foram identificadas transformações de base<br />

técnica nas áreas da genética, nutrição, mecânica e sanidade; os determinantes das<br />

transformações de base técnica foram atribuí<strong>do</strong>s: à transformação <strong>do</strong> complexo rural em<br />

complexo agroindustrial, ao apropriacionismo e substitucionismo industrial, a questões<br />

ligadas à terra e trabalho e ao Esta<strong>do</strong>, através de políticas públicas e financiamento<br />

intervin<strong>do</strong> na economia; foram observa<strong>do</strong>s impactos: na relação capital x trabalho com a<br />

emergência das integrações, na verticalização da produção surgin<strong>do</strong> grandes capitais<br />

industriais na avicultura, no aumento <strong>do</strong> tamanho das propriedades integradas, na<br />

intensidade da utilização de tecnologias, na geração de empregos em função desemprego<br />

tecnológico e na mudança recente da localização das unidades produtoras para o Centro-<br />

oeste, bem com o os prováveis impactos específicos para Rio verde.


SUMMARY<br />

It was analyzed the recent evolution of poultry raising in Brazil, the transformation<br />

of the technical basis, it determinants, as well as the main impacts that this economic<br />

activity brought about through a series of actions. Among them, it was included gathering<br />

statistic data in order to verify the evolution of the poultry-raising sector in Brazil for the<br />

last 30 year. As well as extensive research on papers published on the economy of the rural<br />

areas of Brazil, in order to understand the technological changes that have taken place. It<br />

was also collected data on the impact caused hy new investments in the Center-West region<br />

of the country on this economic sector. Several transformations were verified on both the<br />

technical and genetic base, as well as in nutritional, mechanics and health-care procedures.<br />

The determinant factors of the technical base were attributed to the transformation of the<br />

rural complex into in agricultural and industrial complex, industrial appropriation and<br />

substitution due to matters related to land issues and labor, as well as to the state through<br />

the public and financing politics are established. Impacts were observed in the relationship<br />

capital vs. Labor, the appearance of integrationist behaviors, in the verticalization and in the<br />

production process itself. Large industrial capitals replaced the old economy, the size of<br />

integrated properties increased and technology became more intensely used. Concerning to<br />

jobs generations, the number of jobs has been steadily shrinring, whereas the advancement<br />

in technology has been replacing them. And in recent changings of locations from units<br />

productors to the Center-West region a well, as well as the likely impacts specific to Rio<br />

Verde.


INTRODUÇÃO<br />

A década de 70 marcou a decolagem da avicultura industrial brasileira, Até então a<br />

produção de frango para industrialização se constituia em uma atividade sem muita<br />

tecnologia incorporada. As estatísticas apontam que nesta época cada brasileiro consumia,<br />

na média 35,6 kg das três principais carnes (bovina, suína e de frango), nesse total a<br />

participação <strong>do</strong> frango não era mais <strong>do</strong> que 6%, pois cada brasileiro consumia menos de 2,3<br />

kg per capita. Em 1999 o consumo per capita total de carnes foi estima<strong>do</strong> em 76,7 kg<br />

(115% de aumento em relação a 1970), nessa expansão, a participação da carne bovina<br />

subiu de 25,7 kg para 36,9 kg (cerca de 41% de aumento), e a carne de frango subiu para<br />

29,1 kg, ou seja bem mais de 1000% de aumento em apenas 30 anos (GODOY, 2000).<br />

A esse respeito ORTEGA (2000: 39) cita que “esse aumento no consumo de frango,<br />

nas últimas décadas, é decorrente de diversos fatores: de um la<strong>do</strong>, as estruturas produtivas e<br />

de distribuição vêm possibilitan<strong>do</strong> elevadas taxas de conversão de proteína vegetal em<br />

animal, a custos cada vez mais baixos. De outro, <strong>do</strong> ponto de vista da demanda, há vários<br />

fatores, como: a) mudanças nos hábitos alimentares, em virtude da preocupação com a<br />

redução <strong>do</strong> consumo de carnes de eleva<strong>do</strong>s teores de gordura, o que favorece a avicultura;<br />

b) motivos religiosos, da<strong>do</strong> o crescimento <strong>do</strong> número de adeptos de religiões e seitas que<br />

restringem o consumo de proteína animal a poucos animais e; c) produto com baixo preço e<br />

produzi<strong>do</strong> em larga escala, capaz de atender merca<strong>do</strong>s gigantescos.”<br />

Os números existentes são suficientes para demonstrar a verdadeira explosão de<br />

crescimento experimentada pela avicultura de corte no Brasil. Para GODOY (1999)<br />

existem duas frases, de épocas distintas, que retratam fielmente o que foi essa “explosão”:


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

PASSADO PRESENTE (E FUTURO)<br />

“Pobre, quan<strong>do</strong> come frango,<br />

um <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is está <strong>do</strong>ente.”<br />

“Barão” de Itararé<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

“O frango é a mais democrática das<br />

proteínas.”<br />

IBGE<br />

A frase da esquerda foi dita pelo jornalista Aparício Torelly; o irreverente dito<br />

refere-se a uma época que se estendeu até, praticamente, o fim <strong>do</strong>s anos sessenta, quan<strong>do</strong> o<br />

frango era realmente alimento escasso, prato típico de fim de semana ou, sobretu<strong>do</strong>, de<br />

festas. Isso, além de ser considera<strong>do</strong>, também, “vitamínico” indica<strong>do</strong> para lactantes,<br />

convalescentes ou panacéia para males corriqueiros como gripes e resfria<strong>do</strong>s. Daí o dito, <strong>do</strong><br />

qual se apropriaram os laboratórios fabricantes de vitamina C, “cal<strong>do</strong> de galinha e cama”. A<br />

afirmativa da direita provém <strong>do</strong> IBGE (1999), que constatou que o frango está presente,<br />

com variações mínimas, tanto na mesa <strong>do</strong>s pobres quanto na mesa <strong>do</strong>s ricos.<br />

Um setor que cresce com uma vitalidade tão grande, como a avicultura de corte, em<br />

uma economia em recessão como a nossa, deve ser mais bem entendi<strong>do</strong>, até por que<br />

identifican<strong>do</strong> seus contornos, podemos enxergar melhor a sua conformação e expectativas<br />

para o futuro. Este tema é bastante estuda<strong>do</strong> em termos produtivos, merecen<strong>do</strong>, portanto,<br />

ser melhor explica<strong>do</strong>, enquanto seus determinantes, suas mudanças tecnológicas e seus<br />

impactos, uma vez que conhecen<strong>do</strong> melhor suas caraterísticas é possível somá-la a outras<br />

questões ligadas à indústria e à agricultura, resultan<strong>do</strong> em uma contribuição na formulação<br />

de um conjunto de políticas públicas que bem atendam à produção de proteína animal.<br />

O problema para o qual procurei resposta nesta dissertação foi identificar quais<br />

foram as transformações na base técnica da avicultura de corte no Brasil, assim como quais<br />

foram seus determinantes e seus principais impactos. A partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>s foi<br />

possível perceber que a avicultura de corte brasileira, desde a sua constituição, vem<br />

passan<strong>do</strong> por transformações significativas em sua base técnica, tais como: a importação e<br />

desenvolvimento de linhagens de aves com melhores qualidades zootécnicas (material<br />

genético); a evolução das técnicas de determinação de exigências nutricionais das aves; a<br />

utilização de modelos matemáticos informatiza<strong>do</strong>s na formulação de rações; a ampliação<br />

4


INTRODUÇÃO<br />

<strong>do</strong> conhecimento acerca das restrições e composição química das matérias primas utilizadas<br />

nas rações; a automação <strong>do</strong> manejo <strong>do</strong>s equipamentos <strong>do</strong> galpão; o desenvolvimento de<br />

equipamentos de climatização <strong>do</strong>s galpões e nutrição das aves; a ampliação <strong>do</strong> tamanho <strong>do</strong>s<br />

galpões; o desenvolvimento de substâncias químicas que contribuem para a sanidade<br />

(vacinas, antibióticos, quimioterápicos, desinfetantes) e desempenho (promotores <strong>do</strong><br />

crescimento e eficiência alimentar, probióticos, vitaminas), decorrentes <strong>do</strong><br />

desenvolvimento tecnológico, das principais indústrias de tecnologia relacionadas aos<br />

setores biológicos, mecânicos e químicos.<br />

Foram utiliza<strong>do</strong>s como fonte de informações para as transformações acumuladas<br />

nestes 30 anos de avicultura de corte brasileira: da<strong>do</strong>s estatísticos de instituições como a<br />

FACTA (Fundação Apinco de Ciência e Tecnologias Avícolas), APA (Associação Paulista<br />

de Avicultura), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), UBA (União<br />

Brasileira de Avicultura); livros de Zootecnia nas áreas de avicultura, melhoramento<br />

genético, nutrição, construções rurais e ambiência; monografias, dissertações de mestra<strong>do</strong> e<br />

teses de <strong>do</strong>utoramento em economia nas áreas de desenvolvimento tecnológico e economia<br />

rural; e artigos de revista técnicas (avicultura industrial, aves & ovos, Agroanalysis) e<br />

jornais (força ruralista). Para análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e informações, foram utiliza<strong>do</strong>s Gráficos e<br />

Tabelas associadas a cálculos de taxa de crescimento geométrico e taxa de variação total.<br />

O processo inicial de criação de frangos de corte no Brasil consistia em uma<br />

constelação de produtores independentes que no momento mais recente foram<br />

gradativamente substituí<strong>do</strong>s pelas grandes empresas verticalizadas. Neste ambiente ocorreu<br />

a emergência <strong>do</strong> sistema integração. Este merca<strong>do</strong> oligopoliza<strong>do</strong> e dinâmico, representa<strong>do</strong><br />

pelas grandes integra<strong>do</strong>ras, a<strong>do</strong>ta tecnologia de ponta (nas áreas de nutrição, genética e<br />

mecânica), induz os integra<strong>do</strong>s a também a<strong>do</strong>tarem novas tecnologias (galpões e<br />

equipamentos) e a procurar regiões para instalar unidade de produção com incentivos<br />

fiscais e matérias primas de menor custo. Estas transformações tiveram impactos<br />

significativos em termos de exigência de capital mínimo para o produtor se tornar<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

5


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

integra<strong>do</strong>, em termos de número de empregos gera<strong>do</strong>s por galpões e/ou milhares de frangos<br />

produzi<strong>do</strong>s e em termos de renda regional.<br />

O objetivo geral deste estu<strong>do</strong> é analisar a evolução da base técnica da avicultura de<br />

corte no Brasil, assim como os fatores determinantes que contribuíram diretamente para<br />

estas transformações, bem como seus principais impactos. Ten<strong>do</strong> como objetivos<br />

específicos a constatação e análise da evolução recente da produção, da produtividade, <strong>do</strong><br />

consumo, <strong>do</strong>s preços relativos e das exportações; a análise das transformações tecnológicas<br />

recentes, bem como o processo atual de substituição de tecnologias; identificação e análise<br />

<strong>do</strong>s principais fatores que determinaram as transformações recentes na base técnica; e a<br />

identificação e análise <strong>do</strong>s principais impactos produzi<strong>do</strong>s nos sistemas de produção, em<br />

termos de retorno <strong>do</strong> capital aplica<strong>do</strong>, nível de emprego, produtividade <strong>do</strong> trabalho,<br />

tamanho e localização das granjas.<br />

Busca-se aprofundar aqui, de forma objetiva, os pontos fundamentais que cercam o<br />

tema: No capítulo 1, apresenta-se o nascimento <strong>do</strong> complexo avícola brasileiro e analisa-se<br />

a evolução recente da avicultura de corte no Brasil, através de da<strong>do</strong>s estatísticos sobre a<br />

evolução da produção, <strong>do</strong> consumo e das exportações, custos de produção e caracterização<br />

<strong>do</strong> complexo avícola atual. Aponta-se, nesta parte, o crescimento da avicultura industrial a<br />

partir da década de 70, a sua posição a nível mundial, os custos de produção em relação a<br />

outros países, as expectativas de crescimento, a sua participação no PIB brasileiro, sua<br />

importância social na geração de empregos e a produção de proteína de alta qualidade a<br />

baixo custo para a população.<br />

O capítulo 2 identifica as mudanças que ocorreram na base técnica durante este<br />

perío<strong>do</strong> de evolução da avicultura de corte. Foram constatadas mudanças nas áreas da<br />

genética, nutrição, nos equipamentos de alimentação, na indústria de ração, na<br />

climatização, nos galpões, no processamento industrial, na sanidade, no manejo de criação<br />

e no padrão de produção de frangos. Em sua conclusão tal capítulo aponta os ganhos<br />

genéticos consegui<strong>do</strong>s no aumento <strong>do</strong> peso vivo ao abate, na nutrição com diminuição <strong>do</strong><br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

6


INTRODUÇÃO<br />

consumo de ração e da idade de abate, na automação <strong>do</strong>s equipamentos de alimentação, no<br />

padrão de produção de ração, no aumento da utilização de equipamentos de climatização,<br />

na mudança <strong>do</strong>s galpões, no aumento da eficiência e das técnicas que conferem sanidade,<br />

no manejo de criação e no padrão de produção de frangos basea<strong>do</strong> em grandes empresas<br />

verticalizadas integradas com produtores de médio e grande porte.<br />

O capítulo 3 busca apresentar os determinantes das modificações da técnica que<br />

foram atribuí<strong>do</strong>s à desagregação <strong>do</strong> complexo rural e formação <strong>do</strong> complexo agroindustrial,<br />

ou seja, uma estrutura com características auto-suficientes é substituída por outra ligada à<br />

jusante e à montante a indústria; ao apropriacionismo e o substitucionismo industrial que<br />

foram os responsáveis pelas modificações ocorridas no campo; defende a tese de que a<br />

indústria se apropria das atividades <strong>do</strong> campo através <strong>do</strong> desenvolvimento tecnológico,<br />

substituin<strong>do</strong> com eficiência atividades que no caso da avicultura se concentram na área da<br />

genética, nutrição e mecânica; a questões ligadas à terra e ao trabalho, que baseia-se na tese<br />

de que a economia de terra devi<strong>do</strong> o seu custo, com a aplicação de tecnologia aumentan<strong>do</strong> a<br />

produtividade e à economia da mão-de-obra devi<strong>do</strong> também ao custo e à baixa eficiência<br />

humana que tem justifica<strong>do</strong> as modificações poupa<strong>do</strong>ras de terra e trabalho; e a políticas<br />

públicas e financiamento, já que em vários momentos o Esta<strong>do</strong>, também, foi um <strong>do</strong>s<br />

elementos que contribuiu para o desenvolvimento da avicultura industrial, seja pela<br />

regulamentação da importação de pintinhos avozeiros, seja por financiamento, pela<br />

pesquisa através de instituições de pesquisa e universidades, subsídios, utilização <strong>do</strong> frango<br />

como garoto propaganda em tempo recente e participação atual na montagem de novas<br />

unidades produtivas no centro oeste<br />

O capítulo 4 procura identificar os impactos das transformações da base técnica.<br />

foram identifica<strong>do</strong>s impactos nos seguintes setores: na relação capital x trabalho, na<br />

utilização de propriedades com mão-de-obra familiar, na utilização de tecnologias, na<br />

geração de empregos e na localização das granjas. Apresenta também um item de impactos<br />

previstos para Rio Verde, conforme Estu<strong>do</strong> de Impacto Ambiental e Relatório Impacto ao<br />

Meio Ambiente (EIA-RIMA) aprova<strong>do</strong> pela FEMAGO.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

7


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Finalmente no capítulo 5 são elenca<strong>do</strong>s alguns elementos estuda<strong>do</strong>s no corpo <strong>do</strong><br />

trabalho acresci<strong>do</strong>s de algumas contribuições para um melhor entendimento da avicultura,<br />

de maneira que são apresenta<strong>do</strong>s: as características <strong>do</strong> desenvolvimento da ciência e<br />

tecnologia como um elemento de subordinação <strong>do</strong>s processos de produção; a depreciação<br />

tecnológica, que tem si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s elementos de constrangimento para a participação de<br />

integra<strong>do</strong>s em integrações ou de investimentos em nova capacidade produtiva; o novo<br />

modelo de produção de maneira verticalizada integrada a produtores de médio e grande<br />

porte, a nova localização <strong>do</strong>s investimentos na avicultura de corte; a emergência da questão<br />

ambiental sinalizan<strong>do</strong> para a necessidade de produção com desenvolvimento sustenta<strong>do</strong>; e<br />

termina com a conclusão final, analisan<strong>do</strong> o recorte estuda<strong>do</strong> e as suas possíveis<br />

contribuições ao melhor entendimento da avicultura.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

8


CAPÍTULO I<br />

<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO<br />

BRASIL<br />

Este capítulo apresenta o nascimento <strong>do</strong> complexo avícola brasileiro, analisa a<br />

evolução recente da avicultura de corte no Brasil através de da<strong>do</strong>s estatísticos sobre a<br />

evolução da produção, <strong>do</strong> consumo e das exportações, custos de produção e caracteriza o<br />

complexo avícola atual. Identifica o surgimento da avicultura industrial a partir da década<br />

de 70, a sua posição a nível mundial, os custos de produção em relação a outros países, as<br />

expectativas de crescimento, a sua participação no PIB brasileiro, sua importância social na<br />

geração de empregos e proteína de alta qualidade a baixo custo para a população.<br />

I. 1 - Surgimento <strong>do</strong> Complexo Avícola Brasileiro<br />

Para GIANNONI & GIANNONI (1983), a avicultura nos moldes industriais teve<br />

grande incentivo após 1940, em decorrência da fome provocada pela segunda guerra<br />

mundial, alia<strong>do</strong> ao desenvolvimento de novas tecnologias 1 . MORENG & AVENS (1990)<br />

também concorda que o desenvolvimento da indústria avícola comercial começou no início<br />

de 1940, quan<strong>do</strong> vários países <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> começaram a se envolver com a II guerra<br />

mundial. Cita ainda que nos EUA a avicultura cresceu independente de programas<br />

governamentais e assim manteve um caráter competitivo que se caracterizava em procurar<br />

uma produção eficiente em um merca<strong>do</strong> altamente disputa<strong>do</strong>. Livre das medidas de<br />

racionamento e outras restrições da II guerra mundial, a produção de carne e ovos<br />

aumentou rapidamente. Os avanços tecnológicos que foram obti<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />

das pesquisas científicas deram impulso para uma expansão industrial rápida. Estas


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

pesquisas aplicadas na tecnologia e no manejo de produção resultaram, finalmente, na<br />

produção de carne para quase toda população, independente <strong>do</strong> rendimento econômico de<br />

cada pessoa.<br />

O complexo avícola brasileiro começou com a introdução de raças híbridas no país,<br />

na década de 1940, mas que se intensificou somente no início da década de 1960, com o<br />

programa <strong>do</strong>s galpões de mil frangos 2 e a vinda de filiais de empresas norte-americanas e<br />

canadenses, entre outras. Para a produção local de matrizes, essas empresas trouxeram suas<br />

linhagens de avós, intensifican<strong>do</strong> sua distribuição no país, que estava restrita a poucas<br />

regiões e atendia à demanda de criação de “fun<strong>do</strong> de quintal” (ORTEGA,1988).<br />

Interessante observar que estas empresas ofereciam também to<strong>do</strong> um pacote tecnológico<br />

para viabilização da avicultura.<br />

A partir <strong>do</strong>s anos 60, a avicultura de corte brasileira surge de maneira tímida 3 ,<br />

entendida como uma fonte de renda alternativa e subsistência familiar. No início de 70 se<br />

verifica a consolidação da nova técnica, inician<strong>do</strong> um processo contínuo e gradativo de<br />

transformações que mudariam totalmente a concepção inicial da avicultura. A década de<br />

setenta, portanto, entrou para a história como sen<strong>do</strong> a época da consolidação da avicultura<br />

industrial no Brasil 4 , inclusive é a partir desta data que passamos a ter da<strong>do</strong>s de<br />

performance <strong>do</strong> setor.<br />

1 Justifican<strong>do</strong> o pensamento de SCHUMPETER (1943) já que nas crises é que aparecem novas tecnologias.<br />

2 Resulta<strong>do</strong> de convênio entre os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e o Ministério da Agricultura (SORJ et alli, 1982).<br />

3 Na década de 1960 a avicultura de corte ganhou dinamismo, também entre outros fatores, graças a vinda<br />

para o Brasil de um grupo de técnicos norte-americanos, e a criação de uma equipe brasileira para o<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> Escritório Técnico de Agricultura (ETA). É desta época a criação <strong>do</strong>s clubes 4<br />

S que, trabalhan<strong>do</strong> em nível de extensão rural, estimularam em jovens o interesse pela avicultura. O impulso<br />

definitivo foi a visita de avicultores e técnicos brasileiros às granjas e indústrias avícolas <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

(GIANNONI&GIANNONI, 1983).<br />

4 Segun<strong>do</strong> MORENG & AVENS (1990), a base da indústria avícola começou a tomar forma em mea<strong>do</strong>s de<br />

1930, com a agregação de pequenos produtores, nos EUA, para constituir grandes unidades comerciais<br />

integradas de galinhas e perus. Estas unidades integradas (O senti<strong>do</strong> com que o autor emprega a palavra<br />

integração não tem relação direta com o sistema de produção de frango atual chama<strong>do</strong> sistema integração)<br />

produziam uma disponibilidade significante de alimentos e consumiam produtos industrializa<strong>do</strong>s e<br />

ingredientes de rações, geran<strong>do</strong> empresas fornece<strong>do</strong>ras e vende<strong>do</strong>ras que propiciaram o surgimento de novas<br />

fontes de renda para um segmento significante da população.<br />

Cita ainda que durante os anos de 1929 a 1936, quan<strong>do</strong> os EUA passaram por uma crise econômica, com<br />

secas severas e tempestades de areia, muitas famílias da zona rural sobreviveram à custa da criação <strong>do</strong>méstica<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

10


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

I. 2 - Evolução da Produção e <strong>do</strong> Consumo<br />

Quan<strong>do</strong> se considera a produção e o consumo mundial de carnes bovina, suína e de<br />

frango, a produção mundial em 1997, dessas três carnes, aproximou-se de 166 milhões de<br />

toneladas, das quais 48,8%, 29,10% e 22,42% foram de carne suína, bovina e de frango<br />

respectivamente, conforme os da<strong>do</strong>s da Tabela 1. Para SALLE et alli (1998: 227),<br />

analisan<strong>do</strong> essas participações por um perío<strong>do</strong> amplo, observaram o seguinte<br />

comportamento:<br />

- a produção e o consumo de carne bovina evoluem abaixo <strong>do</strong> crescimento<br />

vegetativo da população mundial, registran<strong>do</strong> portanto uma evolução real<br />

negativa;<br />

- a produção e o consumo de carne suína evoluem ao nível aproxima<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

crescimento vegetativo da população mundial, portanto registran<strong>do</strong> estabilidade<br />

de evolução, mas com tendência de decréscimo;<br />

- a produção e o consumo de carne de frango evoluem a taxas substancial e<br />

significativamente maiores que o crescimento vegetativo da população mundial.<br />

TABELA 1 – Produção Mundial das Três Principais Carnes em 1997 (Milhões de<br />

Toneladas).<br />

Carne Volume Participação<br />

Suína 80,435 48,48%<br />

Bovina 48,290 29,10%<br />

De Frango 37,194 22,42%<br />

Total 165,919 100,00%<br />

Fonte: SALLE et alli (1998).<br />

de galinhas, consumin<strong>do</strong> ou venden<strong>do</strong>-as. Mesmo após 1936, os aviários <strong>do</strong>mésticos davam uma renda para a<br />

família <strong>do</strong> sitiante, que oferecia uma estabilidade econômica principalmente durante os perío<strong>do</strong>s de tensão<br />

financeira. A capacidade das galinhas produzirem produtos alimentares de grande valor nutritivo, com um<br />

mínimo de investimento, seja em termos de tempo e capital investi<strong>do</strong>, colocou na época a produção de aves<br />

entre uma das atividades mais importantes de todas as famílias rurais americanas. Estas vantagens de<br />

produção deram às aves o papel de fontes de alimentos nutritivos para famílias com recursos limita<strong>do</strong>s,<br />

principalmente nos países em desenvolvimento. É importante observar que a avicultura nasce como atividade<br />

<strong>do</strong>méstica familiar, é incorporada pela indústria, mas conserva a criação na origem onde iniciou (quem cria<br />

tem o mesmo perfil daqueles da sua instituição). O que mu<strong>do</strong>u foi a forma verticalizada por força da<br />

industrialização, já que neste nicho (criação) a indústria capitalista não teve interesse em assumir, sinaliza<strong>do</strong>,<br />

provavelmente, pelo excesso de não trabalho e grande risco já que trabalha com vida.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

11


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Para SALLE et alli (1998: 227), a produção e o consumo de carne de frango devem<br />

alcançar e até superar a carne bovina nos primeiros anos <strong>do</strong> próximo século, o mesmo deve<br />

ocorrer em relação a produção e o consumo de carne suína por volta de 2020 a 2030. Essa<br />

previsão foi feita basea<strong>do</strong> nos da<strong>do</strong>s da Tabela 2, que mostra o mixing de produção das três<br />

principais carnes durante o perío<strong>do</strong> 1973/1997. Os autores citam ainda que “a justificativa<br />

mais simplista para a expansão <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de carne de frango é a de que é o produto de<br />

origem animal que melhor responde aos desafios de alimentação <strong>do</strong> homem moderno<br />

(qualidade nutricional e resposta eficiente aos problemas <strong>do</strong> sedentarismo, estresse, etc.)”.<br />

Do ponto de vista técnico-científico, o frango é superior aos suínos e bovinos, por<br />

apresentar um ciclo de vida bem mais curto, com características típicas de animal de<br />

laboratório, sen<strong>do</strong> muito mais apto ao desenvolvimento de experimentos. Isso tem<br />

proporciona<strong>do</strong> ganhos extraordinários ao setor, seja no ganho de peso, na redução <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> de criação, no mais eficiente controle de <strong>do</strong>enças e na melhor conversão alimentar.<br />

Do ponto de vista econômico, o aumento na rapidez de resposta, alia<strong>do</strong> à alta<br />

conversibilidade de matérias-primas vegetais, se traduz numa produção proporcionalmente<br />

maior de carne ou de ovos, em menor espaço de tempo e a custos cada vez mais acessíveis.<br />

TABELA 2 – Mixing de Produção Mundial das Três Principais Carnes – 1973/1997<br />

(em Milhões de Toneladas).<br />

1973 1997 Variação no<br />

Volume Participação Volume Participação perío<strong>do</strong><br />

Carne suína 50,794 46,20% 80,435 48,48% 58,36%<br />

Carne bovina 41,509 37,76% 48.290 29,10% 16,34%<br />

Carne de frango 17,636 16,04% 37,194 22,42% 110,90%<br />

TOTAL 109,939 100% 165,919 100,00% 50,92%<br />

Fonte: SALLE et alli (1998).<br />

Apesar das crises que freqüentemente assolam a economia brasileira, a avicultura de<br />

corte, no que se refere à produção de carne de frango, vem evoluin<strong>do</strong> de maneira contínua,<br />

com taxas de 11,39% ao ano. Isso resultou num crescimento acumula<strong>do</strong> de 2.446% de 1970<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

12


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

até 1999, onde a produção passou de 217.000 para 5..526.000 toneladas anuais, conforme<br />

apresenta<strong>do</strong> no Gráfico 1.<br />

GRÁFICO 1 – Evolução da Produção Brasileira de Carne de Frango, 1000t, 1970–<br />

1999.<br />

6000<br />

5000<br />

4000<br />

3000<br />

2000<br />

1000<br />

0<br />

Fonte: Da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s in APA (2000). Elaboração <strong>do</strong> Autor<br />

No que se refere à produção mundial, o Brasil é um <strong>do</strong>s grandes produtores de<br />

frangos de corte, ocupan<strong>do</strong> a terceira posição a nível mundial, sen<strong>do</strong> supera<strong>do</strong> apenas pela<br />

China que é o segun<strong>do</strong> e os EUA, o líder <strong>do</strong> setor (Gráfico 2). Em uma análise desses<br />

da<strong>do</strong>s, GODOY (1999) argumenta que a produção de frangos <strong>do</strong>s chineses continua<br />

irrisória frente à sua população (consumo de 5,1 Kg per capita/ano de carne de frango em<br />

1998, praticamente 1/5 <strong>do</strong> consumo brasileiro). Na verdade esta constatação sinaliza para<br />

um grande potencial de crescimento basea<strong>do</strong> na ampliação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> interno. Cita ainda<br />

que o desempenho expressivo <strong>do</strong> México, ocupan<strong>do</strong> a quarta posição, pode ser justifica<strong>do</strong><br />

graças à indústria americana que passou a se servir das condições e da mão-de-obra<br />

mexicana (mais barata) para aumentar sua produção e ampliar sua participação no merca<strong>do</strong><br />

externo.<br />

1970<br />

1972<br />

1974<br />

1976<br />

Produção (1000t)<br />

1978<br />

1980<br />

1982<br />

1984<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

1986<br />

1988<br />

1990<br />

1992<br />

1994<br />

1996<br />

1998<br />

13


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Fazen<strong>do</strong> uma análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s de produção de carne de frango, de 1994 a 1999, a<br />

China foi o país campeão de crescimento com taxas anuais de 5,62%, contra 5,58% <strong>do</strong><br />

Brasil. Sen<strong>do</strong> que o crescimento acumula<strong>do</strong> <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> foi de 46,66% para a China, e<br />

46,29% para o Brasil. Para se ter uma idéia <strong>do</strong> crescimento da produção brasileira, os EUA<br />

no mesmo perío<strong>do</strong> cresceu com taxas anuais de 3,18% e acumulou um crescimento de<br />

24,5%.<br />

GRÁFICO 2 – Produção de Carne de Frango, 1.000t, 1994-1999, por País: os 6<br />

Maiores.<br />

16.000<br />

14.000<br />

12.000<br />

10.000<br />

8.000<br />

6.000<br />

4.000<br />

2.000<br />

0<br />

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000*<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s China Brasil<br />

México França Reino Uni<strong>do</strong><br />

* Previsão<br />

Fonte: Da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s in APA (2000). Elaboração <strong>do</strong> Autor<br />

A participação <strong>do</strong> frango de corte na mesa <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r cresce a taxas de 8,08%<br />

ao ano a partir da década de 70, acumulan<strong>do</strong> um crescimento no consumo per capita, no<br />

perío<strong>do</strong> de 1970 a 1999, em 930,4%. Para se ter uma noção da dimensão desse crescimento,<br />

o consumo acumula<strong>do</strong> per capita de ovos, de carne de bovino e de suíno para o mesmo<br />

perío<strong>do</strong> foi de 45,9%, 52,2% e 11,1%, respectivamente, conforme apresenta<strong>do</strong> na Tabela 3.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

14


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

TABELA 3 – Consumo Per Capita de Ovos e Carne de Frango, de Bovino e de Suíno,<br />

Brasil, 1970 – 1999.<br />

Ano Ovos (Unidades) Frangos (Kg) Bovinos (Kg) Suínos (Kg)<br />

1970 61 2.3 22.8 8.1<br />

1971 62 2.4 23.4 7.9<br />

1972 63 3.0 24.1 6.6<br />

1973 60 4.0 26.2 7.0<br />

1974 58 4.7 27.7 7.0<br />

1975 57 4.9 29.8 7.2<br />

1976 57 5.4 35.6 7.2<br />

1977 57 6.0 40.0 7.4<br />

1978 58 7.1 40.0 7.5<br />

1979 62 8.7 34.9 7.7<br />

1980 77 8.9 32.4 8.2<br />

1981 72 8.9 29.0 8.0<br />

1982 92 8.5 30.2 7.7<br />

1983 84 9.3 27.7 7.4<br />

1984 79 8.1 23.0 7.1<br />

1985 87 8.9 22.8 6.9<br />

1986 94 10.0 22.6 7.3<br />

1987 109 12.4 22.2 8.0<br />

1988 103 11.8 24.5 7.0<br />

1989 83 12.4 24.7 6.6<br />

1990 89 13.4 23.6 7.0<br />

1991 88 15.0 22.8 7.0<br />

1992 88 16.0 25.8 7.3<br />

1993 86 17.0 33.4 7.8<br />

1994 92 18.3 33.7 7.9<br />

1995 101 22.8 36.2 8.7<br />

1996 101 22.0 35.6 9.4<br />

1997 83 23.6 35.1 8.9<br />

1998* 81 24.0 34.7 9.0<br />

1999** 89 23.7 34.7 9.0<br />

Variação<br />

total %<br />

45,9 930,4 52,2 11,1<br />

Variação<br />

anual %<br />

*Estimativa<br />

** Previsão<br />

1,26 8,08 1,40 0,35<br />

Fonte: IBGE/IEA/APA in Aves & Ovos (1999:4). Modifica<strong>do</strong> pelo Autor.<br />

O maior consumo per capita de carne de frango no Brasil deverá ser atingi<strong>do</strong> em<br />

2000, quan<strong>do</strong> se espera que cada brasileiro consuma aproximadamente 25,7 quilos de carne<br />

de frango por ano. Essa quantidade poderia ser entendida como o limite máximo de<br />

consumo <strong>do</strong> nosso merca<strong>do</strong> interno, entretanto, quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> com da<strong>do</strong>s de outros<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

15


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

países, como Hong Kong, é possível perceber grandes possibilidades de crescimento. O<br />

Brasil atualmente ocupa a 10 a posição em termos de consumo per capita a nível mundial<br />

com 25,7 Kg /ano, isso representa 49,7% <strong>do</strong> consumo <strong>do</strong> l o coloca<strong>do</strong> que é Hong Kong com<br />

51,7 Kg/ano. Entretanto percebemos uma certa estabilidade no consumo de 1998 a 2000,<br />

conforme apresenta<strong>do</strong> no Gráfico 3.<br />

GRÁFICO 3 – Consumo Per Capita de Carne de Frango, Kg/Ano, 1998 – 2000, por<br />

País: os 10 Maiores.<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Hong Kong<br />

Kuwait<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

Arábia Saudita<br />

Emira<strong>do</strong>s Árabes<br />

Taiwan<br />

Canada<br />

(P) preliminar/(e) estimativa<br />

Fonte: Da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s in APA (2000). Elaboração <strong>do</strong> Autor<br />

Cingapura<br />

O consumo de carne de frango no Brasil cresceu a uma razão de 5% ao ano, de 1994<br />

a 1999, acumulan<strong>do</strong> neste mesmo perío<strong>do</strong> um crescimento 34%. Essa performance coloca o<br />

Brasil que é o terceiro maior consumi<strong>do</strong>r mundial em segun<strong>do</strong> lugar em nível de<br />

crescimento, sen<strong>do</strong> supera<strong>do</strong> apenas pela China que cresceu a taxas de 9,2% ao ano e<br />

acumulan<strong>do</strong> um consumo no mesmo perío<strong>do</strong> de 70%. Para se ter noção desse crescimento,<br />

os EUA maior consumi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, têm para o mesmo perío<strong>do</strong> taxas anuais de<br />

crescimento e total acumula<strong>do</strong> de 2,7% e 17,8, respectivamente (Gráfico 4), manifestan<strong>do</strong><br />

característica de merca<strong>do</strong> maduro próximo ao seu limite máximo de consumo.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

Argentina<br />

1998 1999(p) 2000 (e)<br />

Brasil<br />

16


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

GRÁFICO 4 – Consumo de Carne de Frango. 1000 t, 1994 – 1999.<br />

por País: os 6 maiores.<br />

12000<br />

10000<br />

8000<br />

6000<br />

4000<br />

2000<br />

0<br />

1994 1995 1996 1997 1998* 1999**<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s China Brasil México japão Reino Uni<strong>do</strong><br />

(P) preliminar/(e) estimativa<br />

Fonte: Da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s in APA (2000). Elaboração <strong>do</strong> Autor<br />

I. 3 - Evolução das Exportações<br />

As primeiras exportações de carcaças de frangos foram realizadas em mea<strong>do</strong>s da<br />

década de setenta, o que contribuiu para uma maior expansão desta atividade. A quantidade<br />

e o valor das exportações podem ser aprecia<strong>do</strong>s no Gráfico 5. Observa-se um rápi<strong>do</strong><br />

crescimento da quantidade exportada a taxas de 74,75% ao ano entre 75 e 82. Ficam<br />

estagna<strong>do</strong>s com tendência de queda até 87, quan<strong>do</strong> então passam a apresentar um<br />

crescimento significativo a taxa anuais de 10,33% até 99, contra taxa de 37,33% de 75 a 87.<br />

Fazen<strong>do</strong> uma avaliação total de 75 a 99, observa-se um crescimento das exportações de<br />

22.113,34% na quantidade (t) e 26.427,27% no valor FOB (US$ MILHÃO), com taxas<br />

anuais de crescimento de 24,12% e 25,01%, respectivamente. Atualmente o Brasil é o<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

17


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

segun<strong>do</strong> maior exporta<strong>do</strong>r 5 de carne de frango <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> os EUA o líder em<br />

exportações.<br />

GRÁFICO 5 – Exportações Brasileiras de Carne de Frango e seu Valor, 1975-1998.<br />

1.000<br />

900<br />

800<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999<br />

Quantidade (1000t) Valor FOB (US$ milhão)<br />

Fonte: Da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s in APA (2000). Elaboração <strong>do</strong> Autor<br />

I. 4 – Custos de Produção e Impactos Sociais<br />

Comparativamente aos principais países produtores de frango, o Brasil tem se<br />

destaca<strong>do</strong> tanto pelos índices zootécnicos quanto pelos índices de custos, conforme<br />

apresenta<strong>do</strong> na Tabela 4. Verifica-se por meio <strong>do</strong>s índices zootécnicos que o Brasil. EUA,<br />

Holanda e França, sob o ponto de vista de eficiência técnica, apresentaram os melhores<br />

resulta<strong>do</strong>s, bem acima daqueles obti<strong>do</strong>s pela China e Tailândia.<br />

5 Em 1985 a exportação de frango em partes representava 14% <strong>do</strong> total da carne de frango exportada,<br />

enquanto em 1999 já alcançava 54,8%. Atualmente são exporta<strong>do</strong>s mais de 60 tipos de cortes (ORTEGA,<br />

2000).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

18


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

TABELA 4 – Comparação de Índices Zootécnicos de Custos <strong>do</strong>s Principais Países<br />

Produtores de Frango de Corte.<br />

Índices<br />

zootécnicos<br />

Custo<br />

Brasil Holanda China EUA Tailândia França<br />

Conversão 2,0 1,9 2,3 2,0 2,0 2,0<br />

Idade (dias) 41,9 42,0 56,0 42,0 45,0 43,0<br />

Eficiência 227 232 201 230 211 225<br />

Peso limpo (Kg) 1,4 1,4 2,0 1,5 1,4 1,4<br />

Ração 100 153,9 119,5 102,5 143,5 159,1<br />

Pintinho 100 170,4 106,5 98,8 104,3 152,3<br />

Abate<strong>do</strong>uro 100 188,7 118,3 112,8 136,8 179,4<br />

Total 100 191,2 109,9 109,0 124,7 185,7<br />

Fonte: GOMES & ROSADO (1998). Adapta<strong>do</strong> pelo Autor.<br />

Onde:<br />

(peso médio x viabilidade) x 100<br />

__________________________<br />

idade de abate Consumo de ração (Kg)<br />

Eficiência= __________________________ Conversãor=__________________________<br />

conversão alimentar Peso vivo da ave (Kg)<br />

No tocante aos custos totais é visível a diferença existente entre o Brasil e demais<br />

países. A Tailândia mesmo apresentan<strong>do</strong> custos superiores ao brasileiro (24,7%), tem<br />

amplia<strong>do</strong> a sua participação no merca<strong>do</strong> internacional. Segun<strong>do</strong> GOMES & ROSADO<br />

(1998), isso ocorre em razão de sua proximidade com os merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res. Citam<br />

ainda que, a França e a Holanda produzem a um custo quase que o <strong>do</strong>bro <strong>do</strong> brasileiro, só<br />

se manten<strong>do</strong> no merca<strong>do</strong> externo, devi<strong>do</strong> aos subsídios da<strong>do</strong>s aos produtores, que chegam,<br />

às vezes, em 85% em função das barreiras alfandegárias no merca<strong>do</strong> internacional. Os<br />

subsídios americanos às exportações, por outro la<strong>do</strong>, chegam a US$ 360 por tonelada.<br />

O consumo <strong>do</strong> frango industrial produziu modificações nos hábitos de consumo<br />

popular. Anteriormente, o frango caipira 6 era o preferi<strong>do</strong> pelo consumi<strong>do</strong>r, que considerava<br />

o frango industrial com sua pele muito branca, sem gorduras, um frango inferior. SORJ et<br />

6 Devi<strong>do</strong> aos eleva<strong>do</strong>s índices de produtividade que consegue a avicultura intensiva, a avicultura tradicional<br />

fica marginalizada, sem condições de atender às necessidades de qualidade, controle sanitário e quantidade<br />

regular, impostas pelos segmentos de processamento e comercialização <strong>do</strong> complexo agroindustrial (CAI)<br />

avícola (Sorj et alli, 1982).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

19


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

alli (1982) sublinha que o frango industrial impõe-se primeiro nos supermerca<strong>do</strong>s, e com<br />

um público fundamentalmente de classe média. Com o tempo, seja por oferta sistemática na<br />

maioria <strong>do</strong>s centros de vendas de carnes, seja pelo preço relativamente inferior à carne de<br />

boi, terminou por ingressar inclusive no consumo popular.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s da última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), feita IBGE,<br />

concluiu que, a carne de frango está igualmente presente, com variações mínimas no<br />

tocante à quantidade, tanto na mesa de pobres como na de ricos. Conforme pode ser<br />

observa<strong>do</strong> na Tabela 5 a classe de renda de até 2 SM consomem 18% da carne bovina e<br />

75% da carne de frango consumida pela renda acima de 20 SM.<br />

TABELA 5 – POF - Consumo das Carnes Bovina (de 1 a ) e de Frango 1989/1998, Kg<br />

Per Capita<br />

Classe de renda<br />

Carne bovina<br />

1989 1998<br />

Carne de frango<br />

1989 1998<br />

Até 2 SM 2,3 3,4 10,9 14,4<br />

15 a 20 SM 14,1 14,3 14,1 16,8<br />

+ de 20 SM 21,2 18,8 16,3 19,2<br />

Fonte: IBGE (1999).<br />

O baixo valor <strong>do</strong> frango de corte, com reflexos positivos sobre o aumento de seu<br />

consumo, tem efeitos positivos sobre o custo <strong>do</strong> valor da força de trabalho <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res. Se considerarmos, conforme comenta GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988), que<br />

o valor da força de trabalho equivale ao valor <strong>do</strong>s meios de subsistência que são<br />

necessários, inclusive <strong>do</strong> ponto de vista moral e histórico, para manter o nível de vida<br />

normal <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e garantir a sua procriação, a avicultura contribui para elevar a<br />

taxa geral de mais-valia e, assim, a acumulação de capital.<br />

Para GODOY (1999: 3) a atual indústria avícola brasileira é resulta<strong>do</strong> direto <strong>do</strong><br />

processo de urbanização ocorri<strong>do</strong> no país nestes últimos 50 anos (Tabela 6), onde essa<br />

urbanização atuou de duas maneiras distintas na criação de um novo e amplo merca<strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r:<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

20


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

1. Ao transferir, <strong>do</strong> campo para as cidades, maciças levas da população, aqui inclusos os<br />

que produziam frangos e poedeiras para a própria subsistência e/ou para o atendimento,<br />

eventual ou contínuo, de terceiros;<br />

2. Ao valorizar os espaços urbanos, eliminan<strong>do</strong> não só os “cinturões verdes” que<br />

cercavam os grandes centros urbanos mas, sobretu<strong>do</strong>, as criações <strong>do</strong>mésticas (são<br />

poucos os que, nasci<strong>do</strong>s antes <strong>do</strong>s anos 50, não conviveram com o galinheiro no fun<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> quintal, de onde saíam os ovos para consumo diário e o “franguinho” <strong>do</strong> fim de<br />

semana).<br />

TABELA 6 – BRASIL, Evolução da População Urbana e Rural em Meio Século, 1940<br />

e 1990. em Milhões de Habitantes.<br />

Ano<br />

População urbana<br />

(A)<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

População rural<br />

(B)<br />

% <strong>do</strong> total<br />

A B<br />

1940 12,8 28,4 31% 69%<br />

1990 110,2 34,8 76% 24%<br />

VAR. 40/90 760% 22% - -<br />

Fonte: IBGE (1999).<br />

I. 5 - O Complexo Avícola Atual<br />

Essa evolução pode ser constatada, também, pela enorme rede de atividades<br />

correlatas ligadas à avicultura e suas inovações tecnológicas 7 , incluin<strong>do</strong> atividades de<br />

intermediação na comercialização, beneficiamento e prestação de serviços de seus<br />

produtos. Neste escopo geral, devem ser incluí<strong>do</strong>s: as indústrias de rações; de equipamentos<br />

para granjas, incubatórios, mata<strong>do</strong>uros e frigoríficos; de equipamentos de classificação,<br />

beneficiamento e transformação <strong>do</strong>s produtos avícolas; de laboratórios na produção de<br />

vacinas, drogas, antibióticos e desinfetantes; a produção de matérias primas para rações<br />

como vitaminas, elementos minerais e subprodutos industriais; a rede de intermediários<br />

entre o produtor e o consumi<strong>do</strong>r responsáveis pela comercialização, beneficiamento,<br />

prestação de serviços e industrialização de produtos avícolas; os agrônomos, veterinários e<br />

zootecnistas; universidades e centros de pesquisas; e muitas outras atividades aqui não<br />

7 SCHUMPETER (1943) cita que a inovação de um setor potencializa e dinamiza o aparecimento ou o<br />

crescimento de outros setores com novas inovações.<br />

21


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

relacionadas. Para COTTA (1997) este setor agro-industrial gerou mais de 2 milhões de<br />

empregos diretos e indiretos em 1997 e dinamiza outros setores produtivos <strong>do</strong> país,<br />

especialmente a produção de soja e de milho.<br />

Para se ter uma noção da dimensão <strong>do</strong> setor avícola, o agronegócio representa US$<br />

300 bilhões <strong>do</strong>s US$ 850 bilhões <strong>do</strong> PIB brasileiro (35% <strong>do</strong> total), o setor agropecuário<br />

responde por cerca de US$ 60 bilhões (7% <strong>do</strong> PIB) e desse montante a avicultura de corte<br />

participa com US$ 6 bilhões. As exportações <strong>do</strong> setor agropecuário somam US$ 16 bilhões<br />

enquanto as da avicultura de corte chegam US$ 0,9 bilhões (SCHORR, 2000).<br />

Caracterizan<strong>do</strong> a avicultura em relação aos outros produtos agropecuários, SORJ et<br />

alli (1982: 10) sublinham que:<br />

1 - Apresenta um altíssimo grau de subordinação da produção rural à moderna<br />

tecnologia produzida pelo complexo agroindustrial, fazen<strong>do</strong> com que o complexo avícola<br />

seja um campo privilegia<strong>do</strong> para análise das transformações das relações sociais no campo<br />

sob a liderança <strong>do</strong> capital industrial;<br />

2 – Passa por um crescimento vertiginoso, no bojo da expansão <strong>do</strong> conjunto <strong>do</strong> setor<br />

agroindustrial, basea<strong>do</strong>, em boa parte, em tecnologia estrangeira, possibilitan<strong>do</strong>, desse<br />

mo<strong>do</strong>, esclarecer certos problemas de caráter <strong>do</strong> setor agroindustrial, suas perspectivas, e a<br />

inserção <strong>do</strong> Brasil no merca<strong>do</strong> mundial de produtos alimentícios; e<br />

3 – Permite análise <strong>do</strong>s problemas da representação política das novas camadas<br />

sociais de produtores rurais liga<strong>do</strong>s ao complexo agroindustrial e que se distinguem<br />

claramente <strong>do</strong>s antigos produtores agrícolas.<br />

No contexto da produção animal, a avicultura no Brasil tem se caracteriza<strong>do</strong> como o<br />

setor que mais se organizou em termos empresariais, pela formação de grandes empresas<br />

verticalizadas e em termos associativos pela representação de interesses através de varias<br />

associações 8 . Para ORTEGA (2000: 7) a especialização da avicultura nacional resultou na<br />

8 Como por exemplo: UBA – União Brasileira de Avicultura, APA - Associação Paulista de Avicultura, AGA<br />

– Associação Goiana de Avicultura, ABEF- Associação Brasileira de Exporta<strong>do</strong>res de Frangos, APINCO –<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

22


<strong>EVOLUÇÃO</strong> RECENTE <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

emergência de formas de representação de interesses mais especializadas. A UBA por<br />

exemplo é uma interprofissão, que mais <strong>do</strong> que ser uma dentre muitas entidades<br />

representativas congrega uma espécie de federações estaduais, essa representação tem<br />

como característica uma dupla função: de um la<strong>do</strong>, encaminha politicamente as<br />

reivindicações <strong>do</strong> coletivo que representa, e, de outro, acaba desempenhan<strong>do</strong> importante<br />

papel de difusor de tecnologias.<br />

O nascimento <strong>do</strong> associativismo na avicultura, levantan<strong>do</strong> a bandeira pelo setor,<br />

permitiu ganhos consideráveis nos últimos anos, tanto no que se refere à produtividade<br />

como no que tange a parte comercial. Atualmente o complexo avícola é um <strong>do</strong>s complexos<br />

agroindustriais brasileiros de maior dinamismo, com atividade primária extremamente<br />

intensiva e integrada entre os elos da cadeia produtiva. Em virtude das fortes relações a<br />

montante e a jusante da produção agropecuária é considera<strong>do</strong> um complexo agroindustrial<br />

completo (KAGEYAMA & GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA, 1987)<br />

I. 6 - Conclusão<br />

Portanto, a avicultura brasileira se consolida industrialmente a partir da década de<br />

70. Atualmente a carne de frango é a terceira carne mais consumida no mun<strong>do</strong> e a terceira<br />

carne mais produzida no mun<strong>do</strong> e também no Brasil. No merca<strong>do</strong> interno é a segunda carne<br />

mais consumida, ten<strong>do</strong> o consumo per capita aumenta<strong>do</strong> 930,4% de 1970 para 1999, sen<strong>do</strong><br />

atualmente consumida com variações mínimas no tocante à quantidade, por ricos e pobres.<br />

A produção interna cresceu 2.446% de 1970 para 1999, sen<strong>do</strong> que parte dessa<br />

produção é destinada a exportação, de maneira que o Brasil ocupa o 2 o lugar nas<br />

exportações, ten<strong>do</strong> acumula<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> de 1975 a 1999 um crescimento de 22.113,34%<br />

na quantidade de carne exportada.<br />

Associação <strong>do</strong>s Produtores de Pintos de Corte, FACTA - Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas,<br />

e outros.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

23


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Na verdade, três fatores essenciais embasaram o desenvolvimento da avicultura<br />

brasileira e sua consolidação como um <strong>do</strong>s mais modernamente constituí<strong>do</strong>s: uma intensa<br />

integração vertical, a expansão <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> interno e o incentivo à busca <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

externo (MATOS, 1996b).<br />

Este setor tão novo da economia é responsável pela circulação anual de cerca de 6<br />

bilhões de dólares, gera mais de 2 milhões de empregos e é reconheci<strong>do</strong> por ser o mais<br />

tecnifica<strong>do</strong> e organiza<strong>do</strong> da pecuária. Nos próximos capítulos, a minha tarefa será tentar<br />

oferecer uma contribuição para o entendimento deste setor tão dinâmico da produção<br />

animal.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

24


CAPÍTULO II<br />

TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Este Capítulo procura identificar as mudanças que ocorreram na base técnica da<br />

avicultura de corte durante o seu processo evolutivo. Foram constatadas mudanças nas<br />

áreas da genética, da nutrição, nos equipamentos de alimentação e climatização, nos<br />

galpões, no processamento industrial, na sanidade, nas técnicas de criação e no padrão de<br />

produção de frangos de corte. Em sua conclusão tal Capítulo aponta os ganhos consegui<strong>do</strong>s<br />

em função <strong>do</strong>s avanços da genética, nutrição e sanidade alia<strong>do</strong>s a novos equipamentos de<br />

alimentação, produção de rações e climatização. São apresenta<strong>do</strong>s também o aumento <strong>do</strong><br />

tamanho <strong>do</strong>s galpões, o aumento da quantidade de aves criadas por metro quadra<strong>do</strong>, o<br />

aumento da utilização de equipamentos de climatização e a mudança das técnicas e <strong>do</strong><br />

padrão de produção de frangos de maneira verticalizada e integrada a produtores de médio<br />

e grande porte.<br />

II. 1 - Mudanças na Área da Genética<br />

As modificações na área genética resultaram no desenvolvimento <strong>do</strong> popular<br />

frango 9 de granja, que desde sua constituição encontra-se em um dinâmico processo de<br />

melhoramento, superan<strong>do</strong>-se em termos de índices zootécnicos a cada ano. Fazen<strong>do</strong> uma<br />

9 Provavelmente as aves atuais tiveram origem na Índia a partir <strong>do</strong> gênero Archaeopterix. A galinha <strong>do</strong>méstica,<br />

segun<strong>do</strong> <strong>DA</strong>RWIN, cita<strong>do</strong> por GIANNONI& GIANNONI (1983), ter-se-ia origina<strong>do</strong> <strong>do</strong> Gallus bankiva da<br />

Ásia. Porém outros autores consideram que sua origem foi polifilética a partir de cruzamentos entre essa<br />

espécie e as Gallus sonnerati (galinha parda da Ásia), Gallus lafayetti (galinha <strong>do</strong> Ceilão) e Gallus varius<br />

(galinha de java). Os primeiros indícios de <strong>do</strong>mesticação datam de 3200 a.C. a 1400 a.C., onde já se criavam<br />

na China como animais de a<strong>do</strong>rno e de briga. A introdução de galos de briga na Europa ocorreu no século<br />

XVI. Esse esporte se popularizou rapidamente, atingin<strong>do</strong> tais proporções que em 1849 o Vaticano o proibiu.<br />

GIANNONI & GIANNONI (1983) citam ainda que atualmente das 31 espécies de animais <strong>do</strong>mésticos, 11<br />

são aves e destas a mais importante economicamente é a Gallus gallus.


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

revisão sobre as inovações genéticas de 45 até 70, GIANNONI & GIANONNI (1983)<br />

citam que as primeiras raças de aves de corte surgiram na Ásia e na Europa, porém a<br />

produção industrial de frango de granja (broiler) teve início em New England nos Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s da América <strong>do</strong> Norte. Desenvolveram-se as raças de dupla aptidão por volta de<br />

1945 e uma delas, a New Hampshire, passou a ser gradualmente especializada para corte<br />

como raça pura. Em seguida surgiram cruzamentos dessa raça com a Plymouth Rock<br />

Barrada, cujos produtos se destinavam ao corte.<br />

Em seguida surgiu a revolucionária raça Red Cornish, em 1948, desenvolvida por<br />

Charles Vantress e pouco depois a White Cornish <strong>do</strong>minante. Ao mesmo tempo outra<br />

mudança ocorria: o aparecimento <strong>do</strong> tipo corte White Rock melhorada por Henri Saglio,<br />

tanto como raça pura, como paternal. A partir deste perío<strong>do</strong> praticamente to<strong>do</strong>s os<br />

“broilers” são produtos de cruzamentos entre Cornish e White Rock.<br />

Na década de 50 as fêmeas “broiler” parentais eram formadas por cruza simples,<br />

utilizan<strong>do</strong>-se o vigor híbri<strong>do</strong> para as características reprodutivas. Surgiram então as marcas<br />

de híbri<strong>do</strong>s selecionadas pela capacidade combinante entre linhagens.<br />

Em 1965 nova mudança ocorreu com a introdução <strong>do</strong> gene recessivo sexoliga<strong>do</strong><br />

“dwarf” (dw) descrito por HUTT, cita<strong>do</strong> por GIANNONI & GIANONNI (1983), na<br />

linhagem paternal fêmea. A partir de 1970 linhagens parentais porta<strong>do</strong>ras de “dw”<br />

substituíram algumas linhagens comerciais e semi comerciais da Europa. Essas linhagens<br />

apresentavam as seguintes vantagens: (a) 30% de redução no peso <strong>do</strong> corpo da linhagem<br />

materna, em conseqüência requeriam em média 40 gramas a menos de alimentos por dia,<br />

fato que reduziu o custo <strong>do</strong>s ovos de incubação e (b) a densidade populacional nos<br />

galinheiros podia ser aumentada de 20 a 30%. Por outro la<strong>do</strong> condicionavam algumas<br />

desvantagens como: (a) maior dificuldade de acasalamento, resultante da diferença de<br />

tamanho entre fêmeas dw (pequenas) e machos (grandes), necessitan<strong>do</strong> geralmente de<br />

inseminação artificial, (b) diminuição da eclodibilidade total e (c) a maioria das linhagens<br />

dw ainda não se encontra estabilizada geneticamente e adaptada para a comercialização.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

26


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Os ganhos decorrentes <strong>do</strong> melhoramento genético foram surpreendentes. Um<br />

exemplo disto é o progresso consegui<strong>do</strong> nas aves de postura, que produziam 150 ovos por<br />

ano e passaram as linhagens comerciais mais recentes para a produção média de 300 ovos<br />

em 52 semanas. Esta tecnologia iniciou-se nos EUA e rapidamente se expandiu para outros<br />

países.<br />

A conversão alimentar também foi atingida pelo melhoramento genético. Uma<br />

revisão a partir de 1945, feita por COTTA (1997), está apresentada na Tabela 7. Basea<strong>do</strong><br />

nestes da<strong>do</strong>s, um frango de corte atingia o peso de 1,6 Kg com cerca de 98 dias, realizan<strong>do</strong><br />

uma conversão em torno de 3. Atualmente os frangos atingem o mesmo peso com apenas<br />

um mês de idade, com uma conversão alimentar em torno de 1,66.<br />

TABELA 7 – Desempenho de Frangos de Corte Desde 1945.<br />

Ano Idade a 1,6 Kg de PV (dias) Conversão Alimentar<br />

1945 98 3,00<br />

1955 70 2,50<br />

1965 56 2,25<br />

1975 49 2,00<br />

1990 30 1,66<br />

Fonte: COTTA (1997)<br />

Outro fato importante para a economia avícola foi a redução na idade de abate <strong>do</strong>s<br />

frangos 10 . Em 1912, eram necessários 112 dias para se produzir um frango com 1.500g de<br />

peso vivo, e hoje se obtêm 2.160g em 42 dias apenas (TEIXEIRA, 1997a). A Tabela 8<br />

mostra o peso vivo médio de frangos de corte, segun<strong>do</strong> a idade e o ano de sua produção.<br />

Consideran<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de 1930 a 1999, conforme os da<strong>do</strong>s da Tabela 9, o frango<br />

aumenta em 73% o seu peso, passan<strong>do</strong> de 1,5 Kg para 2,6 Kg na idade de abate, a<br />

conversão alimentar passa de 3,5 para 1,8. Isso significa uma economia de 48% na<br />

10 Além <strong>do</strong> melhoramento e sanidade, a nutrição constitui o sustentáculo mais importante da produção animal<br />

e o principal responsável pelo sucesso desta exploração. Atualmente as pesquisas são dirigidas para<br />

determinar requerimentos nutricionais a níveis mais econômicos e procurar alimentos alternativos, para<br />

alimentar os animais e produzir a custos economicamente viáveis.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

27


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

necessidade de ração. A idade de abate passa de 105 para 42 dias, portanto 60% a menos de<br />

tempo necessário para a época de abate.<br />

TABELA 8 – Peso Vivo de Frangos de Corte Segun<strong>do</strong> a Idade e o Ano de Produção.<br />

Ano Idade (dias) Peso Vivo<br />

1912 44 520<br />

1930 56 750<br />

1938 56 850<br />

1946 56 980<br />

1954 56 1280<br />

1958 44 1450<br />

1972 56 1760<br />

1980 56 1850<br />

1988 49 2080<br />

1997 42 2200<br />

Fonte: TEIXEIRA (1997a)<br />

TABELA 9 – O Frango como Resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Desenvolvimento Científico.<br />

Fator produtivo 1930 1999 Variação<br />

Peso vivo (kg) 1,5 2,6 73%<br />

Conversão* 3,5 1,8 (48%)<br />

Idade** 105 42 (60%)<br />

* Kg de ração necessários à produção de 1 kg de frango (peso vivo);<br />

** Número de dias necessários para alcançar o peso especifica<strong>do</strong>.<br />

Fonte: GODOY (1999).<br />

Para se ter uma noção da intensidade das mudanças genéticas, até a década de<br />

oitenta, os programas de melhoramento genético apresentam a seguinte performance<br />

(GIANNONI & GIANNONI 1983):<br />

Ganho de peso – obtinha-se melhoramento de 4 a 5% ao ano;<br />

Conversão alimentar – diminuía a razão de 1% ao ano;<br />

Gordura ab<strong>do</strong>minal (na avaliação por ultra-som) – já fazia parte <strong>do</strong> melhoramento<br />

genético a diminuição <strong>do</strong>s depósitos de gordura;<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

28


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Porcentagem de cortes nobres (coxa e peito) – o melhoramento já era direciona<strong>do</strong><br />

para o aumento <strong>do</strong> rendimento <strong>do</strong>s cortes nobres; e a seleção já considerava a necessidade<br />

de resistência ao estresse, em função da sua importância em face <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s mais<br />

intensivos e industrializa<strong>do</strong>s de produção.<br />

Apesar <strong>do</strong> melhoramento genético considerar a resistência ao estresse os resulta<strong>do</strong>s<br />

consegui<strong>do</strong>s não são significativos, a redução da mortalidade observada nos últimos anos<br />

deve ser atribuída em grande parte à melhoria <strong>do</strong> ambiente e das práticas de manejo.<br />

Conforme apresenta<strong>do</strong> na Tabela 10 observa-se uma diferença de mortalidade de 18,37%<br />

no perío<strong>do</strong> de 42 a 56 dias quan<strong>do</strong> se compara frango de corte de 1997 com frango de<br />

menor evolução genética (diferença de 12 anos) em condições de desafio de alta<br />

temperatura a partir de 50 dias de idade (TORRES, 1998).<br />

TABELA 10 – Peso (g), Conversão (g/g), Rendimento de Carcaça (%), Rendimento de<br />

Peito %) por Linhagem e Idade.<br />

Características* Frango de menor evolução Frango de corte 1997<br />

42 dias 56 dias 42 dias 56 dias<br />

Peso 1306 2044 2232 3293<br />

Conversão 1,877 2,064 1,769 1,992<br />

Mortalidade 0,92 1,38 2,77 21,60<br />

Rend. Carcaça 68,07 68,39 70,86<br />

Rend. Peito 17,75 18,88 20,85<br />

* Experimento com 12 boxes de 54 aves por tipo de ave.<br />

Fonte: TORRES (1998).<br />

Atualmente para LANA (2000) os ganhos genéticos anuais espera<strong>do</strong>s são os<br />

seguintes: 2,5% no peso corporal; 0,02 unidades de diminuição na conversão alimentar;<br />

0,25% no aumento <strong>do</strong> rendimento de carcaça; 0,1% de diminuição na gordura ab<strong>do</strong>minal,<br />

0,15% de aumento no rendimento de peito; e 0,4 dias de diminuição na idade de abate.<br />

Espera-se que sejam manti<strong>do</strong>s nos níveis atuais à idade a maturidade sexual, o pico de<br />

produção, a eclodibilidade, a qualidade <strong>do</strong> ovo e a viabilidade <strong>do</strong>s frangos.<br />

Para GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988: 35), a seleção genética é um méto<strong>do</strong> de se<br />

obter em alguns anos aquilo que as forças da natureza levariam milênios para fazer e que<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

29


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

jamais chegariam a um resulta<strong>do</strong> tão perfeito, <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> processo de produção<br />

capitalista. Segun<strong>do</strong> o autor “algumas aves, como por exemplo, a galinha poedeira, a<br />

co<strong>do</strong>rna japonesa e o peru americano, após anos de seleção genética, encontram-se tão<br />

distantes <strong>do</strong>s seus ancestrais nativos, que parecem novas espécies, e a reprodução não é<br />

mais possível a não ser quan<strong>do</strong> conduzida artificialmente, da<strong>do</strong> que essas raças já perderam<br />

to<strong>do</strong>s os instintos que não aqueles que se destinem à missão de fabricar ovos e carne”.<br />

Para OTA cita<strong>do</strong> por GOODMAN et alli(1990) existem as previsões de que em<br />

tempo recente as atividades de melhoramento animal estarão bem de frente das<br />

transformações qualitativas de curto prazo na agricultura, iniciadas pelas biotecnologias.<br />

Um exemplo disto é utilização em fase experimental de hormônio <strong>do</strong> crescimento para<br />

galinhas produzi<strong>do</strong> por bactérias desenhadas por engenharia genética. Esse hormônio não<br />

tem a finalidade de fazer as galinhas maiores, mas sim o de fazer galinhas normais<br />

crescerem mais rápi<strong>do</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> SORJ et alli (1982: 31), “a avicultura moderna é filha das mais avançadas<br />

técnicas de engenharia genética aplicadas à produção industrial de carnes animais. Pelo alto<br />

grau de conversão de cereal em carne, é o frango o animal que melhor se adapta à produção<br />

maciça de carnes a menores preços. A partir <strong>do</strong> controle genético, confinamento e<br />

regulação alimentar, reduzem-se (quan<strong>do</strong> não eliminam) os determinantes naturais <strong>do</strong> ciclo<br />

de reprodução biológica <strong>do</strong> animal”.<br />

A esse respeito GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988: 16), em um breve resumo sobre o<br />

progresso técnico na agricultura, cita o seguinte “na agricultura devi<strong>do</strong> ao fato <strong>do</strong> perío<strong>do</strong><br />

produtivo estar condiciona<strong>do</strong> por processos biológicos, dificilmente se consegue reduzi-los<br />

significativamente através de inovações que não as biológicas; e ainda assim com<br />

resulta<strong>do</strong>s bastante limita<strong>do</strong>s.”<br />

Dessa forma as mudanças na área da genética permitiram a substituição de raças<br />

puras de aves por híbri<strong>do</strong>s sintéticos de alta performance produzi<strong>do</strong>s pela indústria da área<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

30


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

genética denominada no meio técnico por “avozeiro”. Os ganhos genéticos permitiram: a<br />

diminuição da idade de abate de 105 dias para 42 dias; a melhora na conversão alimentar<br />

passan<strong>do</strong> de 3,5 para 1,8 ao abate e aumentar o peso vivo de 1,5 kg para 2,6 kg a idade de<br />

abate.<br />

II. 2 - Mudanças na Nutrição<br />

A criação em ambiente confina<strong>do</strong> permitiu a diminuição <strong>do</strong>s riscos de mortalidade e<br />

maior controle da criação. Isto foi possível graças ao fornecimento de to<strong>do</strong>s os nutrientes<br />

necessários à produção via rações balanceadas. Um <strong>do</strong>s fatores responsáveis pelo<br />

melhoramento das rações das aves e, conseqüentemente, pela possibilidade de criar aves em<br />

escala industrial, ou seja em grandes números e totalmente confinadas, foi a descoberta da<br />

vitamina D3 11 sintética, em 1932, que permitiu a criação de aves na ausência de raios<br />

solares (ENGLERT, 1978).<br />

As mudanças na nutrição têm ofereci<strong>do</strong> a sua contribuição ao progresso genético <strong>do</strong><br />

frango de corte. Para ENGLERT (1978), a nutrição é uma ciência deste século, pois foi por<br />

volta de 1900 é que se começou a usar pela primeira vez rações à base de grãos cereais e<br />

alguns subprodutos de origem vegetal e animal. Até então, as aves eram criadas à solta e<br />

elas supriam suas deficiências alimentares ingerin<strong>do</strong> vegetais, insetos e minhocas, além <strong>do</strong>s<br />

grãos de milho e outros que recebiam <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r. Naquela época ainda se acreditava que<br />

para criar bem uma ave bastava mantê-la com o papo cheio.<br />

A evolução <strong>do</strong> uso de alimentos para as aves pode ser vista na Tabela 11. Nesta<br />

apresentação de valores de aproximadamente 30 em 30 anos, é possível observar as<br />

mudanças no uso de alimentos para as aves, inician<strong>do</strong> com pasto e milho até formulação de<br />

rações balanceadas acrescidas de minerais, vitaminas e aditivos.<br />

11 Essa vitamina em condições naturais é sintetizada na pele a partir de provitaminas presente em alguns<br />

alimentos, a partir da radiação solar<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

31


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

TABELA 11 – Evolução <strong>do</strong> Uso de Alimentos para Aves<br />

1900 1930 1960 1997<br />

Pasto + farinha de ossos + ração balanceada + minerais<br />

Milho + aveia + vitaminas<br />

+ aditivos<br />

Fonte: TEXEIRA (1997a), Adapta<strong>do</strong> pelo autor<br />

Segun<strong>do</strong> TEIXEIRA (1997a), no campo da avicultura houve um progresso<br />

marcante na área de nutrição, a Tabela 12 mostra 40 anos de progresso na nutrição de<br />

frangos de corte, comparan<strong>do</strong> as rações de 1929, 1956 e 1969. De 1929 para 1969 houve<br />

um aumento de 138,4% no peso médio <strong>do</strong>s frangos aos 28 dias. O autor atribui parte desta<br />

melhora à qualidade da ração que diminuiu o gasto com alimento por quilo de frango<br />

produzi<strong>do</strong> em 41%. Tal fato trouxe um grande benefício para o setor avícola, pois a ração é<br />

o principal responsável pelo custo de produção, sen<strong>do</strong> que este custo teve uma grande<br />

queda naquele perío<strong>do</strong>.<br />

TABELA 12 – 40 Anos de Progresso na Nutrição de Frangos de Corte.<br />

Resulta<strong>do</strong>s Ração – ano<br />

1929 1956 1969<br />

Peso aos 28 dias (g) 255 590 608<br />

Conversão alimentar 2,56 1,60 1,51<br />

Custo relativo 215 112 100<br />

Fonte: TEIXEIRA (1997a)<br />

Dentre vários pontos fundamentais no progresso obti<strong>do</strong> nos últimos anos, destacam-<br />

se três: 1 – identificação e determinação <strong>do</strong>s requerimentos de minerais, vitaminas e<br />

aminoáci<strong>do</strong>s essenciais; 2 – reconhecimento da importância de equilíbrio entre o nível de<br />

energia e os demais nutrientes da dieta; 3 – relacionamento <strong>do</strong> custo da alimentação para a<br />

produção de um quilo de carne. Embora a nutrição animal seja considerada uma das<br />

ciências mais desenvolvidas no campo da zootecnia, ainda existem muitos fatores de<br />

produção para serem pesquisa<strong>do</strong>s. Muitos nutrientes requeri<strong>do</strong>s pelos frangos de corte que<br />

já foram isola<strong>do</strong>s e identifica<strong>do</strong>s, como os solúveis secos de destilarias, o soro em pó de<br />

leite, a levedura seca de cerveja, a farinha de miscélias de antibiótico, outros solúveis de<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

32


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

fermentação e certos alimentos naturais; têm si<strong>do</strong> menciona<strong>do</strong>s como boas fontes de fatores<br />

de crescimento não identifica<strong>do</strong>s (TEIXEIRA,1997a).<br />

O levantamento da evolução das exigências nutricionais das aves apresenta<br />

componentes bastante diferencia<strong>do</strong>s. Existe um processo dinâmico de inovações nas áreas<br />

de determinação das exigências nutricionais. Um exemplo disto é a questão <strong>do</strong> nível de<br />

proteína na ração das aves de corte. As primeiras rações apresentavam altos níveis de<br />

proteína bruta (altos níveis de farelo de soja para suprir aminoáci<strong>do</strong>s essenciais). Essas<br />

foram sucedidas pela utilização de mistura de ingredientes protéicos, permitin<strong>do</strong> a<br />

diminuição <strong>do</strong> nível total proteína bruta (já que a mistura de ingredientes diferentes permite<br />

que um ingrediente supra a deficiência de aminoáci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> outro), sen<strong>do</strong> assim a mistura de<br />

farelo de soja mais farinha de carne e farinha de sangue permite a diminuição de proteína<br />

bruta em relação ao farelo de soja considera<strong>do</strong> isoladamente. Em seguida, a utilização de<br />

aminoáci<strong>do</strong>s essenciais sintéticos, somada aos critérios anteriores, resultou na utilização da<br />

“proteína ideal”. Essa forma inova<strong>do</strong>ra de formulação de rações é feita não mais a partir da<br />

proteína bruta, mas pelo balanceamento em nível ideal <strong>do</strong>s aminoáci<strong>do</strong>s necessários para as<br />

aves.<br />

Para ALBINO (1991), a utilização recente <strong>do</strong>s valores de aminoáci<strong>do</strong>s digestíveis<br />

resultou na formulação de rações de maior eficiência, atenden<strong>do</strong> de maneira adequada<br />

exigências nutricionais, além de proporcionar resulta<strong>do</strong>s econômicos superiores aos obti<strong>do</strong>s<br />

com rações formuladas para atender às exigências em aminoáci<strong>do</strong>s totais.<br />

Atualmente a crescente tendência mundial de elevação <strong>do</strong>s preços das fontes<br />

protéicas tem direciona<strong>do</strong> os nutricionistas a formular rações que atendam adequadamente<br />

às exigências nutricionais, mesmo quan<strong>do</strong> se utiliza os mais varia<strong>do</strong>s tipos de ingredientes<br />

em rações complexas, no intuito de reduzir o custo de produção sem alterar os resulta<strong>do</strong>s de<br />

desempenho. Desta maneira, consideran<strong>do</strong> que a utilização <strong>do</strong>s nutrientes <strong>do</strong>s alimentos é<br />

substancialmente variável, o conhecimento da fração digestível <strong>do</strong>s aminoáci<strong>do</strong>s é<br />

particularmente importante na formulação de rações, uma vez que permite a utilização de<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

33


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

uma grande gama de alimentos, entre eles os subprodutos industriais e os alimentos<br />

alternativos ou não convencionais, dispensan<strong>do</strong> a utilização de margens de segurança, que<br />

muitas vezes não é suficiente para garantir máximo desempenho (SILVA & ROSTAGNO,<br />

1998).<br />

A solução para os déficits <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s aminoáci<strong>do</strong>s essenciais, como a lisina e a<br />

metionina que os animais precisam para formar as proteínas, tem atraí<strong>do</strong> firmas de<br />

pesquisas biotecnológicas a pesquisar técnicas de engenharia genética para melhorar o<br />

balanceamento desses aminoáci<strong>do</strong>s em proteínas de cereais. Outros projetos procuram<br />

diminuir os custos desses aditivos nutricionais via incremento da eficiência <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de<br />

fermentação bacteriana usa<strong>do</strong>s para produzir aminoáci<strong>do</strong>s. Dessa forma seria possível<br />

diminuir o custo das rações, já que as necessidades metabólicas <strong>do</strong>s animais poderiam ser<br />

atendidas por uma alimentação de baixa proteína, combinada a uma mistura bem<br />

balanceada de aminoáci<strong>do</strong>s (GOODMAN et alli, 1990).<br />

No caso das necessidades de vitaminas para as aves, a quase totalidade foi definida<br />

na década de 40 e desta época para cá não foi feita mais nenhuma modificação mais<br />

profunda nos níveis recomenda<strong>do</strong>s, apenas uma aproximação teórica em 1994 pelo NRC 12<br />

(PENZ, 1995). Deve-se destacar que a produção de vitaminas está diretamente relacionada<br />

à atividade de multinacionais 13 , como as européias Roche e Basf, detentoras de maior<br />

parcela <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />

12 National Research Council<br />

13 Essas empresas a<strong>do</strong>tam a estratégia de importação <strong>do</strong>s princípios ativos e <strong>do</strong>s fármacos utiliza<strong>do</strong>s pelas<br />

filiais instaladas no Brasil. Na verdade essas empresas têm reduzida participação <strong>do</strong> capital nacional, e<br />

dependem de importação da grande maioria <strong>do</strong>s produtos de que necessita. Segun<strong>do</strong> ORTEGA (1988), esse<br />

setor de química fina tem sua filial aqui no Brasil e importa as matérias-primas da matriz. Essa estratégia<br />

atende a <strong>do</strong>is objetivos. O primeiro é o de dificultar a concorrência de empresas nacionais que formulam e<br />

embalam produtos farmacêuticos, através de pequena margem de lucro na venda de fármaco, manten<strong>do</strong><br />

preços baixos, distribuição de amostras e supervalorização <strong>do</strong> preço de compra <strong>do</strong> fármaco à matriz. O<br />

segun<strong>do</strong> é a questão da propriedade industrial. Como o Brasil não reconhece patente de produtos<br />

farmacêuticos, as empresas que detêm a tecnologia preferem manter o desenvolvimento tecnológico a cargo<br />

da matriz no exterior.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

34


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

O merca<strong>do</strong> brasileiro de vitaminas é o terceiro maior merca<strong>do</strong> mundial, controla<strong>do</strong><br />

fortemente por empresas multinacionais <strong>do</strong>s setores químico e farmacêutico. Existem,<br />

entretanto, empresas nacionais de médio porte que controlam mais de 50% <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />

Dos microelementos que compõem as rações balanceadas, a grande maioria é importada,<br />

como é o caso das vitaminas A, D3, E, K e B12, Riboflavina, Niacina, Áci<strong>do</strong> Pantotênico,<br />

Piri<strong>do</strong>xina, Biotina, Áci<strong>do</strong> Fólico, etc., e mesmo os produtos nacionais são elabora<strong>do</strong>s a<br />

partir da importação de alguns substratos (<strong>AVICULTURA</strong> INDUSTRIAL citada por<br />

ORTEGA, 2000).<br />

Para BERTECHINI (1997: 5) quatro fases mostram a evolução da qualidade das<br />

rações no Brasil: A primeira fase correspondeu ao perío<strong>do</strong> de pre<strong>do</strong>mínio de moinhos de<br />

trigo, onde o subproduto desta indústria, o farelo de trigo, compunha mais de 50% das<br />

rações, influin<strong>do</strong> de forma negativa na eficiência alimentar e no desempenho <strong>do</strong>s animais,<br />

além <strong>do</strong>s problemas de excesso de fibra com este tipo de dieta.<br />

A segunda fase data entre as décadas de 60 e 70, onde houve a entrada das grandes<br />

indústrias de ração no Brasil, trazen<strong>do</strong> consigo novos conceitos de nutrição e alimentação<br />

animal. A partir deste perío<strong>do</strong>, o termo ração balanceada 14 se fixava e a idéia de equilíbrio<br />

de nutrientes também foi introduzida nesta época. Pode-se considerar que esta foi uma fase<br />

de grande evolução na produção de aves no Brasil.<br />

A terceira fase desta evolução correspondeu à expansão da produção de milho e<br />

soja, proporcionan<strong>do</strong> maior estabilidade às rações balanceadas. A partir desta data as rações<br />

tornaram-se cada vez mais eficientes e uniformes. O valor nutricional destes <strong>do</strong>is nutrientes<br />

ficou bem conheci<strong>do</strong>, o que permitiu a suplementação de suas deficiências, para assim,<br />

conseguir o desempenho máximo desejável das aves modernas. A expansão da produção <strong>do</strong><br />

farelo de soja, subproduto da extração <strong>do</strong> óleo de soja, também veio contribuir pela oferta<br />

14 Ração balanceada é uma mistura de alimentos convenientemente equilibrada para fornecer to<strong>do</strong>s os<br />

nutrientes exigi<strong>do</strong>s pelos animais (TEIXEIRA, 1997a)<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

35


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

de uma fonte de proteína de alta qualidade e relativamente barata, diminuin<strong>do</strong> o custo das<br />

rações.<br />

A quarta fase foi o uso da programação linear no cálculo de rações de mínimo custo.<br />

O computa<strong>do</strong>r facilitou o cálculo de rações equilibradas com bastante eficiência e rapidez.<br />

Este fato permitiu que houvesse mudanças pequenas nas fórmulas das rações, em função da<br />

matéria prima disponível e os seus preços.<br />

Para PERES & MARQUES (1988), a avicultura industrial se diferenciou das demais<br />

no uso da programação linear para o cálculo de suas rações, de maneira que se considera<br />

impossível balancear uma ração para aves sem utilização deste instrumento de pesquisa<br />

operacional. Mesmo antes da disseminação <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s microcomputa<strong>do</strong>res, já existiam<br />

programas “fecha<strong>do</strong>s” de cálculo de rações, especialmente para aves. Estes programas eram<br />

utiliza<strong>do</strong>s nas fábricas de rações, sen<strong>do</strong> de uso relativamente fácil, embora de alto custo.<br />

Por serem fecha<strong>do</strong>s, a introdução de novos tipos de restrições ficava dificultada ou mesmo<br />

impossibilitada em alguns casos.<br />

Várias instituições brasileiras também contribuíram para a evolução da nutrição das<br />

aves. A Universidade Federal de Viçosa 15 foi a primeira na determinação das exigências<br />

nutricionais de aves e suínos bem como na digestibilidade e disponibilidade <strong>do</strong>s nutrientes<br />

de alguns alimentos. Em 1983 sob coordenação <strong>do</strong> professor ROSTAGNO, é lançada a<br />

primeira publicação brasileira sobre composição de alimentos e exigências nutricionais de<br />

aves e suínos. Nesta época a tecnologia de formulação de rações era baseada em<br />

informações de composição de alimentos e de exigências nutricionais estabelecidas no<br />

exterior, principalmente nos EUA e na Europa.<br />

15 Desde o início da década de 70 que a Universidade Federal de Viçosa iniciou uma série de trabalhos de<br />

experimentação e pesquisa, visan<strong>do</strong> construir, com da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s no país, uma tabela de composição de<br />

alimentos e de exigências nutricionais de aves e suínos. A quase totalidade <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s já tinha si<strong>do</strong> publicada,<br />

principalmente para a comunidade técnica e científica nacional da época, através de artigos científicos,<br />

dissertações de Mestra<strong>do</strong>, teses de Doutora<strong>do</strong> e de comunicações em encontros e congressos (ROSTAGNO et<br />

alli, 1983).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

36


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

As tabelas usadas até aquela época para cálculo de rações, tanto nas indústrias<br />

quanto nas instituições de pesquisa, eram tabelas estrangeiras ou tabelas publicadas no país<br />

com base em da<strong>do</strong>s de tabelas provenientes <strong>do</strong> exterior. Neste aspecto ROSTAGNO et alli<br />

(1983) argumentam que não há dúvida de que o uso destas tabelas representou a a<strong>do</strong>ção de<br />

tecnologia de alto nível, que permitiu ao país atingir o desenvolvimento observa<strong>do</strong>.<br />

Entretanto, para ele, estas tabelas sob certos aspectos, deixam a desejar quanto à sua<br />

perfeita aplicabilidade nas condições brasileiras, de maneira que a grande evolução<br />

brasileira nas décadas de 70 e 80 contribuiu para que se chegasse a resulta<strong>do</strong>s de<br />

desempenho de aves, comparáveis aos <strong>do</strong>s países altamente desenvolvi<strong>do</strong>s neste setor.<br />

De 1983 até o ano 2000, as pesquisas continuaram e permitiram o acúmulo de uma<br />

quantidade significativa de informações científicas sobre composição de alimentos e de<br />

exigências nutricionais de aves e suínos que resultaram na publicação de uma nova tabela<br />

brasileira de exigências nutricionais. Para confecção dessas tabelas foram realiza<strong>do</strong>s<br />

milhares de análises de alimentos, produzi<strong>do</strong>s no Brasil, conduzidas em dezenas de ensaios<br />

com frangos de corte, poedeiras, reprodutores e suínos nas diversas fases da criação e sob<br />

variadas condições de ambiente e de temperaturas em laboratórios de nutrição animal,<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s em linhas de pesquisa de dissertações de mestra<strong>do</strong> e teses de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong><br />

(ROSTAGNO, 2000).<br />

A biotecnologia aplicada ao setor de rações desenvolveu à produção da PCU 16<br />

(proteína de célula única), um substituto industrial da fermentação para os grãos<br />

forraginosos, que pode crescer em substratos de hidrocarbonos fósseis, dejetos industriais e<br />

outros materiais não-agrícolas. Quan<strong>do</strong> fermenta<strong>do</strong> com o melaço o lêve<strong>do</strong>-semente<br />

original quintuplica em cerca de 12 horas, uma produção de proteína muitíssimo mais<br />

rápida <strong>do</strong> que é possível através da alimentação de qualquer animal <strong>do</strong>méstico. Na<br />

alimentação animal, a PCU pode ser usada no lugar <strong>do</strong> farelo de soja e de peixe como<br />

suplemento protéico, e possui uma função semelhante na alimentação humana, embora<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

37


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

neste caso seja necessário um processo adicional para reduzir as concentrações<br />

relativamente altas de áci<strong>do</strong>s nucléicos (OTA cita<strong>do</strong> por GOODMAN et alli, 1990).<br />

As perspectivas comerciais das rações animais de PCU dependem <strong>do</strong>s preços<br />

relativos das tortas de soja e de peixe, e eles continuam a favorecer as fontes tradicionais de<br />

proteína. Entretanto a utilização de dejetos orgânicos e <strong>do</strong>s efluentes que necessitam de<br />

tratamento, por razões ambientais ou de recursos hidrocarbônicos subsidia<strong>do</strong>s, podem criar<br />

circunstâncias especiais que facilitem o seu desenvolvimento comercial. GOODMAN et<br />

alli (1990), considera que uma ameaça adicional aos merca<strong>do</strong>s exporta<strong>do</strong>res mundiais de<br />

soja vem das aplicações de engenharia genética aos processos de fermentação bacteriana<br />

com o objetivo de reduzir os custos industriais de produção de aminoáci<strong>do</strong>s estratégicos,<br />

dessa forma, a lisina, a metionina, o triptofano, e a treonina podem ser combina<strong>do</strong>s com o<br />

farelo de milho para que este alcance o mesmo valor nutritivo da soja. Cita ainda que, a<br />

produção desses aminoáci<strong>do</strong>s a baixo custo faria as rações animais de baixo teor de<br />

proteínas mais competitivas e intercambiáveis, minan<strong>do</strong> a atual proeminência da proteína<br />

de soja.<br />

Dessa forma podemos ver a ameaça direta e imediata representada pela<br />

biotecnologia às fontes convencionais de proteína animal. Para GOODMAN et alli (1990) o<br />

“calcanhar-de-aquiles” <strong>do</strong> sistema convencional de produção de proteína animal é a sua<br />

dependência da ineficiente conversão de proteína vegetal em proteína animal, pelos<br />

animais. Da mesma forma os substitutos de proteína vegetal, especialmente análogos de<br />

carne basea<strong>do</strong>s em soja, representam uma ameaça inicial à indústria de proteína animal.<br />

Com micoproteínas, no entanto, este setor enfrenta agora o desafio de um processo<br />

exclusivamente industrial capaz de reproduzir as qualidades texturais, nutricionais e outras<br />

características da carne fresca e desengordurada.<br />

16 Células secas de microorganismos como algas, actinomicetos, bactérias, fermentos, mofos e fungos mais<br />

eleva<strong>do</strong>s, cultiva<strong>do</strong>s em sistemas culturais de larga escala para uso como fontes de proteínas para alimentação<br />

humana e animal (GOODMAN et alli, 1990).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

38


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Portanto, as mudanças na nutrição se iniciaram em 1900, quan<strong>do</strong> se usou ração pela<br />

primeira vez. Em 1932 foi possível a criação de aves em ambiente confina<strong>do</strong>, em função da<br />

independência da vitamina D3, mas foi na década de 60 que realmente apareceram as<br />

rações balanceadas no Brasil. O oferecimento de proteína para as aves iniciou com eleva<strong>do</strong>s<br />

níveis de farelo de soja na ração, mas ao longo <strong>do</strong> tempo as pesquisas mostraram técnicas<br />

mais eficientes.<br />

Os avanços apareceram também nas misturas de ingredientes protéicos, na adição<br />

de aminoáci<strong>do</strong>s essenciais e mais recentemente a utilização de aminoáci<strong>do</strong>s digestíveis,<br />

aumentan<strong>do</strong> a precisão <strong>do</strong>s cálculos de ração e diminuin<strong>do</strong> a necessidade de eleva<strong>do</strong>s níveis<br />

de segurança. Alia<strong>do</strong> a esses aspectos o aumento da precisão no levantamento das<br />

exigências nutricionais associa<strong>do</strong>s a programação linear permitiram o cálculo de rações de<br />

mínimo custo, diminuin<strong>do</strong> o custo e aumentan<strong>do</strong> a estabilidade <strong>do</strong> preço das rações.<br />

Atualmente espera-se novidades no campo da biotecnologia e a possibilidade de sua<br />

utilização no merca<strong>do</strong> da nutrição<br />

II. 3 - Mudanças <strong>do</strong>s Equipamentos de Alimentação<br />

São considera<strong>do</strong>s equipamentos de alimentação os come<strong>do</strong>uros e bebe<strong>do</strong>uros. Os<br />

come<strong>do</strong>uros são usa<strong>do</strong>s para fornecer a ração e os bebe<strong>do</strong>uros para fornecer água. Existem<br />

vários tipos de come<strong>do</strong>uros, segun<strong>do</strong> a idade da ave e o tipo de funcionamento. Para<br />

pintinhos, na década de 70, eram recomenda<strong>do</strong>s os come<strong>do</strong>uros de bandeja 17 e come<strong>do</strong>uros<br />

lineares 18 . Para frangos, após as primeiras duas semanas, eram recomenda<strong>do</strong>s os<br />

come<strong>do</strong>uros definitivos lineares 19 , tubulares 20 e automático 21 .<br />

17<br />

São recipientes rasos, de madeira ou fibra prensada, nas dimensões de 50 cm x 54 cm e com uma borda de<br />

1cm de altura. Uma bandeja é o suficiente para cada 100 pintos nos primeiros dias de vida (ENGLERT,1978).<br />

18<br />

São constituí<strong>do</strong>s por um cocho com aproximadamente 100 cm de comprimento, cada um é o suficiente para<br />

100 pintos, nas duas primeiras semanas (ENGLERT,1978).<br />

19<br />

Um come<strong>do</strong>uro linear de 1,50m de comprimento é o suficiente para 60 frangos, já que são usa<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>is<br />

la<strong>do</strong>s.<br />

20<br />

Também são chama<strong>do</strong>s de semi-automáticos, são constituí<strong>do</strong>s por um prato e um depósito de ração na<br />

forma de cone ou cilindro. Este depósito, normalmente, pode armazenar ração suficiente para três dias, já que<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

39


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Atualmente, nas instalações avícolas os come<strong>do</strong>uros de bandeja e come<strong>do</strong>uros<br />

lineares não são mais utiliza<strong>do</strong>s, porque ambos representam mão-de-obra excessiva e<br />

desperdício de ração. Normalmente nos primeiros dias para estimular o consumo, o que se<br />

faz é forrar o círculo de proteção com jornal e jogar um pouco de ração neste forro,<br />

enquanto os pintinhos aprendem a comer no come<strong>do</strong>uro tubular automático.<br />

Os come<strong>do</strong>uros lineares, desde a década de 70, já eram substituí<strong>do</strong>s pelos tubulares,<br />

por exigir muita mão-de-obra para abastecimento e permitir muito desperdício de ração. Na<br />

época a automação já era sugerida, mas dependia de uma avaliação preliminar para<br />

instalação de come<strong>do</strong>uros automáticos. Um exemplo disto é a sugestão de ENGLERT<br />

(1978), que considerava uma vida útil de cinco anos, tanto para os come<strong>do</strong>uros automáticos<br />

como para os tubulares. A decisão de comprar dependia <strong>do</strong> salário pago ao trata<strong>do</strong>r. Como<br />

regra prática o investimento num come<strong>do</strong>uro automático não poderia ser superior a 5 vezes<br />

o valor da economia de mão-de-obra em um ano.<br />

Atualmente os come<strong>do</strong>uros tubulares foram substituí<strong>do</strong>s pelos come<strong>do</strong>uros<br />

automáticos tubulares 22 , devi<strong>do</strong> a economia de mão-de-obra. Atualmente nem se cogita em<br />

utilizar equipamentos manuais; deve-se considerar que: os galpões aumentaram de<br />

tamanho, foram automatiza<strong>do</strong>s, os equipamentos são mais acessíveis pelos ganhos de<br />

escala e oferecem um melhor controle <strong>do</strong> manejo das aves.<br />

a ração desce sob pressão e mantém o prato <strong>do</strong> come<strong>do</strong>uro sempre cheio. Um come<strong>do</strong>uro com 1,20 m de<br />

circunferência é o suficiente para 40 frangos desde 2 semanas de idade até o abate (AVEMARAU, S/D).<br />

21 Os come<strong>do</strong>uros automáticos ou mecânicos existem em duas formas básicas, uma de corrente dentro de<br />

come<strong>do</strong>uros lineares e outra de tubos que transportam a ração para come<strong>do</strong>uros tubulares. O come<strong>do</strong>uro<br />

mecânico de corrente consta de um depósito de ração central e de um motor que aciona uma corrente com<br />

elos transporta<strong>do</strong>res que conduzem a ração através <strong>do</strong> come<strong>do</strong>uro linear em circuito fecha<strong>do</strong> por dentro de<br />

to<strong>do</strong> o galpão. Já o come<strong>do</strong>uro automático tubular conduz a ração por correntes transporta<strong>do</strong>ras dentro de<br />

tubos aéreos que desembocam diretamente no depósito <strong>do</strong>s come<strong>do</strong>uros tubulares, estrategicamente dispostos<br />

dentro <strong>do</strong> galpão (ENGLERT,1978).<br />

22 No caso de matrizes utiliza-se atualmente come<strong>do</strong>uro automático <strong>do</strong> tipo corrente, com proteção da parte<br />

superior para que o galo não coma (cabeça <strong>do</strong> galo é maior que das galinhas) e come<strong>do</strong>uro tubulares manuais<br />

mais altos para os galos, assim as galinhas não podem alcançar (as galinhas são menores que os galos), isto<br />

permite uma alimentação nutricionalmente diferenciadas para machos e fêmeas.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

A importância <strong>do</strong> controle <strong>do</strong> nível da ração pode ser apreciada na tabela 13, quan<strong>do</strong><br />

se avalia o desperdício em função da forma de abastecimento da ração nos come<strong>do</strong>uros,<br />

observa-se que o nível mais recomendável é aquele onde fornecemos rações até a altura de<br />

1/4 <strong>do</strong> come<strong>do</strong>uro 23 . Uma das grandes vantagens <strong>do</strong>s come<strong>do</strong>uros tubulares sobre os<br />

lineares é permitir o controle <strong>do</strong> nível da ração.<br />

TABELA 13 – Demonstração de Desperdício em Função da Forma de Abastecimento<br />

da Ração nos Come<strong>do</strong>uros.<br />

Nível de alimento no come<strong>do</strong>uro % de perda<br />

Até ¼ 2 a 3<br />

Até ½ 4 a 5<br />

Até ¾ 8 a 10<br />

Completamente cheio 12 a 20<br />

Fonte: ANDRIGUETO (1996)<br />

Com relação aos bebe<strong>do</strong>uros, na década de 70 ENGLERT (1978) distribuía esses<br />

equipamentos em três tipos: o bebe<strong>do</strong>uro de pintinhos 24 , o de bóia 25 e o de água corrente 26 ,<br />

TEIXEIRA (1997b) acrescenta ainda o tipo pendular com válvula 27 e o tipo nipple 28 . Os<br />

bebe<strong>do</strong>uros de água corrente foram substituí<strong>do</strong>s pelos bebe<strong>do</strong>uros com bóia devi<strong>do</strong> ao<br />

excessivo consumo de água; os bebe<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> tipo calha por exigirem maior observação e<br />

mão-de-obra para evitar trasbordamentos foram substituí<strong>do</strong>s por bebe<strong>do</strong>uros tipo pendular<br />

com válvula; estes atualmente estão sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong>s pelos bebe<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> tipo nipple<br />

devi<strong>do</strong> à necessidade de higienização constante. Segun<strong>do</strong> AVEMARAU (S/D),<br />

comparativamente, o bebe<strong>do</strong>uro nipple é mais eficiente que o pendular porque:<br />

23 O nível mais encontra<strong>do</strong> e recomenda<strong>do</strong> na literatura é de 1/3, com um desperdício em torno de 1 a 2%.<br />

24 O bebe<strong>do</strong>uro de pintinhos ou tipo copo de pressão, são usa<strong>do</strong>s nas duas primeiras semanas, são <strong>do</strong> tipo<br />

pressão com um copo inverti<strong>do</strong> e prato, com capacidade de 3 a 4 litros e cada um é suficiente para 100<br />

pintinhos (MALAVAZZI, 1990).<br />

25 Os de bóia podem ser lineares de calha ou tipo fonte circular. O nível de água destes bebe<strong>do</strong>uros é<br />

controla<strong>do</strong> automaticamente por uma bóia que abre e fecha a válvula de entrada da água (MALAVAZZI,<br />

1990).<br />

26 Os bebe<strong>do</strong>uros de água corrente constam apenas de uma calha que entra por um la<strong>do</strong> <strong>do</strong> galpão, no senti<strong>do</strong><br />

transversal, e sai pelo outro, in<strong>do</strong> desaguar na rede de esgotos (MALLAVAZI, 1990).<br />

27 Apresentam a cúpula em forma de sino, são liga<strong>do</strong>s a uma fonte de água fresca, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de válvulas,<br />

enchem por si só, manten<strong>do</strong> um nível de água constante a medida que a ave bebe, são utiliza<strong>do</strong>s na proporção<br />

de um para cada 100 frangos (TEIXEIRA, 1997b).<br />

28 Este tipo é automático, não requer manejo de higienização. Alguns modelos são indica<strong>do</strong>s para todas as<br />

idades das aves, com fácil regulagem. São utiliza<strong>do</strong>s na proporção de um bico para cada 12 a 15 frangos de<br />

corte (ZIGGITY, S/D).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

- Tem menor gasto de água, já que não é necessário lavar to<strong>do</strong>s os dias;<br />

- Tem maior higiene e controle de <strong>do</strong>enças, já que uma ave ingere pouca ou<br />

nenhuma secreção salivar ou nasal deixada na água por outra ave,<br />

eventualmente <strong>do</strong>ente;<br />

- Tem menor gasto com limpeza e desinfecção, por <strong>do</strong>is motivos: economia de<br />

mão-de-obra e de desinfetantes; e<br />

- Não há acúmulo de restos de ração, propician<strong>do</strong> o desenvolvimento de<br />

patógenos.<br />

Segun<strong>do</strong> TEIXEIRA (1997b), os bebe<strong>do</strong>uros tipo pendular com válvula são os mais<br />

utiliza<strong>do</strong>s na atualidade, mas para ele existe a possibilidade <strong>do</strong> bebe<strong>do</strong>uro tipo nipple tornar<br />

o mais utiliza<strong>do</strong> no Brasil. Esta projeção é o que está acontecen<strong>do</strong> na prática, pois to<strong>do</strong>s os<br />

galpões que foram construí<strong>do</strong>s em Jataí e os que estão sen<strong>do</strong> construí<strong>do</strong>s em Rio verde são<br />

equipa<strong>do</strong>s com bebe<strong>do</strong>uro <strong>do</strong> tipo nipple 29 .<br />

Dessa forma observa-se que as mudanças de base técnica atingiram os<br />

equipamentos de alimentação de maneira intensa na área de automação. Hoje o<br />

funcionamento <strong>do</strong>s come<strong>do</strong>uros e <strong>do</strong>s bebe<strong>do</strong>uros não depende de mão-de-obra humana,<br />

são mais eficientes em termos de limpeza e melhoram o ganho de peso e diminuem a<br />

mortalidade em função da ausência de pessoas andan<strong>do</strong> com freqüência dentro <strong>do</strong> galpão.<br />

II. 4 - Mudanças na Indústria de Ração<br />

A origem da indústria de rações está ligada ao aproveitamento de resíduos<br />

industriais <strong>do</strong> trigo nos início da década de 40, nessa época atendia a demanda de um<br />

merca<strong>do</strong> pequeno representa<strong>do</strong> pelas criações de fun<strong>do</strong> de quintal das grandes cidades e<br />

eventualmente uma ou outra produção intensiva.<br />

29 O primeiro galpão equipa<strong>do</strong> em Rio Verde já tem o nipple acresci<strong>do</strong> de uma concha abaixo <strong>do</strong> bico para<br />

evitar molhar a cama (CASP, S/D).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

O setor ganhou dinamismo com introdução em massa de raças híbridas, de frangos<br />

de corte, aves de postura e suínos tipo corte na década de 60, ocasião em que ocorreu um<br />

grande crescimento no setor e com a instalação de inúmeras plantas no país. O grande<br />

dinamismo ocorreu mesmo no início da década de 70 com a introdução de modernas<br />

plantas trazidas pelas multinacionais, atraídas pelo potencial <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> em ascensão e<br />

pelo desenvolvimento <strong>do</strong> complexo soja. A partir dessa época é que se passa a utilizar a<br />

informática (com a programação linear) na formulação de rações e novas técnicas de<br />

nutrição adequadas a atender aos requisitos das raças híbridas geneticamente aprimoradas.<br />

Segun<strong>do</strong> ORTEGA (1988), as primeiras plantas utilizadas no Brasil foram<br />

importadas <strong>do</strong>s EUA. Essas plantas eram representadas por grandes unidades de produção<br />

(25.000 a 30.000t/mês) visan<strong>do</strong> à economia de escala e instalaram-se no eixo São Paulo-<br />

Campinas em função da logística de distribuição de rações aos consumi<strong>do</strong>res. Essa<br />

produção com base em uma tecnologia avançada em grandes plantas e com grande escala,<br />

criou um certo grau de barreira a entrada de concorrentes no setor, dessa forma foi cria<strong>do</strong><br />

um padrão centraliza<strong>do</strong> de produção de rações.<br />

No final da década de 70 esse padrão centraliza<strong>do</strong> de produção entra em crise. Os<br />

motivos são atribuí<strong>do</strong>s a elevação <strong>do</strong>s custos de transporte, afetan<strong>do</strong> a distribuição da<br />

produção, já que a produção da pecuária intensiva começou a se interiorizar e afetan<strong>do</strong><br />

também o transporte de matérias-primas como é o caso <strong>do</strong> milho, que passou a ser<br />

produzi<strong>do</strong> em locais cada vez mais distantes. Associa<strong>do</strong> a isso em virtude da crise <strong>do</strong><br />

petróleo, ocorre eleva<strong>do</strong>s aumentos <strong>do</strong> preço <strong>do</strong>s combustíveis.<br />

As barreiras à concorrência também foi diminuin<strong>do</strong> em função da implantação no<br />

Brasil da indústria de bens de capital construiu fábricas de ração <strong>do</strong> tamanho que o cliente<br />

desejasse. Também a miniaturização <strong>do</strong>s computa<strong>do</strong>res tornou acessível a sua aquisição<br />

para formulação de rações e a indústria químico-farmacêutica facilitou a produção em<br />

pequena escala através da venda de premix. Para ORTEGA (1988) to<strong>do</strong>s esses fatores,<br />

alia<strong>do</strong>s à queda no volume <strong>do</strong> crédito agrícola subsidia<strong>do</strong>, para a compra de rações e<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

aquisição de estoques de matérias-primas pelos grandes fabricantes de rações balanceadas,<br />

propiciou a reorganização <strong>do</strong> padrão de produção desse setor.<br />

Atualmente temos um novo padrão de produção de rações associa<strong>do</strong> a diferentes<br />

formas de produção de proteína animal. Existe desde a produção de rações por empresas<br />

especializadas, só que com produtos mais diversifica<strong>do</strong>s e mais regionaliza<strong>do</strong>s, atenden<strong>do</strong><br />

produtores independentes de aves, suínos, bovinos e animais <strong>do</strong>mésticos, até a produção em<br />

alta escala por empresas verticalizadas de produção de aves e suínos, na forma de<br />

cooperativas e integrações.<br />

Paralelamente à evolução das plantas para industrialização das rações, observa-se<br />

uma mudança na forma de sua forma de aquisição. Na década de 70 ENGLERT (1978)<br />

recomendava para pequenos produtores com consumo abaixo de 100 toneladas mensais, a<br />

compra das rações prontas 30 , de indústrias idôneas ou participar das integrações avícolas<br />

que produzissem estas rações. Essa sugestão era feita baseada no argumento de que a<br />

ciência da nutrição, formulação e controle de qualidade na fabricação de rações, eram<br />

complexos e deveria ter assessoria de técnicos especializa<strong>do</strong>s em nutrição, compra de<br />

matérias-primas e análises químicas de laboratório.<br />

O surgimento <strong>do</strong>s concentra<strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s a plantas de fábrica de ração de menor<br />

tamanho permitiu a mistura de parte <strong>do</strong> processo de produção de rações na granja. Neste<br />

caso o produtor adquire o concentra<strong>do</strong> 31 e acrescenta o milho. Depois <strong>do</strong>s concentra<strong>do</strong>s foi<br />

a vez <strong>do</strong> surgimento <strong>do</strong> premix, permitin<strong>do</strong> maior liberdade na formulação de ração na<br />

granja. Neste caso o granjeiro acrescenta ao premix, além <strong>do</strong> milho (eventualmente uma<br />

parte de sorgo) o farelo de soja e/ou outras fontes protéicas, uma fonte de cálcio e uma<br />

fonte de fósforo.<br />

30<br />

Ração pronta é a quantidade total de alimento forneci<strong>do</strong> e consumi<strong>do</strong> por um animal num perío<strong>do</strong> de 24<br />

horas (TEIXEIRA,1997a).<br />

31<br />

Os concentra<strong>do</strong>s são vendi<strong>do</strong>s para o produtor que tenha uma fonte mais barata de cereais e que deseja<br />

adicioná-los às fontes energéticas (milho e às vezes parte de sorgo).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Para GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA et alli (1973), a produção de rações em pequena<br />

escala e regionalizada foi viabilizada com a utilização <strong>do</strong> premix, pois sem ele seria muito<br />

difícil o ajuste na programação de pequenas quantidades de alguns produtos químicos,<br />

como vitaminas, aminoáci<strong>do</strong>s e antibióticos. Em uma abordagem a respeito da evolução <strong>do</strong><br />

premix ORTEGA (1988) cita que a indústria produtora de premix assume um papel<br />

fundamental na dinâmica técnico-econômica <strong>do</strong> setor de rações, o seu desenvolvimento<br />

calcou-se nos avanços das pesquisas em nutrição animal, especialmente no que diz respeito<br />

à determinação das necessidades de micronutrientes, como vitaminas, minerais e<br />

aminoáci<strong>do</strong>s.<br />

ORTEGA (1988: 70) sublinha ainda que “até o final da década de 1970, a produção<br />

de premix era realizada por poucas empresas, grande parte das indústrias de rações<br />

adquiriam as matérias-primas das indústrias químicas e químico-farmacêutica e formulava<br />

o seu próprio premix. Com a crise das empresas especializadas <strong>do</strong> setor de rações, no início<br />

<strong>do</strong>s anos 80, simultânea ao crescimento da produção própria de ração por parte de<br />

integrações e cria<strong>do</strong>res independentes, foi induzi<strong>do</strong> o crescimento <strong>do</strong> ramo de premix,<br />

surgin<strong>do</strong> novas indústrias para atender a uma demanda crescente de suplementos<br />

vitamínicos e minerais”.<br />

Portanto, com a evolução da produção de rações, observa-se a reorganização <strong>do</strong><br />

setor da indústria de rações, que fragiliza<strong>do</strong> pelo aumento <strong>do</strong>s custos da ração, em função<br />

da logística de transporte cede espaço para a regionalização e diversificação da produção<br />

associada a tecnologia mais acessíveis de menores plantas, miniaturização da informática e<br />

acesso ao premix em pequenas escalas. Por outro la<strong>do</strong>, com a emergência da verticalização<br />

aparecem as grandes integrações que passam a produzir um volume de rações maior que a<br />

própria produção <strong>do</strong> setor da indústria de rações.<br />

Na verdade, em virtude <strong>do</strong> relacionamento monopólio/monopsônio para com os<br />

integra<strong>do</strong>s, a produção de ração por parte das firmas integra<strong>do</strong>ras acaba colocan<strong>do</strong> outras<br />

vantagens que influem nos custos de matéria-prima. A primeira dessas vantagens, vis-à-vis<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

a produção pelas empresas especializadas, é o fato de que a produção por parte da<br />

integração pode ser mais bem planejada em virtude de uma demanda previamente<br />

estabelecida, o que torna desnecessária a manutenção de grandes estoques. Isso além de<br />

significar enormes volumes de recursos em capital de giro ainda pode implicar em perdas,<br />

já que a ração estocada por um longo perío<strong>do</strong> provoca queda na atividade vitamina e<br />

rancificação de gorduras.<br />

II. 5 - Mudanças <strong>do</strong>s Equipamentos de Climatização<br />

A ambiência em uma instalação atual de frangos de corte é de grande importância.<br />

Em um ambiente de conforto térmico podemos criar mais animais por metro quadra<strong>do</strong> de<br />

galpão e com melhor desempenho. Essa condição de conforto térmico está sen<strong>do</strong><br />

conseguida pelo desenvolvimento e utilização <strong>do</strong>s equipamentos de climatização. Dois<br />

tipos de equipamentos são utiliza<strong>do</strong>s neste senti<strong>do</strong>, as campânulas para aquecer na fase<br />

inicial (até 20 dias aproximadamente), e os ventila<strong>do</strong>res, exaustores e nebuliza<strong>do</strong>res para<br />

refrigerar na fase final (a partir de 20 dias).<br />

As campânulas podem ser a carvão, à eletricidade e a gás simples ou com<br />

queima<strong>do</strong>r infravermelho. As primeiras campânulas utilizadas foram as campânulas a<br />

carvão, numa época de grande disponibilidade de madeira como na década de 70 elas de<br />

difundiram, entretanto a dificuldade de controle da temperatura, a possibilidade de<br />

intoxicação <strong>do</strong>s pintinhos pelo monóxi<strong>do</strong> de carbono desprendi<strong>do</strong> na combustão e o risco<br />

de incêndio <strong>do</strong> galpão, justificam a diminuição de sua utilização (MALAVAZZI,1990). As<br />

campânulas a eletricidade, que poderiam oferecer vantagens em relação ao modelo a<br />

carvão, sempre foram de uso restrito. Os motivos estão liga<strong>do</strong>s ao alto custo relativo da<br />

energia elétrica e a possibilidade de falha no fornecimento de calor, devi<strong>do</strong> a falta de<br />

energia elétrica. Durante muito tempo as mais utilizadas foram as campânulas a gás tipo<br />

chapéu mexicano (com capacidade de 500 pintinhos de 1 dia cada). Atualmente elas estão<br />

sen<strong>do</strong> substituídas por campânulas a gás com aquece<strong>do</strong>res tipo infravermelho (mais usa<strong>do</strong>s<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

atualmente). Esse equipamento é mais eficiente, econômico e tem capacidade de aquecer<br />

1000 pintinhos (LANA, 2000).<br />

Os equipamentos para refrigeração <strong>do</strong>s galpões são de uso populariza<strong>do</strong> em época<br />

recente; deve-se considerar também que os galpões eram menores (portanto mais fácil a<br />

refrigeração) e a avicultura estava basicamente concentrada no Sul e Sudeste, cujo clima é<br />

mais ameno. Os ventila<strong>do</strong>res, segun<strong>do</strong> MARQUEZ (1994), oferecem sua contribuição<br />

dispersan<strong>do</strong> altas concentrações de amônia, umidade e calor no nível das aves; como efeito<br />

secundário o ventila<strong>do</strong>r também move o ar diretamente abaixo <strong>do</strong> telha<strong>do</strong>, provocan<strong>do</strong><br />

diminuição de sua temperatura e da radiação de calor sobre os frangos. Os modelos mais<br />

atualiza<strong>do</strong>s de ventila<strong>do</strong>res apresentam menor nível de ruí<strong>do</strong> e durabilidade, entretanto as<br />

granjas montadas atualmente têm troca<strong>do</strong> os ventila<strong>do</strong>res (ventilação positiva) pelos<br />

exautores (ventilação negativa 32 ). Isso está relaciona<strong>do</strong> a maior uniformidade da velocidade<br />

<strong>do</strong> ar e não formarem bolsões de ar quente na instalação. Na ventilação negativa o ar entra<br />

por uma extremidade <strong>do</strong> galpão e em sistema de túnel percorre toda parte interna sen<strong>do</strong><br />

succiona<strong>do</strong> pelos exaustores localiza<strong>do</strong>s na outra extremidade <strong>do</strong> galpão, (SANTINI, S/D).<br />

Mais recentemente surgiram os nebuliza<strong>do</strong>res para auxiliar na refrigeração <strong>do</strong>s<br />

galpões, os nebuliza<strong>do</strong>res são utiliza<strong>do</strong>s em regiões com altas temperatura e baixa umidade<br />

relativa <strong>do</strong> ar, poden<strong>do</strong> também ser utiliza<strong>do</strong>s em regiões com alta umidade, porque nestas<br />

regiões nos horários que ocorrem temperaturas elevadas, geralmente a umidade relativa é<br />

baixa. Possibilitan<strong>do</strong> seu uso, geralmente utiliza<strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s aos ventila<strong>do</strong>res<br />

(TEIXEIRA, 1997b), atualmente são de uso generaliza<strong>do</strong>. Os nebuliza<strong>do</strong>res pulverizam<br />

água fria na parte superior <strong>do</strong> galpão, o ar quente provoca a evaporação da água fria<br />

espalhada e os ventila<strong>do</strong>res movimentam essa massa de ar aquecida para fora <strong>do</strong> galpão.<br />

32 Define-se como ventilação negativa, quan<strong>do</strong> ao invés de soprar ar, o mesmo é succiona<strong>do</strong> através de<br />

extratores ou exaustores de ar. Neste caso, a velocidade <strong>do</strong> ar é mais uniforme dentro <strong>do</strong> galpão. É<br />

fundamental em casos de ventilação negativa o perfeito isolamento <strong>do</strong> galpão na cobertura, nas laterais e na<br />

posição <strong>do</strong>s extratores de ar. Em sistemas de ventilação negativa podemos controlar melhor as condições<br />

ambientais internas <strong>do</strong> galpão, com zonas mais “iguais” dentro <strong>do</strong> galpão (SANTINI, S/D).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

A inovação na área de refrigeração que apresenta o maior nível de tecnificação é o<br />

sistema de resfriamento adiabático evaporativo. Este sistema geralmente usa o princípio de<br />

funcionamento da ventilação negativa, portanto com aberturas de um la<strong>do</strong> <strong>do</strong> galpão e<br />

exaustores <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>, consiste em um painel de fibras diversas (como celulose ou argila<br />

expandida), tipo colméia, na extremidade que entra o ar, sen<strong>do</strong> este umedeci<strong>do</strong> com água<br />

fria e resfria<strong>do</strong> e sai succiona<strong>do</strong> pelos exautores na outra extremidade <strong>do</strong> galpão. Entretanto<br />

em função <strong>do</strong> custo são de uso restrito.<br />

Portanto, na climatização atual o aquecimento é feito por campânulas a gás com<br />

queima<strong>do</strong>r de infravermelho, que além de mais eficientes são de baixo custo e aquecem o<br />

<strong>do</strong>bro de pintinhos (1000 pintinhos). Quanto a refrigeração o sistema mais utiliza<strong>do</strong> é a<br />

combinação de nebuliza<strong>do</strong>res e exaustores movimentan<strong>do</strong> o ar de um la<strong>do</strong> a outro <strong>do</strong><br />

galpão, este sistema é denomina<strong>do</strong> de semi-climatiza<strong>do</strong>. Quanto ao sistema adiabático<br />

evaporativo, apesar de mais eficiente ainda tem uso bastante restrito devi<strong>do</strong> ao custo<br />

benefício e ser uma tecnologia nova e pouco difundida.<br />

II. 6 - Mudanças nos Galpões<br />

Os galpões sugeri<strong>do</strong>s na década de 60 tinham uma área interna de aproximadamente<br />

100m 2 , eram os chama<strong>do</strong>s “galpões de mil frangos”; na década de setenta os galpões<br />

recomenda<strong>do</strong>s tinham cerca de 1030 a 1050m 2 de área 33 , tinham a capacidade de abrigar<br />

10.000 aves; atualmente o tamanho mais recomenda<strong>do</strong> está em torno de 1600m 2 , isso<br />

equivale a um galpão com 12,8m de largura por 125m de comprimento, com a capacidade<br />

de abrigar 24.000 aves, conforme palestra <strong>do</strong>s técnicos da Perdigão.<br />

A cobertura <strong>do</strong>s galpões apresenta uma característica interessante, as telhas de barro<br />

sempre foram recomendadas, em função <strong>do</strong> menor aquecimento <strong>do</strong> galpão e por<br />

apresentarem muitas frestas que atuam como pequenas bolsas de ar que permitem certa<br />

33 Alguns exemplos de sugestão: 8 m, 10 m, 12 m de largura por 129 m, 104 m, 87,5 m de comprimento,<br />

respectivamente (ENGLERT,1978).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

ventilação, mas as telhas de amianto sempre foram as mais usadas, apesar de esquentarem<br />

muito os galpões elas apresentam a seu favor o baixo custo e a facilidade da construção<br />

com sua utilização. Atualmente com a mudança <strong>do</strong> sistema de ventilação positiva<br />

(ventila<strong>do</strong>res) para ventilação negativa (exaustores) a cobertura mais recomendada e a de<br />

alumínio 34 , por permitir a formação de um túnel de movimento de ar, já que o exaustor é<br />

coloca<strong>do</strong> em uma extremidade <strong>do</strong> galpão, puxan<strong>do</strong> o ar que entra pela outra extremidade.<br />

Os larternins 35 sempre foram recomenda<strong>do</strong>s para galpões com larguras iguais ou<br />

superiores a 8 metros, sua utilização está relacionada a liberação <strong>do</strong> ar quente, conten<strong>do</strong><br />

amônia e gás carbônico, de dentro <strong>do</strong> galpão pela parte superior <strong>do</strong> telha<strong>do</strong>. Com os sistema<br />

atuais de ventilação negativa a sua presença não é mais necessária.<br />

Com relação aos materiais de construção <strong>do</strong> galpão deve ser destaca<strong>do</strong> que: com<br />

aumento <strong>do</strong> tamanho <strong>do</strong>s galpões as estruturas de madeira foram substituídas por estruturas<br />

de cimento pré-molda<strong>do</strong> e metálicas. A alvenaria continua sen<strong>do</strong> utilizada para fazer a<br />

mureta lateral <strong>do</strong> galpão e eventualmente paredes internas e oitões dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> modelo<br />

<strong>do</strong> galpão. Com relação ao piso, permanece a recomendação de que seja feito de cimento,<br />

apesar de que no início das atividades é comum a utilização de chão bati<strong>do</strong>.<br />

As cortinas 36 são feitas de lona em ráfia revestida com fibra de polietileno. As<br />

mudanças no cortina<strong>do</strong> estão relacionadas ao tamanho em função <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong>s galpões e<br />

à possibilidade de implantação de sistema de roda dentada que manejar em um só ponto até<br />

120 m de cortinas, poden<strong>do</strong> ser de acionamento manual ou automático, com sistemas<br />

34<br />

LANA (2000) comenta que o alumínio é sensível a danos pelo granizo e ventos, é menos quente que o<br />

amianto, porém mais caro, quan<strong>do</strong> novos há referências de que são melhores que as telhas de barro, entretanto<br />

oxidam com o tempo perden<strong>do</strong> a vantagem inicial. Cita ainda que é muito barulhento, geran<strong>do</strong> assim, as<br />

maiores controvérsias quanto a sua recomendação. Alguns avicultores relatam experiências de sucesso na<br />

utilização desta telha, alegan<strong>do</strong> que as aves se acostumam com eleva<strong>do</strong> barulho quan<strong>do</strong> chove. Logo sua<br />

utilização ainda deve ser criteriosa, especialmente porque não existe praticamente nenhuma pesquisa<br />

conclusiva.<br />

35<br />

É uma abertura na parte superior <strong>do</strong> telha<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> 10% da largura <strong>do</strong> galpão e ocupa to<strong>do</strong> o comprimento<br />

<strong>do</strong> galpão (LANA, 2000).<br />

36<br />

As cortinas são os equipamentos de menor vida útil dentre to<strong>do</strong>s os equipamentos <strong>do</strong> galpão, para efeito de<br />

cálculos a sua depreciação é calculada em 3 anos.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

eletromecânicos e termostato. Em ambiente de alta temperatura as cortinas abertas<br />

(abaixadas) permitem resfriamento <strong>do</strong> galpão em sistemas com ventilação positiva e as<br />

cortinas fechadas (levantadas) permitem uma melhor movimentação de ar também<br />

resfrian<strong>do</strong> os galpões com os atuais sistemas de ventilação negativa.<br />

Quanto a iluminação, as lâmpadas incandescentes foram substituídas pelas<br />

lâmpadas fluorescentes, que oferecem uma melhor claridade com um menor gasto de<br />

energia elétrica. Atualmente os galpões apresentam <strong>do</strong>is tipos de lâmpadas: as fluorescentes<br />

com a luz branca para viabilizar programas de luz no galpão e a luz negra para permitir o<br />

apanhe das aves a noite (a ave não enxerga a luz azul e por serem brancas ficam destacadas<br />

sob efeitos da luz negra, facilitan<strong>do</strong> o apanhe).<br />

Para melhorar o desempenho das aves existem os programas de iluminação 37<br />

noturna. Mesmo em condições de conforto térmico no passa<strong>do</strong> era utilizada iluminação 24<br />

horas (luz natural + luz artificial), atualmente existe o programa de luz intermitente (mais<br />

eficiente), onde a luz fica apagada e a cada 3 horas o galpão é ilumina<strong>do</strong> por 15 a 30<br />

minutos, esse tempo está relaciona<strong>do</strong> à necessidade da ave de 3 horas para digestão e 15 a<br />

30 minutos para consumir ração e água, o controle é automático feito por um timer. Em<br />

condições de estresse calórico a luz fica ligada a noite toda já que as aves vão ter que<br />

consumir neste horário a ração que não foi consumida durante o dia.<br />

Para forrar o piso <strong>do</strong> galpão é utilizada a cama de frango. Na década de 70 era<br />

recomendada a utilização de 1 kg de cama por ave alojada, sen<strong>do</strong> os materiais mais usa<strong>do</strong>s<br />

a maravalha e o sabugo de milho moí<strong>do</strong>, cobrin<strong>do</strong> o piso com aproximadamente 10 cm de<br />

espessura. Atualmente a recomendação da quantidade permanece a mesma, o que mu<strong>do</strong>u<br />

foi a possibilidade de reutilização 38 da cama por até 4 a 5 vezes e a existência de mais<br />

opções de materiais para serem utiliza<strong>do</strong>s com essa finalidade. A cama de frango sempre<br />

37 A iluminação associada a cortinas e ventilação negativa permite atender a recomendação européia de as<br />

aves devem recebem no máximo 16 horas de luz por dia.<br />

38 A reutilização é possível desde que não tenha ocorri<strong>do</strong> problemas sanitários severos no lote anterior e no<br />

local onde são aloja<strong>do</strong>s os pintinhos sempre se usa cama nova (LANA,2000).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

foi considerada uma fonte de renda alternativa para o avicultor, entretanto atualmente esta<br />

realidade está mudan<strong>do</strong>, com o aumento da quantidade de aviários elevan<strong>do</strong> o consumo de<br />

materiais utiliza<strong>do</strong>s como cama de frango, portanto diminuí<strong>do</strong> oferta de materiais que se<br />

prestam para essa função e o excesso de cama ofertada no merca<strong>do</strong> saturan<strong>do</strong> a oferta de<br />

cama para o consumo bovino alia<strong>do</strong> a concorrência com resíduos amonia<strong>do</strong>s de restos de<br />

cultura, a cama de frango passa a enfrentar problemas de comercialização fican<strong>do</strong> sua<br />

utilização em futuro próximo mais restrita a ao consumo da própria granja 39 . Atualmente as<br />

integrações recomendam que se faça feno de capim napier, já que com essa medida<br />

aumentaria a qualidade <strong>do</strong> material e poderia ser consumi<strong>do</strong> em maior quantidade pelos<br />

bovinos, e não prejudican<strong>do</strong> em futuro próximo o desenvolvimento sustenta<strong>do</strong>. Entretanto<br />

essa recomendação ainda não está sen<strong>do</strong> executada na prática, aspectos relaciona<strong>do</strong>s à<br />

escala, custo de produção, mão-de-obra e a técnica de fenação devem ser considera<strong>do</strong>s para<br />

consolidar essa sugestão.<br />

Portanto, as mudanças nos galpões resultaram no aumento de sua capacidade<br />

interna, passan<strong>do</strong> de 100 m 2 para 1.600 m 2 , na troca das telhas de barro e amianto para a<br />

telha de alumínio, na ausência da utilização de lanternins, na mudança da estrutura de<br />

madeira para estrutura de cimento pré-molda<strong>do</strong> ou metálica, na automação das cortinas<br />

(apesar de uso ainda restrito), na iluminação passan<strong>do</strong> de lâmpadas incandescentes para<br />

lâmpadas fluorescentes e na diversificação e reutilização da cama de frango.<br />

II. 7 - Mudanças no Processo Industrial de Abate<br />

As primeiras inovações no processo industrial de abate 40 , ainda pouco<br />

automatiza<strong>do</strong>, ocorreram durante os anos 50, com a introdução de equipamentos de<br />

escaldagem (os tanques de imersão e túneis de depenagem). A automação <strong>do</strong> transporte<br />

39 A reutilização da cama de frango manifesta a situação de transição onde ela está deixan<strong>do</strong> de ser uma fonte<br />

de lucro para ser um elemento de constrangimento da produção sustentada.<br />

40 O processo de abate das aves compreende as seguintes fases: recepção das aves, ator<strong>do</strong>amento através de<br />

choque elétrico no animal já pendura<strong>do</strong> na correia transporta<strong>do</strong>ra (nória), sangria, escaldagem e depenagem,<br />

escaldagem <strong>do</strong>s pés e evisceração, gotejamento das carcaças, embalagem, estocagem e distribuição (MATOS,<br />

1996a).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

51


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

aéreo ocorre antes <strong>do</strong>s anos 70 com a introdução das nórias e nos anos 70 automatizou-se a<br />

evisceração inicialmente o corte das pernas e posteriormente o rabo e o pescoço. Mais<br />

tarde, começaram a surgir os extratores automáticos de vísceras e o separa<strong>do</strong>r de moelas. A<br />

introdução <strong>do</strong> eviscera<strong>do</strong>r totalmente automatiza<strong>do</strong> permitiu a unificação dessas operações<br />

em uma única atividade, o que certamente elevaria a produtividade dessa etapa <strong>do</strong> processo.<br />

Nos anos 80, foram introduzi<strong>do</strong>s o sistema de vácuo para o transporte de refugos, o coletor<br />

de moelas, a automatização <strong>do</strong>s cortes, o sistema de empacotamento automático e a<br />

pesagem eletrônica na própria linha de corte, o que possibilitaria uma melhor<br />

uniformização <strong>do</strong>s produtos para o merca<strong>do</strong>. Atualmente verifica-se a introdução e<br />

ampliação <strong>do</strong>s produtos industrializa<strong>do</strong>s de segun<strong>do</strong> processamento, ou seja, empana<strong>do</strong>s,<br />

marina<strong>do</strong>s, nuggets e processa<strong>do</strong>s.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, MATOS (1996a: 103) cita que “a automação <strong>do</strong> processo de corte é<br />

uma opção interessante para as empresas que operam com grandes volumes de aves, uma<br />

vez que ela é muito compacta e exige reduzida quantidade de mão-de-obra. No entanto, os<br />

resulta<strong>do</strong>s em termos de produto, exigem maior consciência da importância <strong>do</strong> contínuo<br />

controle <strong>do</strong> produto e <strong>do</strong>s equipamentos e maior atenção à manutenção. Consequentemente,<br />

o fator humano transforma-se no maior responsável pela qualidade e rendimentos <strong>do</strong>s<br />

cortes”.<br />

Para DOSI cita<strong>do</strong> por MATOS (1996a), a introdução de um conjunto de inovações<br />

na indústria de carnes de aves possibilitou sua transformação na mais moderna desse<br />

segmento. Os diferenciais de oportunidade, cumulatividade e de apropriabililidade,<br />

definiram uma estrutura industrial caracterizada por descontinuidades a assimetrias entre as<br />

firmas. Consequentemente, as empresas líderes atuaram integran<strong>do</strong> todas as etapas <strong>do</strong><br />

processo, geralmente os grandes conglomera<strong>do</strong>s. Essas empresas diferenciam seus<br />

produtos, introduzin<strong>do</strong> frangos em partes, marina<strong>do</strong>s, cozi<strong>do</strong>s e empana<strong>do</strong>s, visan<strong>do</strong><br />

alcançar faixas de eleva<strong>do</strong> poder aquisitivo, no merca<strong>do</strong> interno, e países de elevada renda<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

52


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

per capita, no exterior. Nos últimos anos, a concorrência dessas empresas líderes 41 alterou<br />

os padrões alimentares da população com o crescimento da alimentação-serviço, quanto em<br />

decorrência de investimentos em importação de máquinas e equipamentos para a produção<br />

de carnes mecanicamente separadas e outros embuti<strong>do</strong>s.<br />

Isso é uma resposta aos anseios crescentes <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res por produtos mais<br />

elabora<strong>do</strong>s que o frango inteiro, como o frango em pedaços (coxas, sobrecoxas, peito, à<br />

passarinho, etc.) e semiprontos (industrializa<strong>do</strong>s), pratos congela<strong>do</strong>s e outros. O grande<br />

merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> frango nos próximos anos será a facilidade com sabor. Na Europa, os alimentos<br />

processa<strong>do</strong>s já constituem um terço da oferta total, enquanto os produtos frescos são<br />

responsáveis pela metade <strong>do</strong> consumo e ameaçam a liderança <strong>do</strong>s congela<strong>do</strong>s. A indústria<br />

alemã oferece peito de frango já empana<strong>do</strong> e resfria<strong>do</strong>, para ser consumi<strong>do</strong> aqueci<strong>do</strong> ou<br />

frio. No merca<strong>do</strong> belga, o consumi<strong>do</strong>r pode comprar asas temperadas, cozidas e<br />

supercongeladas, prontas para ser aquecidas em fornos de microondas (PINAZZA &<br />

LAUANDOS, 2000).<br />

Dessa forma, identifica-se que as mudanças no processo industrial permitiram uma<br />

intensa automação no abate das aves e a agregação de valor às carcaças com o segun<strong>do</strong><br />

processamento. Observa-se, também, uma diversificação de produtos industrializa<strong>do</strong>s em<br />

momento mais recente com o surgimento <strong>do</strong>s empana<strong>do</strong>s, marina<strong>do</strong>s, nuggets e<br />

processa<strong>do</strong>s.<br />

II. 8 - Mudanças na Área de Sanidade<br />

A preocupação com sanidade acompanha o desenvolvimento da avicultura desde a<br />

sua concepção. As primeiras mudanças de base técnica nesta área ocorreram nos EUA por<br />

ocasião da constituição <strong>do</strong> Plano Nacional de Melhoramento Avícola.<br />

41 atualmente, na produção dessas empresas é crescente a participação <strong>do</strong>s produtos industrializa<strong>do</strong>s ao<br />

mesmo tempo em que decai sensivelmente a das carnes resfriadas e congeladas (MATOS,1996b: 72)<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

53


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

O Plano Nacional de Melhoramento Avícola foi um programa voluntário<br />

cooperativo, federal e estadual, que efetuou o controle de algumas <strong>do</strong>enças aviárias<br />

transmitidas pelo ovo ou disseminadas no incubatório. O plano começou a operar em 1935,<br />

quan<strong>do</strong> a indústria avícola começou sua expansão para o empreendimento agrícola<br />

gigantesco que ela viria a ser. Naquela época, uma <strong>do</strong>ença bacteriana das aves, conhecida<br />

como pulorose 42 era muito comum na indústria. Se a indústria pretendia expandir-se, a<br />

<strong>do</strong>ença tinha que ser <strong>do</strong>minada. Assim, o plano foi estabeleci<strong>do</strong>, sob a coordenação <strong>do</strong><br />

Departamento de Agricultura <strong>do</strong>s EUA que teria uma agência em cada esta<strong>do</strong> que seria<br />

responsável pela execução das normas <strong>do</strong> programa dentro da indústria. Este procedimento,<br />

associa<strong>do</strong> com práticas sanitárias melhoradas aplicadas nos plantéis e nos incubatórios,<br />

praticamente erradicou a pulorose <strong>do</strong>s planteis avícolas <strong>do</strong>s EUA. Aproximadamente 90%<br />

de to<strong>do</strong> plantel avícola de reprodutoras <strong>do</strong>s EUA estava sob vigilância <strong>do</strong> Plano Nacional<br />

de Melhoramento Avícola na década de 1970, inclusive incluin<strong>do</strong> várias outras <strong>do</strong>enças 43<br />

MORENG & AVENS (1990).<br />

As antigas granjas no Brasil tinham instalações compostas de um galpão com 3<br />

divisões: uma para o pinteiro, uma para recria e uma para o acabamento. Os pintos ficavam<br />

de 25 a 30 dias no pinteiro, 30 dias na recria e no acabamento até a venda. To<strong>do</strong>s eram<br />

cuida<strong>do</strong>s pelo mesmo trata<strong>do</strong>r e a transmissão de <strong>do</strong>enças se fazia de forma rápida e<br />

intensa. O desconhecimento de procedimentos para controlá-las agravava ainda mais a<br />

situação. Na verdade havia pouca ou quase nenhuma preocupação com a profilaxia. Em<br />

1945 foram registradas 15 <strong>do</strong>enças diferentes e esse quadro quadruplicou atualmente. Se<br />

essas <strong>do</strong>enças assustavam, a descoberta da <strong>do</strong>ença de Marek 44 caiu como uma bomba na<br />

avicultura. O mal chegou ao Brasil após introdução de uma linhagem de aves de corte,<br />

42 Esta <strong>do</strong>ença é causada pela Salmonella pullorum e produzia uma mortalidade de 60 a 80% <strong>do</strong>s pintinhos<br />

recém-nasci<strong>do</strong>s que eclodiam de ovos produzi<strong>do</strong>s por planteis de reprodutoras infectadas (MILLEN, 1985).<br />

43 Como o tifo aviário e a D.C.R ou <strong>do</strong>ença crônica respiratória (MILLEN, 1985). No Brasil o final da década<br />

de 50 marca o surgimento de uma intensa atuação <strong>do</strong> Instituto Biológico de São Paulo, no senti<strong>do</strong> de melhorar<br />

o combate às <strong>do</strong>enças e o controle sanitário em geral (SORJ et alli, 1982).<br />

44 É uma <strong>do</strong>ença tumoral causada um vírus da família herpesviridae, sen<strong>do</strong> o sorotipo 1 patogênico para as<br />

aves, a infecção ocorre o por via aérea e causa a paralisia, geralmente assimétrica, <strong>do</strong>s membros e<br />

emagrecimento. Na forma aguda ocorrem morte súbita, apatia e formação de tumores viscerais (LANA,<br />

2000).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

54


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

bastante produtiva mas extremamente vulnerável à <strong>do</strong>ença. o desenvolvimento da vacina<br />

contra Marek salvou a linhagem de frangos no mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> e a atividade pôde usufruir uma<br />

linhagem genética altamente produtiva, apesar da sensibilidade (PINAZZA &<br />

LAUANDOS, 2000).<br />

As inovações tecnológicas recentes na área da sanidade podem ser percebidas pelo<br />

desenvolvimento de técnicas de laboratório para diagnóstico e monitoramento de <strong>do</strong>enças,<br />

medicamentos com efeito preventivo e curativo, promotores de crescimento e eficiência<br />

alimentar, desinfetantes e vacinas. Essas inovações associadas a: isolamento sanitário,<br />

manten<strong>do</strong> pessoas estranhas, animais e veículos afasta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s galpões; cerca viva com<br />

plantação de eucaliptos ao re<strong>do</strong>r da granja; desinfecção de veículos e utensílios para<br />

entrarem na granja; criação de frangos de mesma idade, sistema “tu<strong>do</strong> dentro, tu<strong>do</strong> fora”; e<br />

controle de transmissores de <strong>do</strong>enças, como moscas, mosquitos, ratos, pássaros e aves<br />

caipiras; oferecem as condições necessárias na área da sanidade para produção atual <strong>do</strong><br />

frango de corte (LANA, 2000).<br />

Embora tenham ocorri<strong>do</strong> avanços na área da sanidade, SALLE et alli (1998: 234)<br />

argumentam que a situação desta área ainda deixa a desejar. Excetuan<strong>do</strong>-se as<br />

enfermidades previstas no PNSA 45 (Plano Nacional de Sanidade Avícola), não há uma<br />

padronização oficial das técnicas laboratoriais nem o processamento das informações<br />

geradas pelos diagnósticos com vistas à medidas epidemiológicas. Para os autores, os riscos<br />

decorrentes das carências de controle sanitário se manifestam pela carência de um<br />

adequa<strong>do</strong>:<br />

- serviço de diagnóstico avícola nacional incluin<strong>do</strong>, também, a caracterização<br />

molecular <strong>do</strong>s agentes;<br />

- controle de material genético avícola importa<strong>do</strong> e/ou produzi<strong>do</strong> no País;<br />

- serviço de controle e certificação sanitária das granjas avícolas brasileiras e<br />

igualmente, de trânsito avícola;<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

55


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

- controle e padronização <strong>do</strong>s insumos biológicos avícolas (vacinas e antígenos);<br />

- padrão de reagentes de diagnóstico; e<br />

- programa político de sanidade avícola.<br />

Atualmente, para oferecer maior qualidade sanitária ao produto avícola brasileiro,<br />

foi cria<strong>do</strong> o Grupo de Sanidade Avícola, composto por especialistas representantes de<br />

universidades, de instituições de pesquisa, de instituições oficiais e da iniciativa privada. Os<br />

projetos e parcerias apresentam como objetivo desenvolver:<br />

- Controle sanitário sobre importação, trânsito e exportação de material genético;<br />

- Formas de monitoração e critérios de interpretação para controle das principais<br />

<strong>do</strong>enças das aves;<br />

- Análise de risco e controle de pontos críticos de <strong>do</strong>enças e/ou produtos avícolas<br />

para Salmonella enteritidis e Escherichia coli;<br />

- Integração da rede de laboratórios, oficial e privada, treinamento de recursos<br />

humanos, uniformidade de insumos e análises, estabilização de atribuições e<br />

integração virtual <strong>do</strong>s mesmos;<br />

- Terceirização da assistência técnica na avicultura;<br />

- Marca<strong>do</strong>res epidemiológicos para Salmonella enteritidis e Escherichia coli;<br />

- Marca<strong>do</strong>res epidemiológicos para Mycoplasmas de interesse para a avicultura;<br />

- Marca<strong>do</strong>res epidemiológicos para o vírus da Doença de New Castle e Influenza<br />

Aviária;<br />

- Implantação da rotina diagnóstica para anemia infecciosa das galinhas;<br />

- Controle das <strong>do</strong>enças transmissíveis que afetam a produtividade avícola;<br />

- Caracterização epidemiológica e molecular <strong>do</strong>s vírus oncogênicos das aves; e<br />

- Desenvolvimento e caracterização de reagentes, de imunógenos e Kits de<br />

diagnósticos das <strong>do</strong>enças das aves<br />

45 o PNSA cria<strong>do</strong> pelo ministério da agricultura e abastecimento, propõe uma série de ações com objetivo de<br />

erradicar ou controlar algumas das enfermidades avícolas. Desta forma, a erradicação e/ou o controle da<br />

<strong>do</strong>ença de Newcastle, das micoplasmoses aviárias e das salmoneloses foram normatizadas pelo programa.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Pode-se concluir que pela quantidade de sugestões, ainda temos muito que avançar<br />

na área da sanidade. Do que foi feito destaca-se o controle da <strong>do</strong>ença de marek, manejo<br />

sanitário, incluin<strong>do</strong> isolamento, cerca viva, vacinas, diagnóstico e monitoramento de<br />

<strong>do</strong>enças.<br />

II. 9 - Mudanças na Criação<br />

Este item apresenta duas técnicas atualmente bastante difundidas na criação de<br />

frangos de corte, principalmente nas integrações. São as técnicas de criação de lotes com<br />

sexos separa<strong>do</strong>s e a criação em alta densidade.<br />

II. 9. 1 - Criação com Lotes Sexa<strong>do</strong>s<br />

A partir de mea<strong>do</strong>s da década de 60, se popularizou as linhagens Sex-linked<br />

primeiramente pela cor e posteriormente pelo mais rápi<strong>do</strong> crescimento das penas primárias<br />

das asas, notou-se haver um grande diferencial de peso vivo entre os frangos, sobretu<strong>do</strong> a<br />

partir da metade final <strong>do</strong> ciclo criatório. O diferencial, de imediato foi identifica<strong>do</strong> como<br />

sen<strong>do</strong> correlaciona<strong>do</strong> ao sexo da ave, os machos cria<strong>do</strong>s nas mesmas condições que as<br />

fêmeas ficam mais pesa<strong>do</strong>s, enquanto as fêmeas acumulam mais gordura ab<strong>do</strong>minal<br />

prejudican<strong>do</strong> o rendimento de carcaça. Atualmente é bastante dissemina<strong>do</strong> a criação de<br />

aves sexadas.<br />

A separação 46 de machos e fêmeas (sexagem) é feita pela análise das penas da ave<br />

no primeiro dia de vida. Pintinhos com empenamento rápi<strong>do</strong> (precoce) são fêmeas e com<br />

empenamento lento (tardio) são machos. Abrin<strong>do</strong> a asa <strong>do</strong> pintinho comparara-se o<br />

tamanho das penas primárias em relação as penas de cobertura. Nos machos as penas<br />

46 Existem 3 méto<strong>do</strong>s para sexagem: o méto<strong>do</strong> de exame da cloaca <strong>do</strong> pinto no primeiro dia de via, a sexagem<br />

é feita pelo exame da cloaca, é utiliza<strong>do</strong> para matrizes e aves de postura comercial de ovos brancos; méto<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> exame <strong>do</strong>s caracteres sexoliga<strong>do</strong>s a cor, machos e fêmeas nascem de cores diferentes, utiliza<strong>do</strong>s para<br />

sexagem de aves de postura comercial de ovos vermelhos e; méto<strong>do</strong> <strong>do</strong> caracteres sexoliga<strong>do</strong>s ao<br />

empenhamento, onde a fêmeas tem empenamento rápi<strong>do</strong> e os machos empenamento lento, utiliza<strong>do</strong> para<br />

sexagem em frangos de corte, conforme da<strong>do</strong>s de estágio na granja Rezende.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

primárias são <strong>do</strong> mesmo comprimento que as de cobertura e nas fêmeas as penas primárias<br />

são maiores que as de cobertura.<br />

Atualmente, o interesse pelas raças autossexáveis se estende à exploração de<br />

frangos de corte em decorrência <strong>do</strong> abate mecaniza<strong>do</strong> em larga escala. Isto porque nos<br />

abate<strong>do</strong>uros automáticos, as depena<strong>do</strong>uras são reguladas para um determina<strong>do</strong> tamanho de<br />

carcaça, o que exige lotes de aves uniformes e portanto, sen<strong>do</strong> as fêmeas mais leves que os<br />

machos, surgem problemas relativos à limpeza das carcaças.<br />

Com a separação de machos e fêmeas consegue-se ainda as seguintes vantagens:<br />

possibilita diferenciar rações para machos e fêmeas, de maneira que são utilizadas rações de<br />

alta energia para os machos e rações menos protéicas e energéticas (com até 3000 kcal/kg<br />

de energia metabolizável) a partir <strong>do</strong>s 21 dias para as fêmeas, diminuin<strong>do</strong> a tendência a<br />

acumulação de gorduras e melhoran<strong>do</strong> a eficiência de utilização <strong>do</strong>s nutrientes reduzin<strong>do</strong> os<br />

custos da criação; proporciona maior uniformidade e melhor ajuste da densidade <strong>do</strong>s lotes<br />

e; propicia o aproveitamento mais racional das instalações e <strong>do</strong>s equipamentos, pela melhor<br />

adequação de bebe<strong>do</strong>uros e come<strong>do</strong>uros (LANA, 2000).<br />

II. 9. 2 - Criação em Alta Densidade<br />

Considera-se criação em alta densidade quan<strong>do</strong> temos mais de 30 kg de aves/m 2 .<br />

Hoje é muito comum, no inverno, encontrarmos cria<strong>do</strong>res e empresas que passam suas<br />

criações de uma densidade de 10 para 18 a 20 aves/m 2 , admitin<strong>do</strong> que as aves atinjam o<br />

mesmo peso a determinada idade, por exemplo 2,250 kg aos 44 dias, serão cerca de 22,50<br />

kg e 40,50 kg de carne para 10 aves e 18 aves/m 2 , respectivamente.<br />

Com desenvolvimento tecnológico <strong>do</strong>s equipamentos foi possível estender o<br />

aumento da quantidade de aves criadas/m 2 para to<strong>do</strong> ano. A presença de equipamentos de<br />

climatização e o tipo de equipamento utiliza<strong>do</strong> é que vai determinar a quantidade de<br />

frangos cria<strong>do</strong>s/m 2 de galpão. No princípio quan<strong>do</strong> não se utilizavam esses equipamentos<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

58


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

(galpão tradicional), a recomendação para criações era de 20 Kg/m 2 de aves 47 (ISA, S/D);<br />

nos sistemas mais utiliza<strong>do</strong>s atualmente, com ventila<strong>do</strong>r, nebuliza<strong>do</strong>r e resfria<strong>do</strong>r de água<br />

(galpão semiclimatiza<strong>do</strong>), a densidade recomenda é de 30 Kg/m 2 ; atualmente já existe<br />

tecnologia para criação de 40 Kg de aves/m 2 (galpão climatiza<strong>do</strong>), sen<strong>do</strong> cara, pouco<br />

difundida e utilizada. Para utilização desse sistema, SANTIN (S/D) recomenda a adequação<br />

das necessidades de come<strong>do</strong>uro, bebe<strong>do</strong>uros e aquecimento com relação à distribuição,<br />

densidade e tipos de equipamentos. Isso é feito com come<strong>do</strong>uros automáticos, bebe<strong>do</strong>uro<br />

tipo nipple, campânulas termostáticas e um bom sistema adiabático evaporativo, para<br />

refrigeração <strong>do</strong> galpão.<br />

Para LUCHESI (1998), a análise desta técnica mostra que o lucro cresce com o<br />

aumento da densidade, a passagem de 10 aves/m 2 para 20 aves/m 2 permitiu um aumento<br />

58,9% na lucratividade na época de inverno e 66,7% na época <strong>do</strong> verão.<br />

Portanto as duas técnicas beneficiam a criação. A sexagem permite mais<br />

uniformidade com reflexos positivos tanto no abate, como na criação e a alta densidade<br />

permite a otimização da utilização <strong>do</strong>s galpões aumentan<strong>do</strong> os lucros.<br />

II. 10 - Mudanças no Padrão de Produção de Frangos de Corte<br />

Será abordada, neste item, a mudança no padrão de produção de frangos,<br />

apresentan<strong>do</strong> a emergência das grandes empresas verticalizadas, integradas a médios e<br />

grandes produtores, substituin<strong>do</strong> o padrão de produção basea<strong>do</strong> em uma constelação de<br />

produtores independentes e empresas especializadas em incubação, abate e fabricação de<br />

rações.<br />

47 Se as aves forem abatidas com 2 Kg colocar-se-á 10 aves/m 2 , pois 20 Kg/aves/m 2 dividi<strong>do</strong> por 2 é igual a<br />

10.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

II. 10. 1 - Verticalização da Produção<br />

A verticalização da agroindústria pode ser justificada pela emergência gradativa de<br />

grandes empresas, concentran<strong>do</strong> e verticalizan<strong>do</strong> a produção, devi<strong>do</strong> a:<br />

- Absorção da tecnologia de ponta, aumento da escala de produção e diminuição <strong>do</strong>s<br />

custos nas áreas de nutrição, genética, automação, abate e processamento;<br />

- Transferência da criação <strong>do</strong> frango de corte para pequenos proprietários de terra,<br />

em um processo gradativo de automação, utilizan<strong>do</strong> principalmente mão de obra familiar;<br />

- Grande capital de giro disponível para comercialização e suportar as épocas de<br />

crise da economia;<br />

- Eficiência na administração de recursos humanos, comercialização, marketing e<br />

agregação de valor ao produto final; e<br />

- Não ocorrência das características citadas acima nos sistemas de produção<br />

independente e cooperativo.<br />

Para MATOS (1996a), a integração vertical permitiu às firmas integra<strong>do</strong>ras uma<br />

sensível economia de custos nas áreas de atuação conjunta, como o controle, as compras, a<br />

produção, as vendas e a distribuição. A coordenação das atividades também tem grande<br />

redução de custo, pelo fato da proximidade, agilizan<strong>do</strong> a tomada de decisão. Além disso,<br />

ela permitiu uma maior certeza quanto ao fornecimento de insumos nos perío<strong>do</strong>s de<br />

escassez generalizada, manten<strong>do</strong> a posição competitiva da empresa. De outro la<strong>do</strong>, garantiu<br />

merca<strong>do</strong>, (escoamento) para os produtos finais nos momento de redução da demanda.<br />

A integração vertical eleva, também, significativamente as barreiras à entrada em<br />

uma indústria, uma vez que reduz os custos da empresa integrada engendran<strong>do</strong> vantagens<br />

em termos de poder de negociação, por redução de margens e dan<strong>do</strong> maior grau de certeza<br />

a essas empresas, pela redução de riscos.<br />

A redução efetiva no poder de negociação <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res ou clientes<br />

preferenciais é outra grande vantagem da integração. Dessa forma, as atividades a montante<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

reduzem o poder de negociação <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res, possibilitan<strong>do</strong> maior certeza quanto aos<br />

custos <strong>do</strong> insumo básico. Já as atividades a jusante, reduzem o poder de compra <strong>do</strong><br />

distribui<strong>do</strong>r ou das grandes redes de distribuição.<br />

Na indústria da fase <strong>do</strong> capitalismo concorrencial, o progresso técnico era uma arma<br />

mortífera, pois possibilitava a uma determinada empresa eliminar suas concorrentes, à<br />

medida que, aumentan<strong>do</strong> sua eficiência, podia produzir a preços inferiores e aumentar seus<br />

lucros. Na fase monopolista, entretanto, o progresso técnico permite às empresas líderes de<br />

cada setor manterem uma renda diferencial pela sua eficiência em relação aos concorrentes,<br />

sem interesse em eliminá-los, pois isso implicaria numa guerra de preços e perda <strong>do</strong> lucro<br />

suplementar. Assim, por exemplo, se o merca<strong>do</strong> estiver crescen<strong>do</strong>, as unidades marginais<br />

poderão permanecer, tenden<strong>do</strong> a serem excluídas apenas quan<strong>do</strong> da retração da demanda<br />

por aquele produto específico, daí a importância das crises de superprodução periódicas na<br />

agricultura para configuração das estruturas de merca<strong>do</strong> (GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA,1988).<br />

A avicultura se insere perfeitamente neste contexto, pois no momento atual e futuro<br />

próximo, teremos unidades produtivas de varia<strong>do</strong>s tamanhos no Brasil, consideran<strong>do</strong> as<br />

regiões Sul e Centro-oeste; desta forma, se imaginarmos a possibilidade de retração da<br />

demanda de frango, a estrutura fundiária <strong>do</strong> Centro-oeste apresentará grandes vantagens em<br />

função <strong>do</strong>s custos de produção, devi<strong>do</strong>s aos ganhos de escala.<br />

Portanto, nesse novo modelo de produção que surge com o processo de<br />

verticalização 48 da produção, as grandes empresas avícolas se apropriaram da tecnologia da<br />

genética, nutrição, abate e processamento e da comercialização <strong>do</strong>s produtos avícolas,<br />

aumentaram intensamente suas produções, pelo aumento de suas plantas e de<br />

consumi<strong>do</strong>res, além de atenderem ao merca<strong>do</strong> nacional passaram a atender também o<br />

merca<strong>do</strong> internacional. Esse padrão de crescimento, considera<strong>do</strong>s os vários componentes <strong>do</strong><br />

custo de produção, acabou sinalizan<strong>do</strong> para a aproximação das plantas produtoras (a partir<br />

48 Em 1982 SORJ et alli assinalavam a existência de indícios de que os níveis de automação e os ganhos de<br />

escala tornariam cada vez mais viável à granja avícola em moldes de grande empresa capitalista.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

61


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

<strong>do</strong> final da década de 80) da região no Centro-oeste; um exemplo disso é a instalação da<br />

Perdigão em Rio Verde.<br />

II. 10. 2 - Mudanças no Modelo de Integração<br />

Em 1982, o Cebrae-Ceag, cita<strong>do</strong> por SORJ et alli, (1982: 41) fazia o seguinte<br />

recorte: “...produtores integra<strong>do</strong>s não são produtores comuns, são escolhi<strong>do</strong>s, em função de<br />

possuírem um número de hectares de terra acima da média <strong>do</strong>s produtores da região, de<br />

terem condições de obter crédito e de se situarem a uma distância relativamente próxima à<br />

indústria, diminuin<strong>do</strong>, assim, os custos de transporte. É fundamental que os produtores<br />

possuam certas características para que o projeto global da integração seja viabiliza<strong>do</strong>,<br />

segun<strong>do</strong> a estratégia estabelecida pelo frigorífico”. Portanto a tendência na época já era a<br />

diminuição <strong>do</strong> número de avicultores com pequenos plantéis e o aumento e concentração da<br />

produção em maiores produtores.<br />

Neste aspecto SORJ et alli citam que “ a tendência à diminuição de produtores de<br />

pequenos plantéis e o aumento de produtores maiores são o resulta<strong>do</strong> tanto <strong>do</strong> sucesso e<br />

capitalização de alguns empreendimentos, como da real eliminação <strong>do</strong>s que não conseguem<br />

fazer frente aos aspectos técnicos e econômicos da produção, de mo<strong>do</strong> a suportar situações<br />

de oscilações nos fatores de produção e comercialização”.<br />

Para ORTEGA (1988: 112), a estrutura fundiária da região onde se constitui uma<br />

integração é fundamental, por serem necessárias propriedades que permitam aos cria<strong>do</strong>res a<br />

produção de seu produto principal e ainda outro produto que complemente a sua renda.<br />

Quan<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> esse modelo de pequenos agricultores integra<strong>do</strong>s no Sul, é<br />

reconheci<strong>do</strong> que contribuiu por um determina<strong>do</strong> tempo, no crescimento da produção e da<br />

produtividade, mas agora está sen<strong>do</strong> visto como um obstáculo para a continuação <strong>do</strong><br />

crescimento e da redução de custos.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

62


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Analisan<strong>do</strong> esse assunto observa-se que, nos últimos anos o padrão tradicional<br />

começou a dar mostras de esgotamento. De um la<strong>do</strong>, os custos logísticos e de<br />

gerenciamento de um grande número de integra<strong>do</strong>s (a Perdigão por exemplo tem cerca de<br />

7.000) vêm crescen<strong>do</strong> excessivamente. Levar ração, coletar frangos, prestar assistência<br />

técnica e supervisionar os contratos de milhares de pequenos integra<strong>do</strong>s, tu<strong>do</strong> isso é fonte<br />

de custos pouco compatíveis com um negócio de margens reduzidas (FAVERET FILHO &<br />

PAULA, 1998).<br />

A estrutura fundiária em Rio Verde é um exemplo dessa mudança. O tamanho da<br />

propriedade integrada será bem maior que as existentes no sul, isso está ocorren<strong>do</strong> devi<strong>do</strong><br />

às garantias bancárias necessárias ao financiamento 49 e à viabilidade da produção de<br />

frangos nas condições <strong>do</strong> projeto. GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988: 29), atribui esse fato ao<br />

caráter incrusta<strong>do</strong> das inovações tecnológicas na concorrência intercapitalista, de maneira<br />

que “as inovações funcionam como um tipo de barreira à entrada de concorrentes naquelas<br />

condições específicas, ao nível de região e <strong>do</strong>s produtos, na medida em que configura um<br />

da<strong>do</strong> padrão produtivo que define inclusive uma certa escala mínima para permanecer<br />

naquele determina<strong>do</strong> ramo de atividade. Em outros termos, o próprio desenvolvimento<br />

capitalista de um ramo da produção agropecuária impõe continuamente a elevação de um<br />

patamar mínimo, defini<strong>do</strong> em função das tecnologias disponíveis, para um produtor<br />

determina<strong>do</strong> permanecer naquela atividade. É como uma corrida onde determina<strong>do</strong><br />

indivíduo para manter a sua posição relativa tem que mover-se no ritmo <strong>do</strong> conjunto”.<br />

A estrutura agrária <strong>do</strong> Centro-Oeste, baseada na média e grande propriedades, pode<br />

facilitar essas transformações técnicas, de outro impossibilita que as relações agricultura-<br />

indústria se organizem nos mesmos moldes <strong>do</strong> Sul, onde pre<strong>do</strong>mina a propriedade familiar<br />

(HELFAND & RESENDE, 1998).<br />

49 A quantidade de terra disponível pelo pecuarista é fundamental para que ele seja aceito como integra<strong>do</strong>,<br />

porque esse é um pré-requisito para obtenção de crédito agrícola e porque o integra<strong>do</strong> deve ter uma<br />

quantidade de terra tal, que seja possível diversificar sua produção.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

63


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

O novo projeto 50 da Perdigão em Rio Verde terá mais de 800 agricultores<br />

integra<strong>do</strong>s. Cada agricultor terá a capacidade de para alojar 24 mil frangos de corte por<br />

galpão (sen<strong>do</strong> recomenda<strong>do</strong> 4 galpões por propriedade), e não 6 a 15 mil, como é o caso<br />

<strong>do</strong>s produtores em Santa Catarina. Os equipamentos que estão sen<strong>do</strong> implanta<strong>do</strong><br />

apresentam tecnologia mais avançada, incluin<strong>do</strong> alimentação automática e controles<br />

climáticos. O valor financia<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> técnico da Perdigão para construção <strong>do</strong>s quatro<br />

galpões é de R$ 379.510,77, com taxa real de juros de 10,5% e redução de adimplência de<br />

20%. A garantia necessária para acessar esse volume de financiamento limita a participação<br />

<strong>do</strong> pequeno produtor. Mesmo os médios e grandes produtores tem mostra<strong>do</strong> um certo<br />

constrangimento quan<strong>do</strong> consideram o rendimento previsto de R$ 355,36/galpão/mês (R$<br />

1.421,44 para os 4 galpões/mês).<br />

Portanto, a produção atomizada de carne de aves por parte de muitos milhares de<br />

pequenos produtores está sen<strong>do</strong> substituída nas últimas 3 décadas por grandes<br />

empreendimentos, altamente capitaliza<strong>do</strong>s, que utilizam as mais sofisticadas técnicas<br />

associadas aos sistemas de confinamento ambientalmente controla<strong>do</strong>s, de maneira que o<br />

merca<strong>do</strong> atual é forma<strong>do</strong> por um mix de grandes grupos verticaliza<strong>do</strong>s e numerosas<br />

unidades de produtores independentes, principalmente nas proximidades das grandes<br />

metrópoles, configuran<strong>do</strong> esse padrão monopolista de produção. Para GOODMAN (1990)<br />

isto é o resulta<strong>do</strong> direto da exploração das inovações nas áreas da genética e da nutrição das<br />

aves por parte <strong>do</strong>s capitais apropriacionistas.<br />

Dessa forma, a mudança <strong>do</strong> modelo de produção está aliada à a<strong>do</strong>ção de uma nova<br />

tecnologia, com novas formas de organizar a produção, no Centro-Oeste, que oferece a<br />

oportunidade de diminuir custos da carne aos consumi<strong>do</strong>res de várias formas:<br />

- a construção de mega abate<strong>do</strong>uros que integrarão grandes cria<strong>do</strong>res de animais<br />

poderia proporcionar economias de escala na produção e no abate.<br />

50 Os índices técnicos são: 6,87 lotes por ano, 3,4% de mortalidade, 2.350 g de peso médio <strong>do</strong> frango, idade<br />

média ao abate de 45 dias e um consumo de 25 g de gás por pinto aloja<strong>do</strong>.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

64


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

- A integração com um número menor de produtores poderia contribuir para<br />

II. 11 - Conclusão<br />

redução <strong>do</strong>s custos de logística associa<strong>do</strong>s ao suprimento de insumos, à provisão<br />

de ração e assistência técnica, e à coleta <strong>do</strong>s animais quan<strong>do</strong> eles estiverem<br />

prontos para abate.<br />

Em resumo, a análise das modificações da base técnica mostra que a tecnologia<br />

promoveu várias mudanças nas relações de produção de frango de corte. A área da genética<br />

permitiu a substituição de raças puras de aves por híbri<strong>do</strong>s sintéticos de alta performance<br />

produzi<strong>do</strong>s pelos “avozeiro”. Os ganhos genéticos, por exemplo, permitiram a diminuição<br />

da idade de abate de 105 dias para 42 dias; a melhora na conversão alimentar, passan<strong>do</strong> de<br />

3,5 para 1,8 ao abate e aumento <strong>do</strong> peso vivo de 1,5 kg para 2,6 kg a idade de abate.<br />

Os avanços na nutrição iniciaram em 1900, quan<strong>do</strong> se usou ração pela primeira vez,<br />

mas foi na década de 60 que realmente apareceram as rações balanceadas no Brasil. Os<br />

avanços apareceram também nas misturas de ingredientes protéicos, na adição de<br />

aminoáci<strong>do</strong>s essenciais e mais recentemente a utilização de aminoáci<strong>do</strong>s digestíveis,<br />

aumentan<strong>do</strong> a precisão <strong>do</strong>s cálculos de ração e diminuin<strong>do</strong> a necessidade de eleva<strong>do</strong>s níveis<br />

de segurança. Alia<strong>do</strong> a esses aspectos, o aumento da precisão no levantamento das<br />

exigências nutricionais, associa<strong>do</strong>s à programação linear, permitiram o cálculo de rações a<br />

mínimo custo, diminuin<strong>do</strong> o custo e aumentan<strong>do</strong> a estabilidade <strong>do</strong> preço das rações.<br />

A área de equipamentos de alimentação foi atingida de maneira intensa pela<br />

automação. Hoje, o funcionamento <strong>do</strong>s come<strong>do</strong>uros e <strong>do</strong>s bebe<strong>do</strong>uros não depende de mão-<br />

de-obra humana, são mais eficientes em termos de limpeza, melhoram o ganho de peso e<br />

diminuem a mortalidade em função da ausência de pessoas andan<strong>do</strong> com freqüência dentro<br />

<strong>do</strong> galpão.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

65


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

A indústria de rações, se reorganiza em função da logística de transporte se<br />

regionaliza e diversifica sua produção associada a tecnologia mais acessíveis de menores<br />

plantas, miniaturização da informática e acesso ao premix em pequenas escalas. Por outro<br />

la<strong>do</strong>, com a emergência da verticalização aparecem as grandes integrações que passam a<br />

produzir um volume de rações maior que a própria produção <strong>do</strong> setor da indústria de<br />

rações.<br />

A climatização passa ser um <strong>do</strong>s elementos mais importante na produção de<br />

frangos, a tecnologia atual oferece o aquecimento por campânulas a gás com queima<strong>do</strong>r de<br />

infravermelho, que são mais eficientes, de baixo custo e aquecem o <strong>do</strong>bro de pintinhos<br />

(1000 pintinhos). A refrigeração passa a fazer parte <strong>do</strong>s galpões, o sistema mais utiliza<strong>do</strong> é<br />

a combinação de nebuliza<strong>do</strong>res e exaustores movimentan<strong>do</strong> o ar de um la<strong>do</strong> a outro <strong>do</strong><br />

galpão (sistema e semi-climatiza<strong>do</strong>). Quanto ao sistema adiabático evaporativo, apesar de<br />

ser mais eficiente ainda tem uso bastante restrito, em função <strong>do</strong> custo benefício e ser uma<br />

tecnologia nova e pouco difundida.<br />

Os galpões aumentam a sua capacidade interna, passan<strong>do</strong> de 100 m 2 para 1600 m 2 ,<br />

trocam cobertura de telhas de barro e amianto por telhas de alumínio, não utilizam mais<br />

lanternis em função da ventilação negativa, mudam a estrutura de madeira para estrutura de<br />

cimento pré-molda<strong>do</strong> ou metálica, as lâmpadas incandescentes são trocadas pelas lâmpadas<br />

fluorescentes, diversificam o material utiliza<strong>do</strong> como cama de frango passam a fazer a<br />

reutilização desse material por até 4 a 5 vezes.<br />

A área da sanidade se apresenta como o ponto frágil da cadeia produtiva da<br />

avicultura de corte, isso pode ser percebi<strong>do</strong> pelo volume de tecnologias existentes e ainda<br />

não utilizadas. Do que foi feito destacam-se o controle da <strong>do</strong>ença de marek, manejo<br />

sanitário, incluin<strong>do</strong> isolamento, cerca viva, vacinas, diagnóstico e monitoramento de<br />

<strong>do</strong>enças.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

66


TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

A eficiência na criação é aumentada pela sexagem que permite mais uniformidade<br />

com reflexos positivos tanto no abate como na criação e pela alta densidade que permite a<br />

otimização da utilização <strong>do</strong>s galpões aumentan<strong>do</strong> os lucros.<br />

E, um novo modelo de produção de frangos surge basea<strong>do</strong> no processo de<br />

verticalização 51 da produção. As grandes empresas avícolas se apropriaram da tecnologia<br />

da genética, nutrição, abate e processamento e da comercialização <strong>do</strong>s produtos avícolas,<br />

aumentaram intensamente suas produções, pelo aumento de suas plantas e de consumi<strong>do</strong>res<br />

e, além de atender ao merca<strong>do</strong> nacional, passaram a atender também o merca<strong>do</strong><br />

internacional. Associa<strong>do</strong> a essa mudança observa-se que a produção atomizada de carne de<br />

aves por parte de muitos milhares de pequenos produtores está sen<strong>do</strong> substituída nas<br />

últimas 3 décadas por um pequeno número médios e grandes produtores integra<strong>do</strong>s,<br />

utilizan<strong>do</strong> as mais sofisticadas técnicas apresentadas no corpo deste capítulo.<br />

51 Em 1982 SORJ et alli assinalavam a existência de indícios de que os níveis de automação e os ganhos de<br />

escala tornariam cada vez mais viável a granja avícola em moldes de grande empresa capitalista.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

67


CAPÍTULO III<br />

DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong><br />

<strong>TÉCNICA</strong><br />

As modificações da base técnica da avicultura apresentadas de maneira descritiva<br />

têm a importância primordial de comprovar através de da<strong>do</strong>s as alterações temporais<br />

sofridas no processo tecnológico de produção. Entretanto, numa visão mais reflexiva, deve-<br />

se procurar entender por que ocorrem essas mudanças, ou seja, quais são seus<br />

determinantes. A avicultura não foi o único setor da agricultura a se modificar. Na verdade<br />

está inserida em um contexto maior que atingiu a produção rural de maneira global.<br />

Este capítulo apresenta os determinantes das modificações da técnica, que foram<br />

atribuí<strong>do</strong>s: a desagregação <strong>do</strong> complexo rural e formação <strong>do</strong> complexo agroindustrial; ao<br />

apropriacionismo e o substitucionismo industrial; as questões ligadas à terra e ao trabalho; e<br />

ao Esta<strong>do</strong> através de políticas públicas e financiamento. Caracteriza cada um <strong>do</strong>s<br />

determinantes, apresenta a forma de como eles atuam estimulan<strong>do</strong> a utilização de<br />

tecnologias e discute sobre as suas respectivas contribuições para o desenvolvimento<br />

tecnológico.<br />

III. 1 - Desagregação <strong>do</strong> Complexo Rural e Formação <strong>do</strong>s Complexos Agroindustriais<br />

As transformações na base técnica passaram a ocorrer com maior ênfase a partir da<br />

proletarização <strong>do</strong> camponês e da destruição de sua economia natural, quan<strong>do</strong> se criaram as<br />

bases para o desenvolvimento <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> capitalista de produção (GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA,<br />

1996). MARX (1982), explica que o fundamental de toda divisão <strong>do</strong> trabalho desenvolvida


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

e processada através da troca de merca<strong>do</strong>rias é a separação entre a cidade e o campo. Pode-<br />

se dizer que toda história econômica da sociedade se resume na dinâmica dessa antítese.<br />

Cita ainda que o mo<strong>do</strong> de produção capitalista completa a ruptura <strong>do</strong>s laços primitivos que<br />

no começo uniam a agricultura e a manufatura. Mas, ao mesmo tempo, cria as condições<br />

materiais para uma síntese nova, superior, para a união da agricultura e da indústria, na base<br />

das estruturas que se desenvolvem em mútua oposição.<br />

A separação da cidade/campo só se dá por inteiro quan<strong>do</strong> a indústria se muda para a<br />

cidade; a reunificação, quan<strong>do</strong> o próprio campo se converte numa fábrica. Quan<strong>do</strong> isso<br />

ocorre, a agricultura entendida como um setor autônomo desaparece; ou melhor, converte-<br />

se num ramo da própria indústria. Essa opinião de GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1996)<br />

complementa a reflexão de 1982, quan<strong>do</strong> cita que o longo processo de transformação da<br />

base técnica – chama<strong>do</strong> de modernização – culmina, pois, na própria industrialização da<br />

agricultura. Esse processo representa na verdade a subordinação da natureza ao capital que,<br />

gradativamente, liberta o processo de produção agropecuária das condições naturais dadas,<br />

passan<strong>do</strong> a fabricá-las sempre que se fizerem necessárias. Assim, se faltar chuva, irriga-se;<br />

se não houver solos suficientemente férteis, aduba-se; se ocorrerem pragas e <strong>do</strong>enças,<br />

responde-se com defensivos químicos ou biológicos; e se houver ameaças de inundações,<br />

estarão previstas formas de drenagem. Dessa forma cita ainda que “A produção<br />

agropecuária deixa, assim, de ser uma esperança ao sabor das forças da Natureza para se<br />

converter numa certeza sob o coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> capital” (GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA, 1996: 4).<br />

Na verdade, a separação cidade/campo, segun<strong>do</strong> uma citação mais antiga de<br />

GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1981: 44), é “a forma aparente que assume o próprio processo de<br />

industrialização da produção no seu senti<strong>do</strong> amplo, incluin<strong>do</strong> aí a própria agricultura.<br />

Usan<strong>do</strong> uma imagem bíblica, pode-se dizer que no princípio tu<strong>do</strong> era agricultura, no<br />

senti<strong>do</strong> que o artesanato <strong>do</strong>méstico não era senão um complemento das atividades da<br />

família camponesa. A industrialização, em última instância, nada mais é <strong>do</strong> que a<br />

destruição, num primeiro momento, dessa harmonia para recriá-la, posteriormente, não<br />

mais com base nas condições naturais em que ela ocorria – habilidade <strong>do</strong> camponês em<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

69


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

utilizar as dádivas da natureza – mas sob condições artificiais, fabricadas pelo próprio<br />

homem. Em suma, a industrialização é a própria reprodução da natureza pelo capital”.<br />

Deve-se considerar que essas contribuições têm ao seu tempo a manifestação de<br />

uma das faces <strong>do</strong> processo histórico de passagem da agricultura brasileira <strong>do</strong> chama<strong>do</strong><br />

complexo rural 52 para dinâmica comandada pelos complexos agroindustriais (CAI), que<br />

contribui como determinante das modificações na base técnica. Para PAIM, cita<strong>do</strong> por<br />

ORTEGA (1988), complexos rurais são propriedades rurais que se reproduzem de maneira<br />

quase auto-suficiente, sen<strong>do</strong> que seu vínculo com o merca<strong>do</strong> é apenas o da venda de um ou<br />

poucos produtos, às vezes até transforma<strong>do</strong>s dentro da fazenda. Enquanto que complexos<br />

agroindustriais são propriedades que apresentam um alto nível de interdependência entre a<br />

agricultura e indústria, devi<strong>do</strong> ao alto nível de tecnificação, característico da avicultura de<br />

corte atual.<br />

A passagem da agricultura brasileira <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> complexo rural para uma<br />

dinâmica comanda pelos complexos agroindustriais – CAIs marcam o processo histórico da<br />

substituição da economia natural por atividades agrícolas integradas à indústria, à<br />

intensificação da divisão <strong>do</strong> trabalho e das trocas intersetoriais, à especialização da<br />

produção agrícola e à substituição das exportações pelo consumo produtivo interno como<br />

elemento central da alocação <strong>do</strong>s recursos produtivos no setor agropecuário.<br />

A partir da crise <strong>do</strong>s complexos rurais e da mudança <strong>do</strong>s determinantes da<br />

agricultura, GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1996: 5) cita que ocorre a passagem <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

externo para o merca<strong>do</strong> interno e não se pode falar mais em um único determinante, nem<br />

numa única dinâmica geral, nem num único setor agrícola. A agricultura brasileira hoje é<br />

uma estrutura complexa, heterogênea e multideterminada. Só se pode entendê-la a partir de<br />

52 Nas palavras de GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1996) o que caracterizava o complexo rural era “a sua incipiente<br />

divisão <strong>do</strong> trabalho”. As fazendas para produzir um determina<strong>do</strong> produto, tinham que produzir to<strong>do</strong>s os bens<br />

intermediários e os meios de produção necessários, e ainda assegurar a reprodução da própria força de<br />

trabalho ocupada nessas atividades. O complexo rural internaliza nas fazendas um departamento de produção<br />

de meios de produção (insumos, máquinas e equipamentos), mas “um D1 em bases artesanais” como o<br />

ferreiro, o carpinteiro, o pedreiro, o mecânico, o <strong>do</strong>ma<strong>do</strong>r de animais, o seleiro etc”.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

70


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

seus varia<strong>do</strong>s segmentos (como os CAIs, por exemplo) com suas dinâmicas específicas e<br />

interligadas aos setores industriais fornece<strong>do</strong>res de insumos e processa<strong>do</strong>res de produtos<br />

agrícolas.<br />

Para GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1996: 87) a internalização <strong>do</strong> D1 com a implantação<br />

no país de indústrias químicas e mecânicas, fabricantes de insumos e máquinas agrícolas,<br />

são a base para o aprofundamento <strong>do</strong> processo de industrialização da agricultura e a<br />

constituição <strong>do</strong>s vários complexos agroindustriais. pois somente se estabelecem relações<br />

específicas para trás com a indústria de insumos e máquinas agrícolas quan<strong>do</strong> se tem um<br />

CAI completo. Definin<strong>do</strong> o tripé forma<strong>do</strong> pela indústria para a agricultura, pela<br />

agroindústria e pela agricultura moderna em torno de uma determinada cadeia produtiva<br />

com vínculos específicos entre si. Esse ambiente com uma dinâmica particular determina<strong>do</strong><br />

internamente nesses complexos é que são responsáveis por formular demandas específicas<br />

junto ao Esta<strong>do</strong>.<br />

Tais complexos surgem nos espaços nacionais e podem eventualmente se<br />

internacionalizar, o que é sempre um momento de expansão conflitiva de aliança, de<br />

modificações importantes nas relações de forças internas e, evidentemente, externas.<br />

A estrutura e o crescimento <strong>do</strong> CAI na década de 70, coincidin<strong>do</strong> com a<br />

consagração da avicultura industrial, ou seja, quan<strong>do</strong> a avicultura passou a ser um<br />

componente <strong>do</strong> CAI, pode ser aprecia<strong>do</strong> pelos da<strong>do</strong>s da Tabela 14, abaixo.<br />

Algumas conclusões de GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1996: 25) servem para<br />

comprovar que as indústrias de bens de capital e insumos determinaram modificações na<br />

agricultura: 1- o perío<strong>do</strong> de arranque <strong>do</strong>s complexos pode ser localiza<strong>do</strong> no início da<br />

década de 70; em 75 as taxas de crescimento <strong>do</strong>s três grandes setores <strong>do</strong> CAI ultrapassaram<br />

15% ao ano e, consideran<strong>do</strong> toda a década, a indústria para a agricultura foi o setor que<br />

mostrou o maior dinamismo; 2- a produção agropecuária propriamente dita teve uma<br />

participação declinante no total <strong>do</strong> CAI, chegan<strong>do</strong> a representar apenas 38% <strong>do</strong> valor total<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

71


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

produzi<strong>do</strong> pelo CAI, em 1980, indican<strong>do</strong> a perda <strong>do</strong> peso da agricultura (em senti<strong>do</strong> estrito)<br />

no total <strong>do</strong> sistema 53 ; e 3- por sua vez, a indústria para a agricultura (tratores, defensivos,<br />

fertilizantes, produtos veterinários e rações) aumentou sua participação no CAI (de 9,3%<br />

para 12,7% <strong>do</strong> total entre 1970 e 1980).<br />

TABELA 14 – Estrutura e Evolução <strong>do</strong> CAI na Década de 70<br />

Indústria para a<br />

Agricultura (a)<br />

Agricultura<br />

(b)<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

Agroindústria<br />

(c)<br />

Anos Taxa (d) % (e) Taxa (d) % (e) Taxa (d) % (e) Taxa (d) % (e)<br />

1970 - 9.3 - 40.4 - 50.2 - 100<br />

1975 19.7 11.1 15.6 39.4 15.8 49.6 16.2 100<br />

1980 7.2 12.7 3.7 38 4.3 49.4 4.4 100<br />

1970/80 13.5 - 9.5 - 9.9 - 10.1 -<br />

Notas: a) <strong>do</strong>is sub-setores <strong>do</strong> setor mecânico; 3 sub-setores da química; um sub-setor de produtos<br />

alimentares (rações)<br />

b) lavouras, horti-floricultura, silvicultura, produção animal e extração vegetal<br />

c) nove setores agroindustriais (22 sub-setores).<br />

d) taxa geométrica anual nos perío<strong>do</strong>s, em porcentagem.<br />

e) participação no total <strong>do</strong> CAI em cada ano, em valor.<br />

Fonte: MULLER cita<strong>do</strong> por GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1996)<br />

Para <strong>DA</strong>VIS & GOLDBERG cita<strong>do</strong> por GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1996) o<br />

fazendeiro moderno é um especialista que teve suas operações reduzidas a cultivar plantas e<br />

criar animais. As demais atividades têm si<strong>do</strong> transferidas, em larga medida, para fora da<br />

porteira da fazenda, urbanizadas e industrializadas. Para esses autores, a economia <strong>do</strong><br />

agribusiness 54 reúne hoje essencialmente as funções que eram devotadas ao termo<br />

agricultura há 150 anos atrás. A verdade é que a agricultura foi gradativamente<br />

subordinan<strong>do</strong>-se à indústria e perden<strong>do</strong> importância pela redução da sua contribuição ao<br />

valor agrega<strong>do</strong>.<br />

Finalmente, quanto a dimensão política <strong>do</strong>s CAIs, BERTRAND cita<strong>do</strong> por<br />

GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1996: 102) faz uma longa síntese sublinhan<strong>do</strong> que “O complexo<br />

53 Hoje gira em torno de 10% <strong>do</strong> PIB <strong>do</strong> país.<br />

54 <strong>DA</strong>VIS & GOLDBERG cita<strong>do</strong>s por GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1996: 65) o agribusiness é “a soma de todas<br />

as operações envolvidas no processamento e distribuição <strong>do</strong>s insumos agropecuários, as operações de<br />

produção na fazenda, e o armazenamento, processamento e a distribuição <strong>do</strong>s produtos agrícolas e seus<br />

deriva<strong>do</strong>s”<br />

CAI<br />

72


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

não é um da<strong>do</strong> a priori, um cômo<strong>do</strong> recorte estatístico ou um instrumento descritivo; ele é<br />

o resulta<strong>do</strong> de uma análise histórica, genética da constituição de uma (eventual)<br />

organização. Essa organização nasce nas condições particulares (um jogo de contrários), na<br />

busca convergente de um objeto da<strong>do</strong>, partilha<strong>do</strong> por um grupo de agentes cujos interesses<br />

não são necessariamente convergentes em to<strong>do</strong>s os pontos. A constituição <strong>do</strong> complexo<br />

necessita de um consenso entre os participantes. O complexo pode desaparecer ou se<br />

expandir se as condições mudam ou não são mais satisfeitas”.<br />

O complexo, uma vez que se organiza, define um modelo de relações internas e com<br />

o seu contexto (meio ambiente). Esse modelo é o resulta<strong>do</strong> de decisões tomadas em comum<br />

que tendem a definir regras de conduta, um ou mais produtos a valorizar, em função de uma<br />

finalidade. Ele incorpora tanto uma maneira de produzir, como de consumir (ou de utilizar)<br />

os produtos <strong>do</strong> trabalho de cada membro <strong>do</strong> complexo. Ele implica uma certa divisão de<br />

tarefas entre os membros que o produzem; e entre esses últimos e seu meio ambiente.<br />

Tarefas materiais – primeiro, de transformação <strong>do</strong>s produtos; mas igualmente um trabalho<br />

informacional de seleção entre os possíveis interlocutores e de submissão à experiência das<br />

diversas alternativas disponíveis, que são renovadas incessantemente pelo próprio<br />

progresso <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Portanto, como resulta<strong>do</strong> da industrialização, a agricultura se transforma em um elo<br />

de uma cadeia, diferentemente <strong>do</strong> ambiente fecha<strong>do</strong> <strong>do</strong> complexo rural, o resulta<strong>do</strong> é a<br />

constituição <strong>do</strong>s complexos agroindustriais. Aplican<strong>do</strong> o raciocínio de GRAZIANO <strong>DA</strong><br />

SILVA (1982) para o fato em questão, o que interessa realçar aqui é que a avicultura, assim<br />

com a agricultura, industrializa-se nesse processo, isto é, torna-se um setor subordina<strong>do</strong> ao<br />

capital, integra<strong>do</strong> à grande produção industrial. Dito de outra maneira, a avicultura se<br />

transforma num ramo de aplicação <strong>do</strong> capital em geral e, de mo<strong>do</strong> particular, <strong>do</strong> capital<br />

industrial que lhe vende insumos e compra as merca<strong>do</strong>rias aí produzidas.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

73


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

III. 2 - Apropriacionismo e Substitucionismo Industrial<br />

Os determinantes das transformações de base técnica, para GOODMAN et alli<br />

(1990), se encontram na apropriação e substituição industriais <strong>do</strong> processo de produção<br />

rural. Quan<strong>do</strong> o processo de desenvolvimento tecnológico vai para a indústria, é ele que<br />

impõe o ritmo de incorporação de inovações, e a indústria por sua vez passa a ser uma<br />

determina<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> ritmo e intensidade de inovações tecnológicas na agricultura. É a<br />

indústria que fez o melhoramento genético <strong>do</strong> frango de corte 55 , desenvolveu remédios,<br />

vacinas, a nutrição e alimentação, e os equipamentos e sua progressiva automação.<br />

Além de desenvolver a tecnologia, a indústria determina o frango que quer comprar<br />

e a tecnologia que vai ser empregada no mesmo, de maneira que o cria<strong>do</strong>r de frango de<br />

corte não desenvolve a tecnologia e nem tem autonomia de utilizar esta ou aquela<br />

tecnologia. Isto ocorria antes <strong>do</strong> apropriacionismo ocorrer. O certo é que a tecnologia não<br />

deixa margens de escolha sobre que parte utilizar ou não, pelo contrário, se deixa, diz<br />

claramente onde está a autonomia, na verdade é um pacote fecha<strong>do</strong> ou semifecha<strong>do</strong>, mas<br />

quem fecha, quem dá o “caminho” são as indústrias <strong>do</strong> setor.<br />

Para SORJ et alli (1982: 32) esse processo apresenta dupla dinâmica “o capital<br />

industrial passa a se apropriar de atividades que anteriormente eram realizadas no interior<br />

da empresa rural, e, com base nessa apropriação, passa a impor aos produtores rurais os<br />

padrões e ritmos de transformação <strong>do</strong> processo produtivo. Os produtores rurais, ou seja,<br />

aqueles cuja atividade ainda dependem em boa medida <strong>do</strong>s determinantes naturais no<br />

processo produtivo – em particular <strong>do</strong> uso extensivo da terra – ingressam, assim, num<br />

processo em que suas condições de reprodução estão superditadas e subordinadas à<br />

dinâmica <strong>do</strong> complexo avícola industrial”.<br />

55 As inovações biológicas colocam a natureza a serviço <strong>do</strong> capital, possibilitan<strong>do</strong> a transformação das<br />

atividades agrícolas em verdadeiros ramos da indústria (GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA, 1981).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

74


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

A tese central <strong>do</strong> trabalho de GOODMAN et alli (1990) é a incapacidade histórica<br />

<strong>do</strong> capital industrial em transformar o sistema agroalimentício, da produção agrícola até o<br />

consumo final <strong>do</strong> alimento, como um to<strong>do</strong> unifica<strong>do</strong>. A indústria se apropriou de frações<br />

parciais <strong>do</strong> processo produtivo rural, no caso <strong>do</strong> frango de corte, a parte que sobrou para o<br />

campo foi a criação. Se a criação não fosse mais necessária na fazenda, a indústria teria<br />

completa<strong>do</strong> seu processo de apropriação. Desta forma ele cita que os capitais industriais<br />

têm-se restringi<strong>do</strong> a apropriações parciais da atividade rural, conduzin<strong>do</strong> em diferentes<br />

conjunturas históricas à mecanização da agricultura e ao desenvolvimento de inovações<br />

químicas e genéticas. SHIKI (1996: 34) também concorda que, apesar <strong>do</strong>s avanços<br />

tecnológicos, o <strong>do</strong>mínio sobre o trabalho pelo capital agroindustrial é ainda parcial e<br />

discreto devi<strong>do</strong> aos constrangimentos naturais da produção agroalimentar. Cita ainda que<br />

“... no caso brasileiro, criou-se um espaço de reprodução da agricultura familiar e um<br />

sistema de produção altamente competitivo. A agricultura familiar tem se mostra<strong>do</strong> como<br />

estrutura organizativa da produção que melhor se adapta aos requerimentos tecnológicos e<br />

às condições de risco de produção e de merca<strong>do</strong>. No caso da avicultura, o <strong>do</strong>mínio das<br />

técnicas de manejo é a chave <strong>do</strong> sucesso e é possível somente para aqueles que têm um<br />

mínimo de capacidade de investimento e absorção <strong>do</strong> conhecimento”.<br />

A apropriação industrial 56 , por exemplo, pode ser percebida quan<strong>do</strong> constatamos<br />

que a produção de galinhas não ocorre mais na fazenda. No caso <strong>do</strong> frango de corte, ele vai<br />

para a fazenda quan<strong>do</strong> nasce e volta para a indústria cerca de um pouco mais de 40 dias<br />

depois, quan<strong>do</strong> então é abati<strong>do</strong> e processa<strong>do</strong>. Para tornar-se parte de uma sofisticada<br />

indústria de reprodução, no nível comercial, as galinhas foram as primeiras a serem<br />

exploradas comercialmente pela aplicação de técnicas de hibridação, tal como se fez antes<br />

com o milho, assim como pelos méto<strong>do</strong>s de aperfeiçoamento seletivo usan<strong>do</strong> os princípios<br />

da genética quantitativa (NORDSKOG cita<strong>do</strong> por GOODMAN et alli,1990).<br />

56 Para se ter uma noção mais concreta da apropriação das atividades produtivas pelo complexo agroindustrial,<br />

SORJ et alli (1982) cita que, no preço final <strong>do</strong> frango, em 1976, o custo da mão-de-obra numa granja de 12<br />

mil frangos representava apenas 1,5% (3,85% se incluir a previdência social).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

75


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Para GOODMAN et alli (1990) <strong>do</strong>is tipos de capitais interferem na agricultura. Os<br />

capitais apropriacionistas, associa<strong>do</strong>s principalmente com o processo de produção rural e<br />

com a transformação primária das safras, e os capitais substitucionistas associa<strong>do</strong>s a etapas<br />

de fabricação <strong>do</strong>s alimentos. Dessa forma percebemos um movimento competitivo <strong>do</strong>s<br />

capitais industriais a fim de criar setores de acumulação através da restruturação <strong>do</strong><br />

processo recebi<strong>do</strong> da produção pré-industrial. Um exemplo desse processo é instabilidade<br />

provocada pelas biotecnologias crian<strong>do</strong> uma ameaça à base rural da agricultura, colocan<strong>do</strong><br />

em cheque a própria definição de agricultura e de indústria.<br />

O caso da farinha de trigo ilustra como a substituição industrial pode transformar<br />

um produto rural num insumo industrial, de tal mo<strong>do</strong> que a qualidade ou o valor são da<strong>do</strong>s<br />

por critérios de processamento e manufatura antes que por considerações nutricionais. Esta<br />

tendência de avaliar os produtos rurais principalmente como insumos para o processamento<br />

industrial e para a comercialização está no âmago <strong>do</strong>s debates correntes sobre alimentos<br />

processa<strong>do</strong>s e nutrição. Um outro exemplo foi a produção <strong>do</strong> leite evapora<strong>do</strong> e o leite em<br />

pó que, embora produzi<strong>do</strong>s por méto<strong>do</strong>s de produção em massa, eles tinham as<br />

características que os tornavam substitutos diretos <strong>do</strong> produto natural e <strong>do</strong>s meios<br />

tradicionais de preservação <strong>do</strong> leite como, como a manteiga e o queijo.<br />

No que se refere a perspectiva mais ampla e de longo prazo, GOODMAN et alli<br />

(1990: 120) cita que “... a ação <strong>do</strong> substitucionismo via microbiologia industrial é<br />

novamente a de reduzir a importância da agricultura, definida como a produção de culturas<br />

nos campos, associada com sistemas específicos de alimentos e fibras para o processamento<br />

e distribuição”. Sublinha ainda que “as novas biotecnologias exporão crescentemente a<br />

redundância dessa concepção tradicional. Em essência, essas técnicas avançadas ameaçam<br />

trivializar a agricultura, transforman<strong>do</strong>-a em uma entre diversas fontes competitivas de<br />

matéria orgânica para conversão e fracionamento da biomassa. Assim, a posição<br />

privilegiada das culturas convencionais de campo, nos padrões atuais de uso da terra, serão<br />

crescentemente desafia<strong>do</strong>s”.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

76


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Para GOODMAN et alli (1990) o efeito cumulativo dessa tendência é obscurecer a<br />

especificidade ou identidade <strong>do</strong>s bens produzi<strong>do</strong>s no meio rural, reforçan<strong>do</strong> o movimento<br />

de longo prazo <strong>do</strong> substitucionismo para reduzir a parcela da agricultura e da terra no valor<br />

agrega<strong>do</strong> gera<strong>do</strong> pelo sistema alimentar. Finalmente, é provável que as fronteiras <strong>do</strong><br />

substitucionismo sejam definidas tanto pelos gostos e pela lealdade <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res aos<br />

alimentos orgânicos completos quanto pelas restrições técnicas e de engenharia.<br />

Portanto, o apropriacionismo e o substitucionismo constituem um movimento de<br />

interação combina<strong>do</strong> <strong>do</strong> capital no processo gradual e ininterrupto de troca das atividades<br />

rurais por atividades industriais. Neste aspecto ainda que o apropriacionismo transforme as<br />

atividades rurais em atividades industriais e, assim, afrouxe as limitações impostas pela<br />

natureza, os capitais constituí<strong>do</strong>s por esta dinâmica, entretanto, retêm laços simbióticos<br />

com o processo de produção de base rural. Estes laços também caracterizam os setores de<br />

processamento primário. A ação tendencial <strong>do</strong> substitucionismo, entretanto, é reduzir o<br />

produto rural a um simples insumo industrial, abrin<strong>do</strong> caminho para a eliminação <strong>do</strong><br />

processo rural de produção, seja pela utilização de matérias primas não-agrícolas. Seja pela<br />

criação de substitutos industriais <strong>do</strong>s alimentos e fibras.<br />

Dessa forma, o setor rural fragiliza<strong>do</strong> e subordina<strong>do</strong> ao apropriacionismo e<br />

substitucionismo industrial passa a seguir a tecnologia de criação recomendada pela<br />

indústria, isso é mais forte nas integrações devi<strong>do</strong> a intensa modernização na procura de se<br />

manter competitiva. A bem da verdade, as grandes empresas também recebem pressão<br />

semelhante, só que o elemento subordina<strong>do</strong>r é o desenvolvimento tecnológico que oferece<br />

vantagens nas relações de produção, de maneira só permanece no merca<strong>do</strong> quem se<br />

mantém atualiza<strong>do</strong>, principalmente em um merca<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong>.<br />

III. 3 - Questões Ligadas à Terra e ao Trabalho<br />

As explicações para a a<strong>do</strong>ção de inovações tecnológicas, segun<strong>do</strong> ROMEIRO<br />

(1998), era preocupação de muitos analistas na década de 60. Basea<strong>do</strong> no diagnóstico <strong>do</strong>s<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

77


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

baixos níveis de tecnificação e uso de insumos modernos pela agricultura brasileira, duas<br />

correntes de pensamento eram apresentadas para explicar o nosso atraso tecnológico. A<br />

primeira, representada pelos analistas de corte marxista ou estruturalista, admitia a<br />

existência de obstáculos de ordem estrutural, bloquean<strong>do</strong> o processo de modernização<br />

capitalista da agricultura brasileira, sen<strong>do</strong> a reforma agrária considerada condição<br />

necessária para o rompimento deste bloqueio representa<strong>do</strong> pela polarização da estrutura<br />

agrária brasileira entre o grande latifúndio arcaico (de caráter feudal) e o minifúndio<br />

impossível de se modernizar. Diante da consumação <strong>do</strong> processo de modernização nos anos<br />

70, a proposta de explicação dessa corrente de pensamento privilegia o processo de<br />

modernização agrícola como fruto da lógica <strong>do</strong> processo de acumulação <strong>do</strong> capital urbano-<br />

industrial. Sob essa ótica, modernização da agricultura passaria a ser uma necessidade<br />

objetiva <strong>do</strong> capital a partir <strong>do</strong> momento em que o processo de diversificação e<br />

complexificação <strong>do</strong> parque industrial brasileiro se completa, no final <strong>do</strong>s anos 50, através<br />

<strong>do</strong> Plano de Metas. Para ROMEIRO esta abordagem privilegia a instância<br />

macroeconômica, a lógica <strong>do</strong> processo de acumulação capitalista, mostran<strong>do</strong> o setor<br />

agrícola como um setor subordina<strong>do</strong> e passivo no processo de modernização.<br />

A segunda corrente de pensamento, representada pelos especialistas de corte<br />

neoclássico, atribuia o baixo nível tecnológico da agricultura brasileira à ausência de<br />

estímulos para a introdução de insumos e máquinas poupa<strong>do</strong>ras de terra e trabalho, da<strong>do</strong><br />

que estes eram fatores até então abundantes. A ênfase deveria ser posta nos fatores de<br />

estímulo endógenos, isto é, naqueles fatores que afetam a decisão de investir <strong>do</strong> empresário<br />

agrícola. Quan<strong>do</strong> ocorreu a modernização nos anos 70, a proposta explicativa foi que a<br />

elevação <strong>do</strong> preço da terra, fruto <strong>do</strong> processo de desenvolvimento urbano-industrial e <strong>do</strong><br />

distanciamento da fronteira agrícola, estimulou a introdução de insumos que poupassem a<br />

terra, como os fertilizantes químicos. No que concerne à mecanização poupa<strong>do</strong>ra de<br />

trabalho, esta teria si<strong>do</strong> estimulada pela alta <strong>do</strong>s salários. Essa alta <strong>do</strong>s salários, por sua vez,<br />

resultara ou da extensão da legislação de proteção social ao trabalha<strong>do</strong>r rural (salário<br />

mínimo, férias remuneradas, etc.) ou da escassez relativa de mão-de-obra provocada pelo<br />

êxo<strong>do</strong> rural. Esta abordagem privilegia a instância microeconômica, os agentes produtivos<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

78


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

<strong>do</strong> setor agrícola tomam a iniciativa nesse processo em função de fatores adversos que<br />

afetam as margens de lucro.<br />

Para ROMEIRO (1998) os principais fatores que contribuíram para as mudanças<br />

<strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de produção podem ser reuni<strong>do</strong>s em duas hipóteses: A primeira é que os<br />

agentes produtivos no setor agrícola não foram induzi<strong>do</strong>s a se modernizar, mas agiram<br />

principalmente em função de seus próprios interesses na busca de soluções para os<br />

problemas concretos de cada unidade produtiva. A segunda hipótese é a de que os<br />

aumentos <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s fatores de produção não foram importantes como fator de<br />

estímulo à mudança tecnológica; em especial, o aumento de custo <strong>do</strong> trabalho não decorreu<br />

<strong>do</strong> aumento <strong>do</strong>s salários, mas principalmente da redução da qualidade da mão-de-obra.<br />

Em pesquisa feita no Paraná, através de um questionário complementar anexo<br />

àquele destina<strong>do</strong> a avaliar o rendimento médio das principais culturas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

promovi<strong>do</strong> pela fundação IBGE, os motivos cita<strong>do</strong>s para inovar, segun<strong>do</strong> ROMEIRO<br />

(1998: 220) foram:<br />

- Em primeiro lugar, atribuí<strong>do</strong>s ao aumento da produtividade da terra;<br />

- Em segun<strong>do</strong> lugar, atribuí<strong>do</strong>s ao aumento da produtividade da terra, soma<strong>do</strong><br />

com o aconselhamento técnico de agentes extensionistas ou de vende<strong>do</strong>res de<br />

insumos;<br />

- Em terceiro lugar, atribuí<strong>do</strong>s ao aumento da produtividade da terra mais os<br />

problemas relaciona<strong>do</strong>s a mão-de-obra.<br />

Consideran<strong>do</strong> os estratos por área, a produtividade da terra aparece como principal<br />

motivo da a<strong>do</strong>ção de novas tecnologias. A diferença mais significativa entre<br />

estabelecimentos pequenos e grandes é que, para os primeiros, os problemas relaciona<strong>do</strong>s<br />

com a mão-de-obra são pouco importantes, visto que nestes pre<strong>do</strong>mina o trabalho familiar,<br />

enquanto, para os últimos, estes representam o segun<strong>do</strong> motivo mais importante para a<strong>do</strong>tar<br />

novas tecnologias.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

79


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Com relação à mão-de-obra, se analisa<strong>do</strong> por perío<strong>do</strong>, a maioria <strong>do</strong>s<br />

estabelecimentos tem como força de trabalho principal a mão-de-obra familiar. A partir de<br />

1965 ocorre um forte aumento <strong>do</strong> trabalho temporário e a queda <strong>do</strong> trabalho permanente,<br />

bem como a inversão dessa tendência a partir de 1980. Sen<strong>do</strong> o principal motivo aponta<strong>do</strong><br />

para substituição <strong>do</strong> trabalho temporário por máquinas foi a redução da qualidade da mão-<br />

de-obra 57 , entre 1965 e 1980, e soma<strong>do</strong> à dificuldade de recrutamento divide o lugar de<br />

principal estimula<strong>do</strong>r da mecanização, a partir de 1980.<br />

A criação ou destruição das condições de existência de múltiplas formas de<br />

produção rural é determinada, segun<strong>do</strong> SHIKI (1996), pelo grau e forma através <strong>do</strong> qual os<br />

capitais agroindustriais superam limitações da terra e outros fatores naturais que<br />

caracterizam o processo de trabalho rural. Cita ainda que a barreira à acumulação<br />

representada pela terra e natureza biológica <strong>do</strong> processo produtivo é removida através das<br />

inovações tecnológicas.<br />

O progresso técnico, na opinião de GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988), tem seu efeito<br />

determinante de transformações da base técnica a partir <strong>do</strong> momento em que interfere<br />

diretamente sobre o uso da terra. As terras 58 são bens naturais relativamente não-<br />

reprodutíveis e limita<strong>do</strong>s em sua disponibilidade física, tanto <strong>do</strong> ponto de vista quantitativo,<br />

como qualitativo. Assim, um papel fundamental <strong>do</strong> progresso técnico (tecnologias) na<br />

agricultura é o de “fabricar terras apropriadas” aos ramos de atividade. Para exemplificar<br />

esse efeito, GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988) cita que, quan<strong>do</strong> adubamos uma certa gleba e<br />

obtemos dela o <strong>do</strong>bro de produção esperada, é como se tivéssemos fabrica<strong>do</strong> uma outra<br />

parcela equivalente de terras. Cita ainda que, o mesmo ocorre quan<strong>do</strong> damos ração ao ga<strong>do</strong><br />

57 A problemática da mão-de-obra teve na especialização, segun<strong>do</strong> Taylor, a forma de ganhar eficiência<br />

(departamentalização), entretanto o ritmo <strong>do</strong> trabalho, de maneira a integrar a equipe como se fosse uma<br />

orquestra sinfônica, tem em Ford (Fordismo) a solução a partir <strong>do</strong> princípio da esteira. O momento atual<br />

destrói paradigmas <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, pois o intenso processo de automação recente permitin<strong>do</strong> a diminuição da<br />

mão-de-obra, caracteriza a produção flexível (Toyotismo) se apresenta como novidade no presente<br />

(COUTINHO, 1992).<br />

58 Em certas produções industriais, como a de flores, cogumelos e aves, a terra funciona como mero suporte<br />

físico, a semelhança de uma indústria. Nessas condições, a alimentação das plantas e animais são<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

80


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

e conseguimos obter uma produção que necessitaria de uma área de pastos muito maior,<br />

caso não fosse suplementada a sua alimentação.<br />

Portanto, quan<strong>do</strong> se analisa a mudança tecnológica, entende-se que os incentivos<br />

para aquisição de novas tecnologias são econômicos, dessa forma, deixa claro que a<br />

tecnologia que foi desenvolvida e a<strong>do</strong>tada é por que era mais rentável, contribuin<strong>do</strong> para a<br />

resolução da questão <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong> valor da terra e/ou eficiência <strong>do</strong> trabalho. Neste<br />

aspecto SALTER cita<strong>do</strong> por ROMEIRO (1998: 129), afirma claramente que “o empresário<br />

tem interesse na redução global <strong>do</strong>s custos e não apenas <strong>do</strong> custo de um fator de produção<br />

isoladamente. Quan<strong>do</strong> o custo <strong>do</strong> trabalho aumenta, toda inovação que reduza o custo total<br />

é bem-vinda, seja ela poupa<strong>do</strong>ra de trabalho ou de capital”.<br />

III. 4 - Políticas Públicas e Financiamento<br />

Neste item é apresentada a participação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como agente integra<strong>do</strong>r e<br />

regula<strong>do</strong>r nos complexos agroindustriais, a sua contribuição para o crescimento da<br />

avicultura através de políticas públicas desde a década de 60 e os financiamentos recentes<br />

com a participação pública no Centro-Oeste.<br />

III. 4. 1 - A Participação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nos Complexos Agroindustriais.<br />

O sistema de crédito patrocina<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong> é quem possibilita a integração, entre<br />

a propriedade territorial, o capital industrial e o “grande capital” em um movimento de<br />

integração de capitais no complexo agroindustrial. Na verdade o agente integra<strong>do</strong>r por<br />

excelência é o Esta<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> assume o papel de “grande capitalista” financeiro.<br />

Para DELGADO (1985), o CAI brasileiro opera como se estivesse totalmente<br />

integra<strong>do</strong> verticalmente, com uma cabeça financeira que é o próprio Esta<strong>do</strong>. A unidade<br />

artificialmente fabricadas, bem como o próprio espaço físico, na medida em que é possível sucessivos andares<br />

sobre o mesmo substrato (GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA, 1988)<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

81


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

analítica que deriva daí não é a <strong>do</strong>s ramos de atividade nem a das cadeias produtivas, mas<br />

sim a <strong>do</strong>s próprios grupos econômicos de capitais integra<strong>do</strong>s. O Esta<strong>do</strong> aparece como o<br />

regula<strong>do</strong>r desses grupos de capitais, administran<strong>do</strong> os financiamentos, redirecionan<strong>do</strong> esses<br />

capitais para distintos ramos através de penalizações/incentivos, etc. O Esta<strong>do</strong> 59 fica acima<br />

<strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong>s capitais particulares, administran<strong>do</strong> a competição intercapitalista.<br />

O espaço <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> para a consolidação <strong>do</strong> complexo agroindustrial só foi<br />

possível graças a uma política expansionista, que aumentou a demanda por insumos<br />

modernos. O principal mecanismo de articulação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para atender os interesses<br />

agroindustriais foi a concessão de crédito a taxas de juros negativas, além de outras<br />

condições, favoráveis de financiamento (prazos e carências elásticas). No ramo da pecuária,<br />

as industrias frigoríficas, de laticínios e avicultura (ramos caracteriza<strong>do</strong>s por maior<br />

concentração e integração de capitais) são, de longe, os grandes beneficiários <strong>do</strong> crédito de<br />

comercialização rural.<br />

Nas palavras de DELGADO (1985: 87) “a própria política de garantia de preços<br />

mínimos, que isoladamente compreende mais de 40% <strong>do</strong> crédito de comercialização<br />

agrícola, atingin<strong>do</strong> 65% em 1982, está também fortemente vincula<strong>do</strong> ao critério de<br />

integração de capitais, para efeito de acesso aos seus benefícios”. Conforme apresenta<strong>do</strong> na<br />

Tabela 15, quase to<strong>do</strong> o crédito de comercialização rural, concedi<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> de 1977 a<br />

1980, foi direciona<strong>do</strong> aos setores capitalistas de alta integração de capitais, como, como as<br />

cooperativas e principalmente as agroindústrias.<br />

59 Um <strong>do</strong>s efeitos negativos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> que dificulta o progresso técnico na agricultura é o próprio capital, em<br />

função da contradição entre a necessidade de garantir apropriação privada <strong>do</strong>s seus benefícios. Isso faz com<br />

que as pesquisas biológicas nos países capitalistas sejam públicas ou de associações de empresas e raramente<br />

<strong>do</strong>s capitalistas toma<strong>do</strong>s individualmente. Para GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988), isso ocorre pelo fato de<br />

exigirem grandes investimentos e prazos relativamente longos para os retornos deseja<strong>do</strong>s, ou seja, porque é<br />

muito difícil a apropriação privada desses resulta<strong>do</strong>s por capitais individuais. Constitui exemplo bem<br />

sucedi<strong>do</strong> de apropriação o milho híbri<strong>do</strong> que tem suas sementes adquiridas anualmente pelo agricultor, já que<br />

a utilização de sementes produzidas na fazenda por gerações sucessivas leva à perda <strong>do</strong> vigor inicial. Um caso<br />

semelhante ocorre na avicultura, onde as matrizes de alta linhagem necessitam de tal sofisticação para serem<br />

reproduzidas, que esses méto<strong>do</strong>s passam a constituir um segre<strong>do</strong>, ou a patente daquela raça. Alguns países<br />

europeus e os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s já possuem até mesmo uma legislação de proteção aos cultivares ou lei de<br />

patentes vegetais, que estabelece que toda nova variedade obtida por meio de pesquisa somente pode ser<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

82


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

TABELA 15 – Participação % <strong>do</strong>s Principais Clientes nos Financiamentos<br />

Concedi<strong>do</strong>s pela Política de Preços Mínimos no Brasil.<br />

Safras Produtores individuais Cooperativas de<br />

Produtores rurais<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

Agroindústrias comércio<br />

e outros<br />

1977-78 13,3 21,9 64,8<br />

1978-79 4,8 22,5 72,7<br />

1979-80 7,8 23,0 69,2<br />

Fonte: DELGADO (1985).<br />

Dessa forma a reunião <strong>do</strong> conjunto de mudanças e inovações sintetizadas pelo<br />

desenvolvimento <strong>do</strong> sistema de crédito, a consolidação <strong>do</strong> complexo agroindustrial 60 , o<br />

surgimento das formas específicas de conglomeração de capitais na agricultura e,<br />

finalmente, a transformação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de terras num ramo especial <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

financeiro estão fortemente imbricadas com o desenvolvimento da regulação estatal da<br />

economia rural.<br />

Portanto, o Esta<strong>do</strong> se apresenta como o grande integra<strong>do</strong>r e regula<strong>do</strong>r da economia,<br />

um exemplo disso pode ser percebi<strong>do</strong> pela concessão de créditos a taxas de juros negativas<br />

e as políticas de garantia de preços mínimos que favoreceram o dinamismo <strong>do</strong>s complexos<br />

agroindustriais.<br />

III. 4. 2 - Políticas Públicas que Beneficiaram a Avicultura<br />

A presença <strong>do</strong> setor público na atividade avícola pode ser constatada em várias<br />

épocas e sobre vários aspectos, incluin<strong>do</strong> incentivos via pesquisa, financiamentos e<br />

políticas públicas para o setor, desde a década de 60.<br />

multiplicada ou comercializada pelo seu cria<strong>do</strong>r, entendi<strong>do</strong> este como o que tenha registra<strong>do</strong> a sua patente<br />

(GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA, 1981).<br />

60 No seio <strong>do</strong> complexo não coexistem, portanto, apenas os agricultores, as firmas, os comerciantes, mas<br />

também forças intelectuais: a pesquisa, as agencias de divulgação de técnicas ou a publicidade e o crédito.<br />

Nessa concepção, o Esta<strong>do</strong> não é apenas o lócus onde essas diferentes forças se confrontam e se aliam, mas<br />

também um ator mais ou menos forte na configuração e na polarização <strong>do</strong>s interesses que se organizam.<br />

83


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Para SORJ et alli (1982), a avicultura industrial é um setor inexplicável se for<br />

abstraída <strong>do</strong> componente Esta<strong>do</strong>, já que ao recriar as condições sócio-econômicas para a<br />

acumulação, o Esta<strong>do</strong> cria também as condições para a associação ou a articulação com o<br />

capital externo e para o avanço no senti<strong>do</strong> de centralização e dinamização <strong>do</strong> moderno<br />

capital. Citam, ainda, que o complexo avícola brasileiro teve a sua expansão apoiada no<br />

crédito público subsidia<strong>do</strong> que permitiu o ingresso, no setor, <strong>do</strong>s mais varia<strong>do</strong>s tipos de<br />

produtores. Mais especificamente em <strong>do</strong>is grandes tipos de produtores rurais avícolas, as<br />

unidades produtivas familiares de pequeno e médio porte e as grandes empresas, fundadas<br />

no trabalho assalaria<strong>do</strong><br />

Em 1965, o Governo Federal, inicia sua participação no complexo avícola,<br />

publican<strong>do</strong> o decreto n o 55.981 de 22 de abril, proibin<strong>do</strong> a importação de matrizes a partir<br />

de 1968 e instalan<strong>do</strong> o plano de melhoramento de aves de postura e corte, no Instituto de<br />

Pesquisas Agropecuárias <strong>do</strong> Centro Sul 61 , a partir de tal decreto deixou-se de importar<br />

matrizes, que passaram a ser produzidas internamente, em conseqüência, o setor avícola<br />

especializou-se em granjas de aves “avós” de matrizes e de produção final.<br />

Para GODOY (1999), o efeito positivo desse decreto <strong>do</strong> governo foi a limitação da<br />

entrada no país, somente de pintos e/ou ovos férteis das linhagens “avós”. Resulta<strong>do</strong> ou não<br />

de lobbies de multinacionais da avicultura, a medida não só ordenou o desenvolvimento da<br />

atividade, mas também trouxe para cá a mais moderna tecnologia então disponível para<br />

produção de matrizes (multinacionais aqui presentes precisavam assegurar-se de que seu<br />

produto atingiria os melhores índices de produtividade; daí a transferência dessa<br />

tecnologia).<br />

Na década de 1970 o governo implanta a federalização nos abate<strong>do</strong>uros. Uma<br />

medida que, embora abrangen<strong>do</strong> abate<strong>do</strong>uros de aves, bovinos ou suínos, levou a indústria<br />

avícola a buscar novas tecnologias também para o processamento. Isso contribuiu para<br />

61 Onde segun<strong>do</strong> GIANNONI&GIANNONI (1983), ocorreram os primeiros e únicos “testes de amostragem<br />

ao acaso” para frangos de corte.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

84


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

colocar o setor de vez à frente <strong>do</strong>s demais segmentos produtores de carnes. É nessa mesma<br />

década (1975) que o setor iniciou as exportações de carne de frango, e a necessidade de<br />

atender às exigências <strong>do</strong>s países importa<strong>do</strong>res impulsionou ainda mais o avanço<br />

tecnológico da atividade.<br />

Na década de 1980 sob a égide <strong>do</strong> congelamento geral de preços <strong>do</strong> Plano Cruza<strong>do</strong><br />

(1986, <strong>do</strong> presidente José Sarney), os governos (federal, estaduais e municipais) saem “à<br />

caça <strong>do</strong> boi no pasto”. Mas a “caça” foi infrutífera e os meios de comunicação se<br />

incumbiram de criar uma verdadeira aversão aos pecuaristas e ao seu produto, direcionan<strong>do</strong><br />

o consumi<strong>do</strong>r para o frango. Começou a firmar-se, então, a definitiva modificação de<br />

hábitos <strong>do</strong>s brasileiros, da carne bovina para o frango 62 .<br />

Na década de 1990 o presidente Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so faz <strong>do</strong> frango o garoto-<br />

propaganda (“âncora”) <strong>do</strong> Plano Real, lança<strong>do</strong> em 1994 por seu antecessor, Itamar Franco.<br />

Posteriormente, a avicultura reconheceria que essa opção pelo frango foi negativa, pois<br />

estigmatizou o produto como a “carne de 1 real”, impedin<strong>do</strong> que tivesse os necessários<br />

ajustes de preço no decorrer <strong>do</strong> tempo. Ainda assim, é inegável que essa “eleição”<br />

favoreceu a avicultura, na medida em que gerou, em toda a mídia brasileira, uma ampla<br />

campanha de divulgação <strong>do</strong> frango, algo que até hoje o próprio setor foi incapaz de realizar.<br />

Com ela, enraizou-se ainda mais o hábito de consumo <strong>do</strong> frango, a ponto de ser considerada<br />

a proteína mais democrática <strong>do</strong> país, já que está presente sem muitas diferenças na mesa<br />

<strong>do</strong>s ricos e pobres (IBGE, 1999).<br />

Portanto a presença <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> benefician<strong>do</strong> a avicultura pôde ser percebida: através<br />

da proibição da importação de matrizes, internalizan<strong>do</strong> parte da produção genética <strong>do</strong><br />

frango na década de 60, federalizan<strong>do</strong> o abate, levan<strong>do</strong> os abate<strong>do</strong>uros a buscarem novas<br />

62 É interessante observar que, naquela época, de certa forma desmoraliza<strong>do</strong> com o desaparecimento <strong>do</strong> boi<br />

que, assim, não se sujeitou ao congelamento de preços, o governo federal convocou a avicultura para<br />

preencher a lacuna existente e assegurar o abastecimento de carnes <strong>do</strong> País. E a avicultura se ampliou. Só que,<br />

quan<strong>do</strong> a expansão da produção chegou ao “ponto de maturação”, o Plano Cruza<strong>do</strong> já havia acaba<strong>do</strong>. Como<br />

resulta<strong>do</strong>, a avicultura amargou, em 1988, a perda de uma produção da ordem de 500 milhões de pintos de<br />

corte (GODOY, 1999).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

85


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

tecnologias, permitin<strong>do</strong> inclusive a exportação a partir desta época, já que foram atendidas<br />

as exigências <strong>do</strong>s países importa<strong>do</strong>res e nas duas últimas décadas onde o frango recebeu<br />

grande impulso <strong>do</strong> governo ora pela propaganda negativa contra os bovinos na década de<br />

80 ou pelo rótulo de carne de 1 real na década de 90.<br />

III. 4. 3 - Financiamentos Recentes para a Avicultura<br />

Observa-se, em momento recente, a mudança da localização <strong>do</strong>s novos<br />

investimentos na área da avicultura de corte. O Centro-Oeste tem si<strong>do</strong> a região que mais<br />

tem recebi<strong>do</strong> empresas nessa área. A respeito deste aspecto HELFAND & RESENDE<br />

(1998) citam que as políticas públicas nesta região estão favorecen<strong>do</strong> os investimentos. O<br />

FCO 63 (Fun<strong>do</strong> Constitucional de Financiamento <strong>do</strong> Centro-Oeste) beneficia investimentos<br />

nesta região relativamente ao Sul (local onde tradicionalmente estão os grandes<br />

investimentos avícolas). Incentivos ficais em nível estadual estão, também, induzin<strong>do</strong> as<br />

empresas a se expandirem nesta direção. Além <strong>do</strong>s incentivos, a mudança para o Centro-<br />

Oeste permite às grandes empresas começarem <strong>do</strong> zero no redesenho das instituições de<br />

integração e tem a vantagem adicional de evitar custo de relocalização <strong>do</strong> que poderia ser<br />

um processo penoso, e politicamente explosivo, de ajustamento no Sul.<br />

ORTEGA (2000) cita que os governos <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s de Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, Goiás e<br />

o <strong>do</strong> Distrito Federal têm atua<strong>do</strong> mais agressivamente na atração de empresas, a partir de<br />

incentivos fiscais. Mato Grosso <strong>do</strong> Sul por exemplo atualmente oferece 67% de isenção de<br />

ICMS por até 15 anos, prorrogável por outros 15 anos e, para o perío<strong>do</strong> posterior, existe<br />

uma previsão de financiamento de parte <strong>do</strong> ICMS, a partir de regulamentação a ser<br />

elaborada. Mesmo com as isenções dessa política já houve um aumento da arrecadação de<br />

ICMS de 40%, entre 1998 e 1999, devi<strong>do</strong> principalmente ao combate da sonegação.<br />

63 O FCO (Fun<strong>do</strong> Constitucional de Financiamento <strong>do</strong> Centro Oeste), foi o responsável pelo desenvolvimento<br />

da avicultura de corte, com recursos subsidia<strong>do</strong>s, na região de Doura<strong>do</strong>s - MS (SHIKI,1996).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

86


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Em Goiás, o incentivo fica por conta <strong>do</strong> financiamento de 70% <strong>do</strong> ICMS por 15<br />

anos, com prazo de 15 anos para pagamento, a juros de 2,4% a.a., sem atualização<br />

monetária. O mesmo incentivo é concedi<strong>do</strong> no Distrito Federal. No caso específico da<br />

instalação <strong>do</strong> complexo agroindustrial da Perdigão em Rio Verde (Projeto Buriti), a<br />

implantação teve a sua atratividade baseada na concessão, pelo Esta<strong>do</strong> de Goiás, <strong>do</strong><br />

diferimento <strong>do</strong> ICMS para atrair o investimento, em detrimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais.<br />

Como têm aconteci<strong>do</strong>, nos últimos anos, os Governos de Minas Gerais e Goiás<br />

envolveram-se em uma acirrada guerra fiscal, para atrair este empreendimento. Embora não<br />

fosse um fator imprescindível, pesou bastante na decisão final da Perdigão, o diferimento<br />

<strong>do</strong> ICMS concedi<strong>do</strong> por Goiás. Todavia o que realmente teve maior relevância foi a<br />

possibilidade de utilização de financiamento com utilização de recursos <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong><br />

Constitucional <strong>do</strong> Centro-Oeste (FCO) a taxas de juros reduzidas como incentivo de<br />

desenvolvimento da região Centro-Oeste, fator inexistente no Esta<strong>do</strong> de Minas.<br />

O projeto Buriti da Perdigão em Rio Verde consiste na implantação de um sistema<br />

completo de integração avícola e suinícola envolven<strong>do</strong> um investimento de US$ 300<br />

milhões. O empreendimento é constituí<strong>do</strong> por:<br />

- Um frigorífico de aves com capacidade para abater 281 mil cabeças/dia;<br />

- Um frigorífico de suínos para 3.500 cabeças/dia;<br />

- Uma fábrica de rações para 60.000 t/mês;<br />

- Duas granjas de matrizes de aves (1.738.000 ovos/semana);<br />

- Um incubatório de aves (1.460.000 pintos/semana); e<br />

- 834 módulos de integração (aves e suínos). Cada galpão de frangos de corte terá a<br />

capacidade de alojar 24 mil aves 64 .<br />

No esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Tocantins, além da possibilidade de financiamento através <strong>do</strong>s<br />

recursos da Sudam e <strong>do</strong> FCO, existe o Programa de Incentivo ao Desenvolvimento<br />

Econômico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Tocantins (Prosperar), com recursos <strong>do</strong> ICMS, que é libera<strong>do</strong> em<br />

64 Sen<strong>do</strong> recomenda<strong>do</strong> no mínimo 4 galpões de por propriedade em função da viabilidade para o integra<strong>do</strong>.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

87


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

70% <strong>do</strong> recolhimento mensal para implantação de novos projetos e 50% no caso de<br />

expansão de projetos.<br />

Os principais projetos em instalação no Esta<strong>do</strong> são os seguintes: Da Brazialian<br />

Chicken Alimentos, que em Porto Nacional está investin<strong>do</strong> US$ 45 milhões num<br />

abate<strong>do</strong>uro para 140 mil frangos/dia a partir de 2001, com aves produzidas por 300<br />

integra<strong>do</strong>s. Toda a produção será dirigida à empresa italiana Gramilini SPA. Outro<br />

empreendimento importante é o <strong>do</strong> Grupo Asa Alimentos, de Brasília, que está investin<strong>do</strong><br />

R$ 1 milhão para duplicar sua capacidade de 60 mil frangos/dia na planta de Paraíso de<br />

Tocantins e instalan<strong>do</strong> um abate<strong>do</strong>uro com capacidade para abater 150 mil frangos/dia no<br />

município de Aguiarnópolis, na divisa com Maranhão, com a integração de 60 pequenos<br />

produtores. Esses projetos contam, ainda, com a ampliação recente da produção de soja e<br />

milho no esta<strong>do</strong>, para utilização como matéria prima na produção de ração (ORTEGA,<br />

2000: 15).<br />

As mesmas forças econômicas (preços relativos) que induzem as mudanças técnicas<br />

tendem a induzir também as mudanças institucionais necessárias para viabilizar a<br />

introdução das novas técnicas. Do mesmo mo<strong>do</strong>, as respectivas ofertas de inovações<br />

técnicas e de inovações institucionais são geradas por forças similares: os avanços nos<br />

conhecimentos científicos em geral<br />

Portanto, os governos <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s de Mato Grasso <strong>do</strong> Sul, Goiás e <strong>do</strong> Distrito<br />

Federal têm si<strong>do</strong> mais agressivos na atração de empresas a partir de incentivos fiscais e a<br />

existência de recursos <strong>do</strong> FCO, a taxas de juros reduzidas para o desenvolvimento <strong>do</strong><br />

Centro-Oeste.<br />

III. 5 - Conclusão<br />

Em resumo, as transformações da base técnica podem ser explicadas sob a<br />

inspiração de GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA pela desagregação <strong>do</strong> complexo rural e formação<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

88


DETERMINANTES <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

<strong>do</strong>s complexos agroindustriais, ou seja, uma estrutura com características auto-suficientes é<br />

substituída por outra ligada a jusante e a montante a indústria. Para GOODMAN o<br />

apropriacionismo e substitucionismo industrial foram os responsáveis pelas modificações<br />

ocorridas no campo; ele se baseia na tese de que a indústria se apropria das atividades <strong>do</strong><br />

campo através <strong>do</strong> desenvolvimento tecnológico, substituin<strong>do</strong> com eficiência atividades, que<br />

no caso da avicultura, se concentram na área da genética, nutrição e mecânica. Esse<br />

processo é tão intenso que sobrou para o campo apenas a criação <strong>do</strong> frango (por isso a<br />

apropriação é dita parcial). Questões ligadas à terra e ao trabalho para ROMEIRO explicam<br />

o que ocorreu no campo. Segun<strong>do</strong> o autor, a economia de terra, devi<strong>do</strong> o seu custo, com a<br />

aplicação de tecnologia aumentan<strong>do</strong> a produtividade e à economia da mão-de-obra, devi<strong>do</strong><br />

também ao custo e a baixa eficiência humana, tem justifica<strong>do</strong> as modificações poupa<strong>do</strong>ras<br />

de terra e trabalho. Cita ainda que existe um ambiente de crise agrícola, não apenas pelo<br />

desequilíbrio entre a oferta e procura, mas pela diminuição da flexibilidade de ajuste face às<br />

pressões que tendem a comprimir a renda <strong>do</strong> agricultor, seja pelo la<strong>do</strong> da demanda<br />

(tendência à queda <strong>do</strong>s preços), seja pelo la<strong>do</strong> da oferta (tendência à elevação <strong>do</strong>s custos<br />

devi<strong>do</strong> à degradação <strong>do</strong> ecossistema agrícola).<br />

Em vários momentos o Esta<strong>do</strong>, também, foi um <strong>do</strong>s elementos que contribuiu para o<br />

desenvolvimento da avicultura industrial, seja pela regulamentação da importação de<br />

pintinhos avozeiros, seja por financiamento, pela pesquisa através de instituições de<br />

pesquisa e universidades, políticas públicas benefician<strong>do</strong> o setor, utilização <strong>do</strong> frango como<br />

garoto propaganda <strong>do</strong> plano real e participação atual no financiamento de novas unidades<br />

produtivas de frangos de corte no Centro-Oeste<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

89


CAPÍTULO IV<br />

IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Este capítulo apresenta os impactos identifica<strong>do</strong>s pelas transformações da base<br />

técnica. Foram identifica<strong>do</strong>s impactos: na relação capital X trabalho, na utilização de<br />

propriedades com mão-de-obra familiar, na especialização da produção, na geração de<br />

empregos e na localização das granjas. Apresenta também um item de impactos previstos<br />

para Rio Verde conforme Estu<strong>do</strong> de Impacto Ambiental e Relatório Impacto ao Meio<br />

Ambiente (EIA-RIMA) aprova<strong>do</strong> pela FEMAGO 65 .<br />

IV. 1 - Relação Capital x Trabalho<br />

A relação capital x trabalho na avicultura de corte se estabelece na forma de três<br />

sistemas de produção, são eles: a produção independente, o cooperativo e a integração<br />

(parceria).<br />

IV. 1. 1 - Sistema de “Produção Independente”<br />

O sistema de produção independente é aquele onde o produtor é responsável por<br />

to<strong>do</strong> o processo de produção <strong>do</strong> frango, toda e qualquer decisão ten<strong>do</strong> caráter pessoal. Os<br />

riscos envolvi<strong>do</strong>s na produção e comercialização são de inteira responsabilidade de tal<br />

produtor. Devi<strong>do</strong> às características próprias de tal sistema, ele é mais encontra<strong>do</strong> nas<br />

proximidades de cidades pequenas e médias. Os cria<strong>do</strong>res independentes produtores de<br />

frango de corte nem sempre possuem abate<strong>do</strong>uros e frigoríficos, já que essa atividade<br />

65 Fundação Estadual <strong>do</strong> Meio Ambiente de Goiás.


IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

significa um grande investimento, impon<strong>do</strong> dificuldades aos pecuaristas em integrar toda a<br />

sua produção. Raros são os casos em que cria<strong>do</strong>res independentes conseguem esse grau de<br />

verticalização, desde a produção da ração até o abate (ORTEGA,1988).<br />

São os cria<strong>do</strong>res independentes produtores de ovos que mais comumente<br />

conseguem integrar sua produção, mesmo porque os investimentos com separação e<br />

embalagem <strong>do</strong>s ovos são bem menores que com instalação de abate<strong>do</strong>res. Para os cria<strong>do</strong>res<br />

que vendem sua produção, seja para abate, seja para seleciona<strong>do</strong>res, embala<strong>do</strong>res e<br />

distribui<strong>do</strong>res de ovos, sua independência está restrita ao não-controle de sua produção por<br />

uma integração e estão menos subordina<strong>do</strong>s à indústria a montante da agricultura caso<br />

produzam sua própria ração. Entretanto, sua subordinação se faz junto às indústrias à<br />

jusante, no caso os abate<strong>do</strong>uros ou comercializa<strong>do</strong>res de ovos. Portanto estão apenas<br />

parcialmente verticaliza<strong>do</strong>s.<br />

Para GODOY (2000) este sistema de produção, apesar de ter diminuí<strong>do</strong> bastante,<br />

não desaparecerá. Para ele existe muito espaço disponível, principalmente em áreas não<br />

exploradas pela grande indústria, sem mencionar outras potencialidades como a crescente<br />

busca por alimentos naturalmente produzi<strong>do</strong>s, atenden<strong>do</strong> demanda específica, que<br />

poderiam ser direciona<strong>do</strong>s a pequenos e médios produtores, sem o compromisso de manter<br />

seu merca<strong>do</strong> mediante volume produzi<strong>do</strong>.<br />

IV. 1. 2 - Sistema de Produção “Cooperativo”<br />

O sistema cooperativo é aquele onde o cria<strong>do</strong>r participa da organização e das<br />

decisões, corren<strong>do</strong> os riscos de um eventual fracasso comercial das operações. A<br />

cooperativa muitas vezes produz os seus insumos, como pintinhos e rações, consumi<strong>do</strong>s<br />

dentro <strong>do</strong> próprio sistema, estes são repassa<strong>do</strong>s aos coopera<strong>do</strong>s pelo custo de produção. No<br />

final <strong>do</strong> ciclo <strong>do</strong> lote, os frangos têm, agrega<strong>do</strong> aos insumos, as demais despesas <strong>do</strong> lote<br />

(aquecimento, cama, mão-de-obra <strong>do</strong> coopera<strong>do</strong>, etc.). As despesas administrativas,<br />

técnicas e operacionais também são agregadas ao custo e rateadas entre o total de frangos<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

91


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

produzi<strong>do</strong>s. Os lucros obti<strong>do</strong>s podem ser destina<strong>do</strong>s a novos investimentos pela<br />

cooperativa, com distribuição de quotas entre os coopera<strong>do</strong>s; ou manti<strong>do</strong>s em reserva, para<br />

aplicação no merca<strong>do</strong> financeiro; ou finalmente, distribuí<strong>do</strong>s entre os coopera<strong>do</strong>s, com<br />

dividen<strong>do</strong>s proporcionais às quotas de participação (COTTA, 1997).<br />

A produção por parte das cooperativas, em função da necessidade de centralizar a<br />

produção e competir com grupos priva<strong>do</strong>s, possibilidade de garantir escoamento da<br />

produção, sobrevivência com atuação característica de grande empresa capitalista, atuação<br />

distanciada <strong>do</strong> conjunto <strong>do</strong>s associa<strong>do</strong>s e encastelamento de um grupo dirigente no poder,<br />

agin<strong>do</strong> de formas a garantir interesses próprios, para ORTEGA (1988), acaba justifican<strong>do</strong><br />

sua inclusão no mesmo item da produção integrada. De maneira que apresentan<strong>do</strong> um<br />

comportamento semelhante ao de uma empresa privada, as vantagens apresentadas pelas<br />

cooperativas são também semelhantes às apresentadas pela integração privada<br />

A diferença básica entre o sistema cooperativo e o sistema priva<strong>do</strong> de integração,<br />

está na participação <strong>do</strong> produtor na construção <strong>do</strong> capital social da empresa e no processo<br />

de decisão <strong>do</strong>s destinos da cooperativa. Quanto ao futuro deste sistema, COUTINHO<br />

(1995) sublinha que haverá necessidade de uma grande transformação no cooperativismo<br />

de produção, dessa forma o aumento da competitividade num ambiente econômico cada<br />

vez mais liberal vai direcionar as cooperativas a reverem diversos pontos de sua <strong>do</strong>utrina.<br />

Neste aspecto ORTEGA (2000) cita que essa forma de produção vem sen<strong>do</strong> muito<br />

desacreditada nos últimos anos e sugere que devem ser procuradas novas formas de<br />

associação 66 para os pequenos e médios produtores ganharem competitividade.<br />

IV. 1. 3 - Sistema de Produção por “Integração”<br />

O sistema integração na avicultura, consiste em incorporar à atividade principal de<br />

uma empresa, todas aquelas outras que a ela se ligam no ciclo de produção <strong>do</strong> frango<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

92


IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

abati<strong>do</strong>. O contrato de integração é feito principalmente entre empresas que se<br />

complementam no processo produtivo. De um mo<strong>do</strong> geral, a empresa maior (integra<strong>do</strong>ra)<br />

fornece o material de base, ou seja os pintinhos de um dia, a ração, os medicamentos, as<br />

vacinas e desinfetantes, a assistência técnica, além de se encarregar <strong>do</strong> transporte, <strong>do</strong> abate<br />

e da comercialização. Enquanto o cria<strong>do</strong>r 67 (integra<strong>do</strong>) aporta as suas instalações,<br />

equipamentos, aquecimento, forração <strong>do</strong> galpão (cama) e o seu trabalho. No final <strong>do</strong> ciclo,<br />

o lote é retira<strong>do</strong> pelo abate<strong>do</strong>uro (faz parte da integra<strong>do</strong>ra), o qual se encarrega da<br />

comercialização <strong>do</strong> frango e o integra<strong>do</strong> recebe uma remuneração 68 pela criação das aves<br />

(COTTA, 1997).<br />

Este sistema é regi<strong>do</strong> por um contrato de integração feito entre as partes<br />

interessadas, conten<strong>do</strong> os direitos e deveres recíprocos. Ele apresenta cláusulas gerais e<br />

muitas vezes mal definidas, não se confundin<strong>do</strong>, entretanto com um simples contrato de<br />

fornecimento, ten<strong>do</strong> por única cláusula um preço combina<strong>do</strong> (COTTA, 1997).<br />

66<br />

Uma alternativa sugerida por ORTEGA (2000) é a utilização, via associação em con<strong>do</strong>mínios, de um selo<br />

de garantia e marca, com o marketing destacan<strong>do</strong> as qualidades <strong>do</strong> frango, por exemplo: frango sem<br />

antibióticos, hormônios e alimenta<strong>do</strong> com ração que não utiliza produtos transgênicos como matéria prima.<br />

67<br />

As integrações no Sul têm incentiva<strong>do</strong> os seus integra<strong>do</strong>s a cultivarem algum produto que seja matériaprima<br />

na composição da ração utilizada na criação. O milho é o produto preferencial, caso o integra<strong>do</strong> tenha<br />

um mistura<strong>do</strong>r a integração lhe fornece o concentra<strong>do</strong> ao qual se adiciona o milho. Não possuin<strong>do</strong> o<br />

equipamento, a firma integra<strong>do</strong>ra pode comprar sua produção de milho, resolven<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> seu problema na<br />

aquisição de matéria-prima, fundamental na produção de rações balanceadas e que tem apresenta<strong>do</strong><br />

problemas de oferta, mesmo porque sua produção não tem acompanha<strong>do</strong> o aumento da demanda. Essa<br />

condição é imposta pela firma integra<strong>do</strong>ra, para que o produtor tenha uma renda adicional além da criação, o<br />

que lhe permite pagar menos pela sua matéria-prima, sem com isso “não matar sua galinha <strong>do</strong>s de ovos de<br />

ouro”. No Centro-Oeste as integrações pesquisadas oferecem a ração entregue pronta para o integra<strong>do</strong> não<br />

existin<strong>do</strong> nenhuma relação entre ser integra<strong>do</strong> e produção de grãos, isso foi constata<strong>do</strong> na frango Gale em<br />

Jataí e na Perdigão em Rio Verde..<br />

68<br />

A remuneração é definida através <strong>do</strong> uso de um indica<strong>do</strong>r de eficiência da produção, o Fator Europeu de<br />

Produção, que assim se expressa:<br />

(peso médio x viabilidade) x 100<br />

__________________________<br />

idade de abate<br />

FEEP= __________________________<br />

conversão alimentar<br />

Existem outras formas de parceria em que o fornecimento <strong>do</strong>s insumos é computa<strong>do</strong> como venda vinculada<br />

cuja fatura é debitada numa conta sujeita a correção monetária e saldada no momento da venda ou entrega <strong>do</strong><br />

frango gor<strong>do</strong> ao abate<strong>do</strong>uro, ou da liquidação <strong>do</strong> lote (SHIKI, 1999).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

93


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Cita ainda que o cria<strong>do</strong>r de frangos encontra neste tipo de contrato com a indústria,<br />

vantagens importantes. Entre elas se tem a garantia <strong>do</strong> escoamento da produção, facilidades<br />

de crédito sem recorrer ao sistema bancário, uma indispensável assistência técnica, além da<br />

certeza de uma renda no final da criação. Entretanto, ele apresenta o inconveniente de<br />

tornar o produtor dependente da indústria integra<strong>do</strong>ra, economicamente mais forte.<br />

Para GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA cita<strong>do</strong> por SHIKI (1996), o contrato de integração na<br />

avicultura surge como modelo de relacionamento entre a indústria e os pequenos<br />

agricultores familiares, e teoricamente critica a idéia de subordinação 69 <strong>do</strong> agricultor à<br />

agroindústria que o transforma em um verdadeiro trabalha<strong>do</strong>r a <strong>do</strong>micílio. O argumento<br />

para essa crítica está na autonomia <strong>do</strong> agricultor familiar em organizar o processo de<br />

trabalho, diferentemente <strong>do</strong>s assalaria<strong>do</strong>s, pois o ritmo <strong>do</strong> trabalho seria determina<strong>do</strong> não<br />

pelo patrão ou pela máquina programada, mas pelas necessidades biológicas <strong>do</strong> próprio<br />

processo produtivo. Neste senti<strong>do</strong> BERNSTEIN também cita<strong>do</strong> por SHIKI (1996), sublinha<br />

que não são uma classe de explora<strong>do</strong>s desde que suas condições gerais de reprodução são<br />

as mesmas que regulam as empresas capitalistas. Mesmo assim, em virtude de suas<br />

debilidades, são sujeitos a todas as formas de extorsões e pressões por capitais diversos e<br />

pelo Esta<strong>do</strong>.<br />

O contrato de integração é normalmente individual, poden<strong>do</strong>, ser celebra<strong>do</strong><br />

coletivamente, entre vários produtores interessa<strong>do</strong>s. Ele é um ato jurídico misto, ou seja<br />

civil e comercial, deven<strong>do</strong> conter certas cláusulas que ofereçam maiores garantias ao<br />

produtor, que deve ter pelo menos a certeza de uma renda mínima. A renovação <strong>do</strong> contrato<br />

69 As formas para se definir o pecuarista variam conforme o autor considera<strong>do</strong>, entretanto to<strong>do</strong>s concordam<br />

que ele invariavelmente é um pequeno cria<strong>do</strong>r. Para MILLER é um trabalha<strong>do</strong>r em <strong>do</strong>micílio; para<br />

WANDERLEY é um trabalha<strong>do</strong>r para o capital; para GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA é um produtor tecnifica<strong>do</strong><br />

(autores cita<strong>do</strong>s por ORTEGA, 1988: 111) e na linguagem popular da avicultura, nas grandes empresas desse<br />

setor, assim como em Rio Verde Goiás onde a Perdigão esta se instalan<strong>do</strong> utiliza-se a expressão “integra<strong>do</strong>”.<br />

Para PAULILO (1990), <strong>do</strong> produtor integra<strong>do</strong> fala-se apenas como “o explora<strong>do</strong>”, “o subordina<strong>do</strong>”, enfim<br />

como o la<strong>do</strong> passivo, sem que haja uma preocupação maior com o que esses agricultores pensam de si<br />

mesmos e das empresas, com opções que eles possam ter, mesmo que reduzidas, e com o lugar que a relação<br />

de integração ocupa em seu mun<strong>do</strong>.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

94


IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

pode ser feita tacitamente, o rompimento, mediante aviso prévio, não dá lugar a nenhuma<br />

indenização.<br />

A empresa integra<strong>do</strong>ra deve se responsabilizar pela boa qualidade <strong>do</strong>s serviços<br />

presta<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s insumos forneci<strong>do</strong>s, assim como pela retirada <strong>do</strong>s lotes combina<strong>do</strong>s. O<br />

integra<strong>do</strong> tem o dever de executar os trabalhos segun<strong>do</strong> as condições previstas, de se<br />

abastecer de insumos junto à integra<strong>do</strong>ra, de aceitar a assistência técnica, etc.<br />

No início <strong>do</strong> processo, para SORJ cita<strong>do</strong> por SHIKI (1996), o sistema consistia<br />

numa estrutura composta pela indústria de rações e uma constelação de produtores<br />

“independentes” de frango. A partir de 1961 surge o sistema integração importa<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, este sistema cresce bastante a ponto em 1980 representar 35% da produção<br />

nacional e desta data até 2000 <strong>do</strong>bra a participação, sen<strong>do</strong> atualmente responsável por 70%<br />

<strong>do</strong> frango produzi<strong>do</strong> no Brasil 70 .<br />

Comparan<strong>do</strong> os três sistemas de produção, a participação da produção independente<br />

deverá ser menor e restrita a áreas não exploradas pela grande indústria, o sistema<br />

cooperativo bastante desacredita<strong>do</strong> atualmente também deverá diminuir a sua participação<br />

em função de não suportar a concorrência <strong>do</strong> sistema integração. Para GODOY (2000) a<br />

produção na forma de integração deverá ser ainda maior por apresentar a competitividade<br />

necessária pela avicultura em ambiente globaliza<strong>do</strong>.<br />

IV. 2 - Pequena Propriedade e Mão-de-Obra Familiar<br />

Na avicultura nacional, as experiências consideradas mais bem sucedidas de<br />

integração entre agroindústria e avicultura são aquelas em que os avicultores constituem-se<br />

de pequenos produtores familiares. Através desse modelo de integração, os contratos de<br />

parceria têm da<strong>do</strong> à cadeia produtiva da avicultura, a partir de uma base tecnológica<br />

70 Na região Sul, mais de 80% da produção de frango é feita pelo sistema integração.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

95


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

desenvolvida, grande competitividade para enfrentar a concorrência de multinacionais<br />

americanas e européias, no cenário internacional (ORTEGA, 2000).<br />

Com relação a este aspecto observa-se que é uma atividade explorada<br />

principalmente pela pequena propriedade 71 . Em Videira-SC, por exemplo, terra natal da<br />

grande empresa integra<strong>do</strong>ra Perdigão, 94% das propriedades rurais tem áreas menores que<br />

50 ha. A esse respeito, SOUZA (1997) cita que ocorreu uma crescente expansão <strong>do</strong><br />

capitalismo nas grandes propriedades, através de uma progressiva agroindustrialização e<br />

uma reversão da penetração <strong>do</strong> capitalismo em terras com tamanho médio de cerca de 20<br />

hectares. Foi o que ocorreu na Europa e nos EUA, essas propriedades são geridas por mão-<br />

de-obra familiar. NAKANO cita<strong>do</strong> por SOUZA (1997), explica que os baixos lucros,<br />

inviabilizam a empresa capitalista. Contu<strong>do</strong>, tornam possível a produção familiar, em que<br />

as receitas totais apenas cobrem os custos, incluin<strong>do</strong> a remuneração da família, a educação<br />

e um fun<strong>do</strong> de capitalização da atividade.<br />

Para MATOS (1996a), dentre as razões que explicam a decisão de terceirizar a<br />

criação de frangos, estão, em primeiro lugar, uma demanda <strong>do</strong>s próprios produtores rurais<br />

pela instalação de aviários na propriedade e a empresa aproveita essa necessidade para<br />

impor seus requisitos e obter aves mais padronizadas e, em segun<strong>do</strong> lugar, a existência de<br />

um grande contingente de pequenos produtores familiares na região com eleva<strong>do</strong><br />

compromisso por esta atividade. Pelo la<strong>do</strong> da agroprocessa<strong>do</strong>ra, há uma economia de<br />

recursos ao evitar os investimentos em infra-estrutura de criação e em áreas territoriais”,<br />

ocorren<strong>do</strong> ainda a diluição <strong>do</strong>s riscos de produção.<br />

Dentre as estratégias desenvolvidas pelas empresas integra<strong>do</strong>ras, MATOS (1996a)<br />

cita que existe uma seleção 72 disfarçada <strong>do</strong>s interessa<strong>do</strong>s na atividade, uma vez que elas<br />

procuram priorizar o pequeno proprietário rural, cujo processo produtivo apoia-se na mão-<br />

71 Entretanto os investimentos mais recentes têm privilegia<strong>do</strong> propriedades maiores que aquelas inicialmente<br />

utilizadas, devi<strong>do</strong> as garantias necessárias aos financiamentos de galpões de maior porte.<br />

72 O critério das integra<strong>do</strong>ras para escolherem seus integra<strong>do</strong>s era um grande número de membros da família<br />

no trabalho de criação, pois somente a atenção integral e dedicada <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r viabilizaria a atividade.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

96


IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

de-obra familiar devi<strong>do</strong> à maior atenção e dedicação aos lotes. Nesses módulos, é muito<br />

mais fácil a aceitação da diversificação da produção segun<strong>do</strong> um padrão sistêmico em que<br />

as atividades desenvolvidas estão articuladas entre si e produzem uma renda complementar<br />

ao produtor.<br />

Para ORTEGA (1988: 112) a preocupação da firma integra<strong>do</strong>ra quan<strong>do</strong> selecionava<br />

as pequenas e médias propriedades era que fossem capazes de sustentar uma família sem<br />

ser necessária a utilização de mão-de-obra assalariada de maneira substancial. A<br />

justificativa das integrações ao selecionar os cria<strong>do</strong>res era de que os assalaria<strong>do</strong>s, sem<br />

“tradição” na criação animal e sem interesse pelo bom desenvolvimento <strong>do</strong>s animais, “não<br />

teriam a dedicação que a produção animal requer”. Entretanto a utilização de mão-de-obra<br />

familiar reduz os custos produção ainda mais, colaboran<strong>do</strong> dessa maneira para o êxito da<br />

atividade criatória.<br />

SHIKI (1999: 162) também concorda que as empresas <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> país selecionavam<br />

as propriedades em que tinham abundante trabalho familiar. Cita ainda que, para o filho ou<br />

filha que casa, o aviário representa uma parte da herança e um emprego manti<strong>do</strong> na mesma<br />

exploração, dessa forma a avicultura representa uma alternativa a reprodução da agricultura<br />

familiar de pequenos agricultores, crian<strong>do</strong> uma outra exploração familiar sem ter que<br />

comprar mais terra. Todavia, a explicação para a restrição ao assalariamento parece estar<br />

relacionada ao fato da propriedade não atingir um tamanho mínimo para suportar a despesa<br />

de funcionários e o fato <strong>do</strong> trabalho ser leve porém contínuo, com vigilância 24 horas por<br />

dia, incluin<strong>do</strong> <strong>do</strong>mingos e feria<strong>do</strong>s. Segun<strong>do</strong> SHIKI é uma verdadeira prisão <strong>do</strong>miciliar<br />

durante to<strong>do</strong> o ciclo <strong>do</strong> frango, os poucos momentos de folga ficam muito ao sabor da<br />

natureza ou das condições climáticas. Uma outra questão a ser considerada é que, entre<br />

explorações menores ocorre o assalariamento, mas, nas propriedades <strong>do</strong>s profissionais<br />

liberais com emprego urbano, pequenos comerciantes, industriais e funcionários públicos<br />

que se dedicam a avicultura como atividade complementar de renda.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

97


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Nesse senti<strong>do</strong> SORJ et alli (1982: 112) concluem que a questão básica não é sua<br />

subordinação ao capital industrial, mas a possibilidade e ameaça presente de sua exclusão<br />

definitiva das mínimas condições de produção representada fundamentalmente pela ameaça<br />

da perda total da terra que se constitui no principal meio de produção numa agricultura<br />

desse tipo. Por outro la<strong>do</strong>, citam que “...para os produtores em bases familiares, a<br />

integração não se apresenta de imediato em seu aspecto de exploração, posto que esses<br />

produtores sempre estiveram subordina<strong>do</strong>s ao capital comercial tradicional, e por isso, sua<br />

integração e subordinação ao moderno capital industrial-financeiro se apresenta de imediato<br />

como a possibilidade de desenvolvimento da produção, através <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

tecnológico e da melhoria das condições de realização da produção. Em outras palavras, e a<br />

grosso mo<strong>do</strong>, a espoliação na compra da produção pelo capital industrial-financeiro é mais<br />

sistemática e previsível e menos espoliativa que o capital comercial tradicional, pelo menos<br />

em sua manifestação, além de estar mais estritamente vinculada à coordenação e mediação<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>”.<br />

Os limites da integração são impacta<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>is fatores segun<strong>do</strong> SORJ et alli<br />

(1982: 112). Sublinham eles que a capacidade de resistência <strong>do</strong> produtor rural e os limites<br />

objetivos que este apresenta a certos níveis de concentração da produção, tem no primeiro<br />

caso a capacidade de resistência (organizada ou não) que o produtor familiar pode opor à<br />

integra<strong>do</strong>ra, seja se retiran<strong>do</strong>, seja exigin<strong>do</strong> maiores margens de ingresso, levan<strong>do</strong> a<br />

empresa a optar pela integração vertical. No segun<strong>do</strong>, a integração se imporia porque os<br />

ganhos de escala que ela permitiria seriam superiores às vantagens <strong>do</strong> uso da integração de<br />

produtores familiares. Contra para eles, existiriam, as imobilizações necessárias de terra e<br />

capital fixo e as perdas de produtividade pelo uso de trabalho assalaria<strong>do</strong> frente à<br />

responsabilidade individual e ao autocontrole da produção familiar.<br />

Este padrão de produção, basea<strong>do</strong> na utilização de pequena propriedade e mão-de-<br />

obra familiar, está sen<strong>do</strong> substituí<strong>do</strong> por outro padrão, basea<strong>do</strong> em médias e grandes<br />

propriedades com mão-de-obra assalariada. Um exemplo disso é o modelo que vem se<br />

consolidan<strong>do</strong> no Brasil Central, basea<strong>do</strong> na constituição de grandes projetos de integração,<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

98


IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

com verticalização completa ou a participação de cria<strong>do</strong>res, modifican<strong>do</strong> a imagem que<br />

antes prevalecia, sobre a participação <strong>do</strong>s pequenos agricultores. Esse novo modelo de<br />

integração, com base nos grandes cria<strong>do</strong>res, por um la<strong>do</strong> reduz o espaço para a atividade da<br />

agricultura familiar, ou deixa-a ainda mais na “marginalidade” <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>; por outro la<strong>do</strong>,<br />

introduz a mão-de-obra assalariada, até então um tabu, particularmente no setor avícola.<br />

Portanto, o impacto atual da mudança no padrão de produção de frango de corte<br />

sobre a utilização da pequena propriedade com mão-de-obra familiar foi a sua exclusão <strong>do</strong><br />

processo de produção e a emergência da utilização de médias e grandes propriedades com a<br />

utilização de mão-de-obra assalariada.<br />

IV. 3 - Especialização da Produção<br />

A integração na avicultura de corte promoveu uma absorção e subordinação da<br />

pequena propriedade rural a empresa integra<strong>do</strong>ra, de forma que a relação entre integra<strong>do</strong> e<br />

integra<strong>do</strong>ra, foi de um la<strong>do</strong>, responsável pela propagação da elevada especialização técnica<br />

que passou a caracterizar a criação intensiva e, de outro la<strong>do</strong> restringiu a liberdade <strong>do</strong>s<br />

cria<strong>do</strong>res quanto ao fornecimento de matérias primas, como insumos ao compra<strong>do</strong>r de sua<br />

produção (ORTEGA, 1988).<br />

O impacto <strong>do</strong> desenvolvimento tecnológico sobre a especialização, nas palavras de<br />

LIMA (1984:176), está na subordinação total de granjas de engorda à indústria, permitin<strong>do</strong><br />

uma velocidade muito maior de difusão <strong>do</strong> progresso técnico, já que a penalização<br />

(exclusão da integração) pela não adaptação a novos padrões de especialização da produção<br />

passa a ser muito mais rápida e contundente <strong>do</strong> que o merca<strong>do</strong> o tem feito tradicionalmente.<br />

Também os mecanismos de verificação e correção <strong>do</strong>s erros e indução de novos padrões<br />

passam a ser muito mais eficazes.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

99


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Esse aspecto também é ressalta<strong>do</strong> por SHIKI (1999: 162). Para ele o <strong>do</strong>mínio<br />

tecnológico requer um constante aprendiza<strong>do</strong>. Por isso é que entre os avicultores existe uma<br />

intensa troca de informações sobre o manejo, principalmente consideran<strong>do</strong> que “cada lote é<br />

uma história”. A questão é levada tão a sério que, alguns avicultores chegam a manifestar<br />

que o cria<strong>do</strong>r precisa “sentir” o frango, no que se refere a dificuldades de respirar, se estão<br />

crescen<strong>do</strong> bem, momento de intervir estimulan<strong>do</strong> o consumo de ração, etc.<br />

Um exemplo de especialização nas relações de produção pode ser aprecia<strong>do</strong> a partir<br />

<strong>do</strong>s critérios preliminares apresenta<strong>do</strong>s pela Perdigão, para admitir integra<strong>do</strong>s, que são os<br />

seguintes:<br />

- A propriedade deve estar na faixa de interesse da Perdigão, sen<strong>do</strong> em torno de 50<br />

km de suas unidades processa<strong>do</strong>ras;<br />

- Ser produtor de milho, soja, sorgo, etc., critério utiliza<strong>do</strong> no Sul mas ainda<br />

ignora<strong>do</strong> no Centro-Oeste;<br />

- Que assine o contrato de parceria, garantin<strong>do</strong> a formalidade <strong>do</strong> contrato;<br />

- Tenha a sua ficha aprovada pela Perdigão, consideran<strong>do</strong> os interesses da<br />

integra<strong>do</strong>ra em função da vocação potencial <strong>do</strong> proponente;<br />

- Que tenha patrimônio suficiente ou garantia para suportar o financiamento de 90%<br />

<strong>do</strong> investimento;<br />

- Que a propriedade ofereça condições de infra-estrutura, tais como, água potável<br />

suficiente, energia elétrica, estradas de acesso em qualquer época <strong>do</strong> ano; e<br />

- Que seja uma pessoa idônea e que tenha bom relacionamento em sua comunidade.<br />

Para ROMEIRO (1998), a especialização <strong>do</strong> pequeno produtor, torna-o dependente<br />

<strong>do</strong> capital industrial que lhe impõe a venda de produtos com preços acima de seus valores<br />

(a indústria de insumos e equipamentos agrícolas) e compra a sua produção por preços<br />

menores (a indústria agroalimentar). Na análise <strong>do</strong> autor tu<strong>do</strong> isso faz parte de um processo<br />

pelo qual o merca<strong>do</strong> de produção capitalista, depois de ter feito nascer o sistema de<br />

policultura associa<strong>do</strong> à criação animal, o obriga a se transformar.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

Dessa forma, o sistema integração foi o responsável pela intensa especialização e<br />

utilização de tecnologia na produção de frango de corte, isso ocorreu em função da<br />

subordinação <strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s aos critérios e a tecnologia dessa atividade, conforme a<br />

necessidade da integra<strong>do</strong>ra.<br />

IV. 4 - Geração de Empregos<br />

O impacto sobre a geração de empregos podem ser vistos de duas maneiras:<br />

Primeiro, porque o número de empregos aumenta em função <strong>do</strong> crescimento da avicultura e<br />

segun<strong>do</strong>, porque o número de empregos diminui pela automação <strong>do</strong> processo produtivo. Os<br />

reflexos provocan<strong>do</strong> desemprego tecnológico 73 podem ser acompanha<strong>do</strong>s desde a década<br />

de 70. A este respeito ENGLERT (1978), recomendava nesta época, no mínimo de 10.000<br />

frangos por granja, sen<strong>do</strong> que o ideal seria que todas essas aves ficassem em um único<br />

galpão. A partir da análise de uma proposta, <strong>do</strong> autor cita<strong>do</strong>, para criação de 30.000 frangos<br />

era sugeri<strong>do</strong> três trata<strong>do</strong>res e um encarrega<strong>do</strong>, to<strong>do</strong>s moran<strong>do</strong> na propriedade, e o<br />

proprietário moran<strong>do</strong> na cidade, portanto fica claro que era necessário quatro avicultores 74<br />

para cuidar de 30.000 aves (1 homem/7.500 aves) em um “sistema de produção<br />

independente”, onde as rações eram feitas na granja, adquirin<strong>do</strong> os pintinhos de 1 dia e<br />

to<strong>do</strong>s os insumos no merca<strong>do</strong> e comercializadas as aves vivas com os abate<strong>do</strong>uros.<br />

Atualmente, a Associação Paulista de Avicultura considera como referência para as<br />

granjas de São Paulo 1 homem para cada 25.000 aves. A primeira instalação de frangos da<br />

Perdigão em Rio verde apresenta numa mesma propriedade, quatro galpões de 24.000 aves<br />

sen<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> um avicultor o suficiente, isso significa 1 avicultor para cada 96.000<br />

aves. Portanto, sinaliza para a característica marcante <strong>do</strong> capitalismo contemporâneo que é<br />

o aumento <strong>do</strong> desemprego tecnológico<br />

73 Observa-se uma progressiva diminuição de trabalha<strong>do</strong>res para cuidar de um progressivo aumento da<br />

quantidade de frangos, devi<strong>do</strong> a tecnologia da automação.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

101


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

O número de integra<strong>do</strong>s também tende a diminuir em função <strong>do</strong> aumento <strong>do</strong>s custos<br />

logísticos e <strong>do</strong> gerenciamento de um grande número de produtores, um exemplo deste<br />

impacto pode ser percebi<strong>do</strong> na Perdigão que tem cerca de 7.000 integra<strong>do</strong>s no Sul, terá<br />

menos de 900 agricultores integra<strong>do</strong>s no projeto Buriti em Rio verde. O caráter excludente<br />

da avicultura por sua própria seletividade estratégica já era observa<strong>do</strong> por SORJ et alli em<br />

1982, quan<strong>do</strong> elegia um determina<strong>do</strong> grupo de produtores e impunha suas exigências<br />

tecnológicas.<br />

Portanto, a avicultura tem provoca<strong>do</strong> um intenso desemprego tecnológico em<br />

função da automação, já que com aumento da escala tem favoreci<strong>do</strong> a aplicação de<br />

tecnologias que substituem a mão-de-obra humana.<br />

IV. 5 - Localização das Granjas<br />

Para analisar os impactos sobre a localização devemos separar o antigo modelo de<br />

produção utiliza<strong>do</strong> principalmente no Sul na década de 70 <strong>do</strong> novo modelo que está sen<strong>do</strong><br />

implanta<strong>do</strong> no Centro-Oeste atualmente. Na verdade, a questão locacional é mais bem<br />

entendida quan<strong>do</strong> consideramos a época em que foram feitos os investimentos e as<br />

finalidades <strong>do</strong> sistema de produção.<br />

IV. 5. 1 - A Questão Locacional na Década de 70<br />

Na década 70 era recomenda<strong>do</strong> que a instalação da granja deveria, na medida <strong>do</strong><br />

possível, estar próxima de abate<strong>do</strong>uros, sen<strong>do</strong> desejável que o abate<strong>do</strong>uro estivesse o mais<br />

próximo possível da granja, mas distante pelo menos uns 5 Km, para evitar a contaminação<br />

por aves <strong>do</strong>entes que chegassem ao abate, e num raio máximo de 60 Km, ten<strong>do</strong> em vista<br />

que a maior distância aumenta a perda de peso e mortalidade das aves no transporte<br />

(ENGLERT, 1978). Fica claro pela proposta que esse granjeiro deveria ser um produtor<br />

74 Entenden<strong>do</strong> por avicultor o trabalha<strong>do</strong>r que cuida das aves, portanto representa o trabalho, o capital é<br />

representa<strong>do</strong> pelo proprietário. No passa<strong>do</strong> as grandes empresas integra<strong>do</strong>ras tinham preferência pelas<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

independente, pois não tinha abate<strong>do</strong>uro e comercializava as aves vivas, na época era<br />

sugeri<strong>do</strong> também que procurasse o setor de compras <strong>do</strong> abate<strong>do</strong>uro sobre a possibilidade de<br />

efetuar um contrato de compra total ou parcial da produção da granja, para assim ter a<br />

garantia de colocação <strong>do</strong> produto no merca<strong>do</strong> mesmo em época de crise (sen<strong>do</strong> este um <strong>do</strong>s<br />

maiores estímulos atualmente a participação da integração).<br />

A proximidade de incubatório 75 idôneo era sugerida em função da qualidade <strong>do</strong>s<br />

pintinhos e da i<strong>do</strong>neidade reconhecida <strong>do</strong> incubatório, com práticas de manejo, higiene e<br />

desinfecção rigorosas e que executasse uma boa seleção nos pintinhos ao nascer. Quanto<br />

menos viajassem os pintinhos, em melhores condições chegariam à granja, consideran<strong>do</strong><br />

um tempo ideal de 24 horas e até no máximo de 48 horas após a eclosão, usan<strong>do</strong> os mais<br />

varia<strong>do</strong>s meios de transporte, tais como avião ou trem.<br />

A proximidade de fábrica de ração ou distribui<strong>do</strong>r de rações e concentra<strong>do</strong>s, era<br />

sugerida ten<strong>do</strong> em vista a diminuição <strong>do</strong>s custos de frete, facilidade de aquisição,<br />

adquirin<strong>do</strong> produtos de maneira mais freqüente e portanto mais frescos, já que não seria<br />

necessário armazenamento, predispon<strong>do</strong> o produto a deterioração e intoxicação das aves. A<br />

proximidade <strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s das unidades de produção de ração significava, também, uma<br />

assistência técnica mais eficiente, pois qualquer necessidade de modificação na formulação<br />

da ração, após constatação da equipe de assistência técnica da necessidade da inclusão de<br />

um outro componente, por exemplo, um medicamento poderia ser rapidamente elabora<strong>do</strong> e<br />

distribuí<strong>do</strong>. Em outras palavras, por conhecer perfeitamente seus consumi<strong>do</strong>res e por estar<br />

localizada próxima, a firma integra<strong>do</strong>ra poderia atender prontamente a requerimentos<br />

nutricionais da criação, com maior eficiência.<br />

A proximidade da zona produtora de milho ou sorgo (matérias-primas), era<br />

justificada pelo fato de que o milho representa 60 a 70% <strong>do</strong> volume das rações e, por isso, é<br />

um forte componente <strong>do</strong> custo das rações, principalmente se considera<strong>do</strong> o efeito <strong>do</strong> frete<br />

propriedades onde o avicultor era o proprietário.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

103


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

sobre o custo <strong>do</strong> quilo de carne de frango. Consideran<strong>do</strong> a variação <strong>do</strong> preço desses grãos,<br />

era sugeri<strong>do</strong> a aquisição na safra de tu<strong>do</strong> aquilo que seria utiliza<strong>do</strong> na entressafra e<br />

armazena<strong>do</strong>s em silos ou depósitos na própria granja ou arre<strong>do</strong>res.<br />

Dos motivos elenca<strong>do</strong>s os grãos tem grande peso na localização das granjas, mas<br />

nas décadas de 60 e 70 não encontrávamos com a proximidade e freqüência de hoje as<br />

empresas que produzissem farelo de soja, farinha de carne e ossos e outras matérias-primas<br />

limitan<strong>do</strong> o espectro de ingredientes para fabricação de rações, e portanto a instalação de<br />

fabricas de rações e granjas de frangos de corte em determinadas regiões.<br />

Portanto, nesse padrão de produção existe uma grande quantidade de produtores<br />

independentes e empresas especializadas para incubação, fabricação de rações, abate e<br />

outras atividades necessárias para viabilizar o processo de produção. Observa-se que os<br />

motivos locacionais estão liga<strong>do</strong>s as relações que se estabelecem entre essas empresas e os<br />

produtores cuja meta era o atendimento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> regional.<br />

IV. 5. 2 - A Questão Locacional Atual<br />

A partir de 1975, e até 1985, é percebi<strong>do</strong> um processo de desconcentração espacial<br />

da atividade econômica no país. Em princípio, esse processo de desconcentração foi<br />

interpreta<strong>do</strong> como parte integrante de uma reconcentração em uma área industrial maior, ou<br />

seja, um polígono que vai <strong>do</strong> Sul de Minas passan<strong>do</strong> pelo interior de São Paulo, abrangen<strong>do</strong><br />

áreas industriais <strong>do</strong> Paraná e de Santa Catarina até atingir a área metropolitana de Porto<br />

Alegre. A expansão agrícola <strong>do</strong> Centro-Oeste foi um <strong>do</strong>s fatores aponta<strong>do</strong>s, como<br />

responsáveis por essa expansão. Neste aspecto, atrativos como o preço da terra, a solução<br />

tecnológica desenvolvida para expansão agrícola <strong>do</strong>s cerra<strong>do</strong>s, a presença <strong>do</strong> Distrito<br />

Federal e os efeitos de encadeamento para a frente e para trás desse desenvolvimento<br />

75 A produção pintinhos de um dia que era considerada a atividade avícola mais lucrativa da época e o setor de<br />

maior concorrência o de produção de frango e ovos (produtos de consumo popular).<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

104


IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

agrícola foram aponta<strong>do</strong>s como responsáveis pela intensificação <strong>do</strong>s investimentos<br />

(HELFAND & REZENDE,1998).<br />

Para MATOS (1996b), a necessidade de contar com fornecimento constante<br />

e contínuo da matéria prima para o abate impõe, às empresas produtoras, estratégias de<br />

ocupação espacial, voltadas para as regiões onde são mais fáceis e abundantes os insumos<br />

agrícolas e pecuários. Nessas áreas elas instalam suas unidades de primeiro processamento.<br />

De outro la<strong>do</strong>, instalações de segun<strong>do</strong> processamento, logicamente aquelas que geram<br />

produtos finais mais sofistica<strong>do</strong>s e de maior agregação de valor, são colocadas junto aos<br />

grandes centros consumi<strong>do</strong>res. Outros fatores, como as expectativas futuras sobre a<br />

diminuição <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s grãos no Centro-Oeste em função <strong>do</strong> maior potencial de<br />

produção, e a diminuição <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s transportes através de caminhões mais eficientes,<br />

melhor infra-estrutura, melhor desregulamentação das ferrovias e melhor utilização <strong>do</strong>s<br />

contêiners, a médio e longo prazo, poderiam estar contribuin<strong>do</strong> para esta mudança<br />

locacional. Na verdade, ainda não se consegue estabelecer um modelo de integração da<br />

agroindústria com o setor agrícola nos Cerra<strong>do</strong>s, o que é mais um aspecto relevante para a<br />

análise da questão locacional.<br />

Neste aspecto, segun<strong>do</strong> HELFAND & RESENDE (1998), existe uma opinião<br />

generalizada de que a região Centro-Oeste, por produzir grãos mais baratos que os esta<strong>do</strong>s<br />

onde hoje se concentram as atividades de aves e suínos (especialmente Rio Grande <strong>do</strong> Sul e<br />

Santa Catarina), poderia ter vantagem comparativa nessas atividades da agroindústria.<br />

Assim, por exemplo, o projeto Buriti da Perdigão estaria acompanhan<strong>do</strong> a marcha das<br />

empresas avícolas e suinícolas para o cerra<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong> uma nova geografia para o setor,<br />

baseada na proximidade com as áreas fornece<strong>do</strong>ras de matérias-primas a baixo custo,<br />

principalmente <strong>do</strong> milho para ração. A localização geográfica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Goiás e sua<br />

proximidade a grandes centros consumi<strong>do</strong>res, também, conferem grande vantagem no<br />

processamento e na produção de alimentos, aproveitan<strong>do</strong> a produção de matéria-prima da<br />

região.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

105


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

A preocupação com o custo <strong>do</strong> grão está relacionada aos <strong>do</strong>is mais importantes<br />

ingredientes da ração, o milho (aproximadamente 67%) e a soja (aproximadamente 33%),<br />

representan<strong>do</strong> portanto a quase totalidade <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das rações 76 . A redução <strong>do</strong> custo de<br />

produção <strong>do</strong> frango em Goiás em comparação com outros esta<strong>do</strong>s é mostrada na Tabela 16.<br />

Observa-se, por exemplo que no Paraná o preço <strong>do</strong> milho era 3,7% menor <strong>do</strong> que em Goiás<br />

no perío<strong>do</strong> 1990 a 1995, enquanto que o preço da soja era 10,5% maior. HELFAND &<br />

RESENDE (1998: 30) combinaram estes da<strong>do</strong>s sobre participação <strong>do</strong> milho, farelo de soja<br />

e ração no custo <strong>do</strong> frango abati<strong>do</strong> e chegaram à conclusão de que “uma empresa poderia<br />

economizar menos de 1% <strong>do</strong> custo <strong>do</strong> frango abati<strong>do</strong> deslocan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> Paraná para Goiás.<br />

Como a distância <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res de São Paulo ou <strong>do</strong> Rio de Janeiro é maior<br />

em Goiás <strong>do</strong> que no Paraná, diferença no custo <strong>do</strong> transporte mais <strong>do</strong> que contrabalançaria<br />

a redução de custo devi<strong>do</strong> à ração mais barata”. Os mesmos cálculos revelam uma redução<br />

de custo de 2,4% para o Rio Grande <strong>do</strong> Sul, com relação a Santa Catarina a redução <strong>do</strong><br />

custo foi calculada em 4,5% no frango abati<strong>do</strong>, entretanto uma parte dessa vantagem seria<br />

perdida devi<strong>do</strong> aos maiores custos de transporte. Dessa forma os autores concluem que “os<br />

ganhos devi<strong>do</strong> a custos menores de ração no Centro-Oeste em comparação com o Sul<br />

representam, quase sempre, uma pequena percentagem no custo de um animal abati<strong>do</strong>”. A<br />

economia <strong>do</strong> custo da ração seria maior, mas aumentaria o custo <strong>do</strong> transporte <strong>do</strong> produto<br />

final.<br />

TABELA 16 – Diferenciais de Preços <strong>do</strong> Milho e da Soja e Redução <strong>do</strong> Custo de<br />

Produção <strong>do</strong> Frango em Comparação com Goiás – 1990/95.<br />

Esta<strong>do</strong>s Diferenciais de preços <strong>do</strong> Diferenciais de preços da Redução <strong>do</strong> custo de<br />

milho<br />

soja<br />

produção <strong>do</strong> frango abati<strong>do</strong><br />

Minas Gerais 28,0 10,8 12,3<br />

São Paulo 19,8 8,7 8,9<br />

Paraná -3,7 10,5 0,5<br />

Santa Catarina 6,8 11,2 4,5<br />

Rio Grande <strong>do</strong> Sul 5,0 3,3 2,4<br />

Fonte: HELFAND & RESENDE (1998)<br />

Analisan<strong>do</strong> os custos de produção <strong>do</strong> suíno e <strong>do</strong> frango nos esta<strong>do</strong>s, TALAMINI et<br />

alli (1998) verificaram que as vantagens de uma região sobre outra não são muito<br />

76 Representa cerca de 67% <strong>do</strong> custo da produção <strong>do</strong> frango vivo e 55% <strong>do</strong> custo <strong>do</strong> frango abati<strong>do</strong>.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

106


IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

evidentes, em razão das diferenças <strong>do</strong>s preços <strong>do</strong>s fatores de produção. Dessa forma<br />

também concordam que as constantes especulações sobre as vantagens regionais na<br />

produção de suínos e aves devem ser atribuídas a outros fatores.<br />

Conforme apresenta<strong>do</strong> na Tabela 17, a maior variabilidade de rendimentos físicos<br />

na região Sul, com destaque para o Rio Grande <strong>do</strong> Sul, cria, evidentemente, um problema<br />

de competitividade para a produção animal localizada nessa região, vis-à-vis as demais<br />

regiões. A produção de grãos no Centro-Oeste se diferencia fortemente da região Sul, já<br />

que naquela região o milho parece ser uma lavoura consolidada, enquanto no Centro-Oeste<br />

é uma lavoura que tem cresci<strong>do</strong> rapidamente, mas de forma totalmente dependente da soja.<br />

Segun<strong>do</strong> HELFAND & RESENDE (1998), esta constatação explica por que o milho<br />

continua sen<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong> mesmo com problemas crônicos de comercialização, refletin<strong>do</strong><br />

na contínua formação de estoques e redução <strong>do</strong> preço mínimo pelo Governo no Centro-<br />

Oeste, como no ano agrícola de 1997/98.<br />

TABELA 17 – Variabilidade <strong>do</strong>s Rendimentos Físicos <strong>do</strong> Milho e da Soja por Regiões<br />

e Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Centro-Sul – 1980/97.<br />

Regiões Milho Soja<br />

Sudeste 0,12 0,08<br />

Centro-Oeste 0,08 0,09<br />

Sul 0,14 0,15<br />

Rio Grande <strong>do</strong> Sul 0,23 0,21<br />

Santa Catarina 0,16 0,15<br />

Paraná 0,13 0,11<br />

Nota: A variabilidade é medida pelo coeficiente de variação nos resíduos em relação à tendência exponencial.<br />

Fonte: HELFAND & RESENDE (1998)<br />

Para esses autores, a análise <strong>do</strong>s diferenciais de preço sugere que pode haver<br />

economia considerável de custos, resulta<strong>do</strong> da transferência da produção de animais <strong>do</strong><br />

Sudeste para o Centro-Oeste. Em Goiás, o preço <strong>do</strong> milho nos anos 90 foi em média 25 a<br />

80 reais mais barato que nos quatro esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sudeste, mas o mesmo não pode ser dito<br />

sobre o Sul. No Paraná os preços <strong>do</strong> milho tenderam a ser menores que em Goiás nos anos<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

107


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

90 77 . Dessa forma, se a produção animal deve migrar <strong>do</strong> Sul para o Centro-Oeste, é<br />

provável que não seja em função <strong>do</strong> preço <strong>do</strong> milho.<br />

As conclusões <strong>do</strong>s trabalhos HELFAND & RESENDE (1998), são as seguintes.<br />

Primeiro, mostram que a produção de milho no Centro-Oeste tem características bem<br />

diferentes das demais regiões. Consideran<strong>do</strong>-se a distância <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, só<br />

a peculiar relação com a soja explica o crescimento da produção de milho no Centro-Oeste,<br />

especialmente em vista da menor atuação da Política Geral de Preços Mínimos (PGPM) na<br />

década de 90 78 ; segun<strong>do</strong>, não há evidência de um êxo<strong>do</strong> em massa da produção de aves e<br />

suínos <strong>do</strong> Sul para Centro-Oeste, apesar de o Sul ter sete vezes mais estoques de aves que o<br />

Centro-Oeste, os estoques cresceram apenas marginalmente mais rápi<strong>do</strong> no centro-Oeste<br />

nos anos 90 (55% contra 50%); terceiro, o rápi<strong>do</strong> crescimento da produção comercial de<br />

aves no Centro-Oeste levou a um dramático crescimento no abate. De 1990 a 1995, o abate<br />

comercial cresceu por um fator 13 no Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, 7,5 no Mato Grosso e apenas 1,5<br />

no Sul. Entretanto, nenhum esta<strong>do</strong> no Centro-Oeste já atingiu 2% <strong>do</strong> abate <strong>do</strong>méstico;<br />

quarto, a análise <strong>do</strong>s diferenciais de preços sugere que poderia haver considerável redução<br />

de custos de produção decorrentes de uma mudança da produção animal <strong>do</strong> Sudeste para o<br />

Centro-Oeste. O mesmo não pode ser dito sobre uma mudança da produção animal <strong>do</strong> Sul<br />

para o Centro-Oeste. Especialmente no caso <strong>do</strong> Sul, a redução <strong>do</strong> custo da ração é<br />

insuficiente para compensar o maior custo de transporte entre o Centro-Oeste e os<br />

merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sudeste.<br />

Entretanto, outros aspectos não podem ser menospreza<strong>do</strong>s para compreender esse<br />

movimento, como é o caso da perspectiva de redução <strong>do</strong>s custos de transportes através da<br />

melhoria da malha ro<strong>do</strong>-hidro-ferroviária, eleita pelo programa Avança Brasil como<br />

prioritária para a redução <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> “custo Brasil” para a Região. Não menos importantes<br />

são os incentivos fiscais e creditícios concedi<strong>do</strong>s pelos governos estaduais, que têm atraí<strong>do</strong><br />

77 Com exceção de alguns anos, a diferença com Santa Catarina e Rio Grande <strong>do</strong> Sul não tem si<strong>do</strong> muito<br />

grande, por exemplo, os diferenciais de preços entre Santa Catarina e Goiás foram só 0, 9, 4, e 3 reais. Com o<br />

Rio Grande <strong>do</strong> Sul, os diferenciais para o mesmo perío<strong>do</strong> foram –6, 2, 9, 7 (HELFAND & RESENDE, 1998),<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

108


IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

os maiores abate<strong>do</strong>uros <strong>do</strong> País para o Centro-Oeste. Outros fatores importantes de atração<br />

são os recursos <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> Constitucional <strong>do</strong> Centro-Oeste, que, apesar de conceder crédito a<br />

taxas de juros elevadas, se comparadas às de outras realidades internacionais, ao menos<br />

representa uma alternativa, numa conjuntura em que os produtores rurais não têm mais<br />

acesso a grandes volumes de crédito subsidia<strong>do</strong>, como no passa<strong>do</strong>.<br />

Dessa forma, o padrão atual de produção de frangos de corte está basea<strong>do</strong> em um<br />

número menor de integra<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> forma<strong>do</strong> por médios e grandes produtores integra<strong>do</strong>s.<br />

A integra<strong>do</strong>ra é uma grande empresa verticalizada, engloban<strong>do</strong> o incubatório, indústria de<br />

ração, abate<strong>do</strong>uros e outras atividades necessárias a produção em massa de frangos, para<br />

atender o merca<strong>do</strong> interno e externo. Portanto os motivos locacionais estão liga<strong>do</strong>s a<br />

produção em grande escala e neste momento Centro-Oeste foi escolhi<strong>do</strong> para desenvolver<br />

esta função.<br />

Na verdade a escolha da região para os novos investimentos em avicultura de corte<br />

estão ligadas ao que foi apresenta<strong>do</strong> alia<strong>do</strong> a um ambiente transnacional, mostran<strong>do</strong> a face<br />

da globalização impactan<strong>do</strong> sobre os processos de produção de frango.<br />

IV. 5 - Impactos Previstos para Rio Verde<br />

Fazen<strong>do</strong> referência ao novo modelo de produção que está sen<strong>do</strong> implanta<strong>do</strong><br />

atualmente em Rio Verde, uma equipe multidisciplinar composta por advoga<strong>do</strong>s,<br />

sanitaristas, engenheiros ambientais, biólogos e sociólogos, foi montada para estudar os<br />

possíveis impactos. Esta equipe foi responsável também pela elaboração <strong>do</strong>s programas de<br />

acompanhamento e monitoramento <strong>do</strong>s impactos 79 e pelo cronograma de medidas<br />

78 Segun<strong>do</strong> HELFAND & RESENDE (1998), esse quadro pode mudar, naturalmente, na medida em que se<br />

gere uma demanda local pelo milho, como se espera com a expansão da agroindústria de aves e suínos.<br />

79 A caracterização <strong>do</strong> meio físico da região mostrou as condições <strong>do</strong> solo, lençol freático e clima e a<br />

caracterização <strong>do</strong> meio biótico fez um levantamento sobre a fauna e flora locais. Foram também pesquisa<strong>do</strong>s<br />

o meio sócio-econômico com as populações rural e urbana analisan<strong>do</strong> a evolução da populacional e a<br />

estrutura urbana de serviços, água, esgoto, tráfego de veículos, energia, limpeza pública, sistema de<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

109


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

mitiga<strong>do</strong>ras, otimiza<strong>do</strong>ras ou compensa<strong>do</strong>ras conforme o caso. O Estu<strong>do</strong> de Impacto<br />

Ambiental e Relatório de Impactos ao Meio Ambiente (EIA-RIMA), aprova<strong>do</strong> pela<br />

FEMAGO, detectou vários impactos positivos e negativos da implantação <strong>do</strong> projeto Buriti<br />

no distrito agroindustrial de Rio Verde. Para cada impacto negativo foi apresentada uma<br />

sugestão de medida mitiga<strong>do</strong>ra, otimiza<strong>do</strong>ra ou compensa<strong>do</strong>ra, buscan<strong>do</strong> o<br />

desenvolvimento sustenta<strong>do</strong> (FORÇA RURALISTA 1999:57).<br />

Foram detecta<strong>do</strong>s os seguintes impactos positivos: a geração de empregos, a<br />

diminuição de poeiras fugidias <strong>do</strong> distrito, a preservação de fisionomias de matas de<br />

galerias, o aumento de arrecadação de impostos, o maior desenvolvimento tecnológico, os<br />

efeitos paisagistas, a oferta de serviços (posto de saúde, creche, etc.), a higienização <strong>do</strong><br />

ambiente de trabalho, a dinamização econômica, a redução de preços de bens de consumo<br />

produzi<strong>do</strong>s no Esta<strong>do</strong> *, a valorização de imóveis rurais, a fixação <strong>do</strong> homem no campo, a<br />

capacitação da mão-de-obra e a melhoria <strong>do</strong> nível educacional. Os impactos negativos<br />

detecta<strong>do</strong>s foram os seguintes: a instabilidade <strong>do</strong> meio físico, a poluição ambiental, a<br />

redução da vegetação, a impermeabilização <strong>do</strong> solo de forma definitiva, a diminuição a<br />

camada orgânica, as modificações no fluxo pluvial *, os acidentes de trabalho/risco à saúde<br />

*, a fuga da fauna ainda existente, a compactação <strong>do</strong> solos, o escorregamento de solo em<br />

área de aterro *, o sistema viário deficiente *, as perdas de solos, a captação de água<br />

contaminada *, a instabilidade da rede elétrica, o rebaixamento <strong>do</strong> lençol freático *, as<br />

falhas no sistema de esgoto *, a fonte gera<strong>do</strong>ra de água insuficiente * e a contaminação de<br />

solo com óleos, graxas e combustíveis * (a presença <strong>do</strong> asterisco indica impactos<br />

apresenta<strong>do</strong>s com possibilidades de ocorrência na região).<br />

IV. 8 - Conclusão<br />

As transformações das condições sociais <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res agrícolas no complexo<br />

avícola industrial são extremamente complexas, por abrangerem uma série de formas de<br />

comunicação, transporte, educação, saúde, atividade econômicas e estrutura fundiária (FORÇA<br />

RURALISTA, 1999:57)<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

110


IMPACTOS <strong>DA</strong>S TRANSFORMAÇÕES <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong><br />

subordinação <strong>do</strong> trabalho agrícola ao capital. Para SORJ et alli (1982), as duas formas<br />

básicas são representadas pela subordinação <strong>do</strong> campesinato, através da integração<br />

horizontal, e pela sua proletarização, através da integração vertical, de maneira que os<br />

camponeses canalizam seus interesses juntamente com o mesmo capital que os subordina.<br />

Portanto, <strong>do</strong> que foi apresenta<strong>do</strong>, constatamos impactos: nas relações de produção,<br />

com a emergência <strong>do</strong> sistema integração de produção de frango, substituin<strong>do</strong> o sistema de<br />

produção independente e subordinan<strong>do</strong> as propriedades à lógica <strong>do</strong>s grandes capitais<br />

industriais da avicultura; no tamanho <strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s, já que hoje são médios e grandes<br />

produtores em função <strong>do</strong> oferecimento de garantias bancárias ao financiamento de galpões<br />

de maior tamanho e com eleva<strong>do</strong> nível automação, utilizan<strong>do</strong> um menor número de<br />

integra<strong>do</strong>s; na eficiência da produção, já que da forma como o sistema integração remunera<br />

o integra<strong>do</strong>, a eficiência aumenta e não existe pagamento de não trabalho, o que é muito<br />

comum na atividade pecuária; na geração de empregos, pois a cada dia, graças à<br />

automação, 1 homem cuida demais frangos e mais galpões, contribuin<strong>do</strong> para desemprego<br />

tecnológico e passan<strong>do</strong> de um sistema de produção de frangos com base na mão-de-obra<br />

familiar para a utilização de mão-de-obra assalariada; na localização das granjas pois<br />

atualmente as novas plantas de produção de frangos são montadas no Centro-Oeste, região<br />

produtora de grãos e fornece<strong>do</strong>ra de grandes incentivos fiscais; e na escala de produção, já<br />

que para viabilizar a produção é necessário criar, cada vez mais aves, para permitir um<br />

ganho razoável na criação de frangos.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

111


CAPÍTULO V<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Neste último capítulo são elenca<strong>do</strong>s alguns elementos estuda<strong>do</strong>s no corpo <strong>do</strong><br />

trabalho e acresci<strong>do</strong>s de algumas contribuições para um melhor entendimento da avicultura.<br />

São apresenta<strong>do</strong>s: as características <strong>do</strong> desenvolvimento da ciência e tecnologia como um<br />

elemento de subordinação <strong>do</strong>s processos de produção; a depreciação tecnológica, que tem<br />

si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s elementos de constrangimento para a participação de integra<strong>do</strong>s em<br />

integrações ou de investimentos em nova capacidade produtiva; os gargalos da avicultura,<br />

expressan<strong>do</strong> os pontos frágeis da sua cadeia produtiva, a emergência da questão ambiental,<br />

sinalizan<strong>do</strong> para a produção com desenvolvimento sustenta<strong>do</strong>; e termina com a conclusão<br />

final, analisan<strong>do</strong> o recorte estuda<strong>do</strong> e as suas possíveis contribuições ao melhor<br />

entendimento da avicultura.<br />

V. 1 - Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia<br />

O desenvolvimento social, econômico e cultural da humanidade, desde os tempos<br />

mais remotos até os nossos dias, está basea<strong>do</strong> na existência de um tempo excedente de<br />

trabalho. Para GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988: 2), quan<strong>do</strong> o homem passou a dispor de<br />

uma “sobra” <strong>do</strong> tempo de trabalho necessário à sua perpetuação é que alguns <strong>do</strong>s membros<br />

da sua espécie puderam dedicar-se a outros afazeres ou até mesmo não fazer nada. Ou seja,<br />

a própria divisão social <strong>do</strong> trabalho que daí se seguiu iria permitir inclusive que alguns<br />

trabalhassem e outros não, que uns se tornassem escravos e outros senhores.<br />

Para MATOS (1996b), a mudança técnica como resulta<strong>do</strong> da introdução no sistema<br />

econômico de máquinas para substituição <strong>do</strong> trabalho humano, reduz o esforço despendi<strong>do</strong>


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

na produção, diminui custos, eleva a relação capital-trabalho e substitui o trabalho vivo por<br />

trabalho morto. Neste aspecto, o objetivo <strong>do</strong> capital quan<strong>do</strong> emprega maquinaria tem por<br />

finalidade baratear as merca<strong>do</strong>rias, encurtar a parte <strong>do</strong> dia de trabalho <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r para si<br />

mesmo (trabalho necessário) para ampliar a outra parte (trabalho excedente) que ele dá<br />

gratuitamente ao capitalista (MARX, 1982)<br />

Na verdade o autor deixa claro que sob determinadas condições históricas e sociais,<br />

o tempo de trabalho necessário para a sobrevivência e reprodução, pode ser toma<strong>do</strong> como<br />

uma constante. Assim, o aumento da produtividade estará no aumento <strong>do</strong> produto<br />

excedente por unidade de tempo <strong>do</strong> trabalho total. Sen<strong>do</strong> que, o aumento da capacidade<br />

produtiva de um conjunto de pessoas pode ser consegui<strong>do</strong> pela cooperação entre esses<br />

trabalha<strong>do</strong>res, pela sua especialização em determinadas atividades através de uma adequada<br />

divisão de tarefas e, pelo uso de ferramentas e máquinas apropriadas.<br />

A partir desse raciocínio, GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988: 4) define ciência e<br />

tecnologia. Para o autor, o conjunto de conhecimentos disponíveis, que permite uma ou<br />

mais maneiras de se fazer uma determinada tarefa com mais eficiência constitui o que<br />

chamamos de ciência, e a aplicação desses conhecimentos a uma determinada atividade<br />

produtiva é o que se denomina de tecnologia. Esse conjunto de conhecimentos disponíveis<br />

num determina<strong>do</strong> momento é um produto social: ou seja, a própria ciência depende <strong>do</strong> nível<br />

de desenvolvimento e das necessidades técnicas da sociedade.<br />

Cita ainda que, a própria ciência tem um caráter de classe na sociedade capitalista,<br />

já que a tecnologia é a aplicação da ciência ao processo produtivo. A tecnologia é, portanto,<br />

uma relação social e não um conjunto de coisas como poderíamos pensar ao olhar as<br />

máquinas, os adubos químicos, as sementes etc. A tecnologia é o conjunto <strong>do</strong>s<br />

conhecimentos aplica<strong>do</strong>s a um determina<strong>do</strong> processo produtivo com objetivo de lucro,<br />

portanto, a tecnologia adequada ao sistema capitalista é aquela que permite gerar mais<br />

lucros.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

113


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

Numa sociedade capitalista, que é uma sociedade de classes, a ciência destina-se a<br />

colocar à disposição da sociedade o saber necessário para garantir a produção e reprodução<br />

<strong>do</strong>s processos vitais da sociedade na forma em que foi determina<strong>do</strong> pela classe <strong>do</strong>minante.<br />

A reprodução da força de trabalho exige não só uma reprodução da qualificação desta às<br />

regras da ordem estabelecidas, isto é, uma reprodução da submissão desta à ideologia<br />

<strong>do</strong>minante para os operários e uma reprodução da capacidade de manejar bem a ideologia<br />

<strong>do</strong>minante para os agentes da exploração e da repressão, a fim de que possam assegurar<br />

também, pela palavra, a <strong>do</strong>minação da classe <strong>do</strong>minante (IANNI, 1976).<br />

Portanto, as classes subordinadas não escolhem as tecnologias, elas recebem as<br />

pressões para aplicação das ciências mais intensamente nos setores de maior tecnificação,<br />

mais capitaliza<strong>do</strong>s e complementares às necessidades das classes <strong>do</strong>minantes numa<br />

condição relativa de falta de melhores alternativas. Dessa forma, a indústria, valen<strong>do</strong>-se da<br />

ciência e desenvolven<strong>do</strong> a tecnologia, não dá autonomia para o produtor utilizar esta ou<br />

aquela tecnologia; o processo é imposto, já que está determina<strong>do</strong> o padrão de galpão a ser<br />

implanta<strong>do</strong>, a genética <strong>do</strong> frango a ser usa<strong>do</strong>, a ração a ser consumida, o manejo a ser<br />

aplica<strong>do</strong>, as medicações e vacinas necessárias, as normas de climatização a serem seguidas<br />

e, inclusive, as regras para remuneração também já estão definidas.<br />

V. 2 - Depreciação Tecnológica<br />

Utilizan<strong>do</strong> as considerações teóricas sobre ciência e tecnologia é possível focalizar<br />

o objeto de estu<strong>do</strong> deste trabalho e extrair algumas reflexões. A avicultura vem passan<strong>do</strong><br />

por um intenso desenvolvimento tecnológico, de maneira que as estruturas produtivas de<br />

criação de frangos têm si<strong>do</strong> superadas em um intervalo de tempo cada vez menor. Esse<br />

ambiente de intensa depreciação tecnológica tem representa<strong>do</strong> uma grande instabilidade e<br />

limita<strong>do</strong> a decisão de investimento <strong>do</strong> avicultor 80 , por ocasião da aquisição de<br />

financiamento para construção de nova capacidade produtiva.<br />

80 Essa situação tem si<strong>do</strong> observada em Rio Verde.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

114


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O grau de mudança tecnológica poderá ser influencia<strong>do</strong> também por fatores<br />

relativos ao ambiente econômico, principalmente o protecionismo e o aproveitamento de<br />

vantagens comparativas baseadas em mão-de-obra barata, recursos naturais abundantes,<br />

subsídios e políticas cambiais que retardam a competição. Portanto, as estruturas de<br />

merca<strong>do</strong> são defini<strong>do</strong>ras e seleciona<strong>do</strong>ras das novas tecnologias.<br />

Consideran<strong>do</strong> que a introdução de máquinas e instrumentos de trabalho mais<br />

aperfeiçoa<strong>do</strong>s, possibilita aumentar relativamente à fração <strong>do</strong> trabalho excedente sobre o<br />

trabalho necessário (elevan<strong>do</strong> os lucro da empresa inova<strong>do</strong>ra em relação à média das<br />

outras, pelo rebaixamento <strong>do</strong> preço unitário), o agricultor integra<strong>do</strong> na hora de investir deve<br />

considerar que o equipamento adquiri<strong>do</strong> tem que produzir o custo <strong>do</strong> seu investimento mais<br />

um determina<strong>do</strong> lucro, enquanto não for supera<strong>do</strong> por outro mais eficiente 81 .<br />

Neste aspecto MATOS (1996a: 30) sublinha que, “... a expectativa de um eleva<strong>do</strong><br />

ritmo de obsolescência tecnológica estaria positivamente relacionada a um maior ritmo de<br />

introdução de inovações. Os custos incorri<strong>do</strong>s no aban<strong>do</strong>no da tecnologia anterior<br />

determinariam a cautela <strong>do</strong> empresário quanto à introdução, muito embora, na verdade, isso<br />

também se refira ao volume de capital imobiliza<strong>do</strong> na técnica anterior ou à vida útil, ainda<br />

rentável, que se espera <strong>do</strong>s equipamentos envolvi<strong>do</strong>s. A expectativa de redução <strong>do</strong>s custos<br />

de produção e outros custos, associa<strong>do</strong>s à nova tecnologia a partir <strong>do</strong>s melhoramentos da<br />

inovação, também condiciona o atraso na sua introdução”.<br />

Cita ainda que “Isso sugere que a análise da inovação se constitui em um processo<br />

de aperfeiçoamento sucessivo através <strong>do</strong> qual ela passe a ser vista como um conjunto de<br />

inovações articuladas. Às vezes, o inova<strong>do</strong>r inicial obteria maiores lucros se esperasse um<br />

pouco mais de tempo para introduzir uma inovação. Sen<strong>do</strong> assim, a espera por inovações<br />

secundárias ou por aperfeiçoamentos na inovação primária certamente produziria maior<br />

81 Uma das maneiras de aumentar a taxa de lucro, é aumentar a velocidade de rotação <strong>do</strong> capital (D-M),<br />

segun<strong>do</strong> GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988), isso pode ser consegui<strong>do</strong> através <strong>do</strong> progresso técnico.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

115


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

rentabilidade, levan<strong>do</strong>-se a concluir que o lucro não está associa<strong>do</strong> somente à audácia, mas<br />

também à cautela”.<br />

Portanto com relação a esse aspecto GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA (1988) sublinha que,<br />

o que interessa é usar tanto mais intensamente quanto possível as suas máquinas para que<br />

possa tanto mais rapidamente substituí-las por outras mais modernas 82 , certamente mais<br />

aperfeiçoadas e, possivelmente, mais baratas. Há duas razões para esse tipo de<br />

comportamento: primeira, que a depreciação mais rápida minimiza as perdas de<br />

obsolescência; segunda, devi<strong>do</strong> à competição (concorrência) entre os capitais priva<strong>do</strong>s pelo<br />

maior lucro, um determina<strong>do</strong> capitalista sempre procura sair na frente <strong>do</strong>s outros, para com<br />

novas máquinas mais aperfeiçoadas, baratear seu produto e obter um lucro extraordinário<br />

antes que seus concorrentes consigam também trocar os equipamentos antigos.<br />

V. 3 - Os Gargalos da Avicultura<br />

Dentre os gargalos da atividade, a despeito da exuberância <strong>do</strong>s números de<br />

produção, SALLE et alii (1998) consideram que a avicultura brasileira opera sobre uma<br />

verdadeira “corda bamba” devi<strong>do</strong> aos desequilíbrios que podem obstar sua cadeia<br />

produtiva. As raízes desse desequilíbrio se encontram, preponderantemente, nos seguintes<br />

pontos: dependência, quase absoluta, de material genético importa<strong>do</strong> e carências no sistema<br />

de controle sanitário.<br />

Em relação a dependência de material genético importa<strong>do</strong>, a avicultura brasileira<br />

depende, quase totalmente, da importação de material genético básico. Este procedimento é<br />

histórico e decorre <strong>do</strong> fato de que os EUA e alguns países da Europa, desde a primeira<br />

metade deste século, desenvolvem trabalhos de melhoramento genético que resultaram na<br />

obtenção de novas linhagens “híbri<strong>do</strong>s” cuja produtividade resultante é superior à das<br />

82 As novas máquinas, quan<strong>do</strong> introduzidas pela primeira vez, são ineficientes uma vez que o modelo novo<br />

não teve oportunidade de passar por uma rigorosa análise de seu funcionamento, o que faz com que se espere<br />

o surgimento de novos méto<strong>do</strong>s e aperfeiçoamentos de suas funções, portanto fica implícito um certo ciclo<br />

vital de desenvolvimento de novas técnicas de produção (MARX, 1982)<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

116


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

linhagens puras. Dispor de linhagens mais produtivas permitiu que essas empresas privadas<br />

expandissem seus merca<strong>do</strong>s a nível mundial, fator que assegurou a aplicação de<br />

investimentos contínuos no melhoramento e, por decorrência, melhoras também contínuas<br />

nas respectivas linhagens 83 (SALLE et alii, 1998).<br />

COTTA (1997) argumenta que, <strong>do</strong> ponto de vista genético, os cruzamentos foram<br />

feitos de maneira a não se poder ir além da produção <strong>do</strong> frango de corte. Essa situação<br />

coloca a avicultura brasileira na incômoda dependência <strong>do</strong>s países detentores das linhagens<br />

puras. Cita ainda que o Brasil importa, na área de frango de corte, principalmente as<br />

linhagens Hubbard, Arbor Acres, Cobb, Isa-vedette, Avian Farms, Ross e Hibro, todas<br />

produzin<strong>do</strong> pintos de um dia com possibilidade de separação de sexo.<br />

Durante tempos, acreditou-se que essa dependência representava o grande gargalo<br />

<strong>do</strong> setor, não só pelo dispêndio de divisas, mas, sobretu<strong>do</strong>, por colocar a produção brasileira<br />

submissa a fornece<strong>do</strong>res externos. Para SALLE et alii (1998: 232) não é bem assim. O<br />

dispêndio de divisas chega a ser desprezível se considera<strong>do</strong>s os benefícios da importação, já<br />

que representam menos de 2% das divisas arrecadadas (exclusivamente) com as<br />

exportações de frango e apenas alguns milésimos da produção bruta brasileira, conforme<br />

apresenta<strong>do</strong> na Tabela 18. Observa-se também que, os benefícios internos alcança<strong>do</strong>s com<br />

a importação de US$ 17 milhões de material genético em 1997, foram de US$ 6,5 bilhões<br />

(US$ 883 milhões em exportação + US$ 5,624 bilhões consumi<strong>do</strong>s internamente = US$<br />

6,507 bilhões).<br />

No que se refere à submissão <strong>do</strong> setor a outros países SALLE et alii (1998: 231)<br />

consideram isso pouco provável, já que sen<strong>do</strong> o Brasil um <strong>do</strong>s principais produtores<br />

mundiais, é também um <strong>do</strong>s grandes consumi<strong>do</strong>res de material genético melhora<strong>do</strong>. Dessa<br />

83 Na área de frangos de corte essa dependência ultrapassa os 70% e se baseia nas linhagens Hubbard,<br />

Peterson, Arbor Acres, Cobb, Aviam Farms (todas americanas), Indian River (européia), Shaver (canadense),<br />

Isa, MPK (franco-americanas) e Hybro (holandesa). A dependência só não é absoluta porque, a Agroceres<br />

mantém uma joint-venture com a empresa escocesa Ross, através da qual produzem no Brasil avós da<br />

linhagem AgRoss, a Perdigão que mantêm o seu próprio trabalho de melhoramento genético para a produção<br />

de Chester e a Sadia que também iniciou, mais recentemente, trabalho de melhoramento genético no País.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

117


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

forma é um merca<strong>do</strong> respeita<strong>do</strong> disputa<strong>do</strong>. Além disso, a disponibilidade interna de<br />

linhagens cujo desempenho é reconheci<strong>do</strong> mundialmente, coloca o Brasil em pé de<br />

igualdade com as melhores aviculturas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Cita ainda que “... curiosamente – e por<br />

conta da alimentação natural, <strong>do</strong> clima e, também, das condições de manejo – há linhagens<br />

que, no Brasil, apresentam melhor desempenho que o registra<strong>do</strong> em seus países de origem<br />

ou em qualquer outro país, fator que destaca ainda mais a avicultura brasileira no panorama<br />

avícola internacional”.<br />

TABELA 18 – Balança Comercial da Avicultura Brasileira 1997 (Milhões de US$)<br />

Importações (Material Genético)<br />

17<br />

Exportações (Carne de Frango*)<br />

900<br />

Sal<strong>do</strong> 883<br />

Valor da produção consumida internamente (carne de frango e ovos) 5.624<br />

* Não inclui as exportações de ovos férteis, pintos de um dia, ovos in natura e ovos industrializa<strong>do</strong>s.<br />

Fonte: SALLE et alii (1998),<br />

Mesmo consideran<strong>do</strong> o custo da produção interna desta genética, inferior à média<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> internacional, os benefícios internos da importação são grandes, já que se não<br />

tivesse importa<strong>do</strong> o material genético, seria necessário mais divisas para atender à demanda<br />

interna de carne de frango. Entretanto o risco de ocorrência de um surto de <strong>do</strong>enças em um<br />

<strong>do</strong>s países fornece<strong>do</strong>res ou a introdução no país de <strong>do</strong>enças aviárias exógenas, colocaria o<br />

Brasil numa desconfortável condição de não poder atender a rotineira e indispensável<br />

demanda interna e externa.<br />

Dessa forma, o segun<strong>do</strong> problema, o problema sanitário, se agrava pela falta de<br />

resolução <strong>do</strong> problema genético. Neste aspecto SALLE et alii (1998: 233) citam que “o<br />

controle sanitário constitui-se no maior (e no iminente) risco enfrenta<strong>do</strong> pela avicultura<br />

brasileira, poden<strong>do</strong> desestruturá-la completamente, o que ocasionaria reflexos negativos<br />

imensuráveis para o Brasil – quer em termos econômicos (valor econômico da produção,<br />

captação de divisas), quer em termos sociais (abastecimento da população e inclusive,<br />

maciça geração de empregos; não se pode ignorar, a propósito, que como atividade rural<br />

não sazonal, a avicultura é mantene<strong>do</strong>ra permanente de mão-de-obra no campo; e que, ao<br />

tornar viável o minifúndio, permitiu a redução <strong>do</strong> êxo<strong>do</strong> rural)”.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

118


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Portanto, é necessidade premente estabelecer capacidade e conhecimento para<br />

resguardar a produção avícola nacional contra a entrada e disseminação de agentes de<br />

<strong>do</strong>enças que possam vir a comprometer o comércio interno e as exportações de produtos<br />

avícolas. Qualquer falha no sistema que possibilite a passagem de problemas sanitários<br />

pode ser utilizada, por países importa<strong>do</strong>res ou concorrentes, na solicitação de suspensão das<br />

exportações de carnes frescas de aves pelo Brasil. Fatos recentes, como a gripe <strong>do</strong> frango<br />

em Hong Kong e México, são exemplos das difíceis fissuras que podem ocorrer no sistema<br />

de produção devi<strong>do</strong> a problemas sanitários.<br />

A impossibilidade parcial ou total de importação de material genético, impõe ao<br />

Brasil que disponha de suas próprias linhagens produtoras de frangos e ovos, ao menos para<br />

o atendimento estratégico da atividade nas ocorrências excepcionais. Assim, programas<br />

oficiais de melhoramento, como o que vem sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> pelo Centro Nacional de<br />

Pesquisa de Suínos e Aves da Embrapa, devem ser manti<strong>do</strong>s e incentiva<strong>do</strong>s, buscan<strong>do</strong>-se,<br />

inclusive, a participação privada, sen<strong>do</strong> a única forma de dar escala comercial a tais<br />

programas, já que o grande objetivo desses programas é a geração de tecnologias e de<br />

recursos humanos para suprir as necessidades da iniciativa privada.<br />

V. 4 - A Emergência da Questão Ambiental<br />

A questão ambiental na Europa tem mereci<strong>do</strong> grande preocupação atualmente, a<br />

temperatura baixa <strong>do</strong> clima tempera<strong>do</strong> inibe a fermentação e dessa forma diminui a<br />

decomposição de resíduos orgânicos, isso limita a ampliação da produção animal nesta<br />

região. Uma opção que se apresenta no momento é a produção de aves e principalmente de<br />

suínos no clima tropical, diminuin<strong>do</strong> o problema ambiental na Europa e dinamizan<strong>do</strong> a<br />

produção animal em clima tropical. Consideran<strong>do</strong> este aspecto o Centro-Oeste se apresenta<br />

como a nova fronteira de produção. Portanto, a nossa capacidade de produção está<br />

determinada pela nossa capacidade de destruir os dejetos das aves e suínos e de controlar os<br />

impactos negativos, dan<strong>do</strong> sustentabilidade a estes sistemas de produção.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

119


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

A cama de frango vai ser produzida em alta escala para um consumo estável ou até<br />

declinante em função da tendência de especialização <strong>do</strong>s bovinos, resultan<strong>do</strong> na diminuição<br />

<strong>do</strong> plantel e mudança para uma alimentação mais eficiente e menos grosseira. Além disso é<br />

possível que restrições ambientais relacionadas com o o<strong>do</strong>r, com a poluição da água e com<br />

o manejo <strong>do</strong>s dejetos estimulem mais ainda o aban<strong>do</strong>no das regiões mais densamente<br />

povoadas <strong>do</strong> Sul (TALAMIN et alli, 1998).<br />

ORTEGA (2000) cita que cada vez mais é exigi<strong>do</strong> por parte <strong>do</strong>s importa<strong>do</strong>res que a<br />

produção seja feita sem causar danos ambientais, mesmo porque, passaram a utilizar esse<br />

instrumento em substituição às barreiras alfandegárias, combatidas pela Organização<br />

Mundial <strong>do</strong> Comércio (OMC) como forma de discriminar a importação de países que não<br />

os priorizam. Para o autor, em função das condições climatológicas e ambientais atuais é<br />

possível produzir frangos de corte com excelente qualidade no Centro-Oeste. É preciso<br />

explorar melhor o marketing desses aspectos. Em nível internacional a criação de um selo<br />

de qualidade, reconhecen<strong>do</strong> as características sanitárias <strong>do</strong>s produtos de empresas de<br />

associações da região é importante nesse senti<strong>do</strong>.<br />

Entretanto, é necessário ter a audácia para aproveitar o momento atual, mas é<br />

preciso, também, cautela com uma visão de longo prazo no senti<strong>do</strong> ampliar a produção em<br />

ambiente sustenta<strong>do</strong>. Para que tenhamos desenvolvimento sustenta<strong>do</strong> é necessário resolver<br />

o problema futuro <strong>do</strong> excesso de produção de cama de frango, já que é possível que a sua<br />

utilização para bovinos e no solo não seja o suficiente para consumir to<strong>do</strong> o volume<br />

produzi<strong>do</strong>, por isso é necessário intensificar estu<strong>do</strong>s sobre opções de materiais utiliza<strong>do</strong>s<br />

como cama de frango, bem como a sua reutilização por mais vezes em um galpão.<br />

V. 5 - Conclusão Final<br />

Procuramos analisar em nossa dissertação a evolução da base técnica avicultura de<br />

corte no Brasil. Pudemos identificar a consolidação desta atividade industrial a partir da<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

120


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

década de 70, de maneira que a grande quantidade de da<strong>do</strong>s estatísticos desta época até o<br />

momento atual mostra uma grande superioridade de crescimento desse setor em relação à<br />

produção de outras fontes de proteína animal. Junto com o crescimento percebemos a<br />

emergência <strong>do</strong> Brasil como um <strong>do</strong>s destaques mundiais na produção de frangos de corte.<br />

Internamente a importância desse setor econômico cresce tanto pela função social, já que é<br />

consumi<strong>do</strong> com variações mínimas no tocante à quantidade, por ricos e pobres, quanto por<br />

gerar a circulação de cerca de 6 bilhões de dólares e mais de 2 milhões de empregos, sen<strong>do</strong><br />

reconheci<strong>do</strong> por ser o setor mais tecnifica<strong>do</strong> e organiza<strong>do</strong> da pecuária.<br />

Percebemos na avicultura de corte brasileira uma intensa mudança da base técnica,<br />

resultante da aquisição de tecnologias de ponta, de maneira que:<br />

- Identificamos modificações de base técnica na área da genética brasileira<br />

permitin<strong>do</strong> a substituição de raças puras de aves pela importação de material genético de<br />

produção de híbri<strong>do</strong>s sintéticos de alta performance;<br />

- Na área da nutrição, identificamos mudanças que permitem hoje a possibilidade de<br />

formulação de rações utilizan<strong>do</strong> aminoáci<strong>do</strong>s digestíveis, aumentan<strong>do</strong> a precisão <strong>do</strong>s<br />

cálculos de ração e diminuin<strong>do</strong> a necessidade de eleva<strong>do</strong>s níveis de segurança;<br />

- Na área da informática, os avanços permitem atualmente a formulação de rações<br />

em microcomputa<strong>do</strong>res com o auxílio da programação linear, permitin<strong>do</strong> o cálculo de<br />

rações de mínimo custo, diminuin<strong>do</strong> custos e aumentan<strong>do</strong> a estabilidade <strong>do</strong> preço das<br />

rações;<br />

- Na área de equipamentos, identificamos intensa automação de maneira que hoje o<br />

funcionamento <strong>do</strong>s come<strong>do</strong>uros e <strong>do</strong>s bebe<strong>do</strong>uros não depende mais da mão-de-obra<br />

humana, são mais eficientes em termos de limpeza, melhoram o ganho de peso e diminuem<br />

a mortalidade em função da ausência de pessoas andan<strong>do</strong> com freqüência dentro <strong>do</strong> galpão;<br />

- Na área da indústria de rações, vimos a sua reorganização em função da logística<br />

de transporte, regionalizan<strong>do</strong>-se e diversifican<strong>do</strong> sua produção associada a tecnologia mais<br />

acessíveis de menores plantas, miniaturização da informática e acesso ao premix em<br />

pequenas escalas. Por outro la<strong>do</strong>, com a emergência da verticalização apareceram as<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

121


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

grandes integrações que passaram a produzir um volume de rações maior que a própria<br />

produção <strong>do</strong> setor da indústria de rações;<br />

- Na área da climatização, os equipamentos também passaram por intensa<br />

automação. Atualmente, para aquecimento, as campânulas mais utilizadas são a gás com<br />

queima<strong>do</strong>r de infravermelho, sen<strong>do</strong> mais eficientes, de baixo custo e aquecem o <strong>do</strong>bro de<br />

pintinhos. Na refrigeração, passa a fazer parte <strong>do</strong>s galpões o sistema de nebuliza<strong>do</strong>res e<br />

exaustores movimentan<strong>do</strong> o ar de um la<strong>do</strong> a outro <strong>do</strong> galpão (sistema semi-climatiza<strong>do</strong>),<br />

permitin<strong>do</strong> a criação de frangos em alta densidade, sen<strong>do</strong> que tanto o aquecimento quanto a<br />

refrigeração podem controla<strong>do</strong>s automaticamente;<br />

- Muitas mudanças foram identificadas também nos galpões de maneira que neste<br />

perío<strong>do</strong> estuda<strong>do</strong> os galpões aumentaram a sua capacidade interna, passan<strong>do</strong> de cerca de<br />

1000 m 2 para 1600 m 2 . As coberturas de telhas de barro e amianto foram substituídas por<br />

telhas de alumínio e os lanternis não são mais utiliza<strong>do</strong>s em função da implantação<br />

ventilação negativa nos galpões. A estrutura de madeira é substituída pela estrutura em<br />

cimento pré-molda<strong>do</strong> ou metálica, permitin<strong>do</strong> a diminuição <strong>do</strong>s custos de galpões de<br />

grande porte e a iluminação feita por lâmpadas incandescentes cedeu lugar para as<br />

lâmpadas fluorescentes, diminuin<strong>do</strong> custos com energia elétrica e aumentan<strong>do</strong> a eficiência<br />

da iluminação;<br />

- Em relação às técnicas de criação, vimos os avanços consegui<strong>do</strong>s com a técnica<br />

criação de lotes sexa<strong>do</strong>s, permitin<strong>do</strong> mais uniformidade <strong>do</strong>s lotes de frangos com reflexos<br />

positivos tanto no abate como na criação, e na técnica de criação de frangos em alta<br />

densidade, que permite a otimização da utilização <strong>do</strong>s galpões; e<br />

- Identificamos um novo modelo de produção de frangos. A produção atomizada de<br />

carne de aves por parte de muitos milhares de pequenos produtores, está sen<strong>do</strong> substituída<br />

recentemente por um pequeno número médios e grandes produtores integra<strong>do</strong>s, utilizan<strong>do</strong><br />

as mais sofisticadas técnicas de criação.<br />

As explicações para essas mudanças de base técnica puderam ser mais bem<br />

entendidas pelas contribuições de vários autores, merecen<strong>do</strong> destaque as contribuições:<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

122


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

- de GRAZIANO <strong>DA</strong> SILVA, que atribui essas mudanças à desagregação <strong>do</strong><br />

complexo rural e formação <strong>do</strong>s complexos agroindustriais, ou seja, uma estrutura com<br />

característica auto-suficiente é substituída por outra ligada à jusante e à montante a<br />

indústria;<br />

- de GOODMAN, que apresenta a tese de que o apropriacionismo e<br />

substitucionismo industrial foram os responsáveis pelas modificações ocorridas no campo.<br />

Ele se baseia na tese de que a indústria se apropria das atividades <strong>do</strong> campo através <strong>do</strong><br />

desenvolvimento tecnológico, substituin<strong>do</strong> com eficiência atividades que no caso da<br />

avicultura se concentram na área da genética, nutrição e mecânica. Esse processo é tão<br />

intenso que sobrou para o campo apenas a criação <strong>do</strong> frango (por isso a apropriação é dita<br />

parcial);<br />

- de ROMEIRO, que acredita que questões ligadas à terra e ao trabalho explicam o<br />

que ocorreu no campo. Segun<strong>do</strong> o autor, a economia de terra devi<strong>do</strong> o seu custo, com a<br />

aplicação de tecnologia aumentan<strong>do</strong> a produtividade e à economia da mão-de-obra devi<strong>do</strong><br />

também ao custo e a baixa eficiência humana tem justifica<strong>do</strong> as modificações poupa<strong>do</strong>ras<br />

de terra e trabalho; e<br />

- de vários autores que identificaram na atuação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> o incentivo para o<br />

crescimento <strong>do</strong> setor através de políticas públicas. Para GODOY (1999) coube ao Esta<strong>do</strong> a<br />

regulamentação da importação de pintinhos avozeiros e o incentivo a pesquisa em<br />

instituições de pesquisa e universidades públicas. Os benefícios no passa<strong>do</strong> com<br />

financiamentos são descritos por DELGADO (1985) e em tempo recente por ORTEGA<br />

(2000), que destaca a participação atual <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> no financiamento de novas unidades<br />

produtivas de frangos de corte no Centro-Oeste.<br />

Com relação aos impactos constatamos seus efeitos:<br />

- nas relações de produção, com a emergência <strong>do</strong> sistema integração de produção de<br />

frango substituin<strong>do</strong> o sistema de produção independente e subordinan<strong>do</strong> as propriedades à<br />

lógica <strong>do</strong>s grandes capitais industriais da avicultura;<br />

- no tamanho <strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s, visto que a tendência atual é de que os integra<strong>do</strong>s<br />

sejam, cada vez maiores e em menor número em função <strong>do</strong> oferecimento de garantias<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

123


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

bancárias ao financiamento de galpões de maior tamanho, com eleva<strong>do</strong> nível automação, e<br />

<strong>do</strong> aumento da escala para viabilizar a produção;<br />

- na eficiência da produção, já que da forma como o sistema integração remunera o<br />

integra<strong>do</strong>, a eficiência aumenta e não existe pagamento de não trabalho, o que é muito<br />

comum na atividade pecuária;<br />

- na geração de empregos, pois a cada dia, graças à automação, 1 homem cuida de<br />

mais frangos e mais galpões, contribuin<strong>do</strong> para desemprego tecnológico e passan<strong>do</strong> de um<br />

sistema de produção de frangos com base na mão-de-obra familiar para a utilização de<br />

mão-de-obra assalariada;e<br />

- na localização das granjas, pois atualmente as novas plantas de produção de<br />

frangos são montadas no Centro-Oeste, região produtora de grãos e fornece<strong>do</strong>ra de grandes<br />

incentivos fiscais.<br />

No nosso entendimento, o recorte estuda<strong>do</strong> é mais transparente quan<strong>do</strong> interpreta<strong>do</strong><br />

pelo foco da ciência e tecnologia. As classes subordinadas não escolhem as tecnologias,<br />

elas recebem as pressões para aplicação das ciências mais intensamente nos setores de<br />

maior tecnificação, mais capitaliza<strong>do</strong>s e se tornam complementares às necessidades das<br />

classes <strong>do</strong>minantes em função uma condição relativa de falta de melhores alternativas.<br />

Dessa forma a indústria, ao valer-se da ciência e desenvolven<strong>do</strong> a tecnologia, não dá<br />

autonomia para o produtor utilizar esta ou aquela tecnologia. O processo é imposto já que<br />

está determina<strong>do</strong> o padrão de galpão a ser implanta<strong>do</strong>, a genética <strong>do</strong> frango ser usa<strong>do</strong>, a<br />

ração ser consumida, o manejo a ser aplica<strong>do</strong>, as medicações e vacinas necessárias, a<br />

normas de climatização a serem seguidas e, inclusive as regras para remuneração <strong>do</strong> serviço<br />

presta<strong>do</strong>.<br />

Diante desse quadro a busca de financiamentos para construção de galpões com<br />

tecnologias de ponta tem cria<strong>do</strong> constrangimentos para o produtor em função uma intensa<br />

depreciação tecnológica e <strong>do</strong> montante eleva<strong>do</strong> <strong>do</strong> financiamento. Entretanto, basea<strong>do</strong> no<br />

que foi estuda<strong>do</strong> acreditamos que a recomendação mais prudente é aquela que diz que, o<br />

que interessa, é usar tanto mais intensamente quanto possível às máquinas para que possa<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

124


CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

tanto mais rapidamente substituí-las por outras mais modernas, certamente mais<br />

aperfeiçoadas e, possivelmente, mais baratas. Há duas razões para esse tipo de<br />

comportamento: primeira, que a depreciação mais rápida minimiza as perdas de<br />

obsolescência; segunda, que devi<strong>do</strong> à competição (concorrência) entre os capitais priva<strong>do</strong>s<br />

pelo lucro, um determina<strong>do</strong> capitalista sempre procura sair na frente <strong>do</strong>s outros, para com<br />

novas máquinas mais aperfeiçoadas, baratear seu produto e obter um lucro extraordinário<br />

antes que seus concorrentes consigam também trocar os equipamentos antigos.<br />

Diante da exuberância <strong>do</strong>s números da avicultura de corte, o elo mais frágil de sua<br />

cadeia produtiva é o problema sanitário. O controle sanitário se constitui no maior (e no<br />

iminente) risco enfrenta<strong>do</strong> pela avicultura brasileira, poden<strong>do</strong> desestruturá-la<br />

completamente, o que ocasionaria reflexos negativos imensuráveis para o Brasil, quer em<br />

termos econômicos (valor econômico da produção, captação de divisas), quer em termos<br />

sociais (abastecimento da população e, inclusive, maciça geração de empregos). Não se<br />

pode ignorar, a propósito, que como atividade rural não sazonal, a avicultura é mantene<strong>do</strong>ra<br />

permanente de mão-de-obra no campo; e que, ao tornar viável o minifúndio, permitiu a<br />

redução <strong>do</strong> êxo<strong>do</strong> rural.<br />

Portanto, é necessidade premente estabelecer capacidade e conhecimento para<br />

resguardar a produção avícola nacional contra a entrada e disseminação de agentes de<br />

<strong>do</strong>enças que possam vir a comprometer o comércio interno e as exportações de produtos<br />

avícolas. Qualquer falha no sistema que possibilite a passagem de problemas sanitários<br />

pode ser utilizada, por países importa<strong>do</strong>res ou concorrentes, na solicitação de suspensão das<br />

exportações de carnes frescas de aves pelo Brasil. Fatos recentes, como a gripe <strong>do</strong> frango<br />

em Hong Kong e México, são exemplos das difíceis fissuras que podem ocorrer no sistema<br />

de produção devi<strong>do</strong> a problemas sanitários.<br />

A possibilidade de restrições parciais ou totais de importação de material genético,<br />

impõe ao Brasil que disponha de suas próprias linhagens produtoras de frangos e ovos, ao<br />

menos para o atendimento estratégico da atividade nas ocorrências excepcionais. Assim,<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

125


A <strong>EVOLUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>BASE</strong> <strong>TÉCNICA</strong> <strong>DA</strong> <strong>AVICULTURA</strong> DE CORTE NO BRASIL<br />

programas oficiais de melhoramento como o que vem sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> pelo Centro Nacional<br />

de Pesquisa de Suínos e Aves da Embrapa, devem ser manti<strong>do</strong>s e incentiva<strong>do</strong>s, buscan<strong>do</strong>-<br />

se inclusive a participação privada, sen<strong>do</strong> a única forma de dar escala comercial a tais<br />

programas, já que o grande objetivo desses programas é a geração de tecnologias e de<br />

recursos humanos para suprir as necessidades da iniciativa privada.<br />

No momento atual, com a queda das barreiras comerciais decorrente da<br />

globalização, é cada vez mais é exigi<strong>do</strong>, por parte <strong>do</strong>s importa<strong>do</strong>res, que a produção seja<br />

feita sem causar danos ambientais. Os importa<strong>do</strong>res passaram a utilizar esse instrumento<br />

em substituição às barreiras alfandegárias, combatidas pela Organização Mundial <strong>do</strong><br />

Comércio (OMC), como forma de discriminar a importação de países que não os priorizam.<br />

O Centro-Oeste se apresenta como o grande potencial para produção de frangos de<br />

corte em ambiente globaliza<strong>do</strong>. É necessário ter a audácia para aproveitar o momento atual,<br />

mas é preciso também cautela com uma visão de longo prazo no senti<strong>do</strong> ampliar a<br />

produção em ambiente sustenta<strong>do</strong>. Para que tenhamos desenvolvimento sustenta<strong>do</strong> é<br />

necessário resolver o problema futuro <strong>do</strong> excesso de produção de cama de frango, já que é<br />

possível que a sua utilização para bovinos e no solo não seja o suficiente para consumir<br />

to<strong>do</strong> o volume produzi<strong>do</strong>, por isso é necessário intensificar estu<strong>do</strong>s sobre opções de<br />

materiais utiliza<strong>do</strong>s como cama de frango, bem como a sua reutilização por mais vezes em<br />

um galpão.<br />

À luz <strong>do</strong> que foi apresenta<strong>do</strong> sobre o recorte estuda<strong>do</strong> é possível identificar uma<br />

contribuição para que se possa formular um conjunto de políticas públicas que bem<br />

atendam à produção de proteína animal, mas que identifique prioritariamente a<br />

possibilidade de melhor investir no ser humano e diminuir a desigualdades sociais.<br />

<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

126


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<strong>Levy</strong> Rei de França<br />

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