O ESTRANHO - Charles Guimarães Filho

humano, um ignorante, um tremendo de um inculto. Não sei nem
se ele é indígena ou alienígena. Não sei nem se ...
DOUTOR AUDITOR FISCAL (interrompendo): ... ele é um
livre e pelo jeito não precisamos ...
CANA-DURA (complementando): ... de ficar com medo, pois
parece passível de ser domesticado.
DOUTOR AUDITOR FISCAL (irritado): Eu lá quero
domesticar alguém, isso é coisa para FUNAI. Nós somos da
mordida do Leão. E faça o favor de não me interromper.
(eufórico): O que eu estava dizendo é que tudo indica que não
precisamos de nos preocupar com ele.
CANA-DURA: Por que não? Por acaso ele é isento?
DOUTOR AUDITOR FISCAL: Claro! Estamos diante de um
não-cidadão, um estranho que não quer ser habitante de uma
cidade, um indivíduo que não acredita em cidade em nenhuma
hipótese, por isso é que ele vive nesse lugar miserável ... vamos
dizer nesse campo.
CANA-DURA: Ou então quem sabe o isento não é um daqueles
suburbanos convicto que, na surdina, entre essas moitas, está com
gato-NET, gato-luz, gato-gás, introduzindo uma nova cidade, não
é doutor auditor fiscal?
DOUTOR AUDITOR FISCAL: Se ele é da área rural, urbana
ou do entorno que se urbanizou precariamente não sabemos, o
que temos certeza, ao juntarmos nossas opiniões, é de que se trata
de um descrente construtor.
CANA-DURA: Ou de um construtor descrente.
DOUTOR AUDITOR FISCAL: É isso aí.
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