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1 - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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1^<br />

,dí^ ^<br />

aOCUMENTO CO<br />

TER<br />

- SINDICALISMO E CONFLITOS<br />

TRABALHISTAS:<br />

- TERRA DE PLANTAR.<br />

- TERRA DE MORAR.<br />

- CENSURA À IMPRENSA.<br />

- ANISTIA<br />

- MOVIMENTO ESTUDANTIL<br />

O


DOCUMENTO<br />

Publicado pela:.<br />

SDDH<br />

SOCIEDADE PARAENSE DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS<br />

Av. Pedro Miranda, 1556 - Fone : 226-1710 - Belém - Pará - Brasil<br />

Editor: HUMBERTO HOCHA CUÍ^HA<br />

Arte: FÉLlÁ<br />

H. CUNHA<br />

Colaboração:<br />

FASE<br />

Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Órgãos para Assistência Social e Educacional.<br />

REGIONAL NORTE I<br />

Rua Bernal do Couto 1329 - Omarizal - Telefone: 222-0318


Ao realizar esta coletânea, nos propu-<br />

semos compor um panorama das lutas so-<br />

ciais travadas em nosso Estado nos últi-<br />

mos. 3 anos.<br />

É comum falar-se da passivida<strong>de</strong> do<br />

povo, da sua falta <strong>de</strong> disposição para apre-<br />

sentar reivindicações econômicas e políti-<br />

cas e <strong>de</strong>fendê-las com obstinação. Ficam<br />

os estudiosos das Ciê&as Sociais, muitas<br />

vezes, sem acesso a materiais empíricos<br />

que lhes possam fornecer pistas para uma<br />

análise mais a<strong>de</strong>quada da realida<strong>de</strong>. As li-<br />

<strong>de</strong>ranças, políticas e sindicais, da classe<br />

operária e do povo também têm dificulda-<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter dados a respeito <strong>de</strong> lutas que<br />

travam em uma região <strong>de</strong> difícil acesso<br />

como a nossa. E, como traçar um rumo<br />

correto, apresentar programas, sugestões e<br />

soluções a nível nacional se não se dispõe<br />

das informações? Essa a lacuna que nos<br />

propusemos preencher, a respeito do nos-<br />

so Estado.<br />

O povo paraense luta? Achamos que<br />

a simples leitura <strong>de</strong>sta coletânea o <strong>de</strong>-<br />

monstra. Procuramos colocar aí as princi-<br />

pais lutas do período, sem acrescentar tex-<br />

to próprio, pois nossa visão é <strong>de</strong> que as lu-<br />

tas do povo <strong>de</strong>vem apresentar-se ao estu-<br />

dioso (cientista ou lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> massa) tal como<br />

PALAVRAS AO LEITOR<br />

se dão, em sua autenticida<strong>de</strong>. É essa au-<br />

tenticida<strong>de</strong> que a SDDH busca e estimula,<br />

pois é ela que po<strong>de</strong>rá promover, a longo<br />

prazo, a libertação do povo do jugo do Ca-<br />

pital. É lógico que a coletânea não esgota<br />

todas as lutas, pois elas são numerosas. Se<br />

fossemos levanta-las e esmiuçá-las todas,<br />

uma revista não bastaria. Teríamos que<br />

editar um livro. Contudo, as que aqui se<br />

apresentam, permitem visualizar o panora-»<br />

ma das lutas sociais em nossa terra.<br />

Para facilitar a consulta, reunimos o<br />

material em gran<strong>de</strong>s unida<strong>de</strong>s temáticas.<br />

Sua leitura e análise permitirão aos interes-<br />

sados formar uma idéia a respeito da trama<br />

<strong>de</strong> interesses <strong>de</strong> classe que <strong>de</strong>terminam as<br />

relações sociais neste trecho <strong>de</strong> País. Para<br />

aqueles que preten<strong>de</strong>m um maior aprofun-<br />

damento do tema, é uma primeira forma <strong>de</strong><br />

tomar contato com o mesmo.<br />

Tais unida<strong>de</strong>s temáticas são: Direitos<br />

Humanos, Anistia, Sindicalismo e Conflitos<br />

Trabalhistas, Censura à Imprensa, Terra <strong>de</strong><br />

Morar. Movimento Estudantil e Terra <strong>de</strong><br />

Plantar. Esperamos assim ter facilitado o<br />

manuseio da coletânea por parte dos seus<br />

usuários.<br />

A revista está em suas mãos. Faça<br />

bom uso.


§<br />

Sc<br />

ca<br />

PÁGINA 4<br />

Como<br />

nasceu a<br />

A SOCIEDADE PARA-<br />

ENSE DE DEFESA DOS DI-<br />

REITOS HUMANOS foi fun-<br />

da<strong>de</strong> oficialmente no dia OE<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1977, quando<br />

foi eleita sua primeira dire-<br />

toria, após a aprovação, em<br />

Assembléia Geral, <strong>de</strong> seus<br />

Estatutos. A idéia <strong>de</strong> sua<br />

criação surgiu quando um<br />

conjunto <strong>de</strong> pessoas se mobi-<br />

lizou para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e auxiliar<br />

os posseiros envolvidos na<br />

morte do fazen<strong>de</strong>iro norte-<br />

americano John Davis, que<br />

preso, no São José amarga-<br />

vam difícil situação, sem<br />

condições <strong>de</strong> pagar advogado,<br />

ou comprar uma simples re<strong>de</strong><br />

para dormir.<br />

Após vencer esta luta, o<br />

conjunto das pessoas mobili-<br />

zadas se ampliou e percebeu<br />

que havia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

criar uma entida<strong>de</strong> que<br />

pu<strong>de</strong>sse melhor realizar um<br />

trabalho efetivo e conseqüen-<br />

te na <strong>de</strong>fesa dos direitos hu-<br />

manos, organizando as<br />

pessoas dispostas a um traba-<br />

lho combativo e persistente<br />

na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>sses direitos. As-<br />

sim foi criada a S.-D. D. H.<br />

Em seu ainda curto pe-<br />

ríodo <strong>de</strong> vida, a Socieda<strong>de</strong><br />

tem <strong>de</strong>monstrado sua impor-<br />

tância. Em pouco tempo co-<br />

seguiu realizar alguns traba-<br />

lhosos valiosos para a <strong>de</strong>fesa<br />

dos direitos <strong>de</strong> nosso povo.<br />

O apoio aos moradores das<br />

ruas da "guerra da poeira",<br />

quando fomos por eles solici-<br />

tados, que consistiu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

assistência jurídica aos presos<br />

ou ameaçados <strong>de</strong> prisão até a<br />

divulgação da "Carta â Popu-<br />

lação", em conjunto com ou-<br />

tras entida<strong>de</strong>s; a promoção<br />

<strong>de</strong> palestras e conferências<br />

com personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocrá-<br />

ticas nacionais como Hélio<br />

Bicudo e Raimundo Pereira,<br />

são disso prova feita.<br />

Participam da SOCIE-<br />

DADE; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua origem,<br />

pessoas das mais diversas<br />

classes sociais — operários,<br />

médicos, intelectuais, donas<br />

<strong>de</strong> casa, professores, biscatei-<br />

ros, advogados, estudantes,<br />

políticos, empresários, etc,<br />

que em cada setor procura<br />

cumprir sua função <strong>de</strong> acor-<br />

do com suas próprias condi-<br />

ções <strong>de</strong> vida.<br />

Socieda<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong><br />

Defesa dos Direitos<br />

Humanos<br />

RESUMO DOS ESTATUTOS<br />

Denominação - Socieda<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong> Defesa<br />

dos Direitos Humanos<br />

Data <strong>de</strong> fundação - 08.08.77; Fundo Sodal -<br />

contribuições dos sócios, doações e legados, arreca-<br />

dação eventual; Objetivos - proteção e <strong>de</strong>fesa dos<br />

direitos humanos; Prazo <strong>de</strong> mandato da diretoria - 2<br />

(dois) anos ou outro período estabelecido pela Assem-<br />

bléia Geral; Se<strong>de</strong> provisória - Belém-Pará; Órgão<br />

máximo <strong>de</strong>liberativo - é a Assembléia Geral; Reforma<br />

dos Estatutos, através <strong>de</strong> Assembléia Geral convocada<br />

especialmente; Dissolução - em caso <strong>de</strong> dissolução da<br />

socieda<strong>de</strong> seu patrimônio será <strong>de</strong>stinado a uma<br />

instituição <strong>de</strong> objetivos semelhantes;"Órgãos Diretores -<br />

Assembléia Geral, Diretoria, Conselho Consultivo c<br />

Conselho Fiscal; a socieda<strong>de</strong> será representada judicial^<br />

e extrajudicialment»; pelo Presi<strong>de</strong>nte; Diretores - Paulo<br />

César Ponteies <strong>de</strong> Lima, brasileiro, advogado, piofes-<br />

sor, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> n" 090.924 - Municipalida<strong>de</strong> 1517, casa.<br />

43 CPF. n 0 . 037485022.;<br />

- Ubiratan Moraes Diniz, brasileiro, casado.<br />

Técnico <strong>de</strong> Administração i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> n 0 . 1.082.213 -<br />

CPF. n 0 . 014854462, resi<strong>de</strong>nte à trav. Ferreira Pena,<br />

547.<br />

Tesoureiro - Mário Nazareno Noronha Farias <strong>de</strong><br />

Souza, casado, Técnico <strong>de</strong> Administração, 520.&50<br />

(carteira <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nüda<strong>de</strong>). Vila dos Bancários, 24 - CPK<br />

^023646112.<br />

(T. n 0 . 01276 - Reg. n 0 . 4621 - Dia 91.08.77)


A carta <strong>de</strong> princípios<br />

A Amazônia vive momentos <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> angústia. Seu povo assiste, hoje, a<br />

<strong>de</strong>struição <strong>de</strong> todo um sistema <strong>de</strong> vida,<br />

on<strong>de</strong> todas as riquezas produzidas em<br />

milênios pela natureza estão sendo irre-<br />

mediavelmente <strong>de</strong>vastadas em função <strong>de</strong><br />

interesses alienígenas, em <strong>de</strong>trimento do<br />

próprio homem amazônico.<br />

Usurparam-nos o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir<br />

os <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> nossa própria região,<br />

que hoje vive <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das <strong>de</strong>cisões<br />

tomadas fora <strong>de</strong> nossas fronteiras. Des-<br />

prezaram o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas ex-<br />

traordinárias potencialida<strong>de</strong>s e vocações<br />

naturais, impondo-nos arbitrariamente<br />

uma política econômica em que ressalta,<br />

sobretudo, o imenso <strong>de</strong>sprezo pelo seu<br />

povo.<br />

Nossas iniciativas industriais e co-<br />

merciais são asfixiadas pelo po<strong>de</strong>rio das<br />

gran<strong>de</strong>s empresas nacionais e multina-<br />

cionais, que aqui aportam numa concor-<br />

rência <strong>de</strong>sleal e sufocante, cuja conse-<br />

qüência mais imediata, é o fechamento<br />

<strong>de</strong> casas comerciais, fábricas e oficinas,<br />

provocando o crescente <strong>de</strong>semprego <strong>de</strong><br />

pais e mães <strong>de</strong> famílias.<br />

Nossa agricultura está estrangu-<br />

lada por uma estrutura fundiária, on<strong>de</strong><br />

os gran<strong>de</strong>s latifúndios impe<strong>de</strong>m o uso<br />

produtivo e social da terra, recebendo<br />

todos os favores da política agrária,<br />

tais como os direitos e uso pleno ao<br />

crédito, assistência técnica, armazena-<br />

mento, transporte e comercialização<br />

em prejuízo {do pequeno e médio agri-<br />

cultor, provocando a importação <strong>de</strong><br />

alimentos e encarecendo o preço dos gê-<br />

neros <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong>.<br />

Nossos minérios estão entregues<br />

nas mãos dos gran<strong>de</strong>s frustes interna-<br />

cionais, que se organizam para os explo-<br />

rar, alienando <strong>de</strong> nossa terra uma rique-<br />

za não reproduzivel, ao fim do qual só<br />

nos restará o sabor amargo do logro,<br />

tal qual o sente o povo do Amapá com<br />

a experiência do manganês da Serra<br />

do Navio, bem como os garimpeiros <strong>de</strong><br />

Rondônia, impedidos dê extrair a cassi-<br />

terita.<br />

Em contrapartida, intensifica-se a<br />

pecuária. Destroi-se criminosamente uma<br />

riqueza florestal incalculável na queima<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> mais alto valor. Ampli-<br />

am-se os latifúndios <strong>de</strong>smedidos, na su-<br />

bstituição do homem pelo capim. Tudo<br />

em função da rentabilida<strong>de</strong> mais rápi-<br />

da do capital, num enorme processo <strong>de</strong><br />

acumulação <strong>de</strong> renda.<br />

0 homem amazônico é aviltado, en-<br />

ganado, martirizado. Tradicionalmente<br />

posseiro, é expulso da terra pela expan-<br />

são das novas fazendas, transformado<br />

em "peão rodado", enfrentando em cada<br />

trecho novas cercas <strong>de</strong> arame farpado,<br />

quando não dúzias <strong>de</strong> capangas arma-<br />

dos prontos a lhe <strong>de</strong>struir o roçado, a<br />

casa <strong>de</strong> enchimento, e até a própria vi-<br />

da. As populações ribeirinhas são relega-<br />

das ao maior abandono. Incentiva-se<br />

tão somente a pesca industrial, nas mãos<br />

<strong>de</strong> alguns poucos, muitas vezes predató-<br />

ria, em prejuízo <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> pescado-<br />

res artesã na is <strong>de</strong>sassistidos e explorados<br />

pela figura do intermediário.<br />

As cida<strong>de</strong>s incham. Os expulsos<br />

da terra, novamente são expulsos <strong>de</strong> suas<br />

caias nas baixadas pela <strong>de</strong>senfreada es-<br />

peculação imobiliária, reproduzindo<br />

todo o círculo <strong>de</strong> aviltamento, enganos<br />

e martírio. Uma indústria incipiente não<br />

consegue absorver esse enorme conti-<br />

gente <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra. O povo vive opri-<br />

mido por salários baixos e injustos, em-<br />

purrado ao sub emprego e arrastado à<br />

marginalida<strong>de</strong>. Enquanto recursos<br />

imensos são <strong>de</strong>stinados aos gran<strong>de</strong>s pro-<br />

jetos não há escolas, 'não há saú<strong>de</strong>, não<br />

há habitação, não há saneamento, não<br />

há lazer, não há trabalhos, não há res-<br />

peito.O mesmo povo que suporta toda es-<br />

sa exploração <strong>de</strong>ve ser o único benefici-<br />

ário das riquezas naturais (rios, solo,<br />

floresta e minerais), objetivo viável<br />

através do uso racional das riquezas da<br />

Amazônia. Trata-se, pois, <strong>de</strong> compatibi-<br />

lizar a geração <strong>de</strong> riquezas com os inte-<br />

resses daqueles que realmente contri-<br />

buem no processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>sses<br />

bens.Paira sobre homem e natureza,<br />

campo e cida<strong>de</strong>, toda uma po<strong>de</strong>rosa es-<br />

trutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, on<strong>de</strong> os gran<strong>de</strong>s pro-<br />

prietários, as gran<strong>de</strong>s empresas, aliadas<br />

muitas vezes ao Estado, mantém o povo<br />

sob jugo e práticas arbitrárias, num pro-<br />

cesso <strong>de</strong> aniquilamento <strong>de</strong> qualquer re-<br />

sistência popular, em que sobretudo se<br />

visa manipulação e a <strong>de</strong>sarticulação das<br />

organizações populares, sejam ao nível<br />

dos Sindicatos Rurais e Urbanos, seja ao<br />

nível das Associações <strong>de</strong> Bairros e Asso-<br />

ciações <strong>de</strong> Classe, num flagrante <strong>de</strong>sres-<br />

peito aos mais elementares direitos hu-<br />

manos.<br />

Submetido a opressão mo<strong>de</strong>rna, o<br />

homem comum <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser cidadão e<br />

se torna simples habitante; não partici-<br />

pa dos problemas <strong>de</strong> sua comunida<strong>de</strong>.<br />

CoKVrmoA.<br />

7 ^ í* aockcU<strong>de</strong><br />

^.me <strong>de</strong> Defes» dos<br />

Direitos Humanos<br />

Se<strong>de</strong>: A»e«M» Pedra Mkwdft i S«6<br />

Bdém-Pu*<br />

Editei Retfoniíwl<br />


PAGINAlÔ<br />

não tenta resolvè-los; como conseqüên-<br />

cia é indiferente aos apelos <strong>de</strong> solidarie-<br />

da<strong>de</strong> humana, sendo causa <strong>de</strong>ssa misé-<br />

ria social o fato consumado <strong>de</strong> que a esse<br />

habitante foi atribuído um mero papel<br />

<strong>de</strong> produtor e consumidor <strong>de</strong> mercado-<br />

rias, que age sob o impulso recebido dia<br />

a dia.Diante <strong>de</strong> exposto, fundamentando-<br />

se na Declaração Universal dos Direitos<br />

do Homem, aprovado em 10.12.1948,<br />

pela Assembléia Geral da "Organização<br />

das Nações Unidas" - ONU. cria-se a<br />

SOCIEDADE PARAENSE DE DEFESA<br />

DOS DIREITOS HUMANOS, que se <strong>de</strong>s-<br />

tina a proteção e <strong>de</strong>fesa dos direitos hu-<br />

mano, tais como:<br />

1 - Moradia dotada <strong>de</strong> serviço pla-<br />

nejado <strong>de</strong> água, esgoto e luz elétrica.<br />

2 — Emprego compatível com a<br />

dignida<strong>de</strong> humana. Salário justo e satis-<br />

fatório; amparo ao <strong>de</strong>semprego.<br />

3 — Ensino público gratuito em to-<br />

dos os níveis.<br />

4 - Saú<strong>de</strong>.<br />

5 - Direito a formação <strong>de</strong> organi-<br />

zações <strong>de</strong> bairro e classes.<br />

6 — Acesso a terra e <strong>de</strong>mais condi-<br />

Socieda<strong>de</strong> dos Direitos<br />

Humanos discute<br />

Carta <strong>de</strong> Princípios<br />

A Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Defesa dos Direitos Huma-<br />

nos realiza hoje, às 20 horas, na Igreja <strong>de</strong> Santa<br />

Terezinha, na Avenida Roberto Camelier, a III<br />

Assembléia Geral Ordinária, quando serão <strong>de</strong>ba-<br />

tidos assuntos, tais como, discussão <strong>de</strong> proposta<br />

<strong>de</strong> criação <strong>de</strong> uma Carta <strong>de</strong> Princípios, que se<br />

aprovada, <strong>de</strong>finitivamente norteará os <strong>de</strong>stinos<br />

da socieda<strong>de</strong>, e discussão <strong>de</strong> seu plano <strong>de</strong> ação,<br />

na forma <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> um tablói<strong>de</strong> aberto à<br />

colaboração dos admiradores <strong>de</strong>ssa luta.<br />

Para a próxima segunda-feira, ocorrera a<br />

primeira promoção pública <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong>,<br />

quando o jornalista Sérgio Buarque, do jornaí<br />

"Movimento", fará palestra sobre o tema tão<br />

controvertido, da convocação da Assembléia<br />

Constituinte.<br />

Nascida no mês <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1975, quando<br />

algumas pessoas se mobilizaram, num gesto <strong>de</strong><br />

solidarieda<strong>de</strong>, em <strong>de</strong>fesa dos posseiros envolvi-<br />

dos no rumoroso "caso Davis", em agosto do<br />

mesmo ano a socieda<strong>de</strong> escolheu sua primeira<br />

diretoria.<br />

A.SDDH congrega atualmente pessoas <strong>de</strong><br />

diversas camadas sociais, como enfatizam seu<br />

coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> imprensa, Luís Maklouf Carva-<br />

lho, eo presi<strong>de</strong>nte Paulo Fonteles, que estiveram<br />

em nossa redação, divulgando a lu Assembléia<br />

Geral Ordinária da socieda<strong>de</strong>. Os dois dirigentes<br />

disseram que a socieda<strong>de</strong> cresceu tanto, nesses<br />

dois anos, que "hoje conta, em suas alas, com<br />

pessoas <strong>de</strong> todos os níveis sociais, que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o operário ao médico, da dona <strong>de</strong> casa à assis-<br />

tente social, todos irmanados na louvável dispo-<br />

sição <strong>de</strong> lutar contra a violação dos direitos<br />

humanos, especialmente em nível regional".<br />

ções <strong>de</strong> produção ao homem rural que<br />

<strong>de</strong>la necessita para trabalhar e manter<br />

sua família.<br />

7 — L iberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento, opi-<br />

nião, expressão, reunião, associação e<br />

convicção político-filosófica.<br />

8 — Creches, ãreas <strong>de</strong> lazer acessí-<br />

vel às crianças e adultos.<br />

9 — Restabelecimento do Instituto<br />

<strong>de</strong> Habeas Corpus <strong>de</strong> modo amplo.<br />

10 — Anistia ampla e irrestrita as<br />

pessoas punidas por motivos i<strong>de</strong>ológicos,<br />

políticos, anseio popular legítimo.<br />

11 — Inviolabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> domicílio,<br />

sigilo absoluto na correspondência e co-<br />

municação telefônica.<br />

12 — Ninguém será arbitrariamen-<br />

te preso, <strong>de</strong>tido ou exilado.<br />

13 — Ninguém será submetido a<br />

tortura, nem a tratamento ou castigo<br />

cruel, <strong>de</strong>sumano, ou <strong>de</strong>gradante.<br />

14 — Ninguém será con<strong>de</strong>nado à<br />

morte.<br />

15 — Respeitoegarantia <strong>de</strong> eleições<br />

oeriódicas e livres por sufrágio univer-<br />

sal e secreto.<br />

IBn» Joio Maria: "euitivar •<br />

dignida<strong>de</strong> da pasaoa hymana"<br />

A Socieda<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong> Defesa dos Direitos Huma-<br />

nos, SDDH, na opmlflo do padre JQfio Maria, é uma coisa<br />

muito boa, muito positiva. "As pessoas que formam a<br />

SDDH, $So pessoas do povo.. Procuram os interesses do<br />

povo e lutam pelo povo, que na maioria das vezes, se vô feri-<br />

do em seus direitos, £ eu chamo <strong>de</strong> feridos e violentados<br />

também nos meios <strong>de</strong> vida. Tem gente que nâo conhece as<br />

baixadas e nem sabe o que se passa com os bairros pobres.<br />

Nfio conhecem, pnfim» a miséria, Através da SDDH todo<br />

mundo fica sabendo o que existe do outro lado da cida<strong>de</strong>"


Beviláqua: vocação <strong>de</strong>mocrática " 0 *%?/*,yi?***<br />

Beviláqua chega e<br />

fala <strong>de</strong> anistia<br />

I<strong>de</strong>ntificando se como um <strong>de</strong>mocrata sincero e pas-<br />

_sional amplo, o general Peri Constant Beviláqua chegou on-<br />

tem à noite em Belém, para participar da mesa redonda<br />

sobre Anistia, que a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Defesa dos Direitos Hu-<br />

manos promoverá hoje, com inicio previsto para às 8:30<br />

horas, na se<strong>de</strong> do IPAR-Instituto Pastoral Regional. Nesse<br />

encontro será também constituído o Núcj||p Pró-Anistia da<br />

entida<strong>de</strong> regional, ligada ao Comitê Brasileiro pela Anistia,<br />

com se<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

A anistia,<br />

hoje no Ipar<br />

■'0 eíiAtb "Po<br />

O livro "Liberda<strong>de</strong> para os Brasileiros -<br />

Anistia Ontem e Hoje", <strong>de</strong> Roberto Martins,<br />

Paulo Martins e Luís Palmeira, será lançado<br />

hoje em Belém, às 20:00 horas, no salflo do<br />

Instituto Pastoral <strong>de</strong> Regional (IPAR), no<br />

Largo da Sé. O lançamento será promovido<br />

pela Editora Civilizaçfto Brasileira e pela So-<br />

cieda<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong> Defesa dos Direitos Hu-<br />

manos.<br />

Comitê pela Anistia<br />

quer trazer restos<br />

mortais <strong>de</strong> Edson Luiz<br />

O Comitê Paraense pela Anistia, através da Socieda<strong>de</strong><br />

Paraense dos Direitos Humanos, reuniu-se à noite <strong>de</strong> ontem, na<br />

Igreja Nossa Senhora <strong>de</strong> Aparecida, na Pedreirr», ocasião em que<br />

foram <strong>de</strong>batidos os meios para organização <strong>de</strong> uma campanha em<br />

memória do estudante Edson Luiz Lima Souto, morto em 28 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 1968, a quando <strong>de</strong> um movimento estudantil no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. Esteve presente à reunião, a mãe <strong>de</strong> Edson, sra. Maria <strong>de</strong><br />

Belém <strong>de</strong> Lima Souto, e um irmão, o jovem Fernando.<br />

Mãe <strong>de</strong> Edson Luiz (D) foi A reimUo<br />

"0 asefifiL"-1^79<br />

Deputados <strong>de</strong>batem<br />

sobre anistia e não<br />

chegam a conclusões<br />

Continua, há quatro dias, em <strong>de</strong>bate polêmico na Assembléia<br />

Legislativa, um requerimento <strong>de</strong> congratulações do <strong>de</strong>putado Carlos<br />

Vinagre à Socieda<strong>de</strong> Paraense dos Direitos Humanos, "pela criação<br />

em nossa capital, da Seção Regional Norte da Campanha da Anistia,<br />

e pela-promoção <strong>de</strong> uma reunião no dia 23. na se<strong>de</strong> do Instituto<br />

Pastoral Reoional, que contará com a presença ^ General Pery<br />

Beviláqua, Jornalistas, Sacerdotes e parlamentares ".<br />

A bancada da ARENA vem se mostrando visceralmente<br />

contrária a essa proposição, sob o fundamento <strong>de</strong> que aquela<br />

socieda<strong>de</strong> que prega a anistia ampla, "para libertar criminosos,<br />

terroristas e seqüestradores", é dirigida pelo General Pery Beviláqua,<br />

"que ontem puniu e cassou muitos políticos e parlamentares em<br />

nome da-Revolução, e hoje, lança-se contra essa mesma Revolução,<br />

pregando anistia ampla, até mesmo para aqueles que atentaram<br />

contra a segurança e o futuro da família brasileira". Talvez, por esta<br />

razão, o <strong>de</strong>putado Gerson Peres, na condição <strong>de</strong> Presi<strong>de</strong>nte do<br />

Diretório Regional da ARENA, classifique o General Peri Beviláqua<br />

<strong>de</strong> "incoerente" e sem autorida<strong>de</strong> para empunhar a ban<strong>de</strong>ira da<br />

"anistia ampla".<br />

Repentistas fazem "show" com<br />

renda para a luta pró-anistia<br />

Após três dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates, encerrou-<br />

ontem, nesta cida<strong>de</strong>, o 2' Encontro da<br />

omissão Executiva Nacional dos Comi-<br />

tês Brasileiros <strong>de</strong> Anistia, Socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Direitos Humanos e Movimentos Femi-<br />

ninos pela Anistia, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

realizar balanço das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvol-<br />

vidas nos últimos dois meses, a avalia-<br />

ção da sua linha política diante da atual<br />

conjuntura brasileira, assim como a<br />

apreciação da situação do jornal "Resis-<br />

tência" <strong>de</strong> Belém, órgão da SDDH, que<br />

está sendo processado pela 8" Auditoria<br />

da Justiça Militar, por veicular <strong>de</strong>nún-<br />

cias <strong>de</strong> torturas.<br />

Enquanto isso, o Comitê "<strong>de</strong> Anistia<br />

da SDDH juntamente com o Comitê Bra-<br />

sileiro pela Anistia <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>,<br />

promoverá hoje, às 17:00 horas, na<br />

Igreja da Aparecida, ã Avenida Pedro<br />

Miranda, o Show da Anistia, que contara<br />

com a presença <strong>de</strong> cantores e repentistas<br />

nor<strong>de</strong>stinos, que vêm realizando excur-<br />

são por todo o País, chamada <strong>de</strong> Viagem<br />

dos Poetas ao Brasil.<br />

Os ingressos estão à venda ao preço<br />

<strong>de</strong> Cr$ 20,00, no local do espetáculo,<br />

sendo a renda revertida em benefício da<br />

luta pela anistia<br />

o.<br />

o<br />

A<br />

5<br />

PÁGINA 7


A;PtO\HnCÍadO|totCÍ -B-lem - Segunda-feira, 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1979<br />

f 'M^fà''%t:&rm [&. ^.w i;.fç<br />

Parte do povo que assistiu à reunião sobre anistia<br />

O UNA ABRE OS DEBATES<br />

Antes que os <strong>de</strong>bates se encami-<br />

r ,assem para o assunto anistia, o coor-<br />

d nador do Comitê Paraense pela Anis-<br />

tia, Manoel Alexandre, propôs que "se<br />

aoroveite a presença dos moradores do<br />

Una para <strong>de</strong>bater o grave problema em<br />

que estão envolvidos". E assim foi feito.<br />

InicialinenLe o luier do bairro expôs o ní-<br />

vel da situação atual, citando vários<br />

casos como exemplo e até apresentando<br />

alguns dos envolvidos, que também usa-<br />

vam do microfone para falar. Disseram<br />

que ninguém no Igarapé do Una tinha<br />

condições <strong>de</strong> comprar os terrenos em<br />

que já estão morando por serem pobres,<br />

e que a condição salarial jamais po<strong>de</strong>rá<br />

acompanhar a especulação imobiliária<br />

concorrente. "As terras no Igarapé do<br />

Una estão abandonadas há mais <strong>de</strong> 20<br />

anos. E quando a gente chega lá, ai<br />

aparece fulano e sicrano dizendo-se<br />

donos e apresentando documentos for-<br />

jados sobre as terras. Somos pobres e<br />

não po<strong>de</strong>mos pagar advogados. Por isso<br />

PÁGINA 8<br />

viemos apelar para a Socieda<strong>de</strong><br />

Paraense dos Direitos Humanos", afir-<br />

mou Manoel Cardoso <strong>de</strong>> Souza, um dos<br />

mais antigos moradores do Una.<br />

• Após as explanações feitas pelos pró-<br />

prios moradores do Una, o presi<strong>de</strong>nte da<br />

SDDH, Paulo Fonteles, afirmou que aca-<br />

tava o pedido <strong>de</strong> ajuda, mas que, acima<br />

dos esforços que serão <strong>de</strong>spendidos pela<br />

SDDH, "somente <strong>de</strong> vocês e que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

uma uma vitória nesta. No final da reu-<br />

nião, quando todos iá se retiravam, a<br />

direção da SDDHlez uma outra reunião,<br />

<strong>de</strong>sta vez somente com os moradores do<br />

Una, para coor<strong>de</strong>narem as primeiras<br />

providências com respeito ao problema.<br />

Uma representante do bairro da<br />

Terra Firme, aproveitando a manifesta-<br />

ção dos moradores do Una, pediu a pala-<br />

vra e fez um relato do problema que<br />

ocorre naSTerra Firme, com relação a<br />

terras. "Lá o.nosso problema é com a<br />

Universida<strong>de</strong>, diretamente com o reitor.<br />

Eu queria que todos tomassem conheci-<br />

mento e que algumas providências fos-<br />

sem tomadas, pois a qualquer hora po<strong>de</strong>-<br />

remos ser retirados das casas on<strong>de</strong><br />

moramos há tanto tempo" , afirmou a<br />

moradora da Terra Firme.<br />

Morador do Una fala dos problemas do bairro<br />

A BATALHA PELA ANISTIA<br />

Cerca <strong>de</strong> 500 pessoas lotaram o audi-<br />

tório do Ipar. no último sábado, à noite,<br />

para <strong>de</strong>baterem, juntamente com alguns<br />

representantes <strong>de</strong> Comitês <strong>de</strong> Anistia <strong>de</strong><br />

outros Estados, sobre o problema da<br />

anistia ampla, geral e irrestrita, que as<br />

camadas base da socieda<strong>de</strong> brasileira<br />

atuai lutam por alcançar. Durante os<br />

<strong>de</strong>bates muita coisa foi dita, não só pelos<br />

membros da mesa e alguns convidados<br />

especiais, mas também por inúmeras<br />

pessoas do povo, que estavam no auditó-<br />

rio e que resolveram pegar o microfone<br />

para falar. A reunião foi promovida pelo<br />

Comitê Paraense pela Anistia e Socie-<br />

da<strong>de</strong> Paraense dos Direitos Humanos.<br />

Os Estados que estavam representados<br />

por seus comitês foram Bahia, Minas<br />

Gerais, São Paulo, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro e Mato Grosso do Sul.<br />

Quando faltavam 10 minutos para o iní-<br />

cio dos trabalhos, chegou ao Ipar um<br />

caminhão trazendo cerca <strong>de</strong> 70 morado-<br />

res do Igarapé do Una, atualmente na<br />

condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriados, e que ime-<br />

diatamente tomaram lugar no auditório.<br />

Outra novida<strong>de</strong> foi a presença da atriz<br />

Rute Escobar, representante do Comitê<br />

pela Anistia, <strong>de</strong> São Paulo, e que, além<br />

<strong>de</strong> haver lido carta-relatório expedida<br />

pelo Congresso Nacional da Anistia,<br />

realizado em novembro passadç.em São<br />

Paulo, fez uma rápida palestra ao final<br />

da reunião, on<strong>de</strong> não so falou sobre os<br />

objetivos <strong>de</strong> todos estarem ali, como<br />

também relembrou alguns fatos passa-<br />

dos, <strong>de</strong> sua vida artística e que <strong>de</strong> certa<br />

forma estavam vinculados com sua pre-<br />

sença no <strong>de</strong>bate.<br />

EXEMPLOS AO VIVO<br />

Após a manifestação pública <strong>de</strong><br />

cada representante dos comitês esta-<br />

duais, o coor<strong>de</strong>nador do comitê paraense,<br />

Manoel Alexandre, apresentou aos pre-<br />

sentes três pessoas que foram atingidas<br />

pelos atos <strong>de</strong> exceção, no Pará, durante<br />

os últimos 14 anos. Foram eles o advo-<br />

gado Levy Hall <strong>de</strong> Moura, o bancário<br />

Raimundo Jinkings e o sociólogo<br />

Mariano Klautau. Os três usaram a<br />

palavra e, <strong>de</strong> maneira direta e <strong>de</strong>ta-<br />

lhada, contaram suas experiências.<br />

O ex-juiz Levy Hall <strong>de</strong> Moura, bas-<br />

tante emocionado e surpreen<strong>de</strong>ntemente<br />

apossado <strong>de</strong> uma euforia nervosa, fez um<br />

discurso contun<strong>de</strong>nte. Ouvido num silên-<br />

cio absoluto, ele foi intensamente aplau-<br />

dido <strong>de</strong> pé por todos os presentes. O ban-<br />

cário Raimundo Jinkings narrou <strong>de</strong>ta-<br />

lhes oue envolveram a feitura <strong>de</strong> alguns<br />

processos em que foi envolvido, particu-<br />

larmente naquele em que foi arrolado<br />

as vésperas da visita do então presi<strong>de</strong>nte<br />

Costa e Silva, ao nosso Estado, ém 1967.


CtíAPA 2-o&*** po PA ^<br />

A?> etíicôíS<br />

SINDICAIS<br />

eSTAO .<br />

CHECrANtDO/ \<br />

MAIO<br />

<strong>de</strong> 1979<br />

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5<br />

SS<br />

PÁGINA 9


Operários <strong>de</strong>nunciam<br />

péssimas condições <strong>de</strong> trabalho ^<br />

Nas comemorações do primeiro aniversa'rio da SDDH,<br />

quando se efetuava o painel "Os TraoalhaJores e a Democracia'<br />

um grupo <strong>de</strong> operários <strong>de</strong>nunciou as péssimas condições<br />

<strong>de</strong> trabalho em fábricas da Amazônia, hi-las:<br />

7 - 0 patrão fica com a carteira profissional por mais <strong>de</strong> 48 horas; _<br />

2 -Em algumas empresas on<strong>de</strong> se trabalha por produção os operários<br />

ou operárias não participam da <strong>de</strong>terminação do preço;<br />

3 - Em algumas empresas há roubo quando a produção é pesada na<br />

balança;<br />

4 -Em algumas empresas <strong>de</strong> Castanha não se paga os pedaços da Cas-<br />

tanha embora sejam vendidos;<br />

5-Em muitas empresas não se paga a hora extra, como <strong>de</strong>veria ser:<br />

consi<strong>de</strong>rando o adicional que o trabalhador tem direito quando o<br />

trabalho é noturno;<br />

6 - Em algumas empresas não existem bebedouros para os operários.<br />

Noutras existe ás vezes 1 para 350 operários ou mais;<br />

7-Muitas empresas embora tendo um número <strong>de</strong> operários que te-<br />

riam direito a ter refeitório, não possuem refeitório para os mes-<br />

mos; . .<br />

8 -Muitas empresas não dão o horário <strong>de</strong> refeição a que tem direito o<br />

trabalhador;<br />

9 — Certas firmas não aceitam operários que estudam a noite ou então<br />

os obrigam a abandonar o estudo; /<br />

10 -Muitas empresas assinam um salário na Carteira e pagam outro por<br />

fora. Na in<strong>de</strong>nização conta o da carteira;<br />

11 -Muitas empresas não possuem as COMISSÕES DE SEGURANÇA<br />

(CIPAS) com a participação do trabalhador. Assim como não ofe-<br />

recem material cie proteção aos trabalhadores;<br />

12 -Algumas empresas não cumprem o dissídio coletivo. E alguns Sin-<br />

dicatos nem sequer procuram tomar conhecimento <strong>de</strong>ste proble-<br />

ma <strong>de</strong> seus associados;<br />

13 —Muitos operários recebem menos in<strong>de</strong>nização quando são in<strong>de</strong>niza-<br />

dos pelo FG TS e não mais pela CL T;<br />

14 —Muitos menores fazem trabalho <strong>de</strong> gente gran<strong>de</strong> e recebem salário<br />

<strong>de</strong> menor. Muitos menores são obrigados a. fazer horas extras e a<br />

<strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> estudar;<br />

15 -Muitas empresas que trabalham por turno, precisam do trabalha-<br />

dor no domingo, dão um dia <strong>de</strong> folga na semana, porém quando<br />

precisam <strong>de</strong>sse dia <strong>de</strong> folga não querem pagar como domingo re-<br />

munerado;<br />

16 —Muitsçs empresas não consi<strong>de</strong>ram o atestado médico que o traba-<br />

lhador trás quando está doente e vai ao INPS;<br />

17 —Muitas empresas não possuem sanitários suficientes conforme man-<br />

da a CL T, para o número <strong>de</strong> operários que possuem,<br />

18 —Alguns Sindicatos têm recebido comunicação dos trabalhadores,<br />

entretanto nada fazem pelos mesmos. Na visita que tais Sindica-<br />

tos fazem ás fábricas a primeira é ao Gabinete do Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Empresa, esquecendo por completo <strong>de</strong> ouvir as queixas, as reivin-<br />

dicações <strong>de</strong> seus companheiros.<br />

PAGINA 10<br />

*v &<br />

^<br />

,\^<br />

greve dos<br />

jornalistas<br />

As reCações dos jornais <strong>de</strong> Belém<br />

paralisara-^ suas ativida<strong>de</strong>s durante meia<br />

hora no cia 11, em sinal <strong>de</strong> protesto<br />

contra a Delegacia Regional cio Trabalho^<br />

que mantém irregular <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> jorna-<br />

listas que aincia não obtiveram registro<br />

profissional. A greve iniciou às 18 horas,<br />

encerrando 3C minutos <strong>de</strong>pois, e nesse<br />

tempo foi lido nas redações um manifesto<br />

elaborado pelo Sindicato dos Jornalistas<br />

Profissionais do Estado do Pará expondo<br />

a situação <strong>de</strong> boa parte dos jornalistas<br />

paraenses.<br />

Segundo o presi<strong>de</strong>nte do Sindicato,<br />

jornalista Lúcio Flavio Pinto, a greve nao<br />

teve caráter contsstatório, e sim reivin-<br />

dicatóno, visando Sobretudo sensibilizar<br />

as autorida<strong>de</strong>s trabalhistas para a situa<br />

ção marginal em que vivem <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong>-<br />

repórteres, redatores, noticiaristas, e ate<br />

editores ainda sem. o registro profissional.<br />

Os radialistas também oarticiparam da<br />

greve, paralisando apenas os trabalhos que<br />

teriam que ser feitos naquele período <strong>de</strong><br />

tempo, prosseguindo, porérn, os trabalhes<br />

<strong>de</strong> locução.<br />

\a redação Jc " 1 stiiJi> Jc 1'ara' as iornalistas<br />

ru jfrtTf ile reivinJU ação mfití nora Jc para-<br />

aa. icnao a caria do dndiiato sohrc as razões do-<br />

rmmmmio vo outro uia. o tornai nao publi-<br />

cou nada.


motoristas: Sindicato <strong>de</strong>siste<br />

do dissídio<br />

O sindicato dos Condutores <strong>de</strong><br />

Veículos Rodoviários <strong>de</strong> Beiém se-<br />

gundo afirmou seu presi<strong>de</strong>nte aceitou<br />

a contraproposta formulada pelo Sin-<br />

dicato das Empresas <strong>de</strong> Transportes<br />

<strong>de</strong> Passageiros <strong>de</strong> Belém, que consiste<br />

num aumento <strong>de</strong> cincoenta por cen-<br />

to, a partir <strong>de</strong> Io. <strong>de</strong> maio corrente,<br />

nos salários <strong>de</strong> motoristas urbanos e<br />

intermunicipais, ficandoacèrtado<br />

que, no próximo aumento do preço<br />

das passagens dos ônibus, previsto pa-<br />

ra o mês <strong>de</strong> junho, os empregadores<br />

darío mais 30 por cento <strong>de</strong> reajusta-<br />

mento e no final do ano quando ha-<br />

verá novo aumento nas tarifas os mo-<br />

toristas receberão novo aumento <strong>de</strong><br />

acordo com o. percentual fixado pelo<br />

CIP. Os empregados <strong>de</strong>sejavam no-<br />

venta por cento <strong>de</strong> aumento e ao jus-<br />

tificar a aceitação da contra propos-<br />

ta, Taumaturgo Pontes diz que é<br />

melhor aceitar logo o reajustamento,<br />

embora em proporções menores do<br />

que o <strong>de</strong>sejado, do que apelar para o<br />

dissCdio coletivo. Muitos motoristas<br />

nío estão preparados para essa espera<br />

e portanto, ò i<strong>de</strong>al é mesmo aceitar o<br />

aumento imediato do que brigar com<br />

os empregadores que certamente re-<br />

corriam <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisáo contrária a<br />

seus interesses e isso prolongaria mais<br />

o problema. '"Eu consi<strong>de</strong>ro uma vitó<br />

ria para o sindicato a maneira como<br />

conseguimos esse reajustamento, por-<br />

que é melhor ce<strong>de</strong>r um pouco do que<br />

tentar soluções extremadas".<br />

Quanto aos cobradores, ficou<br />

acertado que ganharão mais do que o<br />

salário m mimo, faltando apenas fixar<br />

o quanto. Os empregadores vão fazer<br />

uma contra proposta menor do que<br />

os três mil, cruzeiros pretendido pelo<br />

Sindicato dos Empregadores. Os mo-<br />

toristas da indústria e do comércio<br />

tiveram um aumento <strong>de</strong> 45 por cen-<br />

to, passando a perceber, a partir <strong>de</strong><br />

1o. <strong>de</strong> maio, Cr$ 3.045,00. Quem<br />

trabalhar <strong>de</strong> noite, passa à ganhar até<br />

às 22 horas, 50 por cento <strong>de</strong> adicio<br />

nal noturno e das 22 horas em dian-<br />

te, 100 por cento.<br />

A jornada <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> 24<br />

em 24 horas vai ser reformulada, pas-<br />

sando para 8 horas em cada turno. O<br />

pessoal <strong>de</strong> escritório e manutenção<br />

também terá um salário piso, cuja ta-<br />

bela será apresentado pelo Sindicato<br />

dos Empregadores. O motorista que<br />

completar três anos no emprego, terá<br />

10 por cento <strong>de</strong> adicional sobre seu<br />

salário, como prêmio por sua aBi-c>S-r9<br />

Frustrada greve<br />

A parada K> afetou o transporte na Augusto Monttnegro durante uma hora<br />

A paralisação, por uma hora, <strong>de</strong> 12<br />

ônibus da empresa <strong>de</strong> Transportes Nova Ma-<br />

rambaia, foi a frustrada tentativa <strong>de</strong> greve<br />

geral da classe, ontem <strong>de</strong> manhS, por moto-<br />

ristas da empresa que reivindicam junto ao<br />

Sindicato patronal um reajuste salarial <strong>de</strong> 90<br />

por cento. A idéia da greve começou com os<br />

motoristas Mariano Graça <strong>de</strong> Macedo e João<br />

Evangelista.<br />

A tentativa <strong>de</strong> greve teve início às 7:00<br />

horas da manhã, quando os motoristas Ma-<br />

riano Macedo e João Evangelista, dirigindo<br />

os ônibus 34 e 36, da linha Nova Marambaia,<br />

em sua parada no Ver-O-Peso, contestavam o<br />

salário recebido e a <strong>de</strong>mora do novo aumen-<br />

to conseguido pelo Sindicato dos Motoristas.<br />

Os dois retornaram ao final da linha, no Con-<br />

junto Satélite, on<strong>de</strong> conseguiram a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong><br />

outros colegas, paralisando 12 dos 60<br />

veículos que compõem a frota.<br />

Ao tomar conhecimento da paralisa-<br />

çãOf o proprietário da empresa, Manoel<br />

Pereira, seguiu para o final da linha e conse-<br />

guiu dos motoristas que voltassem ao traba-<br />

lho e convocou uma guarnição da Rádio<br />

Patrulha para pren<strong>de</strong>r os dois lí<strong>de</strong>res do<br />

movimento. Mariano foi <strong>de</strong>tido e posterior-<br />

mente posto em liberda<strong>de</strong>. João Evangelista<br />

não foi preso.<br />

Mariano Graça: grava frustrada e prisão<br />

por um salário melhor.<br />

Os motoristas reivindicaram melhores<br />

salários e revisão no horário <strong>de</strong> trabalho e<br />

acusavam o Sindicato dos Condutores <strong>de</strong><br />

Veículos Rodoviários <strong>de</strong> Belém <strong>de</strong> omissão.<br />

Os grevistas eram contra esse acordo e<br />

pretendiam que a jornada <strong>de</strong> trabalho<br />

passasse para 8 horas diárias em vez <strong>de</strong> 24<br />

horas alternadas e reclamavam que até agora<br />

não receberam o salário fixado no acordo<br />

entre os dois sindicatos.<br />

O presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos Motoris-<br />

tas, Urubatã Fernan<strong>de</strong>s Jatahy <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-se<br />

da acusação <strong>de</strong> omissão, dizendo que "os<br />

motoristas é que não procuram o Sindicato e<br />

estão <strong>de</strong>satualizados quanto às nossas<br />

<strong>de</strong>cisões" e que não via motivos para greve,<br />

além <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nar e <strong>de</strong>sautorizar qualquer<br />

movimento grevista. Mariano e João Evange-<br />

lista não eram sindicalizados.<br />

Para o proprietário da Empresa <strong>de</strong><br />

Transportes Nova Marambaia, os motivos da<br />

tentativa <strong>de</strong> greve não são justificáveis e ga-<br />

rantiu que cumprirá o acordo que será ho-<br />

mologado pela Delegacia Regional do Traba-<br />

lho.<br />

Embora muitos motoristas tenham<br />

consi<strong>de</strong>rado a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mariano e João<br />

Evangelista precipitada, pelo consenso geral<br />

são favoráveis a greve, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja organi-<br />

zada e que tenham gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> pressão<br />

para corrigir uma série <strong>de</strong> irregularida<strong>de</strong>s tra-<br />

balhistas.<br />

O LIBERAL -IO lí-s/y<br />

PÂGINAlt


0 porto <strong>de</strong> Belém está na iminência <strong>de</strong> so-<br />

frer uma greve dòs estivadores que marcará o Iní-<br />

cio <strong>de</strong> idêntico movimento nos oito. principais<br />

portos brasileiros, a começar por Santos, <strong>de</strong>vido<br />

aos <strong>de</strong>scontentamentos com os novos critérios<br />

para a cobrança <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> carga e<br />

<strong>de</strong>scarga do cimento.<br />

mandado<br />

<strong>de</strong> segurança<br />

A Fe<strong>de</strong>ração Nacional do* Ettivsdo-<br />

rw • Trabalhador» em Estivas cte Minérios,<br />

em raunlfo ontem, no Ricuda Janeira, <strong>de</strong>ci-<br />

diu apoiar a proposta do' Sindicato dos<br />

Estivadores do Estado do Pari a Impetrar<br />

mandado <strong>de</strong> segurança contra o ministro dos<br />

Transporta*. Dlrceu Nogueira. A proposta<br />

dos estivadores paraenses foi levada pelo<br />

vice-presi<strong>de</strong>nte da classe, JoSo Nascimento<br />

Rocha, que Informou ontem l noite, a <strong>de</strong>-<br />

dsfc tomada pelos lí<strong>de</strong>res sindicais dos<br />

estivadores d* todo o Brasil. No encontro<br />

fei apreciada a discutida a solicitação <strong>de</strong><br />

aumento salarial na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 55 por cen-<br />

to. Hoje. pela manhã, os lí<strong>de</strong>res sindicais<br />

se reunlrCo com a cúpula administrativa<br />

da Superintendência Nacional da Marinha<br />

Mercente (Sunamam), quando será reivin-<br />

dicada, entre outro*,. e ravogaçlo da Porta-<br />

ria no. 87, <strong>de</strong> 25 da Janeiro <strong>de</strong>ste ano, do<br />

Ministério dos Transporta*, que criou a<br />

tem do "container" flexível - o motivo das<br />

discursSes do» estivadores.<br />

CONSCIÊNCIA DE GREVE - A<br />

possibildiacte da oreve no porto <strong>de</strong> Bstfme *<br />

todo o país po<strong>de</strong> acontecer se «a<br />

ieivindcaç0as da Fedsraçâb Nacional dos<br />

Estivadores náb foram atendidas. "Mas ante*<br />

<strong>de</strong> pensar em greve, recorremos e<br />

recorreremos até os último* maios jurídico*<br />

legai*, porque além da níb termos o direito<br />

<strong>de</strong> grave' a estiva náo esti preparada para<br />

gravar", reconheceu Batalha.<br />

OLIBERAL -|3 o3-7»<br />

salário justo<br />

"Nós não estamos<br />

preparados para uma<br />

greve, reconhece Ema-<br />

noel Batalha, presi<strong>de</strong>nte<br />

do Sindicatxr dos Estiva-<br />

dores e Trabalhadores em<br />

Estivas <strong>de</strong> Mmérios do<br />

Estado do Pará, embora a<br />

classe esteja wwhilizada<br />

para qualquer eventuali-<br />

da<strong>de</strong>, em busca não só da<br />

PAGINA 12<br />

Estivadores<br />

/<br />

revogação da portaria n*<br />

87 do Ministério dos<br />

Transportes, que reduxiu<br />

em' mais <strong>de</strong> 50 por cento o<br />

ganho do Estivador por<br />

cada 100 toneladas que<br />

<strong>de</strong> 124 caiu para 60 cru<br />

seiras, como também <strong>de</strong><br />

uma reposição salarial <strong>de</strong><br />

120 por cento, pois, se-<br />

gunda, ele "oS estivado-<br />

res foram os que mais so-<br />

nao<br />

grevam<br />

O cais vazio. Uma ameaça qua nlb wi M ooncratiaar<br />

0 lí<strong>de</strong>r do* enivadores do Pará,<br />

Emanoel Nascimente Batalha, mostrou<br />

ontem já em Belém um telegrama vin-<br />

do do Rio <strong>de</strong> Janeiro convocando os<br />

dirigentes sindicais para uma reunião<br />

dia 12 na se<strong>de</strong> da Fe<strong>de</strong>ração Nacional<br />

dos Estivadores, para as primeiras to-<br />

madas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da classe â respeito<br />

da portaria 87 do Ministério dos Trans-<br />

portes que trata da utilização do "con-<br />

tainer" flexível.<br />

Belém, que é pioneira na atual<br />

luta em <strong>de</strong>fesa dos direitos dos estiva-<br />

dores brasileiros, mandará a Brasília,<br />

em mãos do <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Já<strong>de</strong>r<br />

Barbalho, o mandado <strong>de</strong> segurança re-<br />

digido, por advogados paraenses e que<br />

será impetrado contra a <strong>de</strong>cisão do mi-<br />

nistro D ir ceu Noouelra, que assinou a<br />

portaria.<br />

ouaeftAt -»o-ow«<br />

freram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1964 em<br />

seus salários. Um Manda-<br />

do <strong>de</strong> Segurança será im-<br />

petrado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> dias no<br />

caso <strong>de</strong> permanecer a<br />

portaria n* 37, tendo Ba-<br />

talha afirmado ser a rei-<br />

vindicação" das mais jus-<br />

tas, pois os estivadores<br />

não agüentam mais essa<br />

situação".<br />

0 ESTADO DO PARA - ?4-03 ?


IMIAMIFESTO A RORULApÃO<br />

Nós, os trabalhadores rurais sindicalizados e não sindicalizados do Estado do<br />

Pare, reunidos em Cametá no II Encontro dos trabalhadores rurais <strong>de</strong>ste Estado, nos dias<br />

21 a 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1979, queremos manifestar nossa posição diante da situação <strong>de</strong> mi-<br />

séria que enfrentamos, <strong>de</strong>nunciando as inúmeras irregularida<strong>de</strong>s que ocorrem em nosso meio.<br />

A insegurança <strong>de</strong> nossas terras quando somos expulsos das mesmas pelo pró-<br />

prio INORA, SAGRI, ITSRPA e I.B.D.F.;<br />

— Quando somos jogados <strong>de</strong> encontro com os nossos irmãos índios, os verda-<br />

<strong>de</strong>iros brasileiros;<br />

— Quaãdc somos oprimidos pelas autorida<strong>de</strong>s, Fe<strong>de</strong>rais, Estaduais e Municipais;<br />

— Quando nossas benfeitorias são <strong>de</strong>struídas pelos gran<strong>de</strong>s fazen<strong>de</strong>iros;<br />

— Quando somos explorado? pelas empresas multinacionais;<br />

— Quando não temos garantia <strong>de</strong> preços mínimos para'os nossos produtos;<br />

— Quando enfrentamos inúmeras <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong> transportes;<br />

— Quando não temos condições <strong>de</strong> nos organizar em sindicatos livres e nossos<br />

lí<strong>de</strong>res camponeses são presos, torturados, mortos e exilados;<br />

a nossa classe;<br />

— Quando não temos voz para exigir do governo aquilo que é necessário pare<br />

— Quando os infratores <strong>de</strong> títulos falsos <strong>de</strong> terra não são punidos;<br />

— Quando os títulos <strong>de</strong> terra irrevogável não são respeitados;<br />

Protestamos as <strong>de</strong>clarações feitas pelo sr. Ministro da Agricultura, quando diz que • reforma<br />

agrária é assunto para "economista <strong>de</strong>socupado".<br />

Ficamos admirados quando o sr. Ministro afirmou em Jales - Sio Paulo - aos agricultores '■ ''pa-<br />

nela cheia em 1980", com uma produção agrícola, gran<strong>de</strong> condições <strong>de</strong> financiamento ilimitável. E nós<br />

aqui no Norte estamos vendo a opressão, para tomarem nossas terras, que nos tira todas as possibilida-<br />

<strong>de</strong>s <strong>de</strong> termos estas panelas cheias.<br />

Além <strong>de</strong> todas estas dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas por nós aqui na Amazônia acreditamos mesmo que<br />

ca todo o Brasil as dificulda<strong>de</strong>s sio as mesmas.<br />

Neste encontro vimos lágrimas nos olhos dos nossos companheiros, que estão sofrendo nas suas<br />

peles as csnsequèncias do po<strong>de</strong>r capitalista implantado em nosso país. Diante <strong>de</strong>ssa Situação não nos fe-<br />

chamos para informar a todos os companheiros trabalhadores. Pedimos a todos os companheiros trabalha-<br />

dores do 3rasil, que se sintam irmanados conosco na luta para conseguirmos os nossos direitos para que<br />

nós unidos formemos uma corrente forte on<strong>de</strong> os trabalhadores possam ter voz e participação nas <strong>de</strong>ci-<br />

sões política <strong>de</strong> nosso pais 1<br />

• POB SINDICATOS LIVRES!<br />

• POR UMA REFORMA AGRÁRIA RADICAL!<br />

• POR SALÁRIOS JUSTO» E BOAS CONDIÇÕES DE TRABALHO<br />

PARÁ OS ASSALARIADOS RURAIS!<br />

• POR ANISTIA AMPLA GERAL E IRRESTRITA I<br />

Cametá, 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1979<br />

Trabalhadores Rurais reunidos em Canrefá<br />

PAGINA 13


As professoras das escolas <strong>de</strong><br />

_ centros comunitários, que<br />

estão reivindicando junto ao pre-<br />

feito Felipe Sant'Anna, um au-<br />

mento no valor do convênio<br />

mantido entre a Prefeitura e as<br />

comunida<strong>de</strong>s, voltaram ontem<br />

pela manhã ao Palácio Antônio<br />

Lemos, levando cerca <strong>de</strong> 150 alu-<br />

nos das escolas, para cobrarem a<br />

<strong>de</strong>finição do Executivo Munici-<br />

pal quanto as suas reivindicações.<br />

O prefeito não estava no Palácio<br />

e, segundo informou o chefe <strong>de</strong><br />

seu gabinete, não voltaria mais.<br />

Para a' renovação do con-<br />

vênio <strong>de</strong> 1979, a Prefeitura está<br />

oferecendo 30 cruzeiros aos cen-<br />

tros comunitários para cada alu-<br />

no matriculado (cerca <strong>de</strong> 27 mil<br />

no total), o que, segundo as pro-<br />

fessoras, é insuficiente para pagar<br />

um salário "<strong>de</strong>cente" para elas.<br />

Com o convênio elevando o valor<br />

unitário para 60 cruzeiros — a<br />

quantia reivindicada —, elas di-<br />

zem que o salário po<strong>de</strong> aumentar<br />

<strong>de</strong> 500 para 900 cruzeiros, ainda<br />

ass/m abaixo do salário-mmimo<br />

regional.<br />

Numa das vezes em que ss<br />

professoras foram falar com j<br />

Prefeito, houve a promessa ■ oe<br />

uma "negociação" junto à CNEL<br />

(Campanha Nacional <strong>de</strong> Escolas<br />

<strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong>), órgão vincula-<br />

do ao MEC, e o único que po<strong>de</strong>-<br />

PAGITJA 14<br />

Aluta<br />

Escolas comunitárias querem aumento<br />

ria arcar com a elevação emftkfá,<br />

do orçamento previsto para o at*<br />

sunto. Ontem, dia 16, 3 represen-<br />

tantes da CNEC se <strong>de</strong>slocariam<br />

<strong>de</strong> Brasília para Belém, para estu-<br />

darem a questão. As professoras<br />

foram, então, saber como ia fiear<br />

a situação.<br />

Dois ônibus uãr3-lQtaao5_<br />

levaram os alunos, a maioria do<br />

bairro do Juninas, até o Palácio<br />

Antônio Lemos, e cerca <strong>de</strong> 100<br />

professoras, gran<strong>de</strong> parte tam-<br />

bém do Jurunas, saíram cada<br />

qual <strong>de</strong> suas casas para o prome-<br />

tido encontro. A resposta obtida<br />

no Gabinete do Prefeito foi <strong>de</strong><br />

que os representantes da CNEC,<br />

infelizmente, chegariam somente<br />

dia 20, quando então teriam uma<br />

reunião com o professor Mário<br />

Guzzo, Secretário Municipal <strong>de</strong><br />

Educação.<br />

Professores, alunos e pais <strong>de</strong><br />

família, representando^ as escolas<br />

comunitárias que funcionam nos<br />

diversos bairros <strong>de</strong> Belém, foram<br />

ontem à Prefeitura, para falar com o<br />

prefeito Luiz Felipe SanfAnna.<br />

Foram recebidos pelo chefe <strong>de</strong> Gabi-<br />

nete que informou que o prefeito não<br />

se encontrava no momento, e que o<br />

assunto só po<strong>de</strong>ria ser tratado <strong>de</strong>pois<br />

do dia 20.<br />

Falando à Província e TV Mara-<br />

joara, os membros da Comissão disse-<br />

ram que tinham ido até à Prefeitura,<br />

para uma audiência com o gestor<br />

.municipal, tentando obter o aumento<br />

do auxilio pago às escolas comunitá-<br />

rias, através da Semec.<br />

Enquanto os 8 representan :<br />

tes das escolas subiam até o gabi-<br />

nete, os restantes ficaram espe-<br />

rando em grupo na Praça D. Pe-<br />

dro II, bem em frente, "algumas<br />

crianças aproveitando para brin-<br />

car, distantes do fato <strong>de</strong> que são<br />

prejudicadas. Segundo uma das<br />

professoras, as aulas ainda não<br />

foram iniciadas, aguardando-se a<br />

solução dos seus problemas leva-<br />

dos ao Executivo Municipal.<br />

AS ESCOLAS - Ã<br />

comissão representava as escolas<br />

São Benedito, do Telégrafo; São<br />

Pedro, do Telégrafo; Escolinha<br />

do Mickey, da Sacramenta; São<br />

Jorge, da Sacramenta; Klautau,<br />

da Sacramenta; Io. <strong>de</strong> Setembro,<br />

da Sacramenta; Monte Alegre, do<br />

Jurunas; Limoeiro, do Jurunas;<br />

Jaú, do Jurunas; Bom Jardim, do<br />

Jurunas; Helena Dias do Jurunas;<br />

Batista, do Telégrafo; Honório<br />

José dos Santos, do Jurunas; Pau-<br />

lo Roberto, do Jurunas, e São<br />

Raimundo, do Atalaia.<br />

Professora» e crianças, reunidas, á espera do prefeito.<br />

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III ta continua<br />

Guzzo: escolas comunitárias não procuram Semec<br />

Quatro escolas, até o momento, não<br />

quiseram assinar o convênio com a Secreta-<br />

ria Municipal <strong>de</strong> Educação e Cultura, São<br />

elas: <strong>Centro</strong> Comunitário Io. <strong>de</strong> Setembro,<br />

Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Base do Jurunas<br />

-COBAJUR, Escola Novo Horizonte ,e<br />

União dos Moradores da Passagem São Be-<br />

nedito, disse ontem, o titular daquela secre-<br />

taria, Mário Guzzo.<br />

Segundo ele, a razão pela qual aque-<br />

las escolas ainda não assinaram o convênio<br />

relaciona-se com o fato <strong>de</strong> elas estarem pe-<br />

dindo um aumentei <strong>de</strong> 100% no valor da<br />

bolsa/aluno, coisa que, segundo Guzzo, é<br />

impossível, pois a PMB não tem condições<br />

<strong>de</strong> pagar mais do que 30,00 cruzeiros, valor<br />

atual da bolsa, tendo em vista as suas "limi-<br />

taçfies orçamentárias."<br />

Mário Guzzo disse que outras 7 esco-<br />

las ainda não assinaram o convênio, já que<br />

não tem a relação dos alunos matriculados<br />

no estabelecimento atê o final <strong>de</strong> 78. Adi-<br />

antou o titular da SEMEC, que a Prefeitura<br />

Municipal <strong>de</strong> Belém não tem como aumen-<br />

tar o valor da bolsa/aluno, pois os convê-<br />

nios firmados com as escolas dos <strong>Centro</strong>s<br />

Comunitários, dão uma <strong>de</strong>spesa <strong>de</strong> 6 mi-<br />

IhOes <strong>de</strong> cruzeiros anuais.<br />

Segundo Guzzo, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar<br />

que essas escolas têm recebido, além do<br />

convênio, outras ajudas. Citou o exemplo<br />

da Escola dos Moradores da Passagem São<br />

Benedito, que teve suas instalações total-<br />

mente reformadas e ampliadas, com recur-<br />

sos da PMB durante o ano passado. Outro<br />

exemplo citado pelo secretário municipal<br />

<strong>de</strong> Educação, foi a da Escola Novo Hori-<br />

zonte, que recebeu também, em 78, algu-<br />

mas carteiras e mesas semi-novas.<br />

A cerca da <strong>de</strong>núncia feita por vários<br />

órgãos <strong>de</strong> imprensa <strong>de</strong> que havia muitos ex-<br />

ce<strong>de</strong>ntes, Guzzo refutou, falando que<br />

quem foi a uma escola da re<strong>de</strong> municipal<br />

<strong>de</strong> ensino, em tempo hábil, conseguiu ma-<br />

tricula. Logo. não há exce<strong>de</strong>ntes.<br />

Para os alunos que estão sem estudar<br />

Mario Guzzo disse que está analisando o<br />

problema e vendo se consegue recursos do<br />

MEC, já que a PMB nãoos dispõe para ver<br />

se resolve o problema. Uma solução? Ain-<br />

da não tem. Assim que os estudos estive-<br />

rem encerrados, ele comunicará o que ficar<br />

resolvido.<br />

Muitas professoras das escolas comu-<br />

nitárias, que mantém convênio |pom a<br />

SEMEC, reclamaram dos baixos salários, di-<br />

zendo que os 500,00 cruzeiros mensais que<br />

recebem não dava nem para o seu transpor-<br />

te. Com relação a isso, o titular daquela<br />

secretaria falou aue ele não sabe dizer se<br />

uma professora recebe na realida<strong>de</strong> esse nu-<br />

merário, tendo em vista que-os recursos são<br />

repassados diretamente à comunida<strong>de</strong>, e es-<br />

ta se encarrega <strong>de</strong> fazer a distribuição.<br />

Fazendo uma conta que não precisou<br />

<strong>de</strong> muito raciocínio, Guzzo tenta <strong>de</strong>mons-<br />

trar que, por exemplo, uma escola que faça<br />

convênio para 500 alunos, tem uma renda<br />

mensal <strong>de</strong> 15.000,00 cruzeiros. Consi<strong>de</strong>ran-<br />

do que cada turma em média tem 50 alu-<br />

nos, serão necessários 10 professoras, pois a<br />

escola terá 10 turmas. Então, segundo o<br />

secretário a escola tem condições <strong>de</strong> pagar<br />

1.000,00 cruzeiros para cada professora, e<br />

ainda lhe sobrará 5.000 mil cruzeiros para<br />

aplicar no que for necessário.<br />

Lembrou Guzzo-que a gran<strong>de</strong><br />

maioria das escolas que procuraram o pre-<br />

feito na última sexta-feira, nunca procura-<br />

ram aquela Secretaria para firmarem convê-<br />

nio. São elas: Escola Limoeiro, do Jurunas<br />

Escola Helena Dias; Escola São Jorge da<br />

Sacramenta; Escola Monte Aiegre, do Juru-<br />

nas; Escola Jáu, do Jurunas; Escola Honó-<br />

rio José dos Santos, do Jurunas; Escola<br />

Paulo Roberto, do Jurunas c Escola Batis-<br />

ta, do Telégrafo.<br />

Ele acha que essas escolas do Jurunas<br />

po<strong>de</strong>m ser filiadas à Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Base<br />

do Jurunas-OOBAJUR, entida<strong>de</strong> com quem<br />

a SEMEC mantém convênio, mas que até o<br />

momento não quis renová-lo, porque as<br />

bolsas não sofrerão aumento para 60,00<br />

OUBiBAL To. Cadgoo Belém, quarta-feira. 21 <strong>de</strong> marco <strong>de</strong> 1979" ^ ^<br />

. 0 ^UE V0GÊ ACHA DESSES ARTIGOS?<br />

. TEMOS QUE CONTINUAR A LUTA.<br />

: DISCUTA E DIVULGUE PARA SEUS VISINH0S,<br />

PAIS DE ALUNOS E COLEGAS BR0PES30RAS,<br />

cruzeiros. Por outro lado, Guzzo não sabe<br />

dizer se a questão entre a sua Secretaria e<br />

as escolas comunitárias vài continuar. Eleja<br />

solicitou a esses estabelecimentos <strong>de</strong>«rtsino<br />

uma relação dos alunos ali lotados, com o<br />

nome, "en<strong>de</strong>reço e ida<strong>de</strong>, mas até o momen-<br />

to não recebeu nada. O titular da SEMEC<br />

disse que <strong>de</strong> posse <strong>de</strong>ssa relação, com base<br />

na faixa etária das crianças, fará um estudo<br />

aprofundado, visando uma possível resolu-<br />

ção do problema.<br />

Um dos pontos muito discutidos atu-<br />

almente, é acerca da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino<br />

nessas escolas comunitárias.<br />

Porim Guzzo não sabe até on<strong>de</strong> à<br />

formação das crianças po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

<strong>de</strong> subensino, tendo em vista que a re<strong>de</strong><br />

municipal <strong>de</strong> ensino tem recebido os egres-<br />

sos <strong>de</strong>sses estabelecimentos, e com facilida-<br />

<strong>de</strong> eles tem se adaptado ao programa vigen-<br />

te. Por outra parte, ele não tem em sua<br />

Secretaria elementos que atestem a qualida-<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino das escolas conveniadas.<br />

Lembrou o secretário municipal <strong>de</strong><br />

Educação e Cultura que, com relação a esse<br />

assunto, a PMB implantou este ano, antes<br />

mesmo-do problema com a assinatura dos<br />

convênios ter surgido, um esquema <strong>de</strong><br />

acompanhamento do ensino nas escolas co-<br />

munitárias, e iniciou em janeiro, um traba-<br />

lho <strong>de</strong> reciclagem e preparação dos profes<br />

sores, oferecendo, gratuitamente, trein?<br />

mentos, tendo se realizado em fevereiro,<br />

um curso para' 40 <strong>de</strong>ssas professoras que<br />

atuam nas escolas comunitárias e consta da<br />

programação da SEMEC a realização <strong>de</strong> no-<br />

vos cursos ainda este ano, isto <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

um programa geral do pessoal <strong>de</strong> magistério<br />

<strong>de</strong> toda a re<strong>de</strong> municipal.<br />

Finalizando, Guzzo disse que <strong>de</strong>ve<br />

ser consi<strong>de</strong>rado, que gran<strong>de</strong> parte dos alu-<br />

nos das escolas comunitárias não estão na<br />

faixa etária obrigatória para o ensino gra-<br />

tuito, ou seja fora dos 7 aos 14 anos. "Eles<br />

tem menos <strong>de</strong> 7 anos", concluiu.<br />

PAGINA 15


Escolas comunitárias<br />

<strong>de</strong>smentem Guzzo<br />

Reunidos em Assembléia, anteontem â noite, os repre<br />

sentantes das Escolas Comunitárias <strong>de</strong> Belém protestaram<br />

contra as <strong>de</strong>clarações prestadas pelo Professor Mário Guz-<br />

zo, à imprensa local, elaborando um documento <strong>de</strong>mons-i<br />

trando o quanto as <strong>de</strong>clarações do Secretário <strong>de</strong> Educação<br />

do Município não conferem com a realida<strong>de</strong> vivenciada pe<br />

Ias comunida<strong>de</strong>s que, teimosamente, insistem em dar edu-<br />

cação a seus filhos, mesmo sem ajuda substancial. As difi-<br />

culda<strong>de</strong>s enfrentad3S pelas escolas são inúmeras, e a única<br />

fonte <strong>de</strong> ajuda é o convênio bolsa/aluno, assinado com a<br />

Semec.<br />

O <strong>de</strong>poimento dos representantes comunitários<br />

po<strong>de</strong> ser, inclusive, ratificado pela reportagem feita por O<br />

ESTADO, sobre a escola "Inês Maroja", no Barreiro. A es-<br />

cola do Barreiro não é, entretanto, a única a enfrentar<br />

problemas; uma visita a qualquer uma das escplas locali-<br />

zadas na zona do Canal do Una dá a qualquer leigo uma<br />

idéia dó rol <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s. Na última quarta-feira, na es-<br />

cala mantida pelo Grupo Comunitário São Se--<br />

bastião, pôtíe-se ver professores e alunos tentando, em vão,<br />

na hora da chuva, consertar as goteiras que não eram pou-<br />

cas. As salas <strong>de</strong> aula são realmente pequenas, como fala a<br />

nota oficial, e a quantia paga pela Semec exige que os dire<br />

tores façam verda<strong>de</strong>iras mágicas orçamentárias e pelo <strong>de</strong>-<br />

monstrativo apresentado pelas escolas é fácil perceber<br />

que, em termos matemáticos, talvez o secretário <strong>de</strong> Educa-<br />

ção «NLeia bastante enganado.<br />

A seguir transcrevemos a Nota Oficial <strong>de</strong> Protesto das<br />

Escolas Comunitárias, cujo problema urge solução.<br />

A NOTA<br />

As Escolas Comunitárias <strong>de</strong> Belém, reunidas em As-<br />

sembléia, vêm <strong>de</strong> público firmar seu protesto diante das se-<br />

guidas <strong>de</strong>clarações do Sr. Secretário Municipal <strong>de</strong> Educa-<br />

ção, prof. Mário Guzzo á imprensa, no sentido <strong>de</strong> diminuir a<br />

importância e o alcance da luta que hora empreen<strong>de</strong>mos e<br />

que não incorpora apenas as 19 Escolas nomeadas pelo Sr.<br />

Secretário ao longo <strong>de</strong> sua última entrevista ao jornal "O<br />

Liberal" <strong>de</strong> 21.03.79, pág. 11 do 1' ca<strong>de</strong>rno.<br />

l v ) Na verda<strong>de</strong>, essa luta é <strong>de</strong> todas as Escolas conve-<br />

niadas com a Prefeitura, quer tenham ou não assinado o<br />

convênio, pois todas serão beneficiadas com o aumento do<br />

valor da bolsa/aluno. São ao todo 91 escolas, abrigando<br />

mais <strong>de</strong> 27.000 alunos.<br />

2') Pelos termos do convênio, a escola comunitária se<br />

obriga a arcar com todas as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> infra-estrutura,<br />

"prédios, salas, manutenção, treinamento das professora?,<br />

habilitação do pessoal, serviço administrativo, obrigações<br />

trabalhistas (Fgts, Inamps) ou qualquer relação <strong>de</strong> empre-<br />

go. "A PMB cabe apenas o direito <strong>de</strong> fiscalização e a obnga-<br />

ção <strong>de</strong> pagar a bolsa/aluno, o que vem fazendo com atraso<br />

dSr. Secretário às escolas comunitárias, que em nada contri-,<br />

buem p'âta resolver os graves problemas educacionais que<br />

afligeiE a nossa cida<strong>de</strong>


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TERMINOU)<br />

9$S0tÜS<br />

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safano <strong>de</strong>cente, é o que<br />

professoras dos centros<br />

-nos que, ontem pela<br />

manha voítaram ao Paíácb An<br />

tôn» Lemos a fim <strong>de</strong> ^^<br />

a <strong>de</strong>f.n.çao do Execut.vo MunT<br />

^ quanto às suas reívindi^-<br />

^^d?<br />

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maior<br />

salário<br />

A porta do SSo Cristóvão, os professores impedidos <strong>de</strong> entrar<br />

o LieetfAi oc/or/79<br />

Uma comissão <strong>de</strong> professores le-<br />

vará esta semana, ao governador Alacid<br />

Nunes, a reivindicação da classe: au-<br />

mento salarial, "digno, <strong>de</strong>ntro do que<br />

manda a lei", conforme <strong>de</strong>clarou, on-<br />

tem, um dos professores, membro da<br />

coor<strong>de</strong>nação.<br />

Reunidos na Praça do Operário,<br />

em São Braz, por mais <strong>de</strong> duas horas,<br />

cerca <strong>de</strong> 50 professores <strong>de</strong> Io. e 2o.<br />

graus ouviram o que os membros da<br />

Associação dos Professores da Escola<br />

Estadual <strong>de</strong> Io. Grau "Dr. Justo Cher-<br />

mont" - Aprojuc-expunham.<br />

Mas não só os membros da Apro-<br />

juc falaram. Professores, a cada mo-<br />

mento, pediam a palavra, apateavam<br />

para mostrar um parecer, dar uma opi-<br />

nião. A palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m era o pedido<br />

<strong>de</strong> um salário "compatível com as ne-<br />

cessida<strong>de</strong>s" e a união dos professores<br />

em prol da causa.<br />

0 encontro dos professores esta-<br />

va marcado para ontem à noite, às<br />

19h30m, na se<strong>de</strong> do Teatro São Cristó-<br />

vão. Por <strong>de</strong>terminação da Polícia Fe<strong>de</strong>-<br />

ral, segundo informou um membro da<br />

Aprojuc, a reunião foi vedada na Esco-<br />

la. O grupo <strong>de</strong> professores resolveu, en-<br />

tão, fazer uma reunião em praça públi-<br />

ca. NA PRAÇA DO OPERÁRIO -<br />

Quase às 20h30m, sentados no chão,<br />

os professores, ouviam a conclamação<br />

dos lí<strong>de</strong>res da Aprojuc: união, para<br />

que a classe obtenha êxito junto ao go-<br />

vernador nesta semana.<br />

A essa altura foi sugerida a cria-<br />

ção <strong>de</strong> uma Or<strong>de</strong>m ou Fe<strong>de</strong>ração dos<br />

Professores, "para lutar por nós, pelos<br />

nossos direitos", conforme assegurou<br />

uma professora para maioria atenta.<br />

Entre uma e outra reivindicação, os<br />

aplausos e os assentimentos <strong>de</strong> cabeças<br />

mostravam que o grupo estava unido.<br />

PÁGINA 1|<br />

lã<br />

Pro<br />

/es<br />

so<br />

res<br />

Formada<br />

Associação<br />

Com quase 300 pes-<br />

soas, foi realizada ontem á<br />

noite, no Instituto <strong>de</strong> Pato-<br />

ral Regional (Ipar), a segun-<br />

da reunião dos professores.<br />

Desta vez, para propor a<br />

fundação da Associação dos<br />

professores do Estado do<br />

Pará, sem qualquer vinculo<br />

com o sindicato da classe.<br />

Ao mesmo tempo, foi eleita<br />

uma diretoria provisória que<br />

administrará á associação<br />

durante seis meses tempo<br />

em que será feito o estatu-<br />

to. Ao fim <strong>de</strong>sse período se-<br />

rá eleita a primeira direto-<br />

ria, com mandato <strong>de</strong> dois<br />

anos.<br />

A reunião teve inicio<br />

por volta das 2U horas, com<br />

a formação da mesa execu-<br />

tiva dos trabalhos. O presi-<br />

<strong>de</strong>nte da mesa. Orlando<br />

Melquia<strong>de</strong>s, leu a proposta<br />

<strong>de</strong> formação da associação,<br />

<strong>de</strong>finindo três metas priori-<br />

tárias a serem executadas<br />

imediatamente. A primeira,<br />

trata sobre um aumento<br />

acima do mdice do custo<br />

<strong>de</strong> vida que, segundo o Ins-<br />

tituto Brasileiro <strong>de</strong> Geogra-<br />

fia e Estatística (IBGE), no<br />

Pará é <strong>de</strong> 54 por cento.<br />

Falando sobre o as-<br />

sunto, Melquia<strong>de</strong>s disse que<br />

recentemente os professores<br />

<strong>de</strong> Io. grau tiveram um au-<br />

mento <strong>de</strong> 55 por cento. É<br />

provável, segundo o profes-<br />

sor, que este aumento seja<br />

estabelecido para os profes-<br />

sores <strong>de</strong> 2o. grau da re<strong>de</strong><br />

oficial. 0 aumento, para a<br />

professora Venise Nazaré,<br />

não agrada os professores,<br />

consi<strong>de</strong>rando a importân-<br />

cia <strong>de</strong> seu papel e as pró-<br />

prias condições <strong>de</strong> trabalho.<br />

Por isso, acha que "o au-<br />

mento mais justo e digno,<br />

tem que ser <strong>de</strong> 100 por<br />

cento".<br />

11/o


Ao contrário do que<br />

muita gente pensa, a classe<br />

operária brasileira não ficou<br />

dormindo nesses 14 anos, e<br />

muito menos durante toda a<br />

sua existência. O que acon-<br />

tece é que a sua história, <strong>de</strong><br />

suas lutas, vitórias, conquis-<br />

tas e <strong>de</strong>rrotas, ainda está por<br />

ser escrita. A crônica diária<br />

dos acontecimentos quase<br />

nada registra a respeito das<br />

lutas operárias, e quando o<br />

faz, é <strong>de</strong> uma maneira <strong>de</strong>-<br />

formada e parcial, com o<br />

propósito <strong>de</strong>liberado <strong>de</strong><br />

transformar uma manifes-<br />

tação <strong>de</strong> protesto contra<br />

más condições <strong>de</strong> trabalho,<br />

baixos salários, e repressão,<br />

em uma "bagunça <strong>de</strong> bêba-<br />

dos".<br />

Nos últimos anos, e <strong>de</strong><br />

uma maneira mais acentua-<br />

da a partir'da RELATIVA<br />

liberalização da gran<strong>de</strong> im-<br />

prensa, tornaram-se do co-<br />

nhecimento público uma sé-<br />

rie <strong>de</strong> revoltas populares,<br />

marcos significativos do<br />

grau <strong>de</strong> insatisfação' popular<br />

para com o regime, mas que<br />

<strong>de</strong>vido ao ainda embrionário<br />

estágio <strong>de</strong> organização<br />

das camadas populares, pou-<br />

co representam em termos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar saldos no que se<br />

refere à essa mesma organi-<br />

zação dos trabalhadores.<br />

Mas fora <strong>de</strong> qualquer dúvi-<br />

da, elas representam um<br />

protesto consciente dos<br />

trabalhadores e nas condi-<br />

ESTIVADORES<br />

Revolta no Trombetas<br />

Não foi uma "re-<br />

volta <strong>de</strong> bêbados", co-<br />

mo quis fazer crer uma<br />

parte da gran<strong>de</strong> impren-<br />

Resistência — Qual foi o programa<br />

apesentado pela chapa <strong>de</strong> vocês?<br />

Sindicato — A primeira coisa que<br />

procuramos fhzer foi lutar para manter<br />

nossas tradições, que até certo ponto não<br />

estavam sendo mantidas, não vinham-sen-<br />

do respeitadas. Partimos, principalmente<br />

com o pessoal da ativa, para uma melhor<br />

conscientização dos nossos problemas:<br />

porque, sinceramente, eu não acredito em<br />

humilda<strong>de</strong>; o trabalhador tem que estar<br />

sempre consciente dos seus problemas.<br />

Acho que um sindicato só po<strong>de</strong> sobrevi-<br />

ver através da luta. Quando garante as<br />

conquistas passadas e parte para novas,<br />

mas isso só po<strong>de</strong> ser conseguido com uma<br />

■conscientização gran<strong>de</strong>. Nós vamos fazer<br />

ções em que ocorreram,<br />

eram as únicas possíveis.<br />

Daremos umapanora-<br />

mica das condições <strong>de</strong> traba-<br />

lho existentes na Mineração<br />

Rio do Norte - MRN, pro-<br />

jeto <strong>de</strong>stinado à extração,<br />

beneficiamento primário, e<br />

exportação da bauxita, que<br />

é o minério do alumínio. Es-<br />

se projeto tem como acio-<br />

nista majoritário a Compa-<br />

nhia Vale do Rio Doce, e só-<br />

cios estrangeiros e brasilei-<br />

ros. Fica localizada às mar-<br />

gens do Rio Trombetas, no<br />

município <strong>de</strong> Oriximiná.<br />

Para tanto nos utiliza-<br />

mos <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong><br />

trabalhadores, sendo que<br />

parte <strong>de</strong>les já foi publicado<br />

na edição do no. 139 do jor-<br />

nal "Movimento" <strong>de</strong><br />

27/02/78.<br />

A obra em questão te-<br />

ve durante a maior parte do<br />

tempo um contingente <strong>de</strong><br />

aproximadamente 6.000<br />

trabalhadores,.em sua maio-<br />

ria braçais e carpinteiros, re-<br />

crutados nos municípios vi-<br />

zinhos <strong>de</strong> Qbidos, Alenquer,<br />

Oriximiná, Santarém e Mon-<br />

te Alegre, mas encontram-se<br />

na obra, elementos <strong>de</strong> todos<br />

os Estados do Brasil. A<br />

"maior parte <strong>de</strong>sses trabalha-<br />

dores, principalmente aque-<br />

les naturais da região, são<br />

lavradores, e feram atraídos<br />

pelos constantes anúncios<br />

das principais empreiteiras:<br />

Foi, isto sim, uma le-<br />

gítima revolta contra as<br />

péssimas condições <strong>de</strong><br />

trabalho existentes no<br />

Projeto Trombetas, no<br />

Construtora Andra<strong>de</strong> Gu-<br />

tierrez, CDNSAG e CEMSA.<br />

Nesses anúncios se promete<br />

muita coisa: bons salários,<br />

excelentes condições <strong>de</strong> tra-<br />

balho, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

subir na hierarquia, etc.<br />

Lá chegando os traba-<br />

lhadores encontraram outra<br />

realida<strong>de</strong>. Deixemo-los falar:<br />

"— A gente acorda lá<br />

pelas 4 horas da madrugada<br />

e só pára lá pelas 9 da noite.<br />

A maioria do pessoal traba-<br />

lha <strong>de</strong> 14 a 15 horas por dia.<br />

Quase todo mundo faz hora<br />

extra na esperança <strong>de</strong> ter<br />

um ganho melhor. A gente<br />

vai seco pro trabalho, o ca-<br />

fé só vai sair lá pelas seis<br />

horas. Isso quando se toma<br />

o café, pois raramente tem<br />

pão, na maioria das vezes é<br />

uma borra e o leite. Depois<br />

do café a gente volta a tra-<br />

balhar e vai até as 11 horas<br />

sem merenda sem nada".<br />

'"— O preparo da co-<br />

mida é sujo, o arroz é cozii<br />

nhado em panelões gran<strong>de</strong>s<br />

e tirado <strong>de</strong> lá com uma pá.<br />

Para colocar na panela é<br />

só <strong>de</strong>scosturar o saco e <strong>de</strong>s-<br />

pejar. As ban<strong>de</strong>jas 1 sempre<br />

tem restos <strong>de</strong> comida gruda-<br />

dos, são do pessoa! que co-<br />

meu antes que a gente. Tem<br />

muita fila para comer, espe-<br />

ra-se uns 20 a 30 minutos. O<br />

pior é que <strong>de</strong>ntro do refeitó-<br />

rio não tem água. Comemos<br />

o tempo todo sem água e só<br />

dá pra beber <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter-<br />

minar, pois é proibido sair<br />

no meio das refeições. Tem<br />

a nova diretoria do Sindicato preten<strong>de</strong>,<br />

maior conscientização da classe.<br />

tudo para trazer os estivadores para o sin-<br />

dicato, tanto os da ativa como os aposen<br />

tados, para que eles vivam e discutam o<br />

■problema da estiva.<br />

Resistência* O que acha que <strong>de</strong>veria<br />

'ser incluído numa constituição que fosse<br />

feita agora?<br />

Sindicato — Acho que uma nova<br />

Constituição <strong>de</strong>veria dar uma liberda<strong>de</strong><br />

para que o sindicalismo brasileiro se rees-<br />

truturasse em novas bases. Eleições dire-<br />

tas para as fe<strong>de</strong>rações e confe<strong>de</strong>rações,<br />

por exemplo.<br />

Resistência - Como está no meio<br />

trabalhista a discussão <strong>de</strong> assuntos como<br />

a volta ao Estado <strong>de</strong> Direito, anistia, cons-<br />

tituinte etc?<br />

município <strong>de</strong> Oriximi-<br />

ná. Mais <strong>de</strong> dois mil<br />

operários <strong>de</strong>la participa-<br />

ram, direta ou indireta-<br />

mente.<br />

alguns traoalhadores que co-<br />

mem <strong>de</strong> marmita, no pró-<br />

prio local <strong>de</strong> trabalho "<br />

No Projeto Trombe-<br />

tas existem cerca <strong>de</strong> 300<br />

agentes <strong>de</strong> "segurança", o<br />

que dá uma média <strong>de</strong> 1<br />

agente para cada 20 traba-<br />

lhadores. A "segurança"<br />

tem um po<strong>de</strong>r muito gran-<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da obra. Nada se<br />

faz sem o seu consentimen-<br />

to. Para se circular pela<br />

obra, entrar nos refeitórios,<br />

etc, é sempre preciso mos-<br />

trar sua i<strong>de</strong>ntificação. Não<br />

raras vezes os trabalhadores<br />

são surpreendidos: "— eles<br />

querem que a gente se sin-<br />

ta que nem numa prisão".<br />

Além <strong>de</strong> tudo isso, existe<br />

<strong>de</strong>ntro da obra, urha prisão,<br />

construída pela MRN, mas<br />

administrada pela Pplícia<br />

Militar. Mas, segundo-<strong>de</strong>poi-<br />

mento <strong>de</strong> trabalhadores, as<br />

prisões são feitas ao menor<br />

protesto pela "segurança"<br />

da firma e muitas vezes são<br />

seguidas <strong>de</strong> espancamentos.<br />

Existem também as revistas<br />

a que são submetidos os<br />

operários quando <strong>de</strong> sua eVi-<br />

trada no canteiro <strong>de</strong> obras.<br />

Para completar esse quadro<br />

resta dizer que os trabalha-<br />

dores que são da região fi-<br />

cam 45 dias sem ir pra ca-<br />

sa, os que são <strong>de</strong> mais longe<br />

quando casados ficam 6 me-<br />

ses, e os solteiros 1 ano.<br />

As condições <strong>de</strong> traba-<br />

lho foram se <strong>de</strong>teriorando<br />

até que no domingo,<br />

26/11. estourou a revolta.<br />

RESISTÊNCIA ÍV7<br />

Sindicato - Todos nós <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>-<br />

mos <strong>de</strong> política. O trabalhador tem seus<br />

interesses específicos, claro, mas faz parte<br />

também da socieda<strong>de</strong> brasileira como um<br />

todo e <strong>de</strong>ve colocar na or<strong>de</strong>m do dia os<br />

problemas atuais do povo brasileiro como<br />

a volta ao Estado <strong>de</strong> direito, anistia, cons-<br />

tituinte etc. Agora, aqui no Estado do Pa-<br />

rá, apenas uma pequena parcela discute is-<br />

so, porque realmente houve uma anestesia<br />

■nesses 14 anos que passaram. E não po<strong>de</strong>-<br />

.mos dizer que o trabalhador não está com<br />

medo, porque se a maioria não participa é<br />

porque está com medo <strong>de</strong> uma represália.<br />

O trabalhador não tem instrução e não é<br />

■ fácil arrumar, outro erríprego assim. Quem<br />

.tem um pouco <strong>de</strong> cultura fica mais fácil<br />

arranjar outro emprego. Mas nós, dirigen-<br />

tes sindicais que temos uma visão maior,<br />

temos obrigação <strong>de</strong> participar e levar esses-<br />

problemas para as bases para que elas par-<br />

ticipem também.<br />

Si<br />

O<br />

2<br />

Ul<br />

I-<br />

52<br />

vi<br />

UJ<br />

PÁGINA 19


%&. íi:¥i<br />

Linchado<br />

capataz<br />

D<br />

uzentas pessoas, , se<strong>de</strong>ntas <strong>de</strong> vingança<br />

in-adiram no início da tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> ontem,<br />

armadas <strong>de</strong> paus, a se<strong>de</strong> do município<br />

<strong>de</strong> Maracanã, numa longa caminhada <strong>de</strong> oito<br />

quilômetros, andando a pé, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a localida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Cristóvão, a fim <strong>de</strong> cumprirem o juramento<br />

feito pela manhã: "só enterrariam o corpo do<br />

peão José Rodrigues da Costa, <strong>de</strong>pois que<br />

massacrassem o seu matador José Walter<br />

Furtado, um pernambucano não grato no<br />

lugarejo, capataz da Conpanhia "llco" <strong>de</strong><br />

Pimentais, que se recuperava do espancamento<br />

recebido dos colegas do morto, <strong>de</strong>pois do crime"<br />

no hospital da Fundação SESP.<br />

Horas <strong>de</strong> terror, passaram as <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

doentes e o corpo clínico do hosoital a quando<br />

da invasão daquele nosocômio A turba<br />

enfurecida, <strong>de</strong>stemidamente, enfrentou o soldado<br />

da PM, Maia (lotado no <strong>de</strong>stacamento <strong>de</strong> polícia<br />

local), que, corajosamente, guardava o capataz na<br />

enfermaria. O revólver 38, cano longo, do policial<br />

náo foi suficiente para afastar aquela multidão,<br />

que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> trinta minutos <strong>de</strong>pois, estaria<br />

enterrando o peão morto a bala pelo capataz, no<br />

cemitp^o da cida<strong>de</strong>.<br />

Or,<br />

ci<br />

PS<br />

m<br />

o<br />

PÁGINA 20<br />

assassino<br />

vingado por seus amigos<br />

0 trucidamento do capataz José Walter<br />

Furtado teve início anteontem, por volta das 14<br />

horas, quando ele se negou a pagar todo o<br />

numerário dos operários i da Companhia "llco"<br />

<strong>de</strong> Pimentais, localizada a oito quilômetros da<br />

se<strong>de</strong> do município. 0 peão José Costa,<br />

insatisfeito, reclamou daquela medida, uma vez<br />

que sua família precisava <strong>de</strong> alimentos, já que<br />

estava passando necessida<strong>de</strong>. 0 capataz, disse lhe<br />

que "ele não criasse caso" pois o restante do<br />

pagamento seria realizado na segunda fei'b<br />

(hoje). 0 operárjo, não se conformou e reclamou<br />

justamente por seus direitos. Trabalhou e merecia<br />

receber o dinheiro. Walter, no entanto, homein<br />

com gênio violento, sem motivos justificados,<br />

sacou <strong>de</strong> um revólver 38 que portava e<br />

<strong>de</strong>scarregou o tambor da arma, acertando na<br />

vítima apenas três tiros. Ele cambaleou, <strong>de</strong>u<br />

alguns passçs, caindo morto por cima da mesa<br />

que o capataz usava.<br />

Seus colegas, em número <strong>de</strong> cinqüenta<br />

homens, revoltaram-se e passaram a agredir o<br />

criminoso, somente não consumando o<br />

trucidamento, <strong>de</strong>vido a pronta intervenção <strong>de</strong><br />

alguns responsáveis pela firma, que retiraram o<br />

capataz das mãos dos peões revoltados e<br />

levaram-no ao Hospital do Sesp, no centro da<br />

cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> seu estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> apresentava<br />

gravida<strong>de</strong>. 0 médico Francisco Menezes <strong>de</strong><br />

Moraes, diretor do Hospital, era favorável a<br />

transferência do paciente para um centro <strong>de</strong><br />

maiores recursos, mas como o preso estava a<br />

disposição do <strong>de</strong>legado Natanael, ele preferiu<br />

<strong>de</strong>ixá-lo ali internado, ocupando uma das 16<br />

camas do nosocômio.<br />

São Cristóvão, um lugarejo há oito<br />

quilômetros da se<strong>de</strong> do município, possui<br />

aproximadamente 350 habitantes. A maioria dos<br />

chefes <strong>de</strong> família ali resi<strong>de</strong>ntes, trabalham para a<br />

Companhia "ILCü" que explora um imenso<br />

pimental. José Costa, era muito querido na<br />

localida<strong>de</strong>. O capataz José Walter, pelo contrário,<br />

posíiiia gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> inimigos.<br />

Logo .iiiós a morte do peão seus parentes,<br />

amigoí e a quase totalida<strong>de</strong> dos moradores<br />

juraram vmgai-se. Mas, isso fariam alguns<br />

minuta antes do enterro do pobre José. Primeiro<br />

matariam o assassino, oara <strong>de</strong>pois sepultar a<br />

vítima. Um dos tios <strong>de</strong> José saiu da colônia <strong>de</strong><br />

manhã bem cedo, cavalgando o lombo <strong>de</strong> um<br />

burro e, armadu com uma espingarda cartucheira,<br />

licou rodando o hospital Enquanto isso, cerca <strong>de</strong><br />

duzemas pessoas apressadamente, <strong>de</strong>sciam a<br />

colônia rumo à cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> chegariam poi volta<br />

da^ 14 horas<br />

A caminhada parecia mais uma romaria.<br />

Homens e mulheies armados com pedaços <strong>de</strong> pau<br />

tomaram a direção do hospital do SESP.<br />

Ninguém po<strong>de</strong>ria supor que o capataz moribundo<br />

viesse a ser massacrado pela turba.<br />

0 soldado Maia, que eicoltava o preso,<br />

ficou estupefato quando notou a presença <strong>de</strong><br />

centenas <strong>de</strong> pessoas no rnterior da enfermaria.<br />

Ele ainda procurou contei a massa, sendo<br />

espancado. A única alternativa que teve, foi fugir,<br />

para também não ser trucidado.<br />

Os caboclos furiosos, invadiram o hospital<br />

e na passagem foiam quebrando portas, vidraças,<br />

danificando camas e, espalhando o pânico entre<br />

as enfermeiras, médicos e doentes, que corriam,<br />

fugindo <strong>de</strong> unia tragédia niaror Ü povo estava<br />

<strong>de</strong>cidido. Corria, ontem, boato na cida<strong>de</strong>, que se<br />

por acaso, eles não conseguissem matar, o<br />

capataz, pegai iam o <strong>de</strong>legado, que segundo eles,<br />

nada tinha feito para pren<strong>de</strong>r o criminoso.<br />

Walter recebeu diversas pauladas no leito<br />

on<strong>de</strong> se encontrava, Que lhe partiram o crânio<br />

d?ixando-o <strong>de</strong>sfigurado. Depois, arrastaram-o<br />

pelos pés, jogando-o no meio da rua, em frente<br />

ao hospital, e concretizaram a matança, só<br />

parando quando o coração do homem já não<br />

mais balia.


Revolta<br />

dos peões:<br />

I São Dom/na<br />

São Domingos do Capim<br />

Com uma rajada <strong>de</strong> chumbo, morreu<br />

ontem pela manhã no vilarejo <strong>de</strong> Badajós, a<br />

92 quilômetros <strong>de</strong> São Domingos do Capim, o<br />

fazen<strong>de</strong>iros Edson Pereira. O motivo, segundo<br />

informou a Delegacia <strong>de</strong> Polícia daquele<br />

município, teria sido a dispensa em massa <strong>de</strong><br />

vários peões da fazenda "Sobradinho", <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Edson Pereira, que era lím dos<br />

homens mais ricos <strong>de</strong> São Domingos do<br />

Capim.<br />

A versão contada pela polícia, foi <strong>de</strong> que<br />

por volta das 8 horas <strong>de</strong> ontem, Edson,<br />

acompanhado <strong>de</strong> quatro guarda costas, se<br />

dirigia, pelo rio Badajós em um barco <strong>de</strong> sua<br />

proprieda<strong>de</strong>, com <strong>de</strong>stino à se<strong>de</strong> do município<br />

<strong>de</strong> São Domingos do Capim, on<strong>de</strong> compraria<br />

alguns suprimentos. Em <strong>de</strong>terminado trecho,<br />

on<strong>de</strong> a embarcação teria que diminuir sua<br />

velocida<strong>de</strong>, um grupo <strong>de</strong>, possivelmente<br />

peões, estava <strong>de</strong> tocaia à margem do rio e<br />

passou a atirar, tendo como alvo principal<br />

Edson Pereira.<br />

A rajada <strong>de</strong> chumbo, disparada por<br />

certeiras cartucheiras e revólveres, varou o<br />

corpo do fazen<strong>de</strong>iro, enquanto que os guarda<br />

costas trocavam tiros com os assassinos que<br />

estavam escondidos no mato e levavam gran<strong>de</strong><br />

vantagem sobre seus adversários, pois além <strong>de</strong><br />

terem o fato surpresa, o rio Badajós é um<br />

tanto estreito, possibilitando atingir mais-<br />

facilmente os tripulantes da embarcação.<br />

Por outro lado, conforme a polícia.<br />

For causa <strong>de</strong> uma três<br />

um (,<br />

caho e um<br />

um<br />

vam<br />

em um bar, Jmo O caho Pierre<br />

4mt9r m<br />

m<br />

apesar <strong>de</strong> terem sido apanhados <strong>de</strong> surpresas,<br />

os guardas costas conseguiram atingir os<br />

peões, e é provável que três <strong>de</strong>les estejam<br />

feridos.<br />

CONFUSÃO NA CIDADE - Após o<br />

ataque, os sobreviventes contaram o fato a<br />

polícia <strong>de</strong> São Domingos do Capim e esta<br />

comunicou o fato à Central <strong>de</strong> Polícia. Pouco<br />

<strong>de</strong>poií, através do comissário Cabral, <strong>de</strong><br />

plantão na Central, a juíza daquele município<br />

tomou conhecimento do fato. Imediatamente<br />

pediu reforços à Polícia Militar, pois soube<br />

que a cida<strong>de</strong> está revoltada com o assassinato<br />

do fazen<strong>de</strong>iro.<br />

Soube-se também que um grupo,<br />

li<strong>de</strong>rado por policiais e' constituído por<br />

membros da família da vítimas e os guarda<br />

costas, organizou uma diligência para tentar<br />

capturar os responsáveis pelo homicídio. Ao<br />

grupo, juntaram-se elementos da comunida<strong>de</strong><br />

que tinham alguma ligação com o fazen<strong>de</strong>iro,<br />

enquanto outros foram contra a diligência e<br />

davam razão aos peões assassinos, alegando<br />

que esse era o preço justo por ter Edson<br />

dispensado inúmeros trabalhadores,<br />

<strong>de</strong>ixando-os sem" condições para sustentar suas<br />

fagiílias.<br />

' CORPO EM BELÉM - Quase ao final da<br />

tar<strong>de</strong>, o corpo <strong>de</strong> Edson Pereira (casado, 28<br />

anos) chegava ao Instituto <strong>de</strong> Polícia<br />

Científica "Renato Chaves". O cadáver estava<br />

com chumbos por todo o corpo, inclusive,<br />

três <strong>de</strong>les foram encontrados no rosto.<br />

FÚRIA DO POVO<br />

Uma multidão <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 500 pessoas começou a se<br />

formar em frente i <strong>de</strong>legacia. Uma parte foi para a casa <strong>de</strong><br />

Eurico et o quebra-quebra iniciou. A família do agente<br />

(mulher e duas filhas) correu pelos fundos da casa para o<br />

mato e sumiu. Toda a frente da casa <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira foi<br />

quebrada. Móveis, máquina <strong>de</strong> costura, quadros, enfim,<br />

tudo foi <strong>de</strong>struído pela multidão revoltada. Um cidadão<br />

local disse que só não colocaram fogo na casa, porque a<br />

residência vizinha é <strong>de</strong> um comerciante que nada tinha<br />

que ver com o caso. O medo que o fogo se propagasse pela<br />

cida<strong>de</strong> inteira (todas as construções são <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira)<br />

também impediu que uma tragédia maior acontecesse.<br />

O prefeito, que estava em sua casa no momento do<br />

crime foi avisado e dirigiu-se para a <strong>de</strong>legacia. A multidão,<br />

que já tinha terminado o serviço" na casa <strong>de</strong> Eurico<br />

concentrou-se na porta da <strong>de</strong>legacia. Algumas pedras<br />

foram atiradas nas janelas e os vidros quebrados. O<br />

prefeito, colocou-se Vi frente do povo e conseguiu conter<br />

por um momento os revoltados. Enquanto isso, o cabo e o<br />

soldado, trancados na <strong>de</strong>legacia com o comissário <strong>de</strong><br />

polícia local Henrique da Silva Coelho, <strong>de</strong> 85 anos,<br />

conseguiam escapai pela porta dos fundos. Quando o<br />

prefeito se <strong>de</strong>scuidou um pouco, algumas pessoas<br />

entraram na <strong>de</strong>lev»"» mas só encontraram o comissário; o<br />

cabo e o soldado haviam fugido<br />

J3<br />

«0<br />

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O<br />

5<br />

PAGINA 21


I<br />

I<br />

AJMíínciadoiPafd Governo<br />

apreen<strong>de</strong><br />

SPDDH lança<br />

mensário<br />

o jornal<br />


Os direitos<br />

humanos<br />

O presi<strong>de</strong>nte da Socieda<strong>de</strong> Paraense<br />

<strong>de</strong> Defesa dos Direitos Humanos, Paulc<br />

Ponteies, enviou ontem ao Balaio a se-<br />

guinte carta:<br />

No artigo "A Volta dos Cassados",<br />

publicado no "Balaio", na edição <strong>de</strong><br />

02/01/79, se afirma, entre outras coisas,<br />

que "...Hoje essas esquerdas", além do<br />

apoio <strong>de</strong>clarado <strong>de</strong> alguns'pedres e até <strong>de</strong><br />

um bispo, D. Alano Pena, da Prelazia <strong>de</strong><br />

Marabá, mantém um jornal, "Resistên-<br />

cia", cuja agressivida<strong>de</strong> o coloca na linha<br />

do que eles mesmos chamam <strong>de</strong> "impren-<br />

sa alternativa".<br />

A afirmação é, contudo, errônea,<br />

simplista e perigosa.<br />

Errônea, porque não são as "esquer-<br />

das" que mantém o "Resistência".' O "Re-<br />

sistência" é mantido pela Socieda<strong>de</strong> Pa-<br />

raense <strong>de</strong> Defesa dos Direitos Humanos,<br />

<strong>de</strong> quem é o órgão <strong>de</strong> divulgação e im-<br />

prensa.<br />

Simplista, porque tenta caracterizar<br />

essa Socieda<strong>de</strong>, sub-repticiamente, <strong>de</strong><br />

"esquerda". A Socieda<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong> De-<br />

fesa dos Direitos Humanos não é <strong>de</strong> "es-<br />

querda", <strong>de</strong> "centro" ou muito menos <strong>de</strong><br />

"direita". É <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, dos direitos huma-<br />

nos. E assim, com altivez e <strong>de</strong>sassombro,<br />

tem-se mantido.<br />

Perigosa, porque nos tempos<br />

sombrios que atravessamos, essa caracte-<br />

rização <strong>de</strong> "esquerda", possue o nausea-<br />

bundo cheiro da <strong>de</strong>duragera.<br />

A bem da verda<strong>de</strong>, possuímos o apoio<br />

não só do Bispo <strong>de</strong> Marabá, <strong>de</strong> padres<br />

"progressistas", mas <strong>de</strong> todos aqueles<br />

que, sinceramente, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m os direi-<br />

tos humanos. Especialmente do povo so-<br />

frido e <strong>de</strong>samparado <strong>de</strong> nossos subúrbios.<br />

"omoo »• PARU'"<br />

WM<br />

FEOPAGANDA GRATUITA<br />

$9 consi<strong>de</strong>rawne» que Balem é uma d-<br />

fk<strong>de</strong> com população superior a ura mühão<br />

df h»bitantes e se consi<strong>de</strong>rarmos ainda que<br />

5 mil passoas repyossiUíim apensa 0,3 por<br />

cento <strong>de</strong>»sa população, não wnseguimoa en-<br />

ten<strong>de</strong>r o potrquô <strong>de</strong> medida ministgrial que<br />

<strong>de</strong>terminou a apreensão da úHima tiragem<br />

do jornal "Resistência". Ora, trata-se d3 um<br />

jornal pequeno, com uma tiragem que não<br />

alcança o$ 5 mil exemplares e qae poiianto<br />

não chega a sÇr lido por 0,5 por cento da<br />

gente <strong>de</strong> Belém, mas que agpra, em faca da<br />

apre*n«ão sofrida vai ganhar um <strong>de</strong>staque<br />

com o qual jamais sonhou. O M il»#i»tên-»a"<br />

vai começar a ser falado <strong>de</strong> Norte a Sai ccs-<br />

te pai». De fato não dá para enten<strong>de</strong>r mm<br />

medida que além <strong>de</strong> í»nti-popuiar está Cí,HX~<br />

pletamentf equivocada com relação aos obje-<br />

tivo» a ierom alcançados *<br />

"o ervrtHSo" 29/of/ye<br />

0 que continha<br />

SAUDAÇÃO<br />

ESTUDO<br />

CAPA<br />

apreendida ^<br />

C^<br />

a edição<br />

TORTURA<br />

k\V<br />

CAMPO PROPAGANDA VARIEDADES<br />

POESIA<br />

VAREJO<br />

^<br />

POLÍTICA<br />

ESTUDANTES SDDH - UW ANO EDITORIAL SUBÚRBIO<br />

EDITORIAL<br />

-J&=S=l * OPINIÃO DO POVO —SSSSSH<br />

i r<br />

J<br />

úPOVO%Í<br />

PARÁ<br />

0 MOVIMENTO<br />

DO CUSTO DC WOA<br />

raniBtiianistia anistia anistia anistia anistia anistia<br />

RESISTÊNCIA 6<br />

Manifesto pe<strong>de</strong><br />

a absolvição <strong>de</strong><br />

três processados<br />

Entida<strong>de</strong>s religiosas contra<br />

a apreensão do ^Resistência''<br />

Universitários manifestam-se<br />

contra a apreensão <strong>de</strong> jornal<br />

Comunicado público<br />

M CA<br />

^ i ô<br />

Pi<br />

O cs<br />

em Goiânia sobre<br />

caso "Resistência 3 ??<br />

PÁGINA 23


O requerimento <strong>de</strong> Exceçio, firma-<br />

do pelos advogados Deus<strong>de</strong>dith Brasil,<br />

Egídio Machado Sales Filho? Luís Otávio<br />

Ban<strong>de</strong>ira Gomes e Carlos Augusto da Sil-<br />

va Sampaio<br />

tx positis, requer que seja i»<br />

nhecida o exceptio <strong>de</strong>clinatoria fori para<br />

que o processo, verificado os pressupostos<br />

tipificadores da infração prossiga pela Lei<br />

<strong>de</strong> Imprensa, porque assim a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

pensar não significará pensar só para si,<br />

ocultando o pensamento, mas, sim, pen-<br />

sar e dizer na or<strong>de</strong>m social em <strong>de</strong>fesa do<br />

bem maior: o coletivo.<br />

E o povo sensibilizado, se faz<br />

presente. Sem que tenhamos recebido<br />

qualquer apoio da imprensa local<br />

(/omafístas à parte), realizamos uma<br />

belíssima programação <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa dos<br />

companheiros acusados. E foi<br />

emocionante ver a participação do povo<br />

na Ia. Vigília Cívica que realizamos no<br />

Salão da Igreja da Aparecida.<br />

Repfesentações <strong>de</strong> quase todos os bairros<br />

pobres <strong>de</strong> Belém se fizeram presentes!<br />

Sacramenta, Pedreira, Jurunas,<br />

Terra-Firme, Benguí, Atalaia, Guamá Iam<br />

respon<strong>de</strong>ndo presente è chamada da<br />

Mesa. E todos colocando em sua<br />

linguagem simples e bonita suas noções <strong>de</strong><br />

apoio aos companheiros processados e ao<br />

trabalho da SDDH. E foi emocionante a<br />

permanência <strong>de</strong> duas centenas <strong>de</strong> pessoas<br />

è porta da Auditoria Militar, em protesto<br />

silencioso, porém firme, contra o<br />

vergonhoso processo, quando nossos<br />

companheiros tiveram que prestar<br />

<strong>de</strong>poimentos. Trabalhadores, donas <strong>de</strong><br />

cana,ettudantes, bancários, profissionais<br />

liberais, religiosos, quengo se intimidaram<br />

com os soldados da Polícia do Exército,<br />

que <strong>de</strong> metralhadoras nas mãos,<br />

guarneciam as partes da Auditoria Militar.<br />

Centenas <strong>de</strong> pessoas, que passaram em<br />

três dias, suas tar<strong>de</strong>s inteiras, sob sol e<br />

chuva, à porta <strong>de</strong>ssa Auditoria, só se<br />

dispersando quando todos os<br />

companheiros, em <strong>de</strong>poimento, eram<br />

liberados. (E tudo isso em meio a uma<br />

verda<strong>de</strong>ira algarivia <strong>de</strong> "secretas", que <strong>de</strong><br />

'não tinham nada).<br />

lirtiOâ<br />

E af o povo, povão mesmo,<br />

moradores das "baixadas a pequenos<br />

lavradores do interior se sensibilizaram.<br />

Perceberam que os companheiros estavam<br />

tendo processados porque <strong>de</strong>fendiam um<br />

regime <strong>de</strong>mocrático e popular. Que<br />

estavam tendo processados Justamente<br />

porque <strong>de</strong>fendiam os ihtergsses do nosso<br />

povo, contra os interesses dos gran<strong>de</strong>s<br />

capitalistas internacionais e nacionais, que<br />

vem esmagando o brasileiro a tanto<br />

tampa<br />

A LUTA VAI AVANÇAR<br />

0 processo entretanto não acabou.<br />

Primeiro, porque a Promotora Militar teve<br />

que recorrer da <strong>de</strong>cisão tomada para o<br />

Superior Tribunal Militar, que funciona<br />

em Brasília, que confirmará ou negará a<br />

posição do Conselho <strong>de</strong> Justice da<br />

Marinha. Se negar, o processo volta è área<br />

militar, com o nosso enquadramento na<br />

Lei <strong>de</strong> Segurança Nacional - com «<br />

possibilida<strong>de</strong>, portanto, dos<br />

companheiros serem julgados e<br />

con<strong>de</strong>nados a penas que vão <strong>de</strong> seis meses<br />

a dois anos <strong>de</strong> prisão. Se, todavia, o<br />

Superior Tribunal Militar confirmar a<br />

<strong>de</strong>cisão da Justiça Militar daqui do Pari, o<br />

processo será remetido è.Justiça Comum,<br />

on<strong>de</strong>, esperamos, <strong>de</strong>verá ser arquivado.<br />

A nossa luta, portanto, vei<br />

continuar. £ vai avançar ati que os<br />

companheiros sejam absolvidos<br />

processo vergonhoso, ou que<br />

processo seja arquivado <strong>de</strong>finitivamente.<br />

E a nossa luta vai se <strong>de</strong>senvolver até que<br />

todos os perseguidos, cassados, presos,<br />

exilados por motivos políticos tenham os<br />

seus direitos <strong>de</strong> participação social<br />

assegurados, por uma ANISTIA AMPLA,<br />

GERAL E IRRESTRITA, para que,<br />

livremente, todos possam contribuir na<br />

luta maior da libertação do povo<br />

brasileiro.<br />

Em nosso<br />

trabalho do dia a dia com as populaçSes<br />

pobres explicávamos a<br />

^<br />

natureza<br />

x> ^<br />

vergonhosa <strong>de</strong>sse processo.<br />

^<br />

%<br />

que foram <strong>de</strong>por ne Policia Fe<strong>de</strong>ral,<br />

principalmente os diretamente envolvidos<br />

na matéria, reafirmaram tudo que haviam<br />

dito no jornal, aprofundando as crítimas<br />

ao regime policial-militar <strong>de</strong> 1964.<br />

PÁGINA 24<br />

r ^<br />

«?/<br />

A DITADURA DESCOBRE QUEM<br />

METEU A MÃO NA cQMBUCA<br />

E quando <strong>de</strong>scobriu foi tard«,<br />

porque a btnaira já tinha sido feita. A<br />

besteira <strong>de</strong> tentar processar vitimai d*<br />

torturas por terem <strong>de</strong>nunciado<br />

torturadores.<br />

A intençlo*do sr. Armando Fakio<br />

<strong>de</strong> nos intimidar, nos enfraquecer, <strong>de</strong> nos<br />

afastar do povo, ceifando nono trabalho,<br />

o trabalho da SDDH, tinha provocado<br />

exatamente o contrária As <strong>de</strong>núncias<br />

tinham llcançado rapercussio nacional.<br />

Estávamos mais firmes e corajosos —<br />

também, pu<strong>de</strong>ra com tanto apoio! —.<br />

Estávamos mais ligados ao nosso oova<br />

E mais: quem<br />

eram os companheiros indicteA» no<br />

processo; porque eles navíam sido<br />

torturados e porque haviam <strong>de</strong>cidido<br />

<strong>de</strong>nunciar publicamente o que tinha<br />

sofrido.<br />

&:**<br />

v^<br />

\<br />

E quem<br />

investiga<br />

as torturas?


'Resistência<br />

Caros companheiros da CPT do Pará,<br />

Aqui estão algumas palavras <strong>de</strong> soli-<br />

darieda<strong>de</strong> a vocês, na luta contra a fars;<br />

que está fendo encenada na Auditoria Mi-<br />

litar <strong>de</strong> Bèléní contra os lavradores do Pa-<br />

rá na pessoa <strong>de</strong> Paulo Fontelles, .Hecilda<br />

Veiga c Luiz Maklouf:<br />

E sobreveio um Tempo sem entranhas.<br />

Anos <strong>de</strong> pedra espessa, "<br />

dias <strong>de</strong> muro e medo:<br />

a morte invadiu<br />

com seus exércitos<br />

o espaço aberto das ruas<br />

e o silêncio das armas<br />

sepultou com seus ferros<br />

c a túnica ver<strong>de</strong>-oliva<br />

os ossos dos meninos trucidados.<br />

E os coveiros do continente<br />

esten<strong>de</strong>ram seu império<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>latores,<br />

carrascos,<br />

elegantes assassinos<br />

<strong>de</strong> forda impecável<br />

e coturnos reluzentes,<br />

até o porão das fábricas,<br />

a marcha dos retirantes,<br />

os barracos das favelas,<br />

os bancos das escolas,<br />

os sonhos dos <strong>de</strong>serdados,<br />

até a última fresta<br />

on<strong>de</strong> a boca dos humanos<br />

passasse ao humano ouvido<br />

palavras <strong>de</strong> rebeldia.<br />

E a Noite pensou <strong>de</strong> si mesma<br />

que era um Tempo sem prazo,<br />

sem passado, sem futuro,<br />

um 'ítimpo que se bastava,<br />

da própria dor se nutria.<br />

Os olhos da Noite cega<br />

não viram fagulhas saltando<br />

na alma das oficinas.<br />

não viram tochas ar<strong>de</strong>ndo<br />

na marcha dos retirantes,<br />

não viram os favelados<br />

recriando o fogo vivo<br />

nas estações <strong>de</strong>predadas<br />

e os olhos dos estudantes<br />

clareando <strong>de</strong> esperança<br />

as ruas submetidas.<br />

Os olhos da Noite cega<br />

não viram o sonho do Povo<br />

reacen<strong>de</strong>ndo fogueiras<br />

no ventre da escuridão,<br />

enquanto espera romper<br />

as turvas ca<strong>de</strong>ias do Sol • >*'<br />

e AMANHECER!<br />

com úm abraço solidário<br />

fev/79 Pedro Tierra<br />

O POVO ficou do lado d» fora<br />

O ESTRANHO CASO<br />

DO FICHAMENl O PERPÉTUO<br />

A SDDH conseguiu uma vitória ao fazer<br />

<strong>de</strong>squalificar na auditoria militar o processo do<br />

RESISTÊNCIA para que seja apreciado na justi-<br />

ça comum, através da Lei <strong>de</strong> Imprensa. Contu-<br />

do, isso é apenas o início <strong>de</strong> uma luta, que a<br />

julgar pelo seu aspecto atual, vai durar ainda<br />

muito tempo.<br />

SenSo vejamos: o companheiro Humberto<br />

Rocha Cunha, um dos que <strong>de</strong>nunciou torturas<br />

esteve às voltas com o IPM 78/78 juntamente<br />

com os outros companheiros do jornal. Foi fi-<br />

chado na Polícia Fe<strong>de</strong>ral antes mesmo <strong>de</strong> ser<br />

indiciado, como os <strong>de</strong>mais também. Quando a<br />

promotora ofereceu a <strong>de</strong>núncia, Humberto foi<br />

excluído do processo. Apesar disso a Polícia Fe-<br />

<strong>de</strong>ral se nega a cangelar seu fichamento, pois a<br />

que o juiz forneceu não presta, uma vez que<br />

não consta o número do IPM.<br />

O juiz, porém, não quer dar nova certidão<br />

e fica <strong>de</strong>sse modo o Humberto con<strong>de</strong>nado ao<br />

fichamento perpétuo na Polícia Fe<strong>de</strong>ral e no<br />

DOPS, paracendo coisa combinada entre o juiz<br />

e a polfcia. O nosso companheiro vai entrar no<br />

Superior Tribunal Militar com Habeas Corpus.<br />

Picoresco èi Macabro<br />

No momento em que Paulo Fontel-<br />

les reafirmava perante o Conselho <strong>de</strong> Sen-<br />

tenças as <strong>de</strong>núncias das torturas que havia<br />

sofrido no PIC, o juiz Mário Mendonça<br />

interrompeu a narrativa, e, num tom em<br />

que se misturava enfado e irritação, <strong>de</strong>cla-<br />

rou:<br />

- Meu rapaz, eu conheço o pau-<br />

<strong>de</strong>-arara. . .<br />

Na parte <strong>de</strong> fora, on<strong>de</strong> se acumulavam<br />

mais <strong>de</strong> cem pessoas, a presença <strong>de</strong> agentes da<br />

polícia era notada por todos. Puxando con-<br />

versa, batendo fotografias, ou apenas observan-<br />

do, todos — ou quase todos — foram <strong>de</strong>scober-<br />

tos. Este (foto), com uma "olympus trip", fur-<br />

tivamente fotografava pessoas que não haviam<br />

logrado entrar na auditoria militar. Pouco <strong>de</strong>-<br />

pois <strong>de</strong> ser flagrado e fotografado interpelou<br />

nosso fotógrafo com insinuações e ameaçadas.<br />

Caso Resistência vai<br />

parar na Justiça Comum<br />

Com o fim <strong>de</strong> complementar seu<br />

<strong>de</strong>poimento ao RESISTÊNCIA/5 Hum-<br />

berto Cunha nos enviou o seguinte docu-<br />

mento, que <strong>de</strong>ve servir a operários e estu-<br />

dantes mineiros, além do Conselho Regio-<br />

nal <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Minas Gerais. A <strong>de</strong>cla-<br />

ração veio assinada com firma reconhe-<br />

cida em cartório.<br />

DECLARO, para todos os fins e<br />

efeitos, que o médico que acompanhou<br />

meu estado físico no período <strong>de</strong> torturas<br />

no DOI-CODI <strong>de</strong> Belo Horizonte no final<br />

do ano <strong>de</strong> 1971 e princípio <strong>de</strong> 1972, inci-<br />

tando os torturadores a continuarem a<br />

tortura sob a alegação <strong>de</strong> que eu estaria<br />

apenas fingindo <strong>de</strong>smaio é o cidadão que<br />

abaixo se discrimina:<br />

Nome - JEAN-PAUL NICOLÀ SE-<br />

GURGER<br />

Nacionalida<strong>de</strong> - LUXEMBUR-<br />

GUÊS<br />

Ocupação atual:<br />

1) Médico da AASA (Artefatos <strong>de</strong><br />

Aço S/A), sita à Av. Amazonas - Conta-<br />

gem-MG.<br />

2) Professor da UFMG faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Medicina.<br />

0 referido é verda<strong>de</strong>, e posso teste-<br />

munhar do fato em Juízo. A presente De-<br />

claração complementa meu relato contido<br />

no jornal "RESISTÊNCIA" No. 5, órgão<br />

da Socieda<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong> Defesa dos Di-<br />

reitos Humanos.<br />

Por "or<strong>de</strong>m superior" não foram permi-<br />

tidas fotografias tanto no interior da sala <strong>de</strong><br />

audiências — a partir <strong>de</strong> segunda audiência —<br />

como do lado <strong>de</strong> fora. Este soldado tentava<br />

cumprir as <strong>de</strong>terminações superiores quando foi<br />

enquadrado pela objetiva <strong>de</strong> nosso fotógrafo,<br />

que para não per<strong>de</strong>r o filme teve que <strong>de</strong>ixar a<br />

máquina nas mãos <strong>de</strong> pessoas que se encontra-<br />

vam nas proximida<strong>de</strong>s, recuperando a <strong>de</strong>pois.<br />

PÁGINA 25


1<br />

i<br />

s<br />

(O<br />

S<br />

^mirf^^<br />

^ ^<br />

Os moradores utilizaram-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> caixotes até oestes oara bloauear a rua. em protesto<br />

Todos, <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra, a<strong>de</strong>riram ao protesto.<br />

«(<br />

"Abaixo a poeira." Afixada num<br />

cartaz, estrategicamente disposto sob a<br />

vista <strong>de</strong> todos, esta foi a reivindicação<br />

que levou à interdição da Djalma Du-<br />

tra, entre Curuça e Quatorze <strong>de</strong> Março<br />

num protesto que assume dimensões<br />

bem mais sérias ao ' provocar uma es-<br />

caramuça entre os moradores do pe-<br />

rímetro e policiais da Secretaria <strong>de</strong> Es-<br />

tado <strong>de</strong> Segurança Pública (Segup).<br />

Devidamente condimentado com os<br />

ingredientes indispensáveis a todo bom<br />

protesto, o episódio envolveu <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

ameaças <strong>de</strong> tiros até apedrejamento <strong>de</strong><br />

uma viatura <strong>de</strong> policiais, sem que os<br />

moradores da áreaarredassemopé<strong>de</strong>sua<br />

disposição em colocar um ponto final<br />

no que qualificam <strong>de</strong> "martírio" — a-<br />

tribuido a "autorida<strong>de</strong>s competentes".<br />

Um cartaz foi pintado, explicando o motivo da cão.<br />

Barricados fecham outra<br />

0 LIBERAL 12/11/77 _ m<br />

rua por causa da poeira<br />

Obstáculos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira,<br />

ônibus apedrejado, na<br />

esquina da dr. Freitas<br />

Cerca das 17 horas<br />

os moradores da avenida<br />

Pedro Alvares Cabral, á<br />

altura da avenida Dr.<br />

Freitas, começaram a<br />

<strong>de</strong>ixar suas casas e reu-<br />

nir grossos. pedaços <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira seca para inter-<br />

ditar a rua. Eles apro-<br />

veitaram um momento<br />

em que faltou energia<br />

elétrica no local, for-<br />

mando gran<strong>de</strong>s obstá-<br />

culos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira òo<br />

longo da rodovia, im-<br />

pedindo a passagem<br />

dos veículos que por ali<br />

trafegavam. Através <strong>de</strong><br />

um telefonema anônimo<br />

a Polícia Militar do Es-<br />

tado foi acionada e qua-<br />

se que imediatamente<br />

chegou ao local um pe-<br />

lotão <strong>de</strong> choque, com<br />

mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z integrantes.<br />

Um conflito generali-<br />

zou-se entre q^ milita-<br />

res que foram rece-<br />

bidos com apupos —<br />

e o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

pessoas que naquele<br />

momento já se agru-<br />

pavam na avenida. A<br />

policia precisou uti-<br />

lizar gás lacrimogêneo<br />

e disparar várias vezes<br />

para o alto, para conse-<br />

guir dispersar a peque-<br />

na multidão.<br />

Um morador que<br />

também não quis se<br />

i<strong>de</strong>ntificar, dizia que tão<br />

logo a policia se retiras-<br />

se do local, novamente<br />

os troncos e os paus<br />

seriam recolocados na<br />

avenida. Os policiais dis-<br />

seram que ficariam até<br />

mesmo a noite toda <strong>de</strong><br />

plantão na avenida, para<br />

evitar que a cena se re-<br />

petisse/ caso isso fosse<br />

necessário.<br />

Até mesmo fogo foi ateado em ma<strong>de</strong>ira<br />

para impedir o tráfego <strong>de</strong> veículos<br />

o nettffU O%/11/77


Barricadas<br />

graves<br />

propor<br />

çoes<br />

Essa foi a única maneira que os moradoras encontraram para protestar<br />

Ajax: asfalto ja<br />

há suficiente<br />

"O problema da interdição <strong>de</strong> ruas pelos moradores<br />

por enquanto está nas mâTos da Secretaria <strong>de</strong> Segurança, mas<br />

po<strong>de</strong>rá ser levado aos órgãos nacionais <strong>de</strong> segurança", <strong>de</strong>-<br />

clarou ontem pela manhã o prefeito municipal <strong>de</strong> Belém,<br />

Ajax «<strong>de</strong> Oliveira, pouco antes <strong>de</strong> ir ao Palácio do Governo,<br />

on<strong>de</strong> teve audiênpia com o governador Aloysio Chaves, nu-<br />

ma reunião em que foi <strong>de</strong>cidido o envio <strong>de</strong> efetivos da<br />

polícia.<br />

Para o Prefeito, o movimento, que começou como um<br />

inci<strong>de</strong>nte sem maior gravida<strong>de</strong>, está sendo usado por ele-<br />

mentos estranhos, interessados em criar uma imagem negati-<br />

va da atual administração, manchar a reputação da Prefeitu-<br />

ra, esquecendo inúmeras outras ativida<strong>de</strong>s da administração<br />

local.<br />

.. enquanto soldados, conauzirido cães póricíais, guardavam os trabalhadores.<br />

Tranca-rua movimentou a CM;<br />

Ajax criticado e <strong>de</strong>fendido<br />

O movimento <strong>de</strong> protesto rea-<br />

lizado pelos moradores <strong>de</strong> alguns<br />

subúrbios contra a Prefeitura Muni-<br />

cipal <strong>de</strong> Belém, fechando com bar-<br />

ricadas as ruas em que o tráfego -<br />

provoca muita poeira - <strong>de</strong>nomina-<br />

do "tranca rua" — foi objeto <strong>de</strong><br />

acalorados <strong>de</strong>bates, ontem, na sessã"<br />

da Câmara Municipal.<br />

Primeiro orador, o sr. Eloy<br />

Santos, da ARENA, criticou a mo-<br />

rosida<strong>de</strong> das obras da Prefeitura nos<br />

subnrhios <strong>de</strong> Belém,<br />

Carlos couto, em aparte,,<br />

observou que Eloly paracía até inte-<br />

grante da bancada do MDB, tal a<br />

maneira como se referia à Prefeitu-<br />

ra Eloy exaltou-se. redargufndq<br />

que <strong>de</strong> hoje 0or diante seu compor-<br />

tamento será outro, pois o povo es-<br />

tá acompanhando o trabalho <strong>de</strong><br />

seus representantes na Câmara. La-<br />

mentou que Ajax, no seu pro-<br />

nunciamento féitona televisão, tives-<br />

se "agredido os prefeitos que o an-<br />

tece<strong>de</strong>ram"<br />

A bancada do MDB apoiou o<br />

pronunciamento <strong>de</strong> Eloy. com seu<br />

lí<strong>de</strong>r João Marques apresentando<br />

voto <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> aos morado-<br />

res das ruas Ojalma Outra. Mauriti e<br />

Pedro Alvares Cabral. Protestou<br />

contra a atitu<strong>de</strong> da Policia Civil que<br />

<strong>de</strong>rruba as barricadas na base da<br />

agressão fisica e pediu a consigna-<br />

ção em ata <strong>de</strong> um voto <strong>de</strong> protesto<br />

contra a Prefeitura, pela maneira<br />

como se comporta no episódio, en-<br />

volvendo os moradores das ruas<br />

trancadas; PÁGINA 27


CNBB, Diretórios e outras<br />

entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Belém apómm<br />

protestos contra a poeira<br />

Belém — Carta-Aberta à População endossada<br />

por 16 entida<strong>de</strong>s, entre elas a Socieda<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong><br />

Defesa


Câmara também<br />

aprova Carta<br />

' n<br />

"0 es-rfípD DO ?fi*ft<br />

1 O/H/77<br />

• Dando a enten<strong>de</strong>r que por trás<br />

<strong>de</strong> tudo tem "forças ocultas", confor-<br />

me afirmou, o vereador Fernando Mo-<br />

raes, votou contra o requerimento <strong>de</strong><br />

João Marques, que solicitava fosse in-<br />

serido nos "Anais da Casa a Carta<br />

Aberta à População, publicada por "O<br />

Estado do Pará" e que tratava da re-<br />

cente manifestação popular contra a<br />

Prefeitura, O requerimento, que teve a<br />

abstenção dos vereadores Adamor Fi-<br />

lho e Eloy Santos, mesmo assim foi<br />

aprovado por maioria <strong>de</strong> votos.<br />

Ao funfo, apoefra. Em primeiro planor soldados agem, removendo as árvores. Mais distantes, popular»<br />

Rua <strong>de</strong>sinterditada<br />

Os moradores da avenida Pe-<br />

dro Ájvares Cabral, voltaram<br />

pela madrugada e conti-<br />

nuaram pelo dia <strong>de</strong> ontem, a<br />

colocar barricadas no trecho<br />

daquela artéria compreen-<br />

dido entre a i avenida Artur<br />

Bernar<strong>de</strong>s e Ponte do Barrei-<br />

ro, obstruindo o local e im-<br />

pedindo a passagem dos veí-<br />

culos, <strong>de</strong>vido a poeira ali<br />

existente.<br />

Entretanto, ontem<br />

mesmo, a Prefeitura Munici-<br />

pal <strong>de</strong> Belém, através da Se-<br />

cretaria <strong>de</strong> Obras, para ame-<br />

nizar o sofrimepto daqueles<br />

moradores, or<strong>de</strong>nou a ida<br />

para o local, <strong>de</strong> um carro-pi-<br />

pa para melhorar toda aque-<br />

la artéria , ao mesmo tempo<br />

que uma máquina efetuava a<br />

pintura asfáltica naquele tre-<br />

cho, enquanto são condui-<br />

das as obras com o asfalta-<br />

mento.<br />

Alguns moradores <strong>de</strong>-<br />

clararam não suportar mais<br />

a poeira ali existente, e co-<br />

mo aconteceu cerca <strong>de</strong> um<br />

mês atrás, quando toda<br />

aquela avenida foi interdita-<br />

da, e posteriormente <strong>de</strong>sobs-<br />

truicla por um contingente <strong>de</strong><br />

300 honrens da Polícia Mili-<br />

tar do Estado, eles voltaram<br />

a interditar parte da aveni-<br />

da, para tentar obter com is-<br />

to, uma providência das au-<br />

torida<strong>de</strong>s municipais, as<br />

quais, entretanto, já estão<br />

sendo tomadas. O caso é<br />

que os moradores não pos-<br />

suem a necessária paciência<br />

para esperar que a rua seja<br />

asfaltada totalmente, como<br />

aconteceu com a travessa<br />

Djalma Dutra, perímetro<br />

compreendido entre a tra-<br />

vessa Curuçá e 14 <strong>de</strong> Março,<br />

e ainda a Travessa Maurity,<br />

perímetro compreendido<br />

entre a avenida Senador Le-<br />

mos e rua Nova, on<strong>de</strong> mora-<br />

dores também colocaram<br />

barricadas, e já sei encon-<br />

tram em condições <strong>de</strong> tráfe-<br />

go e asfaltadas.<br />

A reportagem pela<br />

manhã <strong>de</strong> ontem esteve na<br />

avenida • Pedro Alvares Ca-<br />

bral, e acompanhou <strong>de</strong> per-<br />

to o drama do ; motorista <strong>de</strong><br />

táxi placa AT-12-19 que,<br />

conduzindo duas senhoras<br />

como passageiras, teve que<br />

vencer as barricadas, por vá-<br />

rios quarteirões. Mesmo<br />

apupado por vários elemen-<br />

tos o profissional do guidon,<br />

retirava os obstáculos que<br />

iam surgindo à sua frente,<br />

conseguindo levar as duas<br />

passageiras a seu <strong>de</strong>stino.<br />

"Oueem"<br />

30/077<br />

PâGINA29


O ESTADO DO PARÁ<br />

O "Movimento da Casa Pró-<br />

ria" que engloba os moradores <strong>de</strong>s-<br />

pejados dos conjuntos habitacionais<br />

<strong>de</strong> Belém, promoveu ontem à tar<strong>de</strong><br />

na "Praça do Operário", em frente<br />

ao Terminal Rodoviário, uma con-<br />

centração popular para <strong>de</strong>bater a<br />

sugestão da CODEM - Companhia<br />

<strong>de</strong> Desenvolvimento das Áreas Me-<br />

tropolitanas <strong>de</strong> Belém - que pre-<br />

ten<strong>de</strong> doar lotes aos sem-teto <strong>de</strong>ntro<br />

das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada trabalha-<br />

dor.<br />

.Durou apenas dois dias o<br />

sonho <strong>de</strong> (nuitas famílias bele-<br />

menses <strong>de</strong> possuírem casa pró-<br />

pria. Ontem, várias guarnições da<br />

PoKcia Militar, com a colabora-<br />

ção <strong>de</strong> etémemot da Policia Civil,<br />

retiraram todos os invasores <strong>de</strong><br />

dois dos três conjuntos tomados<br />

nestes últimos dias: somente o<br />

"Morada dos Ventos" não foi<br />

visitado pelas forças d? seguran-<br />

ça, o que <strong>de</strong>verá ocorrer na se>-<br />

gunda-feira, segundo informações<br />

<strong>de</strong> oficiais que comandavam a<br />

operação. Os conjuntos "Chácara<br />

Terra Nova" e "Jardim América"<br />

foram totalmente <strong>de</strong>socupados.<br />

No Morada <strong>de</strong>» Vente»" na rodoi/ia Augus-<br />

to Monteoegro, todai ai casas que estavam arma-<br />

??• J or ?S dwmootadBi.. inclutivt, por soldados da<br />

Puta» MMiter, por ocasiflo da operaçffo <strong>de</strong>spejo<br />

I? Ç2* ,^0, ■ S^ndo «purou a reportagem mul-<br />

tai <strong>de</strong>stes posseiro» tiveram elevado» prehi&o*<br />

PÁGINA 30<br />

i«v. «. taiàMào* ««ientrem no ctmiunto<br />

, tt Vou-me cmbcara <strong>de</strong>sse conjimto,<br />

sem <strong>de</strong>stino e sem dinheiro<br />

?<br />

vou em busca <strong>de</strong> outra<br />

sou teimoso e brasileiro<br />

O conjgnto "Morada dos Ventos",<br />

cujas obras, foram suspensas, mesmo ina-<br />

cabado já conta com centenas <strong>de</strong> futuros<br />

moradores. O conjunto se esten<strong>de</strong> por<br />

uma extensa área <strong>de</strong> terreno, com limites<br />

éompreen<strong>de</strong>ndo a rodovia Augusto Mon-<br />

tenegro e a estrada do Una, pelo Coquei-<br />

ro, e está sendo invadido por centenas <strong>de</strong><br />

posseiros, que necessitando da casa pró-<br />

pria, estão se localizando na área que di<br />

zem estar abandonada, e já dividida em<br />

mais <strong>de</strong> mil lotes.aproximadamente.E a<br />

afluência <strong>de</strong> posseiros cresce e cada dia,<br />

como bem pô<strong>de</strong> ontem a reportagem<br />

observar.<br />

Enquanto permanece o impas-<br />

se, muita gente chegou a comentar que<br />

o Governo po<strong>de</strong>ria abrir miTo <strong>de</strong>sses<br />

conjuntos abandonados, ao invés <strong>de</strong><br />

ficai expulsando essa gente pobre <strong>de</strong><br />

terrenos como os dajnvernada e Univer-<br />

sida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará. Calcula-se que<br />

pelo menos 250 a 300 pessoas estejam<br />

reivindicando apartamentos nò Con-<br />

junto "Império Amazonas."<br />

e LieegUL'<br />

Com 36 blocos e nada menos <strong>de</strong><br />

que 2.600 apartamentos inacabados, o<br />

'Conjunto Império Amazonas", mais<br />

uma obra financiada pela Tropical é o<br />

mais recente palco <strong>de</strong> invasão <strong>de</strong> "pos-<br />

seiros", que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a madrugada <strong>de</strong> on-<br />

tem, começaram a se instalar entre bri-<br />

gas, até que soldados da Policia Militar,<br />

foram ao local, em duas viaturas e dois<br />

caminhões <strong>de</strong> choque, para expulsar as<br />

<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> famílias que acorreram ao<br />

Conjunto.<br />

Apesar do forte contingente po-<br />

liciai, nJo foi verificada nenhuma pri-<br />

são, já que os "posseiros" nfo entra-<br />

ram em choque com os soldados. Por<br />

outro lado, todos os apartamentos to-<br />

mados tiveram as famílias <strong>de</strong>spejadas,<br />

sem resistência. Os comentários eram<br />

<strong>de</strong> que na madrugada <strong>de</strong> hoje nova-<br />

mente ocorreria a invasão aos aparta-<br />

mentos, que "seriam liberados pelo<br />

BNH.


As setecentas casas do con-<br />

junto "Morada dos Ventos" já se<br />

encontram ocupadas pelos pos-<br />

seiros que anteontem invadiram a<br />

área e nela se estabeleceram. A<br />

parte restante está dividida em<br />

lotes e armações estão sendo le-<br />

vantadas, não <strong>de</strong>ixando espaço<br />

nem para a abertura <strong>de</strong> ruas. Ou-<br />

tras famílias continuam chegan-<br />

do ao loca! invadido e ?.s brigas<br />

pela posse da terra já comíçaram.<br />

QUBBRAÍ oy/oz/79<br />

Tudo começou com a confecção<br />

da tosca faixa <strong>de</strong> pano, feita àt pressas, com<br />

letras irregulares e nenhum<br />

apuro. Uma ban<strong>de</strong>ira brasileira surgiu,não se<br />

sabe da on<strong>de</strong> e foí içada junto^a<br />

faixa que apelava ao govvnador do fitado.<br />

Solenemente. Tremulandu ao vento, a<br />

ban<strong>de</strong>ira não ficou por muita tempo a cham«r<br />

atenção <strong>de</strong> todos. Com a chegada da<br />

Policia, tanto ela quanto a faixa foram retiradas,<br />

em meio ao silêncio da pcpulação,<br />

que era exatamente quem assinava o podido ao<br />

governador. E o suposto autor<br />

da façanha <strong>de</strong> colocar a faixa foi levado preso<br />

para a Central <strong>de</strong> Policia, na única<br />

<strong>de</strong>tençXo <strong>de</strong> toda a operação <strong>de</strong> retirada. A<br />

faixa a a ban<strong>de</strong>ira do Brasil foram juntas.<br />

Assim que chegaram em frente<br />

a Assembléia Legislativa começou<br />

a chover e os manifestantes procu-<br />

raram se abrigar no prédio da AL,<br />

sendo impedidos <strong>de</strong> entrar logo.<br />

Levy explicou que era uma mani-<br />

festação pacifica e que não haveria<br />

problemas. Logo em seguida uma<br />

verda<strong>de</strong>ira avalanche humana ocu-<br />

pou as escadarias do prédio e che-<br />

garam ao plenário. A sessão estava<br />

terminando e os <strong>de</strong>putados saiam<br />

para receber Jarbas Passarinho.<br />

Depois dos discursos, os mani-<br />

festantes iniciaram uma passeata<br />

gritando os slogans impressos nas<br />

faixas. Eram mulheres, homens e<br />

crianças e nenhum <strong>de</strong>les mostrou-se<br />

temeroso <strong>de</strong> represálias por parte<br />

da Polícia. Uma senhora dizia; "Nós<br />

não estamos fazendo nada <strong>de</strong> er-<br />

rado, estamos lutando apenas pelo<br />

que é nosso. Nós trabalhamos, capi-<br />

namos, limpamos aquela área, so-<br />

mos pobres, ninguém têm casa e es-<br />

tamos na rua lutando por nossos<br />

direitos. E po<strong>de</strong> vir quem quiser que<br />

nós não vamos <strong>de</strong>sistir. Já corremos<br />

um bocado da Policia, que nos ex-<br />

pulsou lá do coiyunto, mas agora<br />

vamos buscar uma resposta do Go-<br />

vernador" Chegando à Assembléia PAGINA 31


A leitura do manifesto<br />

O UBCRU<br />

Manifesto dos posseiros<br />

foi lido para a imprensa<br />

O texto do abaixo-assinado, lido ontem por um/<br />

rapaz em meio a uma roda <strong>de</strong> posseiros, e agrovado por<br />

todos os presentes, é o seguinte, na íntegra:<br />

"Movimento da Compra <strong>de</strong> Casas Abandonadas.<br />

"Povo Cristão <strong>de</strong> Belém\ fíeverendfssimo Arcebis-<br />

po Metropolitano <strong>de</strong> Belém\ fíeverendissimos Irmãos<br />

Adventistas. Batistas, Hebraicos, e <strong>de</strong>mais reltgiososl<br />

Operários Órasi!eir6s\ -^ ...... « ■„,, ^<br />

Nós dLTiixir-assinaaos, operários brasileiros, con-<br />

tribuintes do sistema habitacional do FGTS, pela presen-<br />

te, outorgamos-lhes a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> nosso direito à compra<br />

<strong>de</strong> habitações abandonadas, para que possamos criarfiá*<br />

car e preparar os nossos filhos <strong>de</strong>htros dos phncipios<br />

humanos e não conduzi-lost à marginalida<strong>de</strong>, em ociosos<br />

elementos <strong>de</strong> uma população. Constituimos-lhes nossos<br />

<strong>de</strong>fensores, advogados que são dos ensinamentos religio-<br />

sos, diante da total indiferença dos políticos e po<strong>de</strong>rosos<br />

que há pouco tempo, buscando sensacionalismos, apre-<br />

goavam o Ano Internacional da Criança, è, às vésperas<br />

das eleições, prometiam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os direitos trabalhistas,<br />

do Povo, do firas//! - ■ ,<br />

"Impotentes entida<strong>de</strong>s policiadoras, não vincula-<br />

das ao sistema habitacional a não ser como <strong>de</strong>fensoras <strong>de</strong><br />

grupos privilegiados, tentam velada, ostensiva e humi-<br />

Ihantemente expulsar-nos das casas que beneficiamos e<br />

que não souberam zelar como produto do patrimônio do<br />

trabalhador. Violentam e agri<strong>de</strong>m os nossos direitos, fa-<br />

cilitando o enriquecimento <strong>de</strong> financeiras, imobiliárias<br />

corretores, construtores, beneficiados nas graças do BNH<br />

que <strong>de</strong>svia o sistema social para minorias privilegiadas, <strong>de</strong><br />

altas poupanças, <strong>de</strong> salários discriminados, não necessa-<br />

riamente carentes <strong>de</strong> casas próprias.<br />

"Somos pedreiros, carpinteiros, comerciários. ban-<br />

cários, estivadores, metalúrgicos, pais <strong>de</strong> policiais, mães<br />

<strong>de</strong> educadores, operários, assalariados, eleitores, brasilei-<br />

ros que estivemos a serviço, como instrumentos eleitorei-<br />

ros àqueles que hoje. nos taxam <strong>de</strong> posseiros, subversi-<br />

vos - adjetivos usados pelos impotentes "<strong>de</strong>fensores do<br />

emprèguismo das Leis. qualificativos que também leva-<br />

ram Cristo à Cruz. Lutamos pela ampliação do conceito<br />

<strong>de</strong> Direitos Humanos apregoado pelo general Geisel no<br />

México: habitação, saú<strong>de</strong>, alimentos, salários, justos<br />

educação; pelas finalida<strong>de</strong>s essenciais <strong>de</strong> vossas lgrejas\<br />

"Hoje, após as eleições, os políticos e beneficiados<br />

pelo tráfico <strong>de</strong> votos, fogem dos seus compromissos e, na<br />

prática, negam o juramento há poucos dias <strong>de</strong>clarado (e<br />

não cumprido) nas Assembléias. Por isso, recorremos'<br />

àqueles que con<strong>de</strong>naram o gesto <strong>de</strong> Pilatos\<br />

"Consultem vossas mães, vossos pais, vossas ori-<br />

gens, vossas consciências, vossos seguidores, se estamos<br />

roubando um pedaço dos vossos tetos\<br />

"aa) moradores dos conjuntos Morada dos Ventos<br />

- Jardim América - Panorarr» XXI - Império Amazô-<br />

nico - Trabalhador sem Teto"<br />

Esta mulher diz que se for <strong>de</strong>salojada,<br />

vai morar na roa.<br />

"Se o conjunto etti abandonado, <strong>de</strong>ve ser doado aos pob '. Famnjai intejraf n8o „, ^^ „, Morada do$ Vanto<br />

PAGINA 32


DIA 28 DE MAiO<br />

HORA: 11 DA<br />

KANH/k<br />

LOCAL.: PRAÇA DOA\<br />

PEDRO JL - LARQO<br />

DO PALACIO<br />

VAMO? TOPOS AO<br />

ATO PUBLICO P£LA\<br />

LUTA DE NOSSOS<br />

ITSRRENOS/,<br />

^^a ■ ii 1 ^ ' ■ " - -—■<br />

CONVlTe V) PofOLAÇfíO DOS X)ii/£/?ÍOS QftlitUOS ONDí tífií COÜPLlroS P£LA TÉtitA<br />

Baião:<br />

A luta pelos direitos do povo se<br />

<strong>de</strong>senvolve em todo Brasil sempre com<br />

as duas faces da moeda. De um lado, o<br />

povo; do outro a repressão. O povo<br />

procurando todos os meios <strong>de</strong> se <strong>de</strong>-<br />

fen<strong>de</strong>r; a repressão utilizando todas<br />

as calúnias para se justificar.<br />

Agora, em Baião, pacata cida<strong>de</strong><br />

do Tocantins, esta luta se <strong>de</strong>senvolve<br />

entre admiração e risos <strong>de</strong> toda a ci-<br />

da<strong>de</strong>, embora todo cuidado <strong>de</strong>va se<br />

ter para que não termine em tragédia.<br />

É que a mocida<strong>de</strong> baionense, revol-<br />

tada contra o loteamento da penúl-<br />

tima praça da cida<strong>de</strong>, resolveu fazer<br />

Simpático e singular protesto. Na<br />

j madrugada da segunda-feira <strong>de</strong> carna-r<br />

val escreveram em algumas calçadas e<br />

no coreto da praça loteada: "e a nossai<br />

criançada. . . on<strong>de</strong> é que vai brincar^.<br />

Na terça, formaram um bloco com<br />

o nome <strong>de</strong> "Branquinho" (todos ves-<br />

tidos <strong>de</strong> nenês) e foram brincar o car-<br />

naval portando uma faixa com os mes-<br />

mos dizeres escritos na véspera, can-<br />

tando marchinhas sobre o tema.<br />

A população toda prestigiou o<br />

Branquinho, admirando o protesto-<br />

gozação da moçada. Quem não gostou<br />

foi o prefeito Francisco Ramos, que<br />

além <strong>de</strong> mentiroso, pois tentou negar<br />

tudo em "O Liberal", está mandando<br />

0 povo protesta.<br />

0 prefeito mente<br />

processar os carnavalescos por crime<br />

— pasmem — <strong>de</strong> subversão e <strong>de</strong>sacato<br />

à autorida<strong>de</strong>".<br />

O processo já foi instaurado e<br />

alguns estudantes já prestaram <strong>de</strong>poi-<br />

mento, firmando corajosamente a<br />

posição contrária ao loteamento da<br />

penúltima praça da cida<strong>de</strong>. Embora<br />

apreensivos com os rumos que a coisa<br />

po<strong>de</strong> tomar, os rapazes estão firmes:<br />

entrarão com uma Ação Popular con-<br />

tra o loteamento da praça.<br />

A SDDH contactada pelos<br />

bravos rapazes <strong>de</strong> Baião, tem procu-<br />

rado apoiá-los nesta simpática pele-<br />

ja, inclusive mandando um seu repre-<br />

sentante para verificar in loco a situa-<br />

ção. No entanto, é necessário que todo<br />

o povo paraense se mobilize em <strong>de</strong>fesa<br />

dos jovens baionenses, exemplo <strong>de</strong><br />

afirmação da <strong>de</strong>fesa do patrimônio<br />

público, <strong>de</strong> todas as formas: propa-<br />

gando a luta contra o loteamento da<br />

praça, enviando carta-protestos ao Sr.<br />

Prefeito, solicitando à justiça o imedia-<br />

to arquivamento do tal processo.<br />

Quanto ao Sr. Francisco Ramos, con-<br />

tra quem os rapazes dizem não ter na-<br />

da contra pessoalmente, que se man-<br />

que, <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> lotear praças, <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong><br />

inventar calúnias, <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ver fantas-<br />

mas em tar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> carnaval.<br />

i<br />

RESISTÊNCIA H*l<br />

PÁGINA 33


Cresce a luta<br />

na Pedreira<br />

O Escritório Valente do Couto continua a ameaçar 900 famílias no bairro da Pedreira:<br />

especulação <strong>de</strong>senfreada, ameaça <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo, exorbitantes<br />

aumentos dos arrendamentos, tentativa <strong>de</strong> aliciamento <strong>de</strong> li<strong>de</strong>ranças populares.<br />

A luta pela <strong>de</strong>fesa da moradia<br />

cresce rapidamente na Pedreira. O povo<br />

revoltado contra a especulação imobiliá-<br />

ria do escritório Valente do Couto am-<br />

plia sua mobilização e aprofunda o seu<br />

entendimento sobre a necessida<strong>de</strong> da<br />

"Reforma Urbana".<br />

Como <strong>de</strong>nunciou o "Resistên-<br />

cia" no. 03, o povo da Pedreira enfrenta<br />

um grave problema: a especulação imobi-<br />

liária. A história é simples: há cincoenta<br />

anos atrás um português* Santos Moreira,<br />

aforou uma enorme área na Pedreira. O<br />

povo foi chegando, alugando por preços<br />

reduzidos os terrenos, botando o mato<br />

em baixo, aterrando o charco, limpando<br />

as ruas, brigando pela luz e pela água, en-<br />

fim, construindo um bairro. Morre o ve-<br />

lho Santos Moreira. Herda a área Dona<br />

Maria Manoela, resi<strong>de</strong>nte em Portugal,<br />

que continua a cobrar módicos aluguéis<br />

a população, até aparecer o especulador.<br />

Sabendo da enorme valorização<br />

da área, o escritório Valente do Couto<br />

adquire a área por CrS 1.000.000,00<br />

(hum milhão <strong>de</strong> cruzeiros). São 900 ter-<br />

renos, Quer dizer, por pouco mais <strong>de</strong><br />

CrS 1.000,00 (hum mil cruzeiros) o ter-<br />

reno. Desejando enriquecer rapidamente,<br />

o escritório Valente do Couto não teve<br />

vergonha. Simplesmente passou a exigir<br />

que os antigos moradores, que pagavam<br />

em média 10,00 <strong>de</strong> aluguel mensalmente,<br />

comprassem os ditos terrenos por mais <strong>de</strong><br />

CrS 100.000,00 (cem mil cruzeiros).<br />

10.000% <strong>de</strong> aumento.<br />

Evi<strong>de</strong>ntemente que o Escritório<br />

Valente do Couto sabe que os morado-<br />

res não possuem condições <strong>de</strong> pagar os<br />

terrenos nesse p/eço. O que ele preten<strong>de</strong><br />

então é recuperar a posse da área para<br />

ven<strong>de</strong>r a terceiros, pagando quaisquer <strong>de</strong>z<br />

mil réis pelas benfeitorias existentes. Não<br />

contente com isso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo aumentou<br />

absurdamente os aluguéis <strong>de</strong> 5,00; 8.00;<br />

10,00 para 50,00; 100,00; 140,00 num<br />

aumento,, no mais das vezes <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

1.000%. Além do que toda vez que al-<br />

guém acaba <strong>de</strong> pagar um "carne" (bloco<br />

<strong>de</strong> recibos), arbitrariamente o seguinte<br />

sofre logo majoração.<br />

O povo, é claro, não está satisfei-<br />

to. Dos primeiros tímidos protestos isola-<br />

PÁGINA 34<br />

Pedreira<br />

a luta já<br />

mártir<br />

Na Pedreira, um mínimo <strong>de</strong> 900 fa-<br />

mílias estão ameaçadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação<br />

pela "Imobiliária Pontual", da família Va-<br />

lente do Couto. Em torno <strong>de</strong> suas comu-<br />

nida<strong>de</strong>s, há muito os moradores vêm ten-<br />

tando uma solução junto às autorida<strong>de</strong>s,<br />

até hoje sem sucesso. A imobiliária já co-<br />

meteu muitos abusos e violências contra a<br />

população. O fato mais grave foi a morte<br />

<strong>de</strong> uma antiga moradora da área, dona Mi'<br />

loca. Depois <strong>de</strong> receber uma notificação<br />

da imobiliária esta senhora teve uma crise<br />

cardíaca, e morreu algum tempo <strong>de</strong>pois.<br />

O fato revoltou os moradores. Nem bem<br />

fazia uma semana do trágico aconteci-<br />

mento, um trator <strong>de</strong>rrubou a casa, e os<br />

Valente do Couto iniciaram a construção<br />

<strong>de</strong> um bangalô, já vendido a terceiros. A<br />

alegada "proprieda<strong>de</strong>" do terreno (que te-<br />

ria custado mais <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> cruzei-<br />

ros, financiados pelo Banco do Brasil) ain-<br />

da não foi <strong>de</strong>finitivamente comprovada,<br />

mas a imobiliária vem <strong>de</strong>scumprindo to-<br />

das as promessas que o sr. Sérgio Couto<br />

fez aos moradores em uma reunião. As<br />

famílias já foram várias vezes ao prefeito<br />

Felipe Sant'Anna, mas até agora este só<br />

tem adiado qualquer solução mais concre-<br />

ta. Atualmente, a comunida<strong>de</strong> do bairro<br />

está organizando uma reunião com cinco<br />

advogados, para que os moradores com-<br />

preendam bem os seus direitos e a luta<br />

pela terra possa avançar.<br />

RESISTÊNCIA 1 M-^ J<br />

dos, passou a mobilização. O vereador<br />

João Marques <strong>de</strong>nunciou a especulação<br />

na Câmara Municipal, levando o proble-<br />

ma ao conhecimento das autorida<strong>de</strong>s. O<br />

"Resistência" contou a história, publi-<br />

cando, inclusive, documentos comproba-<br />

tórios da especulação.<br />

Agora a pressão popular aumen-<br />

ta. Semanalmente os moradores se reú-<br />

nem para discutir a questão. Exigem que<br />

seja comprovada a proprieda<strong>de</strong> dos ditos<br />

terrenos e que a Prefeitura Municipal <strong>de</strong><br />

Belém e a Co<strong>de</strong>m tomem as providências<br />

que lhes competem, em <strong>de</strong>fesa dos direi-<br />

tos dos moradores da referida área. En-<br />

ten<strong>de</strong>m que se for comprovada a proprie-<br />

da<strong>de</strong> dos terrenos, sejam os mesmos ven-<br />

didos aos moradores com "entrada" <strong>de</strong><br />

acordo com a renda das famílias e com<br />

prestações mensais a<strong>de</strong>quadas á realida<strong>de</strong><br />

sócio-econòmica <strong>de</strong> cada um; <strong>de</strong>sejando,<br />

sobretudo, que tenham segurança da le-<br />

galida<strong>de</strong> da compra.<br />

Temeroso ante a pressão popu-<br />

lar, o escritório Valente do Couto tem<br />

procurado usar <strong>de</strong> diversas artimanhas.<br />

Depois <strong>de</strong> tentar aliciar as li<strong>de</strong>ranças po-<br />

pulares com propostas <strong>de</strong> "barateamen-<br />

to" individuais,lenta agora agir através da<br />

antiga corretora <strong>de</strong> Dona Manoela, a<br />

Dona Ceei, que por ser figura conhecida<br />

no Bairro teria melhores condições <strong>de</strong><br />

"conversar" o pessoal. Teria chegado até<br />

mesmo a inventar que "não queria mais<br />

nada com o negócio, porque havia, sido<br />

"atirado" por um morador, e não estava<br />

disposto a morrer. Agora tudo estava no-<br />

vamente nas mãos <strong>de</strong> Dona Ceei"<br />

O povo, <strong>de</strong> outro lado, está fir-<br />

me em sua luta. Rua por rua vai se levan-<br />

tando contra a especulação, correndo <strong>de</strong>s-<br />

<strong>de</strong> já a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m: "ninguém paga<br />

aumento <strong>de</strong> carne". As discussões se apro-<br />

fundam com alguns moradores firmando<br />

que os terrenos são do povo e que é injus-<br />

to alguém possuir 900 lotes, quando a<br />

maioria n-ão possui nenhum — o que é a<br />

forma mais clara <strong>de</strong> se expressar a neces-<br />

sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma "Reforma Urbana", ou se-<br />

ja, uma Reforma que Jê a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

casas e terrenos nas cida<strong>de</strong>s uma função<br />

social, pela sua distribuição coletiva. p,F<br />

RESISTÊNCIA


Pedreira:<br />

900 famílias<br />

ESCRITÓRIO VALENTE DO COUTO<br />

SOLANGH M. FRAZAO DO COUTO<br />

C.P.F. 038733232<br />

Belém, 6 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1978<br />

ADVOCACIA EM GERAL<br />

Adminislrarâo <strong>de</strong> Imóveis<br />

Av. Portugal, 347 laltosl<br />

antigo 86 - Fone. 222 8444<br />

BELÉM - PARA<br />

ALBERTO VALENTE DO COUTO<br />

C P F 00Ü56677Í<br />

Arrendatário: Csxarina Augusta dos 3eis.<br />

Quadra: J<br />

Lote: 2<br />

Rua: Antônio Ev


Jurunas<br />

Três anos<br />

<strong>de</strong><br />

resistência<br />

No bairfo do Jurunas está a mais<br />

antiga luta organizada contra a <strong>de</strong>sapro-<br />

priação. Ano passado as 3.600 famílias<br />

ameaçadas pela firma "Mourão Ferreira e<br />

Cia." comemoraram três anos <strong>de</strong> resistên-<br />

cia. Reunidas em torno da Comunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Base do Jurunas - COBAJUR - os<br />

moradores sofreram muitos vexames e<br />

violências antes que começassem a organi-<br />

zar a luta pelos terrenos. A firma fez <strong>de</strong><br />

tudo para tomar-lhes a área: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> intimi-<br />

daçfies até ameaças mais diretas como a<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar as casas com trator. Com a<br />

ajuda <strong>de</strong> advogados, os moradores estive-<br />

ram várias vezes com o ex-prefeito Ajax<br />

d'Oliveira, mas foram várias vezes ludi-<br />

briados. O prefeito prometia e nSo fazia<br />

nada. A firma, até hoje, ainda nflo apre-<br />

sentou qualquer documento que compro-<br />

vasse seu direito à área. Os moradores<br />

.afirmaram que nunca vão abrir mio <strong>de</strong><br />

"um direito sagrado <strong>de</strong> possuir um peda-<br />

ço <strong>de</strong> terra para morar". A área em ques-<br />

tão compreen<strong>de</strong> as passagens Jacob e Gur-<br />

186 rua Conceição, entre Monte Alegre e<br />

avenida Bernardo Saylo), igarapé das La-<br />

ranjeiras (que começa na Conceição, atra-<br />

vessa extensa área e <strong>de</strong>ságua no rio Gua-<br />

má), e as passagens Camapu e Amaral.<br />

PAGINA 36<br />

A bico <strong>de</strong> pena, pelos cálculos mais<br />

mo<strong>de</strong>stos que se possa fazer, pelo menos<br />

200 mu pessoas estão gravemente ameaça-<br />

das <strong>de</strong> per<strong>de</strong>rem suas casas em Belém. To-<br />

dos os gran<strong>de</strong>s bairros da cida<strong>de</strong>, princi-<br />

palmente os da periferia, têm enormes<br />

áreas em questão. Nelas, alguns empresá-<br />

rios e até órgãos públicos (como o Minis-<br />

tério da Aeronáutica) estão tentando, por<br />

todos os meios, expulsar milhares e milha-<br />

res <strong>de</strong> famílias, a maioria muito pobres. A<br />

população ameaçada tem resistido apenas<br />

com sua própria força e «fraca<br />

organização, sem que o Estado tenha<br />

tomado qualquer atitu<strong>de</strong> efetiva para ao<br />

menos minimizar o problema.<br />

Famílias foram expulsas violenta-<br />

mente, casas foram <strong>de</strong>rrubadas, terrenos<br />

<strong>de</strong>socupados com a ajuda <strong>de</strong> pohciais. Em<br />

relação à população pobre, a situação pio-<br />

rava cada vez mais. As baixadas foram to-<br />

das ocupadas, sem qualquer planejamen-<br />

to. Os terrenos abandonados foram lim-<br />

pos pelo povo, que começou a construir<br />

seus barracos. O terror continuava, indis-<br />

criminadamente.<br />

A REAÇÃO DO POVO<br />

Pouco a pouco o povo começou a<br />

reagir. Inicialmente através <strong>de</strong> queixas aos<br />

jornais ou a uma ou outra autorida<strong>de</strong>. De-<br />

pois, reuniram-se nas chamadas comuni-<br />

da<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bairro, on<strong>de</strong> começaram a orga-<br />

nizar-se mais profundamente. Por <strong>de</strong>zenas<br />

<strong>de</strong> vezes foram ao governador, à prefeitu-<br />

ra, à Co<strong>de</strong>m, aos "donos" dos terrenos.<br />

Até mesmo o presi<strong>de</strong>nte da República, na<br />

última viagem que fez a Belém, recebeu<br />

memoriais <strong>de</strong> famílias da Pedreira e da<br />

Sacramenta. Esses memoriais narravam o<br />

problema e pediam providências - mas<br />

nunca foi feito nada <strong>de</strong> concreto.<br />

O povo continua a se organizar,<br />

disposto a lutar pelos terrenos e a enfren-<br />

tar todas as dificulda<strong>de</strong>s que isso possa<br />

trazer. Ultimamente, a luta avançou um<br />

pouco: foi criada uma Comissão da Luta<br />

pela Terra nos Bairros <strong>de</strong> Belém, que pre-<br />

ten<strong>de</strong> fortificar a unificação <strong>de</strong> todas as<br />

lutas, <strong>de</strong> todos os bairros.<br />

Sacramenta<br />

a questão<br />

é com a<br />

Aeronáutica<br />

Na Sacramenta, cinco mil famílias<br />

sstão em questão com o Ministério da Ae-<br />

ronáutica - no que talvez seja o mais <strong>de</strong>li-<br />

cado problema <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação em Be-<br />

lém. Houve tempos em que os soldados<br />

montavam guarda diariamente, impedin-<br />

do que os moradores fizessem qualquer<br />

melhoramento nas casas. Também já<br />

aconteceram alguns episódio* mais violen-<br />

tos contra os moradores. A questão tam-<br />

bém já esteve nos órgãos públicos, mas<br />

nada adiantou.<br />

No mesmo bairro, outros milhares<br />

<strong>de</strong> moradores estão em conflito com o sr.<br />

Ferro Costa, que preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriar<br />

famílias também na Pedreira. Recente-<br />

mente surgiu o mais novo conflito no<br />

bairro: na passagem Alegre, entre MarquB<br />

<strong>de</strong> Herval e Pedro Miranda, on<strong>de</strong> 30 famí-<br />

lias estão em questão com a empresa "Es-<br />

trela do Mar" (veja matéria nesta página).<br />

RESISTÊNCIA |J- tf 9


E o povo<br />

envia memorial<br />

ao presi<strong>de</strong>nte<br />

da República<br />

Ao Çxmo. Sr. Presi<strong>de</strong>nte da República<br />

Aos Éxmos. Ministros <strong>de</strong> Estado<br />

E <strong>de</strong>mais autorida<strong>de</strong>s<br />

Somos 900 famílias resi<strong>de</strong>ntes nesta<br />

Belém do Pará, habitamos um bairro da peri-<br />

feria da cida<strong>de</strong> —, a Pedreira - que embora<br />

bairro da periferia, tem sua localização bas-<br />

tante próxima ao centro,, o que chama a aten-<br />

ção, não só do chamado "planejamento ur-<br />

bano" como também daqueles que enxergam<br />

hoje na terra, o melhor meio para enriquecer.<br />

Há muitos anos moramos aqui; exis-<br />

tem famíliai que estão a mais <strong>de</strong> 60 anos,<br />

por isso não é <strong>de</strong>mais dizer que quando aqui<br />

chegamos, isto não passava <strong>de</strong> um "matagal"<br />

que ajudamos a beneficiar e valorizar. Naque-<br />

le tempo sabíamos que esta área pertencia a<br />

um senhor português chamado Manoel San-<br />

tos Moreira e seus her<strong>de</strong>iros e aos quais pagá-<br />

vamos um aluguel até o ano <strong>de</strong>'1976 <strong>de</strong><br />

Cr$ 8,00 mensais. Entretanto, há cerca <strong>de</strong><br />

um ano atrás, fomos informados que a área<br />

tinha sido adquirida pela Imobiliária Pon-<br />

tual, pertencente ao escritório <strong>de</strong> Advoga-<br />

da Valente do Couto. Aí começa o nosso<br />

drama, porque a dita imobiliária iniciou então<br />

uma intensa campanha na área, propondo ao<br />

aos moradores ou a compra dos terrenos, ge-<br />

ralmente por um preço fora das nossas con-<br />

dições ou a venda <strong>de</strong> nossas benfeitorias, que<br />

nos custaram tanto sacrifício, por um preço<br />

mínimo. Isso trouxe um clima <strong>de</strong> amedron-<br />

tamento no meio dos moradores, sendo que<br />

muitos até chegaram a <strong>de</strong>ixar suas casas.<br />

No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> todo esse tempo te-<br />

mos enfrentado uma série <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s<br />

junto á Imobiliária que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma ava-<br />

lanche <strong>de</strong> cartas, avisos, intimações até<br />

a certas ameaças. Nós já procuramos tentar<br />

uma solução junto as autorida<strong>de</strong>s daqui, fo-<br />

mos á Prefeitura <strong>de</strong> Belém, à Co<strong>de</strong>m e até<br />

ao Governo Estadual e até hoje, nem se-<br />

quer sabemos qual é realmente a situação <strong>de</strong><br />

posse da área. A solução não chegou.<br />

Pela Imprensa, ficamos sabendo da<br />

existência <strong>de</strong> uma Comissão Parlamentar <strong>de</strong><br />

Inquérito que está apurando a especulação<br />

imobiliária nos gran<strong>de</strong>s centros, mas não<br />

sabemos o seu resultado. Por esse motivo, e<br />

sem saber a quem mais apelar, vimos até a<br />

V. Excias na intenção <strong>de</strong> que interfiram por<br />

nós, que afinal, temos direito a um lugar<br />

para morar.<br />

RESISTÊNCA fi s Â.<br />

Terra<br />

Firme pressi<br />

No bairro da Terra Firme mais <strong>de</strong><br />

cinco mil famílias estão ameaçadas pela<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará e pela Ele-<br />

tronorte. O conflito iniciou no fim do<br />

ano passado quando guardas <strong>de</strong> segurança<br />

da UFPa. <strong>de</strong>rrubaram casas e expulsaram<br />

seus moradores. O povo começou a se<br />

reunir e se organizar, e sua reação come-<br />

çou cqm ida em massa à reitoria da UFPa.<br />

O reitor Aracy Barreto só tem feito pro-<br />

messas e exigências absurdas - como a <strong>de</strong><br />

só comparecer a uma reunião com os mo-<br />

radores se esta não fosse presenciada por<br />

ninguém <strong>de</strong> fpra, nem mesmo os advo-<br />

gados que os estão orientando. A Eletro-<br />

norte também já esteve numa reunião,<br />

mas a conversa fiada <strong>de</strong> seus técnicos não<br />

convenceu ninguém. A coisa é tanto mais<br />

grave porque boa parte dos moradores são<br />

agricultores. As hortas que cultivara são<br />

responsáveis por boa parte do abasteci-<br />

mento <strong>de</strong> verduras e legumes da cida<strong>de</strong>.<br />

Do lado oficial não há qualquer disposi-<br />

ção firme sequer em relação à uma in<strong>de</strong>ni-<br />

zação justa. Por seu lado, os moradores<br />

estão firmes e conscientes <strong>de</strong> seu direito à<br />

área.<br />

RESISTÊNCIA K) ?<br />

conflitos<br />

Existem muitos outros conflitos <strong>de</strong><br />

terra em Belém. Basta dizer que só nas<br />

áreas <strong>de</strong> baixadas quase 100 mil pessoas<br />

estão <strong>de</strong>sapropriadas e que, em outras<br />

áreas, os moradores ainda tentam resolver<br />

o problema o mais amigavelmente possí-<br />

vel. Alguns outros casos:<br />

* Benguí - Pelo menos cinco mil fa-<br />

mílias estão ameaçadas. As informações<br />

dão conta <strong>de</strong> que a área seria reivindicada<br />

pela "Liga contra a lepra".<br />

* Barreiro - Área <strong>de</strong> baixada. Mais <strong>de</strong><br />

cinco mil famílias.<br />

* Una - 60 famílias em questão com<br />

Flori ano Moraes.<br />

* Cida<strong>de</strong> Satélite - 80 famílias.<br />

* Estrada 40 Hor&s (Coqueiro) - 40<br />

famílias, já expufeas da Sacramenta.<br />

A mais recente <strong>de</strong>sapropriação foi<br />

feita pela Aeronáutica nos terrenos locali-<br />

zados atrás do Cassazum (Cassino dos<br />

Suboficiais e Sargentos da Amazônia).<br />

Centenas <strong>de</strong> pessoas foram retiradas, para<br />

melhor aparelhamento do clube.<br />

CO<br />

<<br />

I


SANTARÉM<br />

Mil famílias lutam<br />

pela terra em Uruará<br />

Se já não bastasse os conflitos <strong>de</strong><br />

mm que existem tu área nml. surgiu há<br />

um mis um caso <strong>de</strong> disputa pela terrana<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santarém, no bairro <strong>de</strong> Uruara<br />

A "pérola do Tapajós" vi-se assim no pe-<br />

rigo <strong>de</strong> tomar-se té (fitai Belém e outras<br />

gnm<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s brasileiras, on<strong>de</strong> a qual-<br />

quer momento po<strong>de</strong> apwnecer numa


Carta dos moradores<br />

da Mauriti ao prefeito <strong>de</strong> Belém<br />

Sr. Prefeito:<br />

Nós, os moradores do bairro<br />

do Marco, mais precisamente, da<br />

travessa Mauriti, perímetro com-<br />

preendido entre a avenida Io. <strong>de</strong><br />

Dezembro e a Passagem Lauro<br />

Martins lhe dirigimos essa cart«<br />

pública para abordar o seguinte:<br />

Io. — Gostaríamos <strong>de</strong> lhe lem-<br />

brar que em fevereiro <strong>de</strong> 1977 o<br />

sr. visitou o nosso bairro e aqui,<br />

numa reunião no <strong>Centro</strong> Comuni-<br />

tário com mais <strong>de</strong> 100 moradores,<br />

o sr. prometeu botar aterro na tra-<br />

vessa Mauriti, <strong>de</strong> acordo com as<br />

reivindicações feitas na hora pelos<br />

moradores. Acontece, sr. prefeito,<br />

que até hoje nós estamos esperan-<br />

do por esse aterro e por incrível<br />

que pareça, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um<br />

ano, ele ainda não chegou por<br />

aqui.<br />

2o. — No dia <strong>de</strong>ssa reunião, os<br />

moradores da travessa Acatauassu<br />

Nunes disseram para o sr. que es-<br />

tavam fazendo uma ponte <strong>de</strong> ma-<br />

<strong>de</strong>ira, ponte essa cujo material ti-<br />

nha sido comprado com recursos<br />

RESISTÊNCIA M- 2<br />

da própria população. Nessa oca-<br />

sião, pediram ao sr. uma ajuda a<br />

mais em ma<strong>de</strong>ira, tendo sr. respon-<br />

dido que podíamos pegar essa ma-<br />

<strong>de</strong>ira e dividir entre nós porque<br />

daquele dia em diante era meta do<br />

seu governo exterminar todas as<br />

pontes <strong>de</strong> Belém; a começar da<br />

segunda-feira imediatamente pró-<br />

xima iam entrar cinco caçambas<br />

para trazer aterro para aqui. Infe-<br />

lizmente acreditamos nas suas pa-<br />

lavras, pois aterro que é bom nun-<br />

ca chegou por aqui. 0 que apare-<br />

ceu foram algumas caçambas jo-<br />

gando lixo podre, que ocasionou<br />

até problemas para nossos filhos.<br />

3o. — Em agosto passado, can-<br />

sados <strong>de</strong> esperar por esse aterro<br />

fantasma, formamos uma comis-<br />

são <strong>de</strong> moradores e fomos com o<br />

sr., para pedir que mandasse fa-<br />

zer uma limpeza na vala da traves-<br />

sa José Leal Martins. Esta vala,<br />

que recebe todas as águas que vêm<br />

da Io. <strong>de</strong> Dezembro, como nunca<br />

recebeu uma limpeza na sua admi-<br />

ninas<br />

f\ t Para maior conscientização do povo. a comís-<br />

US Q6Z í8O coor<strong>de</strong>nadora da luta contra a <strong>de</strong>sapropriação no<br />

-i-. -A^-« Jurunas, editou um boletim, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> tiramos os<br />

mandamentOS "Dez mandamentos"'<br />

Jo. — Não reconhecer donos <strong>de</strong>stas terras. " U<br />

2o. - Não se intimidar com provocações <strong>de</strong> colaboradores ou donos da empresa, o<br />

3o. - Não pagar foro ou aluguel dos terrenos <strong>de</strong> suas casas. ' • i " .<br />

4o. - Nãò.comprar terrenos. ' . ." ; %"%&-' > v *<br />

5o. - Suspen<strong>de</strong>r pagamentos, quem já comprou terreno. ^ Sí ^ v : ^<br />

6o. ^ Consultar nossos advogados antes dê se fazer acordo, k ;<br />

assinaturas dé documentos ou resolver qualquer problema que tiver coma empresa. I<br />

7o: -Participar <strong>de</strong> nossas reuniões.* ■' : ^f::f:^^...i.,.. . / . . V<br />

8o. - Não pedir autorização para consertos em sua casa %", * ^ i,. ;; :■■ ■•■'■■.<br />

9o, - Não aten<strong>de</strong>r à intimação da empresai. - \ h;:%-?^^i


O secretário <strong>de</strong> Educação disse que não houve greve em<br />

Conceição do Araguaia e que "tem gente encapuçada por trás T<br />

Inquérito apura passeata<br />

estudantil no Araguaia<br />

O secretário <strong>de</strong> Educação, Dio-<br />

nfsio João Hage, informou ontem,<br />

que as aulas na escola <strong>de</strong> Io. grau<br />

"Bráulia Gurjao" já estão funcionan-<br />

do normalmente, <strong>de</strong>pois da passeata<br />

<strong>de</strong> protesto realizada nas ruas da ci-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conceição do Araguaia pelos<br />

alunos do turno da noite, reivindicam<br />

a permanência da ex-diretora Doraci<br />

Alves da Silva Lopes e da secretaria<br />

Dilma, exoneradas em atos que Dio-<br />

nísio Hage classificou <strong>de</strong> simples roti-<br />

na administrativa, pois se tratam <strong>de</strong><br />

cargos em comissão e <strong>de</strong> confiança da<br />

Secretaria <strong>de</strong> Educação.<br />

Dionísio Hage <strong>de</strong>smentiu que<br />

tenha havido greve em Conceição do<br />

Araguaia durante três dias nos estabe-<br />

lecimentos <strong>de</strong> ensino da re<strong>de</strong> estadual<br />

'Bráulia Gurjao", "Frei Gil <strong>de</strong> Vila<br />

Nova" e "14 <strong>de</strong> Abril", ressaltando<br />

que, apenas na terça-feira à noite, al-<br />

guns alunos do curso noturno da Es-<br />

cola "Bráulia Gurjao" organizaram<br />

uma passeata que percorreu algumas<br />

ruas da cida<strong>de</strong>, com cartazes e "slo-<br />

gans'', reivindicando a permanência<br />

da ex-diretora Doraci Alves da Silva<br />

Lopes, substituída pelo professor<br />

Eduardo que Dionísio afirma possui<br />

muitas condições para o cargo, pois<br />

Inclusive leciona na Fundação Bra-<br />

<strong>de</strong>sco do município. Nos <strong>de</strong>mais esta-<br />

belecimentos não houve nada e a si-<br />

tuação agora está normal, com as au-<br />

las já reiniciadas. Acredita o Secretá-<br />

rio <strong>de</strong> Educação que o movimento<br />

"foi instigado por pessoas interessa-<br />

das em conturbar o ambiente, mesmo<br />

porque os atos <strong>de</strong> exoneração e no-<br />

meação <strong>de</strong> diretores <strong>de</strong> escolas per-<br />

tencem à rotina administrativa, em-<br />

bora, em alguns, as verda<strong>de</strong>iras causas<br />

não possam ser extrapoladas, como<br />

aconteceu com a Escola <strong>de</strong> 1o. Grau<br />

"Fernando Ferrari ', na vila <strong>de</strong> Mari-<br />

tuba, no município <strong>de</strong> Anani<strong>de</strong>ua,<br />

on<strong>de</strong> a diretora foi substituída e al-<br />

guns alunos subscreveram um abaixo<br />

-assinado, solicitando sua permanên-<br />

cia". INQUÉRITO - Informa Dioní-<br />

sio Hage que está em Conceição do<br />

Araguaia, .a professora Rute Costa,<br />

subsecretária <strong>de</strong> Educação, que pro-<br />

ce<strong>de</strong> a uma sindicância a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>n-<br />

tificar as verda<strong>de</strong>iras causas da pas-<br />

seata <strong>de</strong> protesto, 'porque está evi-<br />

<strong>de</strong>nte que esse movimento teve men-<br />

tores encapuçados e interessados em<br />

perturbar o ambiente".<br />

/AG IN A 40<br />

0 LIBERAL<br />

11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1979<br />

O LIBERAL 10 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1979<br />

Demissões protestadas<br />

com passeatas em<br />

Conceição do Araguaia<br />

A exoneração <strong>de</strong> três diretoras e uma secretária<br />

provocou a realização <strong>de</strong> uma passeata dos 2.900 alunos <strong>de</strong><br />

três escolas estaduais <strong>de</strong> Io. grau em Conceição do<br />

Araguaia, anteontem, em sinal <strong>de</strong> protesto. Ontem, apenas<br />

uma parte dos alunos voltou às salas i<strong>de</strong> aula e esperam pelo<br />

prefeito, Giovani Corrêa Queiroz, qUe se encontra em Belém<br />

expondo a situação ao governador do Estado e solicitando<br />

soluções para o problema.<br />

As exonerações ocorreram há cinco dias quando o<br />

prefeito estava ausente da cida<strong>de</strong>. "Os alunos se chocaram<br />

com a disparida<strong>de</strong> que há entre o pessoal que assumiu às<br />

direções e o pessoal que as ocupava anteriormente, que era<br />

um pessoal capacitado e <strong>de</strong> nível superior disse Giovani<br />

Corrêa Queiroz, prefeito do município, em uma entrevista,<br />

ontem à noite no Hotel Grão Pará. "A responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

apresentar as exonerações e realizar a posse foi por<br />

iniciativa do advogado Sérgio Dias que inclusive já foi<br />

diretor <strong>de</strong> um colégio em Góias que acabou fechando. Ele<br />

está se utilizando do .nome da Seduc e do Governo para<br />

assumir essa atitu<strong>de</strong>. O prefeito diz que não foi comunicado<br />

das exonerações, nem da posse dos novos diretores das<br />

escolas "Bráulia Gurjao", "Frei Gil" e 14 <strong>de</strong> Abril".<br />

Anteontem ele esteve com o governador que diííe<br />

<strong>de</strong>sconhecer o fato e garantiu que mandará um agente ds<br />

Seduc para <strong>de</strong>vidas apurações. Hoje, o prefeito <strong>de</strong><br />

Conceição do Araguaia tem nova audiência marcada,<br />

quando pedirá a reintegração do pessoal exonerado.<br />

Ele disse que essas <strong>de</strong>missões fazem parte das tramas<br />

da ARENA I no município, li<strong>de</strong>rada por Luiz Vargas,<br />

Raimundo Lima e Antônio Coelho dos Santos, a quem o<br />

advogado Sérgio Dias e os novos funcionários das escolas<br />

estão ligados, e com os quais tem incompatibilida<strong>de</strong><br />

política. "Hoje eu tive notícias <strong>de</strong> que o diretor da escola<br />

"Bráulia Gurjao" usou <strong>de</strong> força policial para colocar para<br />

fora <strong>de</strong> sala um dos alunos, que é funcionário da prefeitura.<br />

O prefeito retorna ao município amanhã. "Eu espero que<br />

tudo seja resolvido da melhor maneira e que o pessoal<br />

exonerado seja readmitido. De qualquer forma, nossa<br />

orientação é que os alunos volte as aulas e aguar<strong>de</strong>m a<br />

<strong>de</strong>cisão.<br />

I<br />

sa


Meia - passagem <strong>de</strong> ônibus<br />

para todos os estudantes<br />

No último dia 3 , mesmo com a presença da polícia<br />

òs estudantes conseguiram uma gran<strong>de</strong> vitória na luta por<br />

mais transportes e por meia passagem <strong>de</strong> ônibus<br />

para estudantes <strong>de</strong> todos os níveis<br />

Ot MtudantM em frente ao Palácio do Govarno<br />

Pela segunda vez nestes últimos<br />

anos (a primeira foi na chamada "guerra<br />

da poeira") a polícia interferiu numa ma-<br />

nife»taç&» popular. O fato ocorreu na<br />

terça-feira da semana passada (dia 3),<br />

quando principalmente estudantes univer-<br />

sitários e secundaristas dirigiram-se em<br />

"comissfiò aberta" ao Palácio do Go-<br />

verno, para entregar ao Governador do<br />

Estado o abaixo-assinado (quase 14 mil<br />

assinaturas) <strong>de</strong> apoio da população em<br />

geral i luta dos transportes: por melho-<br />

rias <strong>de</strong> transportes para o campus da<br />

UFPa., a para a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências<br />

Agrárias do Pará; e pela meia-passagem <strong>de</strong><br />

ônibus para todos os estudantes <strong>de</strong> Be-<br />

lém.<br />

SOCOS NO AR<br />

Mais uma vez, como ficou patente<br />

para as milhares <strong>de</strong> pessoas que passaram<br />

pelo local e para os manifestantes, a po-<br />

lícia cometeu a ingenuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar socos<br />

no ar. O fato criou a maior repercussão<br />

possível e popularizou ao máximo os ob-<br />

jetivos da luta dos transportes. O pró-<br />

prio governador, conforme comentários<br />

<strong>de</strong> jornalistas que estiveram em Palácio,<br />

nSo ficou satisfeito com a presença da<br />

polícia, e esforçou-se ao máximo para<br />

minimizar o fato aos estudantes. Na an-<br />

te-sala governamental, o coronel Flarys<br />

Araújo, carrancudo a <strong>de</strong>solado, negou-<br />

se a prestar qualquer <strong>de</strong>claração.<br />

A CHEGADA<br />

DA POLÍCIA<br />

Mal chegavam os primeiros mani-<br />

festantes, pacífica a organizadamente, já<br />

o secretário <strong>de</strong> Segurança Pública, coro-<br />

nel Flarys Araújo, <strong>de</strong>slocaria trás guarni-'<br />

ções da Polícia Militar para a porta do<br />

palácio governamental. 35 policiais fica-<br />

ram em posiçfc por toda a fachada do<br />

prédio, outros <strong>de</strong>ntro, e outros pelas<br />

imediações. Bem <strong>de</strong>fronte, um tanto^su-<br />

preaos por tio gran<strong>de</strong> e <strong>de</strong>snecessária <strong>de</strong>-<br />

monttraçSo <strong>de</strong> força, estavam os estu-<br />

dantes, representantes dos bairros, al-<br />

guns políticos do MDB,*e o povo em<br />

geral, portando alguns cartazes feitos <strong>de</strong><br />

última hora, pedindo a meia-passagem<br />

e mais linhas para o campt-s e FCAP.<br />

*? ^0<br />

!*• ^<br />

Iniciada há mais ou menos três<br />

meses pelo Diretório Central dos Estu-<br />

dantes da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral - e logo<br />

contando com o apoio das outras uni-<br />

versida<strong>de</strong>s e dos outros setores da popu-<br />

lação - a luta dos transportes,, chamada<br />

<strong>de</strong> "campanha pé-atrás-pé-à-frente", tem<br />

dois objetivos básicos: mais transportes<br />

para o campus da UFPa.. e para a Facul-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Agrárias do Pará, que<br />

atenda os universitários <strong>de</strong> todos os<br />

bairros da cida<strong>de</strong>; e meia-passagem <strong>de</strong><br />

ônibus para os estudantes <strong>de</strong> todos os<br />

graus. Dia a dia, através <strong>de</strong> um abaixo-<br />

assinado que está correndo em vários<br />

lugares, a campanha vem ganhando a<strong>de</strong>p-<br />

tos. "Esta é uma luta que não pertence<br />

só a nós, estudantes universitários", ex-<br />

plica um dos organizadores ao "Resis-<br />

tência". Pelo contrário, continua, "são<br />

os pais <strong>de</strong> família, em relação à meia pas-<br />

sagem os mais atingidos. Por isso, todo o<br />

povo precisa retamente participar. O<br />

episódio da terça-feira passada mostrou<br />

muito bem que é se unindo que a gente<br />

consegue as vitórias".<br />

Com efeito, pois até então as ma-<br />

nifestações oficiais tinham sido no senti-<br />

do <strong>de</strong> esvaziar á campanha, com a pro-<br />

messa vaga <strong>de</strong> soluções plenamente sa-<br />

tisfatórias - mas para os empresários.<br />

Na audiência <strong>de</strong> terça-feira, entretanto,<br />

os estudantes conseguiram que uma<br />

"comissão <strong>de</strong> trajeto"participasse <strong>de</strong> to-<br />

das as discussões e encaminhamentos -<br />

o que já ocorreu efetivamente na tar<strong>de</strong><br />

do mesmo dia, quando os estudantes es-<br />

tiveram no Detran levando suas propos-<br />

tas. Paralelamente, a movimentação veio<br />

dar mais força ao outro aspecto das rei-<br />

vindicações - a meia-passagem -, até<br />

então totalmente <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada pelas<br />

autorida<strong>de</strong>s. "Eles querem dar nuas li-<br />

nhas para o campus e esquecer a meia-<br />

passagem", analisa um estudante da<br />

FCAP, "exatamente porque é a luta pela<br />

meia-passagem, que existe em vários ou-<br />

tros Estados, que está nos unindo cõm os<br />

setores mais carentes da população". Pa-<br />

ra os estudantes em geral, entretanto,<br />

conforme o "Resistência" pô<strong>de</strong><br />

apreen<strong>de</strong>r, só serão aceites soluções que<br />

venham realmente trazer benefícios a<br />

maioria da população. Nesse sentido, um<br />

dos encaminhamentos a ser dado a cam-<br />

panha, po<strong>de</strong> ser o aprofundamento da<br />

discussão do problema com as diversas<br />

comunida<strong>de</strong>s existentes nos bairros do<br />

subúrbio e também com ós estudantes<br />

secundaristas (que aliás, na manifestação<br />

da terça-feira mostraram-se <strong>de</strong> uma dis-<br />

posição sem par', em seu primeiro conta-<br />

to mais vivo com a polícia). Como diz o<br />

documento "Sobre a questão dos trans-<br />

portes", assinado pelo DCE, "proble-<br />

mas dos transportes colocam às claras<br />

para todo o povo as causas mais pro-<br />

fundas <strong>de</strong> tantas injustiças sociais".<br />

PA6INA41


A passeata saiu da igreja da Aparecida e foi ganhando a<strong>de</strong>ptos.<br />

10^<br />

Os grupos, sô <strong>de</strong> jovens, percorreram as ruas pedindo por Cajâ<br />

A igrqfa acolheu oi.<br />

-i ■<br />

o.<br />

0<br />

o<br />

Uberdadn para "Cigá"<br />

Quase 600 pessoas vão<br />

às ruas pedir pela<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> 44 Cajá ,,<br />

Cerca <strong>de</strong> 600 pesaoas par-<br />

ticiparam, ontem da passeata pe-<br />

dindo a liberda<strong>de</strong> do estudante<br />

"Caie", preso por motivos polí-<br />

ticos em 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1978,<br />

ora na Penitenciária "MourSo<br />

Filho", no Recife. A passeata<br />

marcada pela presença <strong>de</strong> estu-<br />

dantes e seguida por dois veícu-<br />

los do Batran, "para evitar qual-<br />

quer ato <strong>de</strong> vandalismo", foi li-<br />

<strong>de</strong>rada pela Pastoral da Juven-<br />

tu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belém, saindo da Igre-<br />

ja da Aparecida, na Pedreira e<br />

encerrando na Igreja <strong>de</strong> S3o Se-<br />

bastião, na Sacramenta. Reunin-<br />

do inúmeras pessoas na Igreja da<br />

Aparecida, os li<strong>de</strong>res da Pastoral<br />

da Juventu<strong>de</strong> expuseram os ob-<br />

jetivos das passeata, esclarecen-<br />

do ene a caminhada sena feita em<br />

atendimento à solicitação da<br />

Pastoral da Juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />

Paulo, responsável em promover<br />

idêntico movimento em todas as<br />

capitais brasileiras, para sensibi-<br />

lizar autorida<strong>de</strong>s e comunida<strong>de</strong>s<br />

no sentido <strong>de</strong> libertar "Cajá".<br />

Este objetivo estavar;. expostoi<br />

nas faixas que os estudantes le-<br />

vavam, em que se liam frases co-<br />

mo: "Os estudantes do Pará que-<br />

rem a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> "Cajá", Li-<br />

berda<strong>de</strong> é um direito <strong>de</strong> todos,<br />

"Reserve a liberda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todos".<br />

Outro objetivo da cami-<br />

nhada, era <strong>de</strong>spertar o povo para<br />

os problemas sociais que estão<br />

sendo <strong>de</strong>nunciados constante-<br />

mente. As faixas também i<strong>de</strong>nti-<br />

ficavam esse objetivo, inclusive<br />

com frases religiosas: "Cristo<br />

Rei, queremos liberda<strong>de</strong>", "Para<br />

o mundo feliz é preciso <strong>de</strong> liber-<br />

da<strong>de</strong>", "Para que Jesus possa<br />

ressuscitar e aeja um jovem como<br />

Cajá., lute custe o que custar".<br />

Haviai ainda faixas que <strong>de</strong>nun-<br />

ciavam a questão da terra: "Li-<br />

berda<strong>de</strong> na terra a todos os mo-<br />

radores".<br />

A frente da passeata se-<br />

guiam três estudantes carregan-<br />

do uma faixa, on<strong>de</strong> se lia "A<br />

Pastoral da Juventu<strong>de</strong> apoia Ca-<br />

já". Ao fim da multidáo/dois<br />

carros do Batran. Um sargento<br />

esclaceu que ali estavam apenas<br />

para evitar qualquer ato <strong>de</strong> van-<br />

dalismo". Mas foi «<strong>de</strong>snecessária<br />

presença do Batran, pois so qua-<br />

se 400 integrantes da caminhada<br />

<strong>de</strong>ixaram a Igreja da Aparecida<br />

sem qualquer distúrbio. As fai-<br />

xas taiavarti pela multidão, que<br />

trafegou pela Pedro Miranda, Al'<br />

feres Costa e Senador Lemos.<br />

Na praça Eduardo Ange-<br />

lim, na Alteres Costa, entoaram<br />

a ladainha "O Povo <strong>de</strong> Deus",<br />

cuja letra falava num povo can-<br />

sado <strong>de</strong> mentiras, mas que conti-<br />

nuava lutando, esperançoso em<br />

ver seus problemas soluciona-<br />

dos. No trajeto, os moradores se<br />

aglomeravam nas janelas, curio-<br />

sos pela multidão e perguntando<br />

a razão do manifesto. Houve<br />

uma criança que perguntou :<br />

"Vocês estão rezando, é" 7 Ou-<br />

tros indagavam : "O qué é que<br />

quer dizer Cajá" 7 Depois das<br />

expticaçOes, emu<strong>de</strong>ciam, talvez<br />

por não terem entendido. Hou-<br />

ve, porém, uma senhora que ao<br />

satisfazer sua curiosida<strong>de</strong> excla-<br />

mou : "A coisa tá cada vez pior"<br />

Indfnente aqs olhares dos mora-<br />

dores, a passeata prosseguiu<br />

tranqüila, sem mesmo causar<br />

qualquer problema ao trânsito<br />

nas ruas em que passava. Duran-<br />

te o trajeto, várias pessoas en-<br />

grossaram a multidão. Quando<br />

chegou à Igreja <strong>de</strong> São Sebastião<br />

havia um pouco mais <strong>de</strong> 600<br />

pessoas, entre estichmes.padres.<br />

crianças e velhos.<br />

Na Igreja <strong>de</strong> São Sebas-<br />

tião, <strong>de</strong>corada com uma faixa<br />

em letras <strong>de</strong> Isopor estendida a-<br />

cima do altar, que dizia "A Li-<br />

berda<strong>de</strong> Depen<strong>de</strong> <strong>de</strong> Todos<br />

Nós", a multidão foi recebida.<br />

- Foi Iniciada a vigília. Inicial-<br />

mente cânticos reivindicando<br />

soluçSes aos problemas sociais.<br />

Posteriormente, foi lido um his-<br />

tórico sobre a prisão <strong>de</strong> "Cajá"<br />

e <strong>de</strong> outros estudantes, bem co-<br />

mo <strong>de</strong> operários. Seguiram <strong>de</strong>-<br />

poimentos <strong>de</strong> quatro posseiros<br />

que foram expulsos <strong>de</strong> suas ter-<br />

ras em Conceição do Araguaia e<br />

<strong>de</strong> estudantes paraenses presos<br />

por motivos políticos. A vigília<br />

encerrou com a leitura <strong>de</strong> um<br />

trecho extraído da reunião <strong>de</strong><br />

Puebla: "Dos vários países que<br />

constituem a América Latina,<br />

sobe ao céu um clamor cada<br />

vez mais tumultuoso e impres-<br />

sionante. E tfgrito <strong>de</strong> um povo<br />

que sofre e que pe<strong>de</strong> justiça, li-<br />

berda<strong>de</strong>, respeito aos direitos<br />

fundamentais do homem e do;<br />

povos"


5<br />

|<br />

Baião: mais <strong>de</strong> 60 famílias<br />

ameaçadas <strong>de</strong> expulsão<br />

— "Sai <strong>de</strong>ssa re<strong>de</strong>, nego safado"<br />

O negro não saiu, o suor do medo escorrendo pelo<br />

rosto. Os homens, bufando ódio, começaram a violên-<br />

cia: cortaram os dois punhos da re<strong>de</strong>, o negro caiu; co-<br />

locaram-no num Jeep e o tortu/aram num lugar ermo<br />

coln requintes <strong>de</strong> perversida<strong>de</strong>. Até as marcas ainda es-<br />

tão no seu corpo para quem quiser ver.<br />

Contada com muita cautela pelos moradores <strong>de</strong><br />

Baião (13 mil habitantes, às margens do Tocantins) a<br />

história revela um dos muitos aspectos <strong>de</strong> uma grave<br />

questão <strong>de</strong> terras que há alguns meses vem tirando o<br />

sossego da pacata Vila <strong>de</strong> Joana Peres, prolongamento<br />

do município. Ali, mais <strong>de</strong> 60 famílias estão ameaça-<br />

das <strong>de</strong> per<strong>de</strong>rem o que tem — benfeitorias, plantações,<br />

etc. — e serem expulsas do lugar.<br />

O responsável direto pela situação é o fazen<strong>de</strong>iro)<br />

<strong>de</strong> Minas Gerais, Lázaro Gonçalves Barbosa, cujos ca-<br />

pangas seriam os torturadores do negro, em Joana Pe-<br />

res. Além <strong>de</strong>sse fato, um outro merece registro: o advo-<br />

gado do fazen<strong>de</strong>iro Lázaro está processando na justiça<br />

duas das pessoas mais queridas e influentes do muni-<br />

cípio <strong>de</strong> Baião — o padre Tiago Poels e o presi<strong>de</strong>nte do<br />

Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Adão Paixão e Sil-<br />

va. Os dois são acusados <strong>de</strong> "agitação" porque toma-<br />

ram a <strong>de</strong>fesa das 60 famílias ameaçadas.<br />

A questão iniciou há alguns anos, quando o fa-<br />

zen<strong>de</strong>iro Lázaro Gonçalves Barbosa comprou áreas se-<br />

paradas <strong>de</strong> terra em Joana Pereí, cuja soma chegaria<br />

aos quatro mil hectares. Quando mandou medir os ter-<br />

renos, um bastante longe do outro, o fazen<strong>de</strong>iro sim-<br />

plesmente englobou tudo o que separava suas terras,<br />

açambarcando toda a vila <strong>de</strong> Joana Peres, num total<br />

absurdo <strong>de</strong> 14 mil hectares.<br />

Os posseiros começaram a protestar, dispostos a<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r sua vila e sua terra. Des<strong>de</strong> então a questão vem<br />

rolando nos corredores da administração local, on<strong>de</strong> o<br />

prefeito Francisco' Ramos tem se esforçado para chegar<br />

a um acordo favorável às famílias. Há pouco tempo,<br />

numa negociação que envolveu o governador do Esta-<br />

do, o presi<strong>de</strong>nte do Sindicato <strong>de</strong> Baião, o Instituto Na-<br />

cional <strong>de</strong> Colonização e Reforma Agrária, e ojnstituto<br />

<strong>de</strong> Terras do Pará (on<strong>de</strong> seu presi<strong>de</strong>nte íris <strong>de</strong> Oli.veira<br />

teria oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver pessoalmente o negro tortu-<br />

rado, sem nenhuma conseqüência ter advindo daí), o<br />

fazen<strong>de</strong>iro teria concordado em abrir mão <strong>de</strong> dois mil<br />

hectares, respeitando a área originária <strong>de</strong> Joana Peres.<br />

Mesmo sendo o acordo inteiramente prejudicial<br />

ao município e às famílias envolvidas — que por um<br />

tempo pareciam aceitá-lo — o fato mais novo da ques-<br />

tão é que o fazen<strong>de</strong>iro Lázaro não preten<strong>de</strong> cumpri-<br />

lo. Há duas semanas seu advogado, o goiano Higino Fer-<br />

feira da Silva, esteve em Baião, ao que parece toman-<br />

do providências neste sentido.<br />

0 <strong>de</strong>scontentamento é patente na gran<strong>de</strong> maioria<br />

<strong>de</strong> habitantes da se<strong>de</strong> do município — e praticamente<br />

ninguém se conforma em per<strong>de</strong>r as terras <strong>de</strong> Joana Pe-<br />

res para "um estranho", principalmente porque é para<br />

aqueles lados que Baião po<strong>de</strong>rá crescer. A invasão, co-<br />

mo eles chamam, é um prolongamento natural da ocupa-<br />

ção <strong>de</strong> terras que vem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Tucuruf, um dos limites do<br />

município. É unânime a posição <strong>de</strong> que alguma providência<br />

urgente <strong>de</strong>ve ser tomada, antes que a área acabe <strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>marcada. Entre a população começa a ficar mais cla-<br />

ra a idéia <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> uma colônia agrícola, que <strong>de</strong>-<br />

fen<strong>de</strong>ria a área, expulsando o fazen<strong>de</strong>iro invasor. (Luiz<br />

Maklouf Carvalho).<br />

RESISTÊNCIA<br />

tf? t/M<br />

PAGINA 43


Os três vaqueiros foram tosquiados<br />

<strong>de</strong>mitido<br />

Delegado<br />

Acusado <strong>de</strong> ter comandado espancamento e sevícias contra<br />

três vaqueiros <strong>de</strong> Soure, o <strong>de</strong>lgado <strong>de</strong> Muaná, Benedito do Espírito<br />

Santo Costa, foi exonerado ontem do cargo pelo governador do<br />

Estado. Ontem o <strong>de</strong>legado esteve na Delegacia do Interior, e negcu<br />

em parte as acusações que lhe foram feitas pelos três vaqueiros, e<br />

afirmando que os mesmos sao-<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iros, acostumados a enfrentar<br />

a Polícia, e estão servindo <strong>de</strong> "instrumento" para alguns políticos <strong>de</strong><br />

Muaná.<br />

O <strong>de</strong>legado Benedito Costa também acusou o juiz daquela<br />

comarca dr. A<strong>de</strong>mar Calumbf Filho, <strong>de</strong> dar "cobertura" para os<br />

vaqueiros <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iros. A mesma acusação foi feita pelo cabo PM-<br />

Tertuliano Coutinho <strong>de</strong> Oliveira, que respon<strong>de</strong> pela <strong>de</strong>legacia na<br />

ausência do titular, è que enviou ontem um para Bclcm,<br />

comunicando as atitu<strong>de</strong>s praticadas pelo juiz.<br />

Por sua vez, o jjrefeito <strong>de</strong> Muaná, Hermógenes Ferreira<br />

Guimarães, também esteve ontem <strong>de</strong> manhã na Delegacia do<br />

Interior, fazendo acusações contra o <strong>de</strong>legado Benedito, inclusive<br />

confirmando as sevícias <strong>de</strong> que foram vítimas os três vaqueiros.<br />

Vai ser aberto inquérito para apurar a verda<strong>de</strong> dos fatos. O<br />

<strong>de</strong>legado Bendito confirmou á reportagem que já raspou a cabeça <strong>de</strong><br />

mais <strong>de</strong> quinze elementos naquela localida<strong>de</strong> para "diferenciar o<br />

bom do ruim"<br />

O UBt^L<br />

07/01/7$<br />

espinhos e alicates nas torturas.<br />

PãGINA44<br />

Muaná<br />

Verda<strong>de</strong>iras atrocida<strong>de</strong>s foram cometi-<br />

das pela Policia <strong>de</strong> Muaná contra três<br />

vaqueiros, fato que causou revolta on-<br />

tem na Segup, on<strong>de</strong> as vítimas em companhia<br />

<strong>de</strong> duas professoras do município, vieram regis-<br />

trar as queixas. Os acusados ^ão o <strong>de</strong>legado Be-<br />

nedito do Espírito Santo e soldados Rayol e<br />

Nflton.


Mais Outro?<br />

A SITUAÇÃO<br />

Km. 165, da Pa-150. Entroncamento da Belém<br />

Marabá com a estrada <strong>de</strong> Tucurui. Área altamente<br />

valorizada.<br />

O topógrafo do DER vai abrindo o pico. Atrás<br />

centenas <strong>de</strong> lavradores sem terra em busca <strong>de</strong> um<br />

pedaço <strong>de</strong> chão, vindos dos vários interiores, vío cor-<br />

tando seus terrenos: 500m. <strong>de</strong> frente por 2.000m. <strong>de</strong><br />

fundos - lOOha.<br />

A terra legalmente pertence a União, pois está<br />

na faixa dos 100 km. da Transamazônica. Os lavrado-<br />

res percebem que por ali nunca ninguém cortou uma<br />

vara <strong>de</strong> pau. Sentem que a terra ainda nfo tem dono,<br />

que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>les, e logo se estabelcem. Constróem<br />

um banaco coberto <strong>de</strong> palha e se põem ao trabalho.<br />

Armados <strong>de</strong> machados, terçados e foice brocam, <strong>de</strong>r-<br />

rubam, queimam e fazem o roçado: mandioca, arroz<br />

e milho.<br />

Meses <strong>de</strong>pois, os grileiros chegam: Lezinho e<br />

Chico Cacau. Afirmam-se como proprietários da área,<br />

exibindo um titulo, falso (expedido em 1911, em no-.<br />

me <strong>de</strong> Felipa Rosina Ferreira, abrangendo 56.000 h»),.<br />

cuja inautencida<strong>de</strong> após rápida pesquisa o Iterpa já<br />

comprovou. Contratam alguns pistoleiros: Ceará, Ar-<br />

lindão e Paulista e passam a atenorizar os campone-<br />

ses. Em poucotempololtoranchos sáo queimados, <strong>de</strong>-<br />

predando-seos poucos bens <strong>de</strong> uso doméstico dos la-<br />

vradores. Nao contentes, mandam atirar nos posseiros.<br />

Aprigio e Ribamar sofrem atentados a ba^escapando<br />

por pouco. Finalmente conseguem 'que um <strong>de</strong>staca-<br />

mento da Polícia <strong>de</strong> Marabá, comandado pelo Sargen-<br />

to Caetano sem qualquer fundamento legal, entrem<br />

na área, prendam dois posseiros, homens pobres, po-<br />

rém honrados, levando-os algemados para Marabá. É<br />

final <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1978/<br />

RESISTÊNCIA N! 3<br />

09 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1979. * r% wimméçBztâ<br />

t/"'<br />

i£rfJ<br />

mmmu<br />

l®<br />

; ' O seminarista Eduardo CampOü<br />

Pâdroso,.agente pastoral da Prelada co<br />

Marabá e concluinte do curso <strong>de</strong> Tcologh,<br />

í;Jí espancado e torturado por três solfeuis<br />

da Polícia Militar. No sábado passado-, o<br />

agante pastoral se reuniu com lavradorsâ o<br />

aCTicultores que ocupam uma área CJ l'-i\ã<br />

íiO km. 165 da estrada PA-150. em Ti.jr.ii,<br />

cliando ali chagaram os policiais 6ra jm<br />

jirse "Gurgel" e mm Volkswagen c; , . i'.l;><br />

frõbrás e o pren<strong>de</strong>ram, íevarrio-o pixa lYcu-<br />

ral. Durante a viagem Eduardo foi arr ■ dl'lò<br />

a socos e ccronhas<strong>de</strong> revólver e obrigido a<br />

co ner quase um metro <strong>de</strong> papel higiêniui,<br />

pa s soldados, dos quais Eduardo i<strong>de</strong>iitifl-<br />

cc dois — Diniz e Faustino. Ontem pela<br />

nr jihã, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar dois dias preso no<br />

.■•lartel da PM em Tucurui, o seminarista<br />

íci trazido para Belém e levado para a Poli-<br />

cia. Fe<strong>de</strong>ral paia prestar <strong>de</strong>poimento e<br />

exame <strong>de</strong> corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito no "Renato Cba-<br />

ves!*. (Polícia)<br />

Impasse na<br />

questão<br />

terras em<br />

Tucurui<br />

"OÉSr/tvo J>í PfM/l'" 12 DE JANEIRO DE 1979<br />

Direitos Humanos<br />

A Socieda<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong> Defesa dos Direitos<br />

Humanos também distribuiu uma nota oficial com<br />

referência aos inci<strong>de</strong>ntes envolvendo o agente pas-<br />

toral.<br />

Na integra, a nota é a seguinte:<br />

Uma vez mais, o arbítrio do Regime nos<br />

obriga a vir a público <strong>de</strong>nunciar a violação dos<br />

direitos <strong>de</strong> nossos concidadãos.<br />

Na PA-150 (nova estrada Bclém-Marabá), Km<br />

165, a PXETRONORTE está tentando "grilar" as<br />

terras <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 70 lavradores, <strong>de</strong>ixando-os sem<br />

condições <strong>de</strong> trabalhar.<br />

Conseqüente com a nova posição pastoral da<br />

Igreja Católica, <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa dos direitos dos oprimi-<br />

dos, e exercendo seus direitos <strong>de</strong> cidadão, o estu-<br />

dante <strong>de</strong> Teologia EDUARDO PEDROSO, reali-<br />

zando sua missão pastoral na região, reuniu-se com<br />

os lavradores para esclarecé-los dos seus direitos<br />

legais. Isso se <strong>de</strong>u na tar<strong>de</strong> do dia 6 do corrente.<br />

Os monopólios tipo ELETRONORTE estão<br />

por <strong>de</strong>mais acostumados ao arbítrio! Não po<strong>de</strong>m<br />

suportar que alguém, tendo direitos garantidos por<br />

Lei queira usar tais direitos. Então, mancomunou-<br />

se a ELETRONORTE com a POLICIA MILITAR<br />

para realizar o seqüestro <strong>de</strong> EDUARDO<br />

PEDROSO, o que foi feito na presença <strong>de</strong> alguns<br />

agricultores, na saida da reunião, ás 15 horas do<br />

mesmo dia 6. Na ocasião, foi tomado um exemplar<br />

do jornal RESISTÊNCIA", órgão oficial <strong>de</strong>sta<br />

Socieda<strong>de</strong>, das mãos <strong>de</strong> um agricultor.<br />

Hoje. EDUARDO PEDROSO foi entregue à<br />

POLICIA FEDERAL tentando-se então dar ao<br />

seqüestro o caráter <strong>de</strong> prisão legal, apesar do<br />

mesmo apresentar visíveis sinais <strong>de</strong> tortura.<br />

Não po<strong>de</strong>mos nos conformar com tão revol-<br />

tante procedimento! Protestamos com veemência<br />

contra a arbitraria prisão e tortura <strong>de</strong> EDUARDO<br />

e contra a tentativa <strong>de</strong> impedir que os lavradores<br />

façam valer seus direitos legais. Quanto à apro-<br />

priação indébita do nosso Jomal por parte dos<br />

senhores policiais, tomaremos na <strong>de</strong>vida oportuni-<br />

da<strong>de</strong> as medidas legais que o fato requer.<br />

Ao Povo Paraense, conclamamos:<br />

- DEFENDER A VIDA E A LIBERDADE DE<br />

EDUARDO PEDROSO!<br />

- LUTAR PELO RESPEITO AOS DIREITOS DO<br />

POVO!<br />

Belém. 8 <strong>de</strong> ianeíro <strong>de</strong> 1979<br />

PAULO CÉSAR FONTELLES DE LIMA<br />

Presi<strong>de</strong>nte<br />

PÁGINA 45


Violência policial<br />

em Capitão Poço<br />

Depois <strong>de</strong> passada a fase mais aguda do conflito, quando<br />

morreram um posseiro e um policial que o assassinou;<br />

<strong>de</strong>pois que a gran<strong>de</strong> imprensa divulgou a falsa notícia da existência<br />

<strong>de</strong> grupos armados tocaiados a espera da polícia,<br />

publicanâo inclusive fotos <strong>de</strong> repórteres<br />

entrevistando homens armados sem no entando da' o texto<br />

<strong>de</strong>ssas "entrevistas", além <strong>de</strong> editoriais em que os posseiros<br />

é <strong>de</strong>nunciada uma "Industria <strong>de</strong> Posseiros"<br />

apresentando o grileiro Zé Pretinho com um<br />

benemérito da região, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tudo isso —<br />

já po<strong>de</strong>mos formar uma idéia <strong>de</strong> quem é quem nesses<br />

lamentáveis acontecimentos <strong>de</strong> Capitão Poço.<br />

Foi um assassinato dos mais brutais<br />

o que a polícia cometeu em Monte Hore-<br />

Oe. município <strong>de</strong> Capitão Poço. Sete poli-<br />

ciais chegaram à localida<strong>de</strong> às 5:30 horas<br />

da madrugada, assustaram a pequena po-<br />

pulação <strong>de</strong> 70 pessoas, invadiram a casa<br />

do lavrador José Clemente e o assassi-<br />

naram com três tiros. Conforme <strong>de</strong>poi-<br />

mento dos chefes <strong>de</strong> família do local ape-<br />

nas um dos soldados não atirou. Todos os<br />

outros crivaram a casa <strong>de</strong> balas. Atingin-<br />

do duas vezes e sem <strong>de</strong>fesa, o velho Cle-<br />

mente armou-se <strong>de</strong> um terçado e saiu para<br />

o quintal na tentativa <strong>de</strong>sesperada <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />

fen<strong>de</strong>r-se. Dessa forma elè matou o escri-<br />

vão da polícia. Depois^vdtou para <strong>de</strong>ntro<br />

da casa e tentou pegar a espingarda. Foi<br />

quando um dos policiais <strong>de</strong>u-lhe o tiro <strong>de</strong><br />

."misericórdia". Para a maioria da popu-<br />

lação o autor do último tiro foi o soldado<br />

'Domingos, resi<strong>de</strong>nte no quilômetro 48 da<br />

estrada Belém-Brasília, embora se diga<br />

também que foi o policial <strong>de</strong> bigo<strong>de</strong> (co-<br />

missário Everaldo).<br />

RESISTÊNCIA N- 0 3<br />

Por que (5 velho Clemente? É piti-<br />

vável que os policiais tenham chegado ali<br />

com o único fito <strong>de</strong> matar Clemente. Mi-<br />

nai <strong>de</strong> contas era ele a li<strong>de</strong>rança r.i^is <strong>de</strong>s-<br />

tacada no local na questão com o Zé Pre-<br />

tinho, que se dizia dono das terras./Era<br />

ele que discutia e que não arredava p^ da-<br />

quilo que achava ser seu direito e <strong>de</strong>. seus<br />

companheiros. Há fortes suspeitas dfe que<br />

os poUciais tenham recebido e aceitado<br />

or<strong>de</strong>ns para matar o velho Clemente. Pe-<br />

lo menos assim proce<strong>de</strong>ram e após a fuga<br />

sabiam exatamente on<strong>de</strong> encontrar o gri-<br />

leiro, além <strong>de</strong> este ter fornecido seu capa-<br />

taz para levá-los até o local exato.<br />

O povo, do todo d* fora da Datogacta. ouvia ot barroa do oomardanta. Dapob da invadto a o incêndio do<br />

prMio.<br />

PÁGINA 46<br />

i m m<br />

O povo tentou ainda dspredar a caixa cTágua.<br />

Revolta<br />

<strong>de</strong><br />

Bragança<br />

Os sete disparos com<br />

pequenos intervalos, abafa-<br />

ram os terríveis gritos e fo-<br />

ram o estopim da revolta.<br />

Alguém gritou no meio da<br />

Praça: "a Polícia matou o<br />

Walter". Logo uma multi-<br />

dão calculada em mais <strong>de</strong><br />

duas mil pessoas invadiu a<br />

Delegacia. Os sete soldados,<br />

embora armados fugiram pe-<br />

los fundos do prédio e se<br />

embrenharam na mata, para<br />

serem caçadas como cães<br />

raivosos. O povo tomou<br />

conta da Delegacia <strong>de</strong>pre-<br />

dando tudo, soltando os pre-<br />

sos e resgatando o cadáver<br />

do comerciante Walter Mon-<br />

teiro <strong>de</strong> Souza (casado, 31<br />

anos, rua Marechal Floriano,<br />

no. 2028). Depois a multi-<br />

dão invadiu o Necrotério do<br />

Hospital Santo Antônio<br />

Maria Zacarias e massacrou<br />

o cadáver do PM Raimundo<br />

Nonato Rodrigues, o "Goia-<br />

no", solteiro <strong>de</strong> 28 anos,<br />

morador em Belém na rua<br />

São Cristóvão, casa 27-A<br />

bairro do Guamá. Isso tudo<br />

aconteceu pela manhã <strong>de</strong><br />

ontem na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bragan-<br />

ça, distante 210 quilômetros<br />

<strong>de</strong> Belém. À noite, o povo<br />

ignorando a presença do re-<br />

forço da PM, tentou <strong>de</strong>pre-<br />

dar as instalações do serviço<br />

<strong>de</strong> águas da cida<strong>de</strong> como<br />

protesto pela falta do cha-<br />

mado precioso líquido.<br />

Bragança ontem era<br />

uma cida<strong>de</strong> abandonada. O<br />

Prefeito Emílio Ramos, es-<br />

tava em Belém on<strong>de</strong> veio<br />

servir <strong>de</strong> paraninfo a um di^<br />

plomando <strong>de</strong> medicina. O<br />

Delegado <strong>de</strong> Policia Arlindo<br />

Peck Dourado, há uma se-<br />

mana está enfermo, em<br />

Belém. O Comissário Clovis<br />

Moreira que respondia pelo<br />

expediente da Delegacia es-<br />

tava em sua casa. Resultado:<br />

bagunça em Bragança.<br />

OUBiRfíL


MOVIMENTÍl 27/11 * 3/12/78<br />

sul do Pará 2N<br />

.^<br />

A penetração do capitalismo no campo<br />

está nrovocando uma guerra surda, sangrenta e suja em<br />

^Irífs cantos do pais, que obriga milhares <strong>de</strong> camponeses pobres a<br />

Zgarema^nZ ^ra <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r suas posses da ganância dos gran<strong>de</strong>s<br />

fafen<strong>de</strong>Tros, <strong>de</strong> gHleiros, <strong>de</strong> pistoleiros assalariados e mesmo da<br />

própria '-J. :~ polícia wwtf.v.;*» corrupta, nnmintn. quase auase sempre semore a soldo aos poaer -osos.<br />

O GROSSO<br />

Entrar no Sul do Para é entrar num<br />

Estado em guerra, on<strong>de</strong> a violência faz<br />

Earte do cotidiano como a farinha <strong>de</strong>pu-<br />

a e a fome. Há uma gran<strong>de</strong> agitação<br />

por toda parte: nas estradas que vão sen-<br />

do rasgadas nas matas, nos caminhões<br />

carregados <strong>de</strong> mogno que saem constan-<br />

temente para exportação, nas cida<strong>de</strong>s e<br />

povoados que nascem <strong>de</strong> um dia para o<br />

outro - agressivas, miseráveis, sujas e fe-<br />

<strong>de</strong>ndo a morte.<br />

^ ^<br />

Alguns dos<br />

conflitos atuais<br />

J<br />

poweiroê <strong>de</strong> Barreira do Campo<br />

/ - Água Fria - ProWemo» trahaUàttaM • I»<br />

conflito» <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>» fazendas com poetei-<br />

ro». .<br />

2 - Tupã-Ciretã - Poteeiroe ameaçados, fo-<br />

cesso <strong>de</strong> expulsão em andamento.<br />

3 - Paraopeba - Fazen<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Minas Ge-<br />

rais tentando tirar posseiros. Graves<br />

problema* <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com um surto <strong>de</strong> febre<br />

amarela e maleita.<br />

4-Alô Brasil - Fazendas <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> gado.<br />

Sérios problemas trabalhistas e alguns<br />

conflitos com poteeiroe.<br />

5 - Chaparral - Expulsão <strong>de</strong> posseiros com<br />

violência. Morte <strong>de</strong> um jornalista e um ad-<br />

voKado. . .- . .<br />

6 - Al<strong>de</strong>ia - Multinacional alemã - Ntxdorf -<br />

ameaça expulsar 200 famílias <strong>de</strong> posseiros.<br />

7 - Nova Esperança - Problemas <strong>de</strong> limite»<br />

<strong>de</strong> terra e expulsão <strong>de</strong> poeneiro».<br />

« - Manah - Grupo <strong>de</strong> posseiros resistem ha<br />

três anos aos ataques <strong>de</strong> pistoleiros e poli-<br />

ciais, que querem <strong>de</strong>salojá-los.<br />

9 - Volkswagen - Fazenda Vale do Rio Crie-<br />

talino - sinos problema» trabalhistas. Não<br />

pagamento <strong>de</strong> empreiteiros. Dezena* <strong>de</strong> re-<br />

clamações junto ao sindicato doe Traba-<br />

lhadores rurais <strong>de</strong> Santana do Araguaia.<br />

10 - Co<strong>de</strong>spar - Peõee reclamam das condi-<br />

ções <strong>de</strong> trabalho. Ameaça» e prisões ile-<br />

gais.<br />

11 - Floresta - Área <strong>de</strong> colonização a cargo<br />

da Igreja. Do» 22 lote» ocupado» por colo-<br />

no», 12 estão com problema* <strong>de</strong> fazenda»<br />

que reivindicam direitos nas terras.<br />

12 - Lote 41 - Dezenas <strong>de</strong> posseiros estão em<br />

litígio com um fazen<strong>de</strong>iro que procura<br />

expulsá-los <strong>de</strong> sua gleba. O proprietário e<br />

irmão do prefeito <strong>de</strong> Conceição do Ara-<br />

guaia, Giovani Queiroz.<br />

13 - Itaipavas - Posseiros reeietem à» pre»-<br />

sões da policia e do Inera.<br />

14 - Sobra <strong>de</strong> Terra - Ameaça*»», o» po«MI-<br />

ros <strong>de</strong>nunciam prisões c woíência» por parte<br />

d» pistoleiros e policiai».<br />

15 • Parada <strong>de</strong> Lama ■ Expulsão <strong>de</strong> possei-<br />

ro». Grilagem <strong>de</strong> terra e ameaça» por pi»-<br />

toleiros. Os posseiros afirmam que vão re-<br />

sistir.<br />

16 - Perdidos - Região on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senrolaram<br />

p-an<strong>de</strong>s batalha» no» tempo* da guerrilha<br />

do Araguaia. Poteeiroe emboscaram e ma-<br />

taram policiai*. Reprettão violenta. O bis-<br />

po D. Estêvão, alguns padres 127 posseiro*<br />

fcram processados.<br />

17 - Marajoara - Coiono* instalados pelo In-<br />

era são ameaçado» á» <strong>de</strong>spejo e tiveram<br />

seus barraco» invadido* pela polícia. Assé-<br />

dio constante <strong>de</strong> pistoleiros. Os colono* es-<br />

tão dispostos a resistir.<br />

18 - Lunar<strong>de</strong>lli - S fazendas. Problemas tra-<br />

balhistas. Peões doente» e sem assistência.<br />

Siria» <strong>de</strong>núncia* no Sindicato.<br />

19 - Quixadá - Exploração <strong>de</strong> trabalhado-<br />

res. O gerente, foragido <strong>de</strong> Angola, man-<br />

tém os trabalhadores num regime próximo<br />

à escravidão.<br />

<<br />

z<br />

o<br />

<<br />

a.


Major do Exército<br />

X<br />

ação da igreja<br />

Não há liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> culto em<br />

uma região da Tranzamazõnica, no Pa-<br />

rá. Essa <strong>de</strong>núncia é feita pela Regional<br />

Norte II da CNBB, com base em rela-<br />

tório elaborado pelo Bispo <strong>de</strong> Marabá<br />

e vice-presi<strong>de</strong>nte regional da entida<strong>de</strong>,<br />

D. Alano Maria Pena. Ele diz que na<br />

área <strong>de</strong> influência da OP-3, uma estra-<br />

da operacional que parte do quilôme-<br />

tro 96 da Transamazònica (trecho Ma-<br />

rabá-Estreito) na direção <strong>de</strong> São Geral-<br />

do do Araguaia, na região su<strong>de</strong>ste do<br />

Pará, os padres estão sendo impedidos<br />

<strong>de</strong> dar assistência espiritual à popula-<br />

ção <strong>de</strong>vido a pressões <strong>de</strong> um major do<br />

Exército, conhecido apenas por "Dou-<br />

tor Curió". Ele estaria obrigando a po-<br />

pulação da área a não aceitar a presen-<br />

ça <strong>de</strong> três religiosos da Prelazia <strong>de</strong> Ma-<br />

rabá, por ele acusados <strong>de</strong> serem comu-<br />

nistas.<br />

Transcrito <strong>de</strong> "O Estado <strong>de</strong> São Paulo'<br />

Representantes da CPTe o posseiro Antônio con: o xoxemedor<br />

<strong>de</strong>stacamento da P.M. <strong>de</strong> Conceição<br />

<strong>de</strong>clarou-se sem forças para enfren-<br />

tar a jagunçada do grileiro. Para re-<br />

forçar a sua luta, os lavradores, pe-<br />

las mãos <strong>de</strong> um posseiro, enviaram<br />

carta ao próprio Governador do Es-<br />

tado, pedindo providências.<br />

RESISTÊNCIA N- 7<br />

Os Gaviões são constituídos <strong>de</strong> três<br />

grupos que vivem em uma reserva a 40<br />

Km <strong>de</strong> Marabá.<br />

Os índios trabalham em regime qua-<br />

00se servil, pagos através do barracão, on<strong>de</strong><br />

^C entregam a produção individual, receben-<br />

^ do vales <strong>de</strong> produção que são <strong>de</strong>scontados<br />

— no final da safra e pagos com mercado<br />

(3 rias. Essa castanha é comercializada em<br />

2 Belém através da Funai.<br />

A OP-3 é uma estrada <strong>de</strong> terra<br />

batida, construída entre 1972 e 1973<br />

para permitir o melhor combate das<br />

tropas do Exército aos grupos guerri-<br />

lheiros que: operavam no Araguaia,<br />

numa ação que se prolongou até o iní-<br />

cio <strong>de</strong> 1975. À margem da rodovia, em<br />

terras <strong>de</strong>volutas, o próprio Exército te-<br />

ria assentado lavradores que lhe servi-<br />

ram <strong>de</strong> "guia" na luta contra os guerri-<br />

lheiros, além <strong>de</strong> outros posseiros sem<br />

terras que viviam na região. Cada um<br />

recebeu lote <strong>de</strong> 100 hectares e alguns<br />

<strong>de</strong>les estavam incluídos na relação <strong>de</strong><br />

lavradores aos quais o Incra entregou<br />

títulos há algumas semanas, em soleni-<br />

da<strong>de</strong> da qual participou o Presi<strong>de</strong>nte<br />

da Republica, Ernesto Geisel.<br />

RESISTÊNCIA tfí 7<br />

O COMEÇO DA LUTA<br />

A luta pela posse <strong>de</strong> Caçador<br />

iniciou no final do ano passado<br />

quando chegou na área o grileiro<br />

Neif Murad. Ali viviam em suas pos-<br />

ses 18 famílias <strong>de</strong> lavradores, botan-<br />

do suas roças. Em março <strong>de</strong> 1978, o<br />

grileiro começou um arrastão e no<br />

início <strong>de</strong> junho já estava cercando<br />

com o pique todos os lavradores da<br />

Em julho <strong>de</strong> 1975 eles <strong>de</strong>cidiram<br />

não mais entregar,a safra seauinte a Funai.<br />

A safra foi vendida em Belém e foi<br />

arrecadado um montante <strong>de</strong> aproxima-<br />

damente Cr$ 700.000,00. Os índios abri-<br />

ram então uma conta bancária em Marabá<br />

Ao lado <strong>de</strong>ssa auto <strong>de</strong>terminação •<br />

no campo econômico, os Gaviões passa-<br />

ram imediatamente a retomar os seus há-<br />

bitos antigos; voltaram aos cerimoniais e a<br />

«ortir os cabelos como antes. _<br />

ITUPIRANGA<br />

Em Itupiranga, revivendo as primi-<br />

tivas práticas do cristianismo, quase uma<br />

centena <strong>de</strong> lavradores - posseiros, traba-<br />

lhadores rurais, colonos, pequenos pro-<br />

prietários, donas-<strong>de</strong>-casa, barqueiros, cas-<br />

tanheiros, reunidos com o Clero, realiza-<br />

ram entre 24 . e 26 <strong>de</strong> novembro<br />

f "Assembléia do Povo <strong>de</strong> Deus",<br />

<strong>de</strong>cidindo os rumos da ação pastoral da<br />

Igreja <strong>de</strong> Marabá.<br />

Tomaram parte da Assembléia, re-<br />

presentantes das mais diversas comunida-<br />

<strong>de</strong>s cristãs da Prelazia - Pa.-70, Pa. 150,<br />

Marabá, Itacaiúnas, Itupiranga, Palestina<br />

e Transamazònica.<br />

RESISTÊNCIA ^ í 7<br />

Caçador<br />

Em Caçador, região <strong>de</strong> Sobra<br />

<strong>de</strong> Terra, em São Geraldo, mais"<br />

uma vez o grileiro Neif Murad <strong>de</strong>s-<br />

respeita uma <strong>de</strong>cisão judicial em fa-<br />

vor dos posseiros. Os lavradores, po-<br />

rém, não se intimidaram. Voltaram<br />

ao Juiz <strong>de</strong> Conceição, pedindo que<br />

sua or<strong>de</strong>m fosse respeitada. 0 juiz<br />

garantiu a sua <strong>de</strong>cisão, pedindo re-<br />

forço policial para Marabá, já que o<br />

área. Des<strong>de</strong> ai' não houve mais um<br />

minuto <strong>de</strong> sossego em Caçador. Di-<br />

zendo-se dono <strong>de</strong> tudo, Neif Murad<br />

passou a ameaçar violentamente to<br />

dos os posseiros, com a ajuda <strong>de</strong><br />

pistoleiros fortemente armados. Co-<br />

mo os lavradores não se intimida-<br />

ram, Neif então preparou sem pri-<br />

meiro plano para expulsa los.<br />

Atualmente os Gaviões mantêm um<br />

relacionamento amistoso com a popula-<br />

ção da Pa—70, promovendo jogos <strong>de</strong> fu<br />

íebol, corridas <strong>de</strong> tora, jogos <strong>de</strong> flexa,<br />

A <strong>de</strong>cisão dos Gaviões <strong>de</strong> tornarem-<br />

se donos do seu próprio <strong>de</strong>stino, <strong>de</strong> sua<br />

produção e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> se recuperarem<br />

culturalmente, é um exemplo que está<br />

sendo discutido, e po<strong>de</strong>ria ser uma alter-<br />

nativa ao projeto do sr. Rangel Reis, que<br />

foi assinado pelo presi<strong>de</strong>nte Geisel,<br />

<<br />

O<br />

z<br />

■ui<br />

I-<br />

t/)<br />

(/><br />

LU<br />

cr


A injustiça venceu mais uma vez<br />

Os posseiros <strong>de</strong> Chaparral foram rendidos<br />

Prefiro per<strong>de</strong>r tudo. Num quero é<br />

per<strong>de</strong>r um filho. 0 Henrique me disse:<br />

posso per<strong>de</strong>r na lei, mas não perco no 45.<br />

Agora vou-me embora do Pará. Que aqui"<br />

num fico mais". Assim <strong>de</strong>clarou-se venci-<br />

do, ao nosso repórter, José Marciano, pa-<br />

triarca das 23 famílias expulsas das ter-<br />

ras que o Sr. Henrique Meinberg diz<br />

serem suas, em Conceição do Araguaia.<br />

Incríveis lances mirabolantes mar-<br />

caram o conflito entre os posseiros da fa-<br />

mília <strong>de</strong> José Marciano e os proprietários,<br />

da Fazenda Chaparral. Tudo entrou na<br />

questão: dinheiro, muito dinheiro, (a<br />

fazenda está sendo vendida por 23 mi-<br />

lhões <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que limpa, sem posseiros), vio-<br />

lências <strong>de</strong> pistoleiros, arbitrarieda<strong>de</strong><strong>de</strong>s<br />

policiais, possíveis corrupções no apare-<br />

lho judiciário, pressões políticas, e até<br />

mesmo a grave suspeita <strong>de</strong> sabotagem no<br />

avião em que morreu o advogado dos pos-<br />

seirosiDr. João Custódio.<br />

A luta dos posseiros começou a ser<br />

<strong>de</strong>rrotada quando ilegalmente, posto que<br />

RESISTÊNCIA<br />

juridicamente incompetente, o advogado<br />

José M. Noronha (dizem que a peso <strong>de</strong><br />

muito dinheiro), assumiu o juizado da<br />

Comarca <strong>de</strong> Araguaia. Baseado num le-<br />

vantamento topográfico inconsistente,<br />

sem julgar o interdito proibitório dos<br />

posseiros impetrado preliminarmente, o<br />

Dr. Maurer Noronha <strong>de</strong>u a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

reintegração <strong>de</strong> posse aos fazen<strong>de</strong>iros.<br />

A reintegração foi feita violenta e<br />

criminosamente. Sabendo que aos do-<br />

mingos os homens iam a cida<strong>de</strong>, acober-<br />

tados pela polícia, os pistoleiros <strong>de</strong><br />

Meinberg invadiram as terras dos possei-<br />

ros e <strong>de</strong>vastaram tudo. Mataram cerca<br />

<strong>de</strong> dois mil bicos, seiscentos porcos,<br />

queimaram casas e roubaram reses. Não<br />

contentes pegaram as mulheres e crian-<br />

ças, juntamente com seus pertences,<br />

meteram em cima <strong>de</strong> dois caminhões e<br />

<strong>de</strong>spejaram tudo em Re<strong>de</strong>nção.<br />

A maioria dos posseiro^, entretanto,<br />

estava disposta a lutar e voltar para as<br />

terras, reconstruindo suas casas. A lei<br />

PROTESTAMOS CONTRA AS<br />

ACUSAÇÕES FEITAS AO BISPO,<br />

AGENTES DE PASTORAL E POSSEIROS.<br />

DEFENDEMOS A PASTORAL DA IGREJA<br />

DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA<br />

• Respeito pelos direitos<br />

humanos<br />

• Liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar<br />

• L i berda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se reu n i r<br />

e organizar<br />

• Sindicatos livres<br />

9 A terra para quem<br />

nela trabalha<br />

• Anistia ampla e irrestrita<br />

"O Espírito do Senhor ertá sobre mim, porque Ele me ungiu<br />

para evangelízar os pobres<br />

para prodamar remissão aos presos<br />

e aos cegos a recuperação da vista<br />

para restituir a liberda<strong>de</strong> aos oprimidos, e<br />

para proclamar um ano <strong>de</strong> graça do Senhor".<br />

(Le. 4,18 e 191.<br />

O "CASO RESISTÊNCIA<br />

PERDIDOS 5J<br />

ainda não tinha dado sua última palavra.<br />

Foi quando no dia <strong>de</strong> uma audiência<br />

entre posseiros e fazen<strong>de</strong>iros marcada na<br />

Comarca <strong>de</strong> Marabá, o avião que levava<br />

o advogado dos posseiros misteriosamente<br />

caiu, morrendo no <strong>de</strong>sastre, além do pilo-<br />

to, o próprio advogado.<br />

Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>nção o fato<br />

gerou suspeitas: circulava publicamente<br />

que a cabeça do Dr. João Antônio, valia<br />

Cr$ 1000.000,00. O jornal O Estado do<br />

Pará, inclusive, já <strong>de</strong>nunciara o fato em<br />

sua edição <strong>de</strong> 13/12. Apurou-se poste-<br />

riormente, que há uma testemunha (em-<br />

bora já silenciada) que presenciou uma<br />

discurssão entre o Sr. Meinberg e o dono<br />

do avião, horas antes do fatídico vôo,<br />

na qual o fazen<strong>de</strong>iro procurava impedir<br />

que o proprietário do avião levantasse<br />

vôo. E <strong>de</strong>pois, para audiência marcada<br />

para eis 09:00 horas da manhã, o fazen-<br />

<strong>de</strong>iro só chegou às 16:00 horas, como se<br />

soubesse que não haveria a audiência.<br />

Tudo isso amedrontrou fortemente<br />

todos os posseiros, tenha sido ou não<br />

aci<strong>de</strong>ntal o <strong>de</strong>sastre. As pressões contra<br />

José Marciana estão se intensificando.<br />

O prefeito <strong>de</strong> Conceição organizou uma<br />

reunião, na qual, violentamente pressio-<br />

nado, por fim, <strong>de</strong>scrente da justiça e<br />

impotente, José Marciano ace<strong>de</strong>u ao<br />

acordo proposto pelos fazen<strong>de</strong>iros, pelo<br />

qual as 23 famílias receberiam cerca <strong>de</strong><br />

Cr$1.370.000,00 <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização cabendo<br />

a cada uma <strong>de</strong>las pouco mais <strong>de</strong><br />

Cr$50.000,00, quando os posseiros<br />

avaliaram suas posses em pelo menos<br />

Cr$ 3.000.000,00.<br />

Assim, terminou mais um conflito<br />

<strong>de</strong> terras no Pará pelo emprego sistemáti-<br />

co da frau<strong>de</strong>, da violência e do terror<br />

por parte dos po<strong>de</strong>rosos. Assim, mais uma<br />

vez os posseiros são expulsos <strong>de</strong> suas<br />

terras, amansadas pelo suor <strong>de</strong> seus ros-<br />

tos, fortalecendo-se a <strong>de</strong>scrença na lei.<br />

Assim, mais uma vez os posseiros foram<br />

rendidos e a injustiça triunfou.<br />

Até quando, só o futuro nós dirá.<br />

Milhares <strong>de</strong> cartazes distribuídos nas es-<br />

colas, nas igrejas e nas universida<strong>de</strong>s, vigílias<br />

cristãs, assembléias gerais, cartas abertas <strong>de</strong><br />

protesto - estas, algumas das manifestações<br />

e mobilizações populares realizadas em <strong>de</strong>sagra-<br />

vo às acusações que pesam contra os bispos D.<br />

Estevão e D. Alano, vários religiosos leigos e<br />

32 posseiros, todos envolvidos no chamado<br />

"caso Perdidos", ocorrido em 1976 na região<br />

do Araguaia, sul do Fará, quando dois solda-<br />

dos da Polícia Militar foram mortos.<br />

Como se sabe, os religiosos e os posseiros<br />

foram indiciados em inquérito, acusados da<br />

morte dos dois militares. Inicialmente tentou-se<br />

fazer prevalecer o enquadramento na Lei <strong>de</strong><br />

Segurança Naiconal, mas a Justiça Militar não<br />

aceitou essa qualificação, remetendo o proces-<br />

so para a justiça comum. Então, para surpresa<br />

<strong>de</strong> todos, o promotor Carlos Ailson Peixoro,<br />

numa das atitu<strong>de</strong>s mais vergonhosas e rastei-<br />

ras já tomadas pela magistratura paraense, volta-<br />

ria a enquadm os acusados em "crime <strong>de</strong> sub-<br />

versão"<br />

PÁGINA 49


RESISTÊNCIA<br />

^Htrq<br />

Em Belém, logo na segunda-leira posterior às<br />

acusações do promotor, a SDDH promoveria<br />

uma Assembléia Geral, com a presença dos re-<br />

presentantes mais significativos da oposição <strong>de</strong>-<br />

mocrática, on<strong>de</strong> tiraria, entre outras coisas,<br />

uma carta aberta <strong>de</strong> protesto.<br />

As igrejas <strong>de</strong> bairros promoveram vigí-<br />

lias, uma equipe <strong>de</strong> pessoas varou as madru-<br />

gadas pregando cartazes nas pare<strong>de</strong>s. A coisa<br />

não parou aí: muitas outras manifestações estão<br />

programadas, como a organização <strong>de</strong> um Dia<br />

Estadual do Protesto, por exemplo.<br />

No caso específico <strong>de</strong><br />

Perdidos, uma coisa pelo menos está clara: os<br />

bispos, os leigos e os posseiros terão quem os<br />

<strong>de</strong>fensa sempre, e nada lhes acontecerá sem que<br />

a opinião pública manifeste no mínimo seu vi-<br />

goroso repúdio. É a nossa união em torno <strong>de</strong>ssa<br />

<strong>de</strong>fesa — porque ela representa muito para uma<br />

regjão como a nossa, em que conflitos daquela<br />

natureza estão sempre ocorrendo — que vai fa-<br />

zê-la vitoriosa. Todos unidos na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>sses<br />

companheiros.<br />

PAGINA 50<br />

A carta aberta<br />

EM DEFESA DO BISPO, DOS AGENTES PASTORAIS E DOS POSSEIROS<br />

DE CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA<br />

Em reunião realizada no salão paroquial da Igreja Nossa Senhora da Aparecida, a Socieda-<br />

<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong> Defesa dos Direitos Humanos - SDDH, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates sobre a <strong>de</strong>nún-<br />

cia feita pelo Io. Promotor Público da Capital, Carlos Ailson Peixoto, do bispo <strong>de</strong> Con-<br />

ceição do Araguaia, D. Estevão, agentes pastorais e posseiros, <strong>de</strong>cidiu tomar <strong>de</strong>fesa em favor do<br />

bispo c <strong>de</strong>mais acusados pelo promotor <strong>de</strong> acordo com o documento assinado pelas entida<strong>de</strong>s<br />

que compareceram a reunião. E o seguinte, o documento distribuído â imprensa-<br />

Em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Dom Estevão, dos agentes pastorais e dos posseiros <strong>de</strong> Conceição do Ara-<br />

guaia, as entida<strong>de</strong>s abaixo assinadas vêm publicamente apoiar a '■Declaração" da Conferência<br />

IVacional dos Bispos do Brasil - CNBB, regional norte, bem como repudiar energicamente as<br />

acusações da ■<strong>de</strong>nuncia' do Io. Promotor Público Carlos Ailson Peixoto, publicadas na im-<br />

prensa, na consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que:<br />

1. A atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Dom Estevão e agentes pastorais em <strong>de</strong>fesa dos posseiros é justa legítima<br />

e <strong>de</strong>mocrática. Justa porque buscar eliminar a situação <strong>de</strong> injustiça que sofre o homem do cam-<br />

po em_ nossa terra. Legitima, porque visa a libertação do povo das garras da fome miséria e<br />

opressão. Democrática, porque se apoia no direito <strong>de</strong> cada cidadão trabalhar por uma socieda<br />

<strong>de</strong> mais justa.<br />

2. Os conflitos em que foram envolvidos os posseiros <strong>de</strong> Perdidos são a conseqüência di-<br />

- reta das injustiças dos que expulsam da terra os pequenos lavradores e suas famílias para cons-<br />

tituir latifúndios improdutivos.<br />

3. A <strong>de</strong>fesa da terra jamais po<strong>de</strong>rá ser tachada <strong>de</strong> '■crime contra a segurança nacional" A<br />

<strong>de</strong>fesa da terra é,sobretudo, o último esforço <strong>de</strong> sobrevivência do homem do campo não ihe<br />

resta, quase sempre, senão o uso <strong>de</strong> suas próprias forças para fazer valer os seus'direitos<br />

4. Ao contrário do que quer o Sr. promotor, é direito <strong>de</strong>mocrático <strong>de</strong> todos c <strong>de</strong>bate<br />

sobre os temas: "distorções e distribuição injusta da riqueza e da renda", "cerceamento da<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressãc", "falta <strong>de</strong> diálogo entre o governo e o povo", "<strong>de</strong>srespeito aos direi-<br />

tos humanos", "opressão do po<strong>de</strong>r econômico sobre os pobres", "maus tratos <strong>de</strong> presos polí-<br />

ticos".<br />

5. A própria Justiça IVMlitar consi<strong>de</strong>rou que a ação pastoral da Igreja, dos agentes pasto-<br />

rais e dos próprios posseiros não atingiu a que ela consi<strong>de</strong>ra "segurança nacional".<br />

6. A <strong>de</strong>núncia, enfim, do sr. Carlos Ailson Peixoto só revela o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smoralizar<br />

aqueles que se colocam ao lado do povo, em busca <strong>de</strong> um regime <strong>de</strong>mocrático. Cabe-nos,<br />

porjanto, afirmar: 0 <strong>de</strong>svio maldoso da "<strong>de</strong>núncia" do sr. promotor servo apenas aos interesses<br />

anti<strong>de</strong>mocráticos e antipopulares jue vêm açoitando noasa Pátria. Serve apenas para agredir o<br />

justo anseio <strong>de</strong> maior participação social que empolga nosso povo. Serve apenas para aterrori-<br />

zar àqueles que se batem por uma socieda<strong>de</strong> mais justa e fraterna.<br />

7. Certos <strong>de</strong> que o povo paraense saberá bem i<strong>de</strong>ntificar os verda<strong>de</strong>iros subversivos es-<br />

timulamos a todos os <strong>de</strong>mocratas sinceros a repudiar firmemente a infeliz "<strong>de</strong>núncia", per-<br />

manecendo alerta contra todos esses tipos <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s.<br />

SOCIEDADE PARAENSE OE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS - SDDH<br />

FEDERAÇÃO DE ÓRGÃOS PARA ASSISTÊNCIA SOCIAL E EDLCACIONAL - FASE<br />

ASSOCIAÇÃO DOS SOCIÓLOGOS DO BRASIL - VICE-PRESIDÊNCIA DO NORTE<br />

DIRETÓRIO CENTRAL DOS ESTLDANTES - DCE<br />

DIRETÓRIO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS<br />

DIRETÓRIO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS<br />

DIRETÓRIO DO CENTRO BIÓMÊDICO<br />

DIRETÓRIO DO CENTRO SÓCIÓ-ECONÓMICO<br />

DIRETÓRIO DO CENTRO PE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS<br />

ASSOCIAÇÃO DE ORIENTADORES EDUCACIONAIS DO PARÁ<br />

Uma nova versão ?<br />

Nem os bispos, nem os leigos, nem os<br />

posseiros teriam sido os principais responsáveis<br />

pelos acontecimentos <strong>de</strong> Perdidos. Os fazen<strong>de</strong>i-<br />

ros e gran<strong>de</strong>s proprietários da área, preocupados<br />

em que a <strong>de</strong>marcação do INCRA lhes tirasse a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas invasões, expulsões e gri-<br />

lagem, é que teriam insuflado os fazen<strong>de</strong>iros pa-<br />

ra resistir à <strong>de</strong>marcação. Seu objetivo seria ób-<br />

vio — manter a área reservada para si. A versão<br />

po<strong>de</strong> não ser nova, mas é dada até mesmo por<br />

fontes militares que participaram diretamente<br />

dò caso.<br />

POSSEIROS USADOS<br />

Por ela, os posseiros foram simples-<br />

mente usados pelos gran<strong>de</strong>s proprietários, e ti-<br />

nham garantia <strong>de</strong> apoio para o que <strong>de</strong>sse e vies-<br />

se. O conflito ocorreu, dois policiais foram mor-<br />

tos - e os fazen<strong>de</strong>iros, nem se sabe direito<br />

quem são.


conflito entre americanos<br />

e posseiros<br />

o ÊST/1P0 íí" sfo Pft^>-C> SI-IZ-??<br />

A chegada da família Davls<br />

ao Brasil, em 1962, nao teve<br />

uma conotação meramente co-<br />

mercial Missionário agrônomo<br />

da igreja presbiteriana, <strong>de</strong>pois<br />

da guerra da Coréia, John Wea-<br />

ver Davis pediu em 1957 para<br />

ser enviado ao Brasil on<strong>de</strong> pre-<br />

tendia <strong>de</strong>senvolver um projeto<br />

pecuário semelhante ao que <strong>de</strong>-<br />

senvolvera no Aiabama. consi-<br />

<strong>de</strong>rado bastante revolucionário.<br />

A missão, porém, mandou-o pa-<br />

ra o Congo Belga, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele<br />

fugiu para não ser morto em<br />

1960, com a in<strong>de</strong>pendência do<br />

pais Só dois anos <strong>de</strong>pois ele<br />

conseguiu autorização para mo-<br />

rar no Brasil.<br />

Aqui, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns me-<br />

ses em. Campinas apren<strong>de</strong>ndo o<br />

português, Davis foi para<br />

Ooiãs, on<strong>de</strong> procurou repetir a<br />

experiência iniciada no Congo e<br />

que não <strong>de</strong>u certo no Brasil<br />

porque adquirira duas proprie-<br />

da<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scontínuas e difíceis <strong>de</strong><br />

administrar Em 1967, ele com-<br />

prou 23 títulos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s<br />

entregues pelo governo do Pará<br />

entre 1961 e 1962 e vários parti-<br />

culares e formou a maior fazen-<br />

da <strong>de</strong> tona a região, com 95 mil<br />

hectares.<br />

Em 1968 a Sudam aprovqu<br />

um projeto empresarial dos Da-<br />

vis segundo o qual eles se com-<br />

prometiam a criar, recnar e en-<br />

gordar gado com um investi-<br />

mento <strong>de</strong> 13,6 milhões <strong>de</strong> cru-<br />

zeiros, sendo 10,2 milhões <strong>de</strong><br />

incentivos fiscais Eles chega-<br />

ram a recebei I2u mil cruzeiros,<br />

mas como não executaram o<br />

projeto foram obrigados a <strong>de</strong>-<br />

volver o dinheiro este ano para<br />

evitar urna execução judicial<br />

por parte da Suftam.<br />

Como em suas terras existia<br />

gran<strong>de</strong> quanuda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tna<strong>de</strong>ira-<br />

<strong>de</strong>-lei, Daws <strong>de</strong>sistiu do projeto<br />

pecuário e passou a extrair ma<br />

<strong>de</strong>ira Nessa ocasião a missão<br />

prebistenana que o enviara pa-<br />

ra ensinar técnicas astronômi-<br />

cas e promover projetos conjun-<br />

tos com lavradores brasileiros,<br />

<strong>de</strong>scontente com o projeto <strong>de</strong><br />

John, or<strong>de</strong>nou que retornasse<br />

aos Estados Unidos, o que pro-<br />

vocou o seu rompimento com a<br />

missão. Ao <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> receber a<br />

ajuda financeira da Igreja Pre-<br />

bistenana, a família conseguiu<br />

súcios norte-amencanos<br />

O Incra encaminhou a<br />

questão ao órgão estadual <strong>de</strong><br />

terras, o Iterpa, que encontrou<br />

uma solução: primeiro i<strong>de</strong>ntifi-<br />

cou os 114 posseiros que habi-<br />

tam a margem direita da estra-<br />

da, ao longo do igarapé Bana-<br />

nal, <strong>de</strong>vido à proximida<strong>de</strong> com<br />

os Davls. Do total, 18 estão dis-<br />

postos a comprar a área que<br />

estão ocupando (aproximada-<br />

Quando Davls comprou a<br />

Fazenda Capaz, o governo pa-<br />

raense estava tentando cons-<br />

truir uma estrada ligando Be-<br />

lém, por meio da recém - aber-<br />

ta Belém-Brasllia, a Marabá, o<br />

principal centro produtor <strong>de</strong><br />

castanha da Amazônia Inicia-<br />

da em 1963, a estrada com 220<br />

quilômetros so foi concluídaem<br />

1969, mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um ano antes<br />

eia passou a ser ocupada por<br />

lavradores vindos -ia Bania, Mi-<br />

nas Gerais Marannâo. Espirito<br />

Santo e Ceará â procura <strong>de</strong> um<br />

pedaço <strong>de</strong> terra<br />

A estrada, porém, atravessa<br />

um terreno muito aci<strong>de</strong>ntado e<br />

cuja utilização agrícola esbarra<br />

numa séria dificulda<strong>de</strong>, a falia<br />

<strong>de</strong> água. A Fazenda Capaz,<br />

além <strong>de</strong> ser a maior proprieda-<br />

<strong>de</strong> da região, possui <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

seus limites gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

pequenos rios e igarapés. Inevi-<br />

tavelmente exerceu atração so-<br />

bre os lavradores que buscavam<br />

s~-<br />

mente 10 mil hectares); 50 acei-<br />

taram ser remanejados para<br />

uma colônia que o Iterpa está<br />

implantando a 150 quilômetros<br />

a sudoeste da Capaz, on<strong>de</strong> rece-<br />

berão título <strong>de</strong>finitivo sobre 50<br />

hectares e salário mínimo du-<br />

rante quatro meses; e 46 possei-<br />

ros serão in<strong>de</strong>nizados por suas<br />

benfeitorias e sairão dos 7.880<br />

hectares que ocupam, receben<br />

um lote para se instalarem.<br />

Atravessando a divisa com o<br />

Maranhão, pela Belém-Brasüia<br />

ou pela PA-70, os posseiros en-<br />

traram nessas terras e a família<br />

Davis passou então a recorrer<br />

sistematicamente à polícia para<br />

expulsá-los, muitas vezes vio-<br />

lentamente<br />

A partir <strong>de</strong> 1972, a área pas-<br />

sou a ser administrada pelo IN-<br />

CHA, por situar-se na faixa <strong>de</strong><br />

100 quilômetros à margem <strong>de</strong><br />

uma rodovia fe<strong>de</strong>ral, e segundo<br />

o <strong>de</strong>poimento dos filhos do fa-<br />

zen<strong>de</strong>iro a partir daí os invaso-<br />

res se estabeleceram na terra<br />

sem que os Davis pu<strong>de</strong>ssem<br />

continuar usando a polícia esta-<br />

dual como guarda particular da<br />

fazenda.<br />

Em outubro <strong>de</strong> 1975, quan-<br />

do os choques entre a família e<br />

os posseiros tornaram-se cons-<br />

tantes, John Davis procurou o'<br />

INCRA e chegou a propor a<br />

separação da parte da proprie-<br />

do valores (pagos pelo Estado e<br />

<strong>de</strong>pois compensados em terras<br />

pela Capaz) que atingirão 1,3<br />

milhão <strong>de</strong> cruzeiros. Em com-<br />

pensação pela perda <strong>de</strong>ssa par-<br />

te da fazenda, os Davis recebe-<br />

rão terras do Estado no cobiça-<br />

do vale do Xingu, que apenas<br />

começa a ser aberto â ocu-<br />

pação.<br />

Os técnicos do Iterpa admi-<br />

da<strong>de</strong> para on<strong>de</strong> seriam remane-<br />

jados os posseiros que <strong>de</strong>ixa-<br />

riam suas benfeitorias como pa-<br />

gamento pelos lotes que recebe-<br />

riam Logo <strong>de</strong>pois, porém, o nor-<br />

te-americano voltava atrás em<br />

sua proposta dizendo que o IN-<br />

CRA <strong>de</strong>veria simplesmente re-<br />

tirar os invasores.<br />

Outras vezes, Davls recor-<br />

reu à Policia Militar para retirar<br />

posseiros, mesmo sem or<strong>de</strong>m<br />

judicial, enquanto o INCRA<br />

tentava estabelecer um acordo<br />

administrativo Em lfi76, o cli-<br />

n.a na área era <strong>de</strong> grave tensão,<br />

cora posseiros expulsos ou ten-<br />

do suas roças queimaoas. A ten-<br />

sso atinsiu o clímax, quando<br />

John Uavis cercou uma lagoa<br />

on<strong>de</strong> os posseiros se a oasteciam<br />

<strong>de</strong> água No dia 3 <strong>de</strong> j.üho <strong>de</strong>sse<br />

ano, aproximadamente 60 la-<br />

vradores imtados reuniram-se<br />

para <strong>de</strong>rrubar a cerca e, ao se-<br />

rem impedidos por Join Davis,<br />

mataram-no a tiros juntamen-<br />

te com dois <strong>de</strong> seus filhos.<br />

POSSEIROS<br />

I<br />

t<br />

tem que não é a solução penei<br />

ta, "mas é uma solução". Eles<br />

acreditam que, <strong>de</strong>smembrando<br />

a gran<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, tornan-<br />

do-a produtiva e titulando os<br />

ocupantes, evitarão que ocor-<br />

ram novas invasões; "Com um<br />

título na mão, cada posseiro vai<br />

tratar <strong>de</strong> fiscalizar a área. Impe-<br />

dindo que os in<strong>de</strong>nizados vol-<br />

tem ou que penetrem novos<br />

ocupantes", garante um dos<br />

técnicos.<br />

PÁGINA 51


Conceição do Araguaia<br />

Neif IVurad, grileiro que vem ten-<br />

tando se apossar <strong>de</strong> 300.000 hectares<br />

da terra em Conceição do Araguaia, ten-<br />

tou trapacear a própria Justiça do Muni-<br />

cípio, envolvendo em sua manobra o<br />

Oficial <strong>de</strong> Justiça da Comarca e o Desta-<br />

camento da Policia Militar <strong>de</strong> São Ge-<br />

raJdo, para <strong>de</strong>salojar posseiros. O juiz,<br />

tomando conhecimento do fato, mandou<br />

reintegrar imediatamente 18 posseiros já<br />

atingidos.<br />

Incapaz <strong>de</strong> retirar os legítimos pos-<br />

seiros <strong>de</strong> uma área conhecida como "So-<br />

bra <strong>de</strong> Terra" apesar <strong>de</strong> ameaçá-los cons-<br />

tantemente <strong>de</strong> morte e <strong>de</strong>predações, o<br />

grileiro Neif Murad <strong>de</strong>sta ve? passou dos<br />

limites para conseguir seus objetivos.<br />

Imaginou um plano em que a própria<br />

Justiça o ajudaria a expulsar os possei-<br />

ros.<br />

Que fez ele? — Com documentos<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gleba <strong>de</strong> terra — lote<br />

73 <strong>de</strong> Itaipavas — entrou cem um pedi-<br />

do <strong>de</strong> reintegração <strong>de</strong> posse ao Juiz. Es-<br />

te diante dos dados, conce<strong>de</strong>u-lhe o<br />

P' do, que era acompanhado <strong>de</strong> soli-<br />

ci ção <strong>de</strong> força policial, para a reinte-<br />

gre rão no Lote 73. De posse da liminar<br />

concedida, o grileiro, pagando, para não<br />

dizermos subornando, o Oficial <strong>de</strong> Jus-<br />

tiça da Comarca e o <strong>de</strong>stacamento da P.<br />

M. <strong>de</strong> São Geraldo, <strong>de</strong>slocou-se para<br />

"Sobra <strong>de</strong> Terra", a mais <strong>de</strong> 50 Km. do<br />

Lote 73 <strong>de</strong> Itaipavas, para expulsar o?<br />

posseiros dali. Com a presença do Oficial<br />

<strong>de</strong> Justiça e do <strong>de</strong>stacamento policial, os<br />

lavradores, acreditando que o Juiz os ha-<br />

via mandado <strong>de</strong>salojar, se retiraram amar-<br />

guradamente <strong>de</strong> suas nosses.<br />

Mentira todavia tem perna curta.<br />

Alertados da trapaça, os posseiros coloca-<br />

ram a nu a sem-vergonhice do grileiro.<br />

Através <strong>de</strong> advogado, <strong>de</strong>monstraram para<br />

o Juiz toda a verda<strong>de</strong>. Na petição afir-<br />

mavam: "a região on<strong>de</strong> se situam as pos-<br />

ses conhecidas como "Sobra <strong>de</strong> Terra",<br />

está localizada a oeste da Vila <strong>de</strong> São Ge-<br />

raldo a aproximadamente 20 Km. A po-<br />

sição do lote 73 <strong>de</strong> Itaipavas, para on<strong>de</strong><br />

foi expedida a liminar <strong>de</strong> V. Exa., é a<br />

sudoeste <strong>de</strong>ssa Vila <strong>de</strong> São Geraldo, <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> dista em linha reta aproximada-<br />

mente 63 Km. Como se verifica elemen-<br />

tarmente, são posições diversas, situadas<br />

em quadrantes geográficos distintos, e<br />

que po<strong>de</strong>m ser visualizadas no trecho do<br />

mapa em anexo".<br />

Descoberta a "bandalheira" do gri-<br />

leiro, imediatamente o Juiz <strong>de</strong> Conceição<br />

do Araguaia mandou reintegrar 18 pos-<br />

seiros que já haviam sido <strong>de</strong>salojados in-<br />

<strong>de</strong>vidamente, afirmando um senso <strong>de</strong> se-<br />

rieda<strong>de</strong> e justiça a que os humil<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Conceição já estavam até <strong>de</strong>sacostuma-<br />

dos.<br />

0 grileiro ficou completamente <strong>de</strong>s-<br />

moralizado, como diz o povo — falando<br />

só! Os soldados, <strong>de</strong>sconversaram que não<br />

sabiam da "safanagem"! E o Oficial <strong>de</strong><br />

Justiça, que tinha levado - dizem - 15<br />

mil cruzeiros, acabou tendo que, sob or-<br />

<strong>de</strong>ns do Juiz, reintegrar os posseiros que<br />

ele próprio havia <strong>de</strong>salojado!. (P. F.)<br />

PAGINA. 52<br />

Poesia popular<br />

"Mas que possa<br />

ou que não possa<br />

pobre tem que tocar roça<br />

ou então man<strong>de</strong>m matar 71<br />

Ameaçado <strong>de</strong> expulsão <strong>de</strong> sua terra, Pedro Vieira Santos, possei-<br />

ro, lavrador <strong>de</strong> pouca terra, poeta popular, e.creve em versos seu protes-<br />

to. Morador <strong>de</strong> "Sobra <strong>de</strong> Terra", região próxima <strong>de</strong> São Geraldo, on<strong>de</strong><br />

se <strong>de</strong>senvolveu a "guerrilha do Araguaia", Município <strong>de</strong> Conceição do<br />

Araguaia, juntamente com 18 famílias Pedro foi esbulhado em sua<br />

posse pelo grileiro Neif Murad, sendo recentemente reintegrado pelo<br />

Juiz <strong>de</strong> Conceição.<br />

Em cima da luta, nasceu a poesia. "Resistência" a publica,'como<br />

o poeta a concebeu.<br />

1. Eu tenho Honra e praze<br />

<strong>de</strong> conhecer cara a cara<br />

um dos chefe pu<strong>de</strong>roso<br />

<strong>de</strong>ntro da Reforma Agrária,<br />

pra ele me instruir<br />

como eu posso conseguir<br />

uma posse nesta área.<br />

2. 'Primeiro quero enten<strong>de</strong>r-mè<br />

com Dr: Sebastião,<br />

como um chefe honrado e justo<br />

4. Eu estou circulado<br />

por as quatro lateral.<br />

3 piques <strong>de</strong> Boa Fé.<br />

E um da Brazil Central.<br />

No meio um pique do Impar<br />

intimando o pessoal.<br />

5. O causo mais importante<br />

reunir os fazen<strong>de</strong>ros<br />

<strong>de</strong>mandar sobre estes piques<br />

<strong>de</strong>sonestos ou verda<strong>de</strong>iros.<br />

Quem cair bem na partida,<br />

<strong>de</strong>pois da questão vencida,<br />

po<strong>de</strong> intimar os posseiros.<br />

6. Sendo intimação do Incra,<br />

eu atendo a qualquer hora,<br />

porque só o Incra enten<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senrolar esta história.<br />

Esclarecer <strong>de</strong>sta área<br />

se dono <strong>de</strong> fora a fora.<br />

7. Vejam só:<br />

Dizem que pertenci a IMPA<br />

Fundação Brasil Central<br />

A fazenda Boa Fé<br />

A Força Nacional<br />

E eu estou bem no meio<br />

como um órgão intestinal.<br />

8. Qualquer um dos 4 dono<br />

se quiser me por pra fora<br />

Po<strong>de</strong> me intimar no Incra<br />

que eu atendo na hora.<br />

Se não me cabe direito<br />

eu garanto ir embora.<br />

9. Eu rogo a Deus que pertença<br />

são muito poucos os seus frutos.<br />

1 2 Jamais pu<strong>de</strong>mos ir a frente<br />

Se o dono da Presidência<br />

não enviar mais equipe<br />

pra tomar mais providência.<br />

Tõ vendo pobres posseiros<br />

sofrerem em <strong>de</strong>sespero<br />

fome, grave inclemência.<br />

13.Pois chegou lá no meu rancho<br />

quatro praça militar<br />

um fiscal do IBDF<br />

proibindo <strong>de</strong>smatar.<br />

Mas que possa ou que não possa<br />

pobre tem que tocar roça,<br />

ou então man<strong>de</strong>m matar.<br />

14. Acho que o B.D.F.<br />

não <strong>de</strong>ve ser o contrário<br />

na sua administração,<br />

relativo ao meu conceito<br />

se me consiste direito<br />

ou se é con<strong>de</strong>nação.<br />

Continuo eu trabalhando<br />

não quero que me aconteça mal<br />

mas tenho um prazer na vida<br />

com a certeza real<br />

que estas áreas são entregues<br />

a Forca Nacional<br />

A Força Nacional.<br />

Eu quero ver quem <strong>de</strong>manda<br />

Com Governo Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Eu creio que o Presi<strong>de</strong>nte<br />

vai dar é valor a gente<br />

trabalhar neste local.<br />

10j Até a data presente<br />

ninguém nunca ouviu falar<br />

que o gran<strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte<br />

or<strong>de</strong>nar retirar<br />

<strong>de</strong> uma área <strong>de</strong>vo luta<br />

um pobre por trabalhar.<br />

11.Sei que ele tem é mandado<br />

cortar áreas <strong>de</strong>volutas<br />

entregando a quem trabalha,<br />

pra ver se aumenta os produtos<br />

pois as terras sem lavouras<br />

<strong>de</strong>stes pobres lavrorístas<br />

que não tem menos salário,<br />

pois eles sem plantar roça<br />

vão virar adversário.<br />

15 Dos posseros que conheço<br />

não tem um homem letrado.<br />

A profissão que enten<strong>de</strong><br />

é foice, enxada e machado.<br />

Se tirarerrueles da roça<br />

vão morrer afrajelado.<br />

16. Bem disse São Bernardo<br />

lá na Santa Profecia:<br />

Antes <strong>de</strong> chegar 2 mil<br />

às rodas gran<strong>de</strong>s corria<br />

com uns rumores <strong>de</strong> Guerra.<br />

que os grileiro da terra<br />

esta imposição trazia.<br />

RESfSTÊNCIA N- 6


PA / 70<br />

"Não po<strong>de</strong>mos ficar<br />

abandonados"<br />

Mais <strong>de</strong> 50 crianças estão sem po<strong>de</strong>r estudar no quilômetro 80 da rodovia KA<br />

70 (região <strong>de</strong> IViarabá). A escola que tinham, construída pelo povo, acabou caindo.<br />

32 pais <strong>de</strong> família, em abaixo-assinado dirigido ao prefeito, <strong>de</strong>putados e vereadores,<br />

solicitam urgentes providências. O documento já foi entregue há semanas, mas até<br />

agora nenhuma providência foi tomada Fis a carta, na íntegra:<br />

Nós, pais da comunida<strong>de</strong> do Km 80<br />

da PA-70 reunimos no dia 18 <strong>de</strong> agosto<br />

para discutir os problemas <strong>de</strong> nossa esco-<br />

la, "Boa Vista". A escola foi construída<br />

em 1972, por conta própria do Sr. José<br />

Alonso Crisóstomo e até agora não teve<br />

ajuda Je ninguém no assunto da escola. ,<br />

A"professora é paga pelo município<br />

e temos também meren<strong>de</strong>ira. O nosso<br />

problema é que a casa da escola caiu, en-<br />

tão as crianças estão tendo aula na casa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spejo no fundo da cozinha da fazenda,<br />

sendo que tivemos que dividir em duas<br />

turmas porque as carteiras e os bancos<br />

são umas tábuas colocadas em riba <strong>de</strong> uns<br />

cepos e não dá pra dar aula para 35 alu-<br />

nos.<br />

O número <strong>de</strong> crianças para estudar<br />

é <strong>de</strong> 50, mas tivemos que parar a matrícu-<br />

la porque não dava para abrigar todo<br />

mundo. Reunimos todos os pais para ver<br />

<strong>de</strong> que maneira a gente po<strong>de</strong> tratar este<br />

assunto e achamos que quem po<strong>de</strong> resol-<br />

ver são as autorida<strong>de</strong>s. Por isso escreve-,<br />

mos para os senhores. Nós pedimos a pro-<br />

vidência dos senhores, porque nós não po-<br />

<strong>de</strong>mos ficar aqui no local sem a professo-<br />

ra, e se não tiver uma providência no ou-<br />

tro ano a escola vai acabar porque -nós<br />

não temos condições <strong>de</strong> conseguir <strong>de</strong> ou-<br />

tra maneira.<br />

Nós contamos com a sua ajuda,por-<br />

que contamos que não po<strong>de</strong>mos ficar<br />

abandonado.<br />

PA/150 Boa Vista do Pará<br />

O fazen<strong>de</strong>iro quer<br />

ser dono <strong>de</strong> tudo<br />

Atacados por grileiros, pela malária, pela falta <strong>de</strong> um preço justo para seus<br />

produtos, além da falta <strong>de</strong> escola para seus filhos e qualquer outro tipo <strong>de</strong> assistên-<br />

cia oficiai, os moradores da Rodovia PA-150, à altura <strong>de</strong> Boa Vista do Pará, aprovei<br />

taram o Dia do Trabalhad.or Rural, último dia 25 <strong>de</strong> julho, para escrever e assinar<br />

um documento: um abaixo-assinado com 195 assinaturas, enviado ao ex-governa-<br />

uor Aloysio Chaves, em que relatam cruamente suas péssimas condições <strong>de</strong> vida, pe-<br />

dindo providências, ü documento foi entregue ao atual governador, Clòvis <strong>de</strong> Mo-<br />

raes Rego, mas até agora não se sabe <strong>de</strong> nenhuma providência tomada. Ele segue na<br />

íntegra, apenas com as modificações que tornem mais acessível sua leitura:<br />

"Saudações. Em primeiro lugar uma<br />

boa none ao senhor Aíoysio Chaves, nos-<br />

so governador do Estado do Pará. Nós es-<br />

tamos comemorando o Dia 'do. Lavrador e<br />

aqui existem mais OU menos dnco mil la-<br />

vradores que trabalham, lutando com to-<br />

das as dificulda<strong>de</strong>s, sem médico e tem<br />

muita doença. O pobre aqui sofre <strong>de</strong>mais.<br />

Não temos a/uda <strong>de</strong> ninguém. Então reu-<br />

nimos, conversamos e fizemos uma idéia<br />

que achamos um recurso - é escrever ao<br />

nosso governo que ele, sendo um homen)<br />

que conhece as dificulda<strong>de</strong>s do lavrador,<br />

ele vai nos ajudar. Então nós têm que re-<br />

clamar. É isto: que aqui tem terra <strong>de</strong>mais<br />

e para o pobre tem pouca, que o fazen<strong>de</strong>i-<br />

ro quer ser dono <strong>de</strong> tudo. A gente está<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma terra e <strong>de</strong> repente apare-<br />

ce um, fala "esta terra é minha", e faz a<br />

gente sair <strong>de</strong> qualquer maneira.<br />

E também nós pedimos se for pos-<br />

sível dar documentação da terra que a<br />

gente fica mais tranqüilo, e outra:aqui so-<br />

fremos .mais, porque não tem médico, e<br />

dinheiro para o pobre só passa pra ver,<br />

mas possuir ele, coitado, não possui e<br />

qundo a dpença vem ele ven<strong>de</strong> a sua roça<br />

na fojha pro preço que acha e gasta tudi-<br />

nho e muitas vezes morre à míngua. En-<br />

tão é muito triste a gente trabalhar e en-<br />

frentar túcío quanto for- dificulda<strong>de</strong> e<br />

sempre pensando que a terra inda não<br />

'tem documento. Então a gente fica preo<br />

eu pado. Outra: tudo que a gente compra<br />

aqui é cam <strong>de</strong>mais e os preços dos nossos<br />

cereais é sempre mais pouco. A gente nãu<br />

tem vez. Todo mundo ven<strong>de</strong> no preço<br />

mais alto para nós e quer comprar no pre-<br />

ço mais baixo nosso. Então precisamos<br />

uma ajuda do senhor, seu Aloysio, para<br />

fazer uma tabela <strong>de</strong> preço para o trabalha-<br />

dor rural e mandar para este lugar médico<br />

para combater com as malárias daqui e,<br />

senhor Aloysio,aqui vai dar muita renda<br />

para o Estado que eu ainda não vi um lu-<br />

gar <strong>de</strong> gente que trabalha igual aqui mes-<br />

mo. Com toda pobreza, mas os braços dos<br />

peões é forte, lá vai pra frente, e se o se-<br />

nhor olhar pra nós mais forte nós fica-<br />

mos, porque é unidos que o Brasil vai pra<br />

frente.<br />

Agora nós vai terminar e contamos<br />

com a sua ajuda. Dtfs<strong>de</strong>.já agra<strong>de</strong>cemos o<br />

senhor e ao mesmo tempo pedimos <strong>de</strong>s-<br />

culpa das faltas <strong>de</strong> letras que a gente qua-<br />

se nem tem escola. E vamos <strong>de</strong>ixar assi-<br />

nado todos que participaram da reunião<br />

e também <strong>de</strong> muitos locais que tião par-<br />

ticipam com a gent . Obrigado, espero ser<br />

atendido"<br />

Oeiras do Pará<br />

LUTAMOS<br />

REPORMA<br />

Também em Oeiras<br />

do Pará o Dia do Traba-<br />

lhador Rural foi muito<br />

comemorado. Os feste-<br />

jos ocorreram no dia 13<br />

<strong>de</strong> agosto, mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

muito antes os. lavrado 1<br />

res, orientados pelo Sin-<br />

dicato dos. Trabalhado-<br />

res Bufais, já vinbam<br />

discutindo vários temas:<br />

a importância do--traba-<br />

Ihador rural no Brasil, a<br />

•necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma me-<br />

lhor organização, o di-<br />

reito à terra, o salário<br />

justo para sustentar a fa-<br />

mília, o melhor entrosa-<br />

mento <strong>de</strong>ntro do Sindi-'<br />

cato, etc A festa foi<br />

realizada <strong>de</strong>ntro da sim-<br />

plicida<strong>de</strong> do povo. Além<br />

<strong>de</strong> muitos cartazese fai-<br />

xas espalhados pela ci-<br />

da<strong>de</strong> - Lutamos pela re-<br />

forma agrária; Compa-<br />

nheiros do campo, <strong>de</strong><br />

mão dadas seremos for-<br />

tes — nouve a celebra-,<br />

ção <strong>de</strong> uma missa sole-<br />

ne, preparada pelos tra-<br />

balhaoures rurais.<br />

RESISTÊNCIA<br />

NSé<br />

PAG1NA53


No IPAR, o advogado Carlos Sampaio ooifram com ot lavradores<br />

PAGINA 54<br />

VIOLÊNCIA<br />

Depois <strong>de</strong> viajar dois dias em<br />

uma canoa, chegaram ontem em<br />

Belém 16 dos 64 agricultores do vi-<br />

larejo <strong>de</strong> Ponta Grossa, município <strong>de</strong><br />

Soure, que foram expulsos <strong>de</strong> suas<br />

casas por <strong>de</strong>z soldados da Polícia Mi-<br />

litar do Estado e dois oficiais <strong>de</strong> Jus-<br />

tiça, enviados pela juíza <strong>de</strong> Direito<br />

Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Oliveira Costa.<br />

O fato ocorreu no período <strong>de</strong> 18 a<br />

20 <strong>de</strong> janeiro, quando os militares,<br />

fortementes armados, invadiram as<br />

residências dando or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> <strong>de</strong>spejo<br />

alegando que os colonos estavam em<br />

terras que pertencem a Guilherme<br />

Me<strong>de</strong>iros Lobato- Como resultado<br />

d» ação policial, sete casas foram<br />

queimadas e outras quatro <strong>de</strong>smon-<br />

tadas. Dos 64 colonos, que viviam<br />

h« quase 100 anos na área das fazen-<br />

das Santa maria do Perpétuo Socor<br />

ro e Santa Luzia, conhecidas como<br />

"Tartarugas", 37 são crianças e<br />

quatro sSo cegos; Uma criança fale-<br />

ceu cinco dias após a invasão dos po-<br />

liciais.<br />

O fazen<strong>de</strong>iro queria<br />

expulsá-los sem qualquer<br />

in<strong>de</strong>nização, contrariando<br />

os termos da antiga<br />

escritura outorgada pelo<br />

suíço Bi<strong>de</strong>r.<br />

Em Belém, os 16 colonos<br />

procuraram Matias Sena <strong>de</strong> Abreu,<br />

filho <strong>de</strong> um dos agricultores. Matias<br />

recorreu à Socieda<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong><br />

Defesa dos. Direitos Humanos<br />

(SDDH), que, por sua vez, solicitou<br />

ajuda ao Instituto <strong>de</strong> Pastoral Regio-<br />

nal (IPAR), on<strong>de</strong> os colonos estão<br />

alojados. Advogados da Comissão<br />

Pastoral da Terra (CPI) preten<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> imediato, estudar o processo da<br />

juíza da Comarca <strong>de</strong> Soure, para sus-<br />

ta-lo e anula-lo, fazendo com oue os<br />

colonos voltem as suas terras e sejam<br />

in<strong>de</strong>nizados.<br />

O sargento ameaçava<br />

espancar o velho Aniceto.<br />

O oficial <strong>de</strong> Justiça dizia<br />

que ele seria castrado. O<br />

lavrador foi preso.<br />

"Para on<strong>de</strong> a gente<br />

ia, trôs ou quatro policiais<br />

am atrás, com prmas. Se a<br />

gente chegava atrasado<br />

para comer, nffo comia<br />

maii'<br />

Carlos Sampaio preten<strong>de</strong> uti-<br />

lizar todas as provas possíveis para<br />

que os lavradores voltem às suas ter-<br />

ras, que em 1900 já era cultivada<br />

por Francisco José <strong>de</strong> Abreu, um<br />

dos 64 lavradores expulsos.


CARTA AO POVO E ÀS AUTORIDADES<br />

Nós, moradores e ocupantes dos terrenos <strong>de</strong> diversos bairros <strong>de</strong> Belém que esta-<br />

mos ameaçados <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriação por órgãos governamentais e particulares, vimos hoje, por<br />

intermédio <strong>de</strong>ste Ato Público, chamar a atenção das autorida<strong>de</strong>s e da opinião pública para a<br />

difícil situação em que nos encontramos, <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>mora das providências que há anos esta-<br />

mos reivindicando.<br />

Uma situação difícil, da qual não somos os culpados e à qual se acrescenta o<br />

baixo salário, o altíssimo custo <strong>de</strong> vida, o <strong>de</strong>semprego, a fome, a falta <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, poblemas<br />

que o povo há muito tempo vem amargando. Há 30 ou 40 anos ninguém queria saber dos<br />

terrenos que ocupamos. E também, nunca os sucessivos governos se preocuparam em resolver<br />

pela raiz nosso poblema <strong>de</strong> moradia oferecendo terrenos e casas <strong>de</strong>centes a preço popular.<br />

O que sobrava mesmo para o pobre eram os terrenos baldios, mato bravo da<br />

periferia da cida<strong>de</strong>, não cercados, para nós, terrenos da União, que ocupávamos e beneficiáva-<br />

mos na esperança <strong>de</strong> um dia po<strong>de</strong>r legalizar nossa situação. 'TOR QUE OS "DONOS" NÃO<br />

APARECERAM NAOUELE TEMPO ?".<br />

Esperaram que ruas fossem abertas, bairros nascessem, serviços públicos fossem<br />

instalados e o crescimento da cida<strong>de</strong>, aliado a uma política habitacional cheia <strong>de</strong> graves erros<br />

transformassem a especulação imobiliária num gran<strong>de</strong> negócio.<br />

No Jurunas, a firma Morão Ferreira e Cia, faz intimidações aos moradores<br />

,(3.600 famílias) ameaçando <strong>de</strong>rrubar suas casas. A firma até hoje não apresentou qualquer docu-<br />

mento que comprovasse seu direito à área.<br />

Na Terra Firme, mais <strong>de</strong> 5.000 famílias estão ameaçados pela Universida<strong>de</strong> Fe-<br />

<strong>de</strong>ral do Pará e pela Eletronorte já tendo ocorrido diversas violências, como <strong>de</strong>rrubada <strong>de</strong><br />

casas.<br />

No Bengui pelo menos 5.000 famílias estão na mesma situação <strong>de</strong> insegurança.<br />

No Barreiro, área <strong>de</strong> baixada, são mais <strong>de</strong> 5.000 famílias.<br />

No Una, 60 famílias estão em questão com Floriano Moraes que se diz proprie-<br />

tário das terras. Muitas outras ainda procuram um lugar para morar, expulsas que foram pela<br />

Polícia por ocuparem conjuntos criminosamente abandonados.<br />

Na Cida<strong>de</strong> Satélite, 80 famílias ameaçadas; no Coqueiro, 40 famílias (já expulsas<br />

da Sacramenta) vêem-se novamente ameaçadas.<br />

Na Sacramenta, cerca <strong>de</strong> 5.000 famílias (que há anos pe<strong>de</strong>m a proteção das<br />

autorida<strong>de</strong>s) são permanentemente vigiadas pela Aeronáutica e impedidas <strong>de</strong> si quer fazerem<br />

melhoramentos em suas casas. No mês passado, duas casas foram <strong>de</strong>rrubadas por soldados ar-<br />

mados, que não pu<strong>de</strong>ram ser in<strong>de</strong>ntificados pois tinham seus nomes cobertos por esparadrapo.<br />

Amendrontados, os moradores <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> fazer os reparos necessários e muitas casas ameaçam<br />

<strong>de</strong>sabar. Neste mesmo bairro, outros 6.000 moradores estão em conflito com a Imobiliária<br />

Jorge Abelém que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> os interesses da família Ferro Costa, que preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropiar as<br />

famílias ali resi<strong>de</strong>ntes.<br />

Na Pedreira, cerca <strong>de</strong> 900 famílias, como resultado <strong>de</strong> uma longa luta que ain-<br />

da não terminou, conseguiram que os terrenos que alugavam à Imobiliária Valente do Couto<br />

fossem comprados pela CO D EM. A transação ainda não esclarecida custou aos cofres públicos<br />

Cr$ 5.000.000,00 e os terrenos serão vendidos aos moradores que, angustiados perguntam-se:<br />

que preço irão pagar por eles ? Os que não pu<strong>de</strong>rem comprar terão que mudar-se para a peri-<br />

feria.


Em resumo, aproximadamente mais <strong>de</strong> 200 mil pessoas só em Belém, estão seria-<br />

mente ameaçadas <strong>de</strong> per<strong>de</strong>rem um <strong>de</strong> seus mais elementares direitos, a .habitação, e justamente<br />

a população mais oprimida. Apesar disso e dos constantes apelos às autorida<strong>de</strong>s (Municipais,<br />

Estaduais e Fe<strong>de</strong>rais ), mais requerimentos, cartas, memorandos, abaixo-assinados e até um me-<br />

morial ao Presi<strong>de</strong>nte da República e pronunciamentos <strong>de</strong> parlamentares, a gran<strong>de</strong> maioria dos<br />

que lutam por seu direito (direito que lhe é garantido pela Constituição Brasileira e pela Declara-<br />

ção Universal dos Direitos Humanos, da ONU, da qual o Brasil é um dos signatários) continua<br />

na mesma situação <strong>de</strong> insegurança.<br />

apenas a minoria.<br />

No único caso em que a Prefeitura tomou providência, a solução veio beneficiar<br />

Por isso estamos hoje reunidos neste Ato Público, porque percebemos que o<br />

problema <strong>de</strong> cada um é o problema <strong>de</strong> todos.<br />

As soluções que prejudicarem a um <strong>de</strong> nós será a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> todos. E só uma<br />

solução que beneficie a todo o povo, uma tomada <strong>de</strong> posição a favor do povo dos subúrbios<br />

é que po<strong>de</strong>rá beneficiar a cada um <strong>de</strong> nós.<br />

O que queremos e esperamos <strong>de</strong> nossas autorida<strong>de</strong>s é que tomem partido do povo<br />

pobre, que apressem a solução (pela CODEM ou não) <strong>de</strong> nossos problemas e sofrimentos, a<br />

cada dia mais insuportável.<br />

O que queremos e esperamos <strong>de</strong> nossos governantes é que não lavem as mãos,<br />

não permitam que nosso caso seja tratado pela CODEM como um simples caso <strong>de</strong> compra e<br />

venda, regido pelas leis da especulação imobiliária.<br />

Queremos, sim, que nossa cida<strong>de</strong> mu<strong>de</strong>, que se torne uma cida<strong>de</strong> limpa, saneada,<br />

livre das baixadas que tanto nos envergonham. Mas achamos que nós, atuais moradores, é que<br />

temos o direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutar <strong>de</strong>sse progresso, pois fomos os que, com nosso trabalho, criamos<br />

as conuições para que ele chegasse. .<br />

Queremos permanecer no chão que há anos, 30, 40 e até 50, estamos benefi-<br />

ciando e não sermos jogados para algum arrabal<strong>de</strong> distante e <strong>de</strong>solado para começar tudo <strong>de</strong> novo,<br />

varridos junto com o lixo e a lama para bem longe, para que os turistas e investidores<br />

possam ter uma cida<strong>de</strong> "limpa".<br />

Queremos que as autorida<strong>de</strong>s tomem nosso partido , para resolver a questão, <strong>de</strong><br />

modo a beneficiar os pequenos, os fracos, os que mais precisam, como manda a Justiça Social.<br />

Nossa situação exige das autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cisão e sentido público !<br />

Basta <strong>de</strong> <strong>de</strong>moras e promessas "políticas" !<br />

Que nossos terrenos sejam <strong>de</strong>sapropriados ou adquiridos pela CODEM em caráter<br />

<strong>de</strong> urgência e nos sejam revendidos a preço popular, para que possamos permanecer neles !<br />

Que os moradores, através <strong>de</strong> suas Comissões <strong>de</strong> Bairro sejam consultados a respei-<br />

to das soluções e possam opinar livremente sobre elas, como em qualquer regime <strong>de</strong>mocrático<br />

e não simplesmente avisados do que irá lhes acontecer i<br />

Que nos seja dada a proteção da Justiça enquanto as questões não forem resol-<br />

vidas, para que cessem o arbítrio e a violência dos que querem nos <strong>de</strong>salojar a qualquer pre-<br />

ço !<br />

Belém, 28 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1979<br />

a) COMISSÃO DOS BAIRROS DE BELÉM


KE^rSTèNC/A v-'9<br />

Em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Amazônia<br />

De Conceição do Araguaia, o lavrador José Basílio <strong>de</strong> Siqueira, conclama<br />

os trabalhadores rurais a se posicionarem na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> nossas matas<br />

Como <strong>de</strong>ve o trabalhador<br />

do campo participar da campa-<br />

nha para a preservação do que é<br />

<strong>de</strong> todos?<br />

O que <strong>de</strong>vemos fazer?<br />

Antes <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>veremos<br />

nós, os trabalhadores do campo,<br />

fazer um exame <strong>de</strong> consciência,<br />

procurando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós mes-<br />

mos, saber se não temos respon-<br />

sabilida<strong>de</strong>s para com nossa Pá-<br />

tria, nossas famílias e com a so-<br />

cieda<strong>de</strong>, para, a partir daf, ver-<br />

mos o que po<strong>de</strong>remos fazer e co-<br />

mo fazer.<br />

Chegada à conclusão <strong>de</strong> que<br />

não po<strong>de</strong>remos permanecer<br />

alheios a urfi assunto <strong>de</strong> tão sérias<br />

conseqüências, como a atual, in-<br />

dagaremos, o que é <strong>de</strong> todos?<br />

Eis a resposta:<br />

De todos é aquilo que te-<br />

mos direito, mas não nos perten-<br />

ce como proprieda<strong>de</strong> individual,<br />

particular e exclusiva. Exemplo:<br />

o mundo é <strong>de</strong> todos nós, mas<br />

nenhum <strong>de</strong> nós tem direito exclu-<br />

sivo sobre ele. Para ficar mais cla-<br />

ro: o Brasil é a nossa Pátria, mas<br />

como brasileiros a nenhum <strong>de</strong><br />

nós é I feito e nem tampouco per-<br />

mitido que disponhamos <strong>de</strong>le co-<br />

mo nossa proprieda<strong>de</strong> particular.<br />

E <strong>de</strong> todos.<br />

Outro exemplo: o Sindicato<br />

dos Trabalhadores Rurais <strong>de</strong><br />

Conceição do Araguaia, como ór-<br />

gão <strong>de</strong> classe, é o meu sindicato,<br />

pois sou trabalhador rural e a ele<br />

sou filiado. Mas eu ou qualquer<br />

outro associado, ou mesmo um<br />

grupo <strong>de</strong> associados, não po<strong>de</strong>-<br />

mos dispor <strong>de</strong>le como proprieda-<br />

<strong>de</strong> particular ou individual<br />

Mais um outro exemplo: as<br />

terras públicas <strong>de</strong>volutas, os cam-<br />

pos, as matas, os rios, os lagos.<br />

estradas, as praças das cida<strong>de</strong>s, as<br />

ruas, os prédios, públicos, todos<br />

são nossos, mas ninguém tem o<br />

direito exclusivo sobre isso, pois<br />

foram criados e constituídos para<br />

o bem <strong>de</strong> todos. Seja <strong>de</strong> que clas-<br />

se for. Rico ou pobre, preto ou<br />

branco, homem ou mulher, jo-<br />

vem ou criança — todos somos<br />

sócios <strong>de</strong>ste patrimônio, que é<br />

chamado <strong>de</strong> bem-comum, por<br />

pertencer a toda comunida<strong>de</strong>.<br />

Aqui é que está a razão.<strong>de</strong>s-<br />

se escrito. E que somos chama-<br />

dos por uma parcela bastante nu-<br />

merosa, esclarecida e sobretudo<br />

consciente <strong>de</strong> suas responsabili-<br />

da<strong>de</strong>s, como participantes e só-<br />

cios neste bem comum, a <strong>de</strong>fen-<br />

<strong>de</strong>rmos esse nosso patrimônio, a<br />

terra, as matas, enfim, todo o<br />

meio-ambiente. Principalmente<br />

as matas, que estão sendo <strong>de</strong>s-<br />

truídas indiscriminadamente —<br />

<strong>de</strong>struição essa que por sua práti-<br />

ca, métodos e processos fere os<br />

mais oomezinhos princípios <strong>de</strong><br />

conservação da natureza e, além<br />

a acima <strong>de</strong> tudo, ameaça a sobe-<br />

rania <strong>de</strong> nossa pátria. Na condi-<br />

ção <strong>de</strong> sócios, como foi dito aci-<br />

ma, não po<strong>de</strong>mos e nem tampou<br />

oo elevemos permitir que seja <strong>de</strong>s-<br />

truído esse patrimônio, que por<br />

natureza e por direito nos perten-<br />

ce, seja qual for o pretexto ou<br />

justificativa.<br />

Para isso temos que utilizar<br />

todos os meios <strong>de</strong> luta possíveis,<br />

a fim <strong>de</strong> evitarmos que seja con-<br />

sumado esse crime contra o Bra<br />

sil e contra nós brasileiros, temos<br />

que usar ferramentas a<strong>de</strong>quadas,<br />

para levar a batalha a bom termo.<br />

Como a luta é <strong>de</strong> todos e não<br />

somente <strong>de</strong> uns poucos brasilei-<br />

ros, nosso caso, como trabalha-<br />

dor rural, <strong>de</strong>vemos levar para o<br />

sindicato a discussão do assunto<br />

e exigir da diretoria que tome po-<br />

sição e providências a respeito.<br />

Há uma perspectiva alvissa-<br />

reira, segundo foi publicado pelo<br />

Boletim da Comissão Pastoral da<br />

Terra <strong>de</strong> Goiás, no. 19, <strong>de</strong> no-<br />

vembro/<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 78. A Con-<br />

fe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalha-<br />

dores na Agricultura — CONTAG<br />

— está se preparando para a reali-<br />

zação do 3n. Congresso Nacional<br />

aos Trabalhadores Rurais Brasi-<br />

leiros, a ser marcado para os dias<br />

21 a 25 <strong>de</strong> maio do corrente ano,<br />

oportunida<strong>de</strong> em que todas as fe-<br />

<strong>de</strong>rações e sindicatos que as inte-<br />

gram terão que participar <strong>de</strong>ste<br />

evento. Reunindo a partir das ba-<br />

ses das Delegacias Sindicais, to-<br />

dos os trabalhadores, associados<br />

ou não, levando para os mesmos<br />

as teses, os assuntos que mais <strong>de</strong><br />

perto interessarão os trabalhado<br />

res, nos quais <strong>de</strong>vemos propor, se<br />

não constar do temário, a inclu-<br />

são do assunto, a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> nos-<br />

sas matas e <strong>de</strong> nossas terras. £<br />

assunto prioritário, que interessa<br />

à maioria dos brasileiros e princi-<br />

palmente aos trabalhadores ru-<br />

rais, que precisam <strong>de</strong> terra para<br />

cuidar <strong>de</strong>la e <strong>de</strong>la tirar o seu<br />

meio <strong>de</strong> subsistência, como tam-<br />

bém para 6 consumo interno do<br />

País o que significa lutar pela<br />

concretização <strong>de</strong> seu objetivo<br />

fundamental, a Reforma Agrária,<br />

há muito falada, sonhada e sobre-<br />

tudo <strong>de</strong>sejada, mas até agora não<br />

realizada.<br />

Eis as tarefas urgentes e<br />

imediatas do sindicato: conscien-<br />

tizar os trabalhadores para que<br />

eles sejam os principais protago-<br />

nistas na luta para a conquista<br />

daquilo que mais <strong>de</strong> perto lhes<br />

interessa.


índice:<br />

- Palavras ao Leitor 3<br />

- Direitos Humanos 4<br />

- Anistia 7<br />

Sindicalismo e Conflitos Trabalhistas 9<br />

- Censura à Imprensa 22<br />

- Terra d*> Morar r.. 2f<br />

- Movimento Estudantil 39<br />

- Terra <strong>de</strong> Plantar 42

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