O ESTRANHO - Charles Guimarães Filho

metade a missão outorgada. Nada mais tendo a declarar e a
lamentar.
CANA-DURA (querendo imitar, inicia um discurso): E eu como
um bom Cana-Dura ...
DOUTOR AUDITOR FISCAL (cortando): Que Cana-Dura
nada, vamos lá seu Guarda-Mole, o que está esperando, põe logo
essa fuça para dentro dessa coisa.
O policial, embora chateado por essa quebra no seu discurso e
principalmente por todo aquele aparente esforço em vão, mas, de
forma obedecida e determinada, põe o rosto para dentro da
maloca, mas só que, imediatamente o devolve assustado para o
exterior. Ameaça sacar o revolver o que é contido pelo coletor.
DOUTOR AUDITOR FISCAL (temeroso): O que vimos aí
dentro? Um animal carniceiro?
CANA-DURA (ofegante): Pelo contrário, eu vi a presa dele.
DOUTOR AUDITOR FINAL (intrigado): Como assim? Quem
é o comestível?
CANA-DURA (com água na boca): O contribuinte.
DOUTOR AUDITOR FINAL: Você não perde esse costume
mesmo, hein, de ser canibal. Lembra que você já perdeu até
pontos para a promoção por causa daquele dedinho mindinho
daquele gordo.
CANA-DURA (salivando): Eu sei que o doutor auditor fiscal é
vegetariano, mas, valeu a pena ter perdido os pontos, pois, era um
petisco humano imperdível.
O doutor abre um escancarado sorriso porque agora é a sua vez
de adentrar sua face, só que ela com olhos alegres e curiosos. Ao
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