Qualidade de Dados - Dataprev
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<strong>Qualida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> dados: muito mais do que um problema técnico<br />
Nicolau Reinhard<br />
Passarei agora a tratar da segunda dimensão do problema <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados,<br />
relacionada às limitações da agência, isto é, da ação <strong>de</strong>liberada, voluntária, <strong>de</strong><br />
pessoas, que nem sempre está <strong>de</strong> acordo com os objetivos <strong>de</strong>finidos inicialmente<br />
para o sistema. No centro disso está, obviamente, a questão do po<strong>de</strong>r.<br />
Existem várias formas <strong>de</strong> as pessoas exercerem o po<strong>de</strong>r, ou várias fontes pelas<br />
quais elas po<strong>de</strong>m obter po<strong>de</strong>r. Há pessoas que po<strong>de</strong>m não ter o po<strong>de</strong>r formal na<br />
organização, mas que têm o po<strong>de</strong>r interpretativo, isto é, elas têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
influenciar outras pessoas na interpretação do que <strong>de</strong>terminadas coisas significam.<br />
Por exemplo, a autorida<strong>de</strong> formal diz: “esse item <strong>de</strong> dado tem que ser preenchido”,<br />
ao que alguém po<strong>de</strong> contrapor: “ah, mas isso aí não vai dar em nada” ou<br />
“esse dado não é importante”. Em casos assim, os nossos sistemas estarão em<br />
uma situação bastante <strong>de</strong>licada.<br />
O resultado disso é que o significado atribuído a sistemas e a dados é produto <strong>de</strong><br />
dois processos. Primeiro: De que maneira as premissas são compartilhadas entre<br />
as pessoas? Segundo: Como se dá o diálogo político, através do qual agentes<br />
influenciam as percepções, <strong>de</strong>cisões e comportamentos <strong>de</strong> outros?<br />
Agentes envolvidos num <strong>de</strong>terminado sistema po<strong>de</strong>m ter interesses divergentes, a<br />
serem negociados ou resolvidos, para se chegar a um significado a respeito<br />
daquele sistema. Então, como implantar sistemas numa situação em que não é<br />
por cognição que se resolve, e a dimensão política é uma componente importante<br />
a ser consi<strong>de</strong>rada? Os sistemas que vejo falhando, principalmente no setor<br />
público, <strong>de</strong>vem seu fracasso, na maioria das vezes, à dimensão política, que não<br />
foi a<strong>de</strong>quadamente consi<strong>de</strong>rada. Isto é, havia essa situação <strong>de</strong> agência, em que o<br />
implantador do sistema acreditou ingenuamente na <strong>de</strong>finição da autorida<strong>de</strong><br />
maior; o sistema foi implantado, teve apoio da autorida<strong>de</strong>, mas como o diálogo<br />
político não ocorreu, isso levou a percepções do sistema e a interpretações que o<br />
<strong>de</strong>terioraram ou até o inviabilizaram. Uma das maneiras <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r como o<br />
concerto entre agentes e suas vonta<strong>de</strong>s e objetivos po<strong>de</strong> acontecer é utilizando o<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atores, conceito da área <strong>de</strong> sociologia.<br />
7<br />
TEORIA DA REDE DE ATORES (Latour)<br />
Princípios<br />
Construção social <strong>de</strong> um novo objeto<br />
Processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> certos atores<br />
A mediação sociotécnica é feita por meio <strong>de</strong> “traduções” (um ator se qualifica para<br />
representar outros atores) que ocorrem na Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atores, através <strong>de</strong>:<br />
interferência ou do programa <strong>de</strong> ação;<br />
composição (criação <strong>de</strong> artefatos);<br />
obscurecimento reversível (black-box – caixa-preta);<br />
<strong>de</strong>legação (<strong>de</strong> significado).<br />
Os momentos do processo <strong>de</strong> tradução são:<br />
1. problematização;<br />
2. atração <strong>de</strong> interesses;<br />
3. recrutamento; e<br />
4. mobilização dos aliados.<br />
7 LATOUR, B. We have never been Mo<strong>de</strong>rn. Harvard University Press, 1993.<br />
Fórum <strong>de</strong> TIC <strong>Dataprev</strong><br />
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