O ESTRANHO - Charles Guimarães Filho

DOUTOR AUDITOR FISCAL: ... por favor não pronuncie essa
palavra perto de mim, eu tenho alergia. Olha só como o meu
braço vai ficando todo empolado?
(pausa): Mas, foi só por causa daquilo ou não?
CANA-DURA: Não, não foi só por causa daquilo não.
Aconteceram várias coisas que não tenho nem coragem de contar.
A gota d’água foi o telefonema do meu chefe fanho que, diga-se
de passagem, estava ausente do serrviiiçoooo, ligou lá para nós,
eu atendo e ele perguntou: “Ãdifinha quem tá falando?”.
DOUTOR AUDITOR FISCAL: Inacreditável! Entretanto, ... e
o negócio?
CANA-DURA (não querendo aquele tipo de conversa, muda a
prosa): O doutor sempre teve essa profissão?
DOUTOR AUDITOR FISCAL: Eu fui repórter por uma
manhã.
CANA-DURA: Por uma manhã! Apenas por quatro horas, por
quê?
DOUTOR AUDITOR FISCAL: Porque fui despedido logo
após a minha primeira matéria.
CANA-DURA: Que matéria fatal e fulminante foi essa?
DOUTOR AUDITOR FISCAL: Foi sobre o que ocorreu com o
meu amigo Moisés.
(citando a matéria): “Pelos elementos averiguados, conclui-se
que o assassino matou para roubar. A vítima Moisés, no entanto,
felizmente havia, na véspera, depositado todo o seu dinheiro no
banco. Desse modo, não perdeu nada, exceto a vida.”
CANA-DURA: Caramba, o que é isso!
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