O ESTRANHO - Charles Guimarães Filho

ESTRANHO: “Direitos das mulheres e injustiças dos homens”
de Mary Wollstonecraft, “Memórias de uma prostituta” de
Diderot.
DUMAL: Eu só não sei por que você parou de escrever esse
livro, que você guarda enfiado na barriga, inspirado nesse local,
já que você é bom de lábia e conhecedor das coisas?
ENFERMEIRA: Que livro é esse, mostra, mostra.
Arrancando de dentro das calças do algemado, deixando-o um
pouco com as nádegas de fora, ela senta no chão cheia de
indiscrição e começa a ler em voz alta.
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Numa RUELA DEPLORÁVEL de tão sombria, fétida e tortuosa
em todos os sentidos, caminha uma negra envelhecida numa
aparente indigência estranha num autêntico percurso monótono
onde apenas matos contatam o visualizar e ratos atravessam o
andar. Quando aquela via é alterada subitamente pela
diversidade de viciados sem pena, mas com fatos esbarram o
cambalear daquela pária arremessando-a ao chão. Seu rosto
sangra em face que não expressa dor, pois, sua fisionomia é de
quem não tem tempo a perder. Ela se ergue prontamente e se põe
a continuar. Ao avançar já se vêem mulheres expostas pelas
portas e janelas vendendo sexo por dinheiro, alguns homens
entram, outros apenas observam, num local comumente chamado
de ZONA DE MERETRÍCIO. Ela ao se aproximar é motivo de
cochichos, até que destes ruídos vem um grito e com ele o título
de RAINHA DA ZONA.
Entre as CAÇOADAS e GARGALHADAS, de uma daquelas
aberturas uma PROSTITUTA espevitada desponta fazendo
mesuras e falando para aquela recém intitulada imperatriz do
prostíbulo.
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