QUEREM MATAR JIMMY CARTER!,

É
Aqueles Senhores
pálidos e discretos*
! com imenso pesar, senhoras
e senhores, que venho a
público um pouco constrangido
mas revestido de toda a
coragem que me é - e os que
me conhecem sabem disso -
peculiar, dar a minha boaventurada:
denunciar a todos os
caros leitores que os vampiros
realmente existem.
E não só existem, como
estão dominando o mundo,
daí a razão de minha denúncia.
Como eu, muita gente sabe
que os vampiros são falsos,
hipócritas, pisam de mansi-
• nho e sorriem a cada comentário
jocoso para não despertarem
suspeitas. Se vestem a
rigor ou descontraidamente,
dependendo do ambiente que
freqüentam. Têm filhos sadios
como qualquer cidadão privilegiado
(1% da população) e se
inscrevem nos planos-da-casa-própria:
dormem muitas vezes
fora de seus caixões, pra
não despertar a curiosidade
dos leigos; comem de tudo e
sua repugnância pela comida
sadia, se existe, é velada, aparentemente
não demonstrando
nenhum -desagrado, se bem
que seja suspeita sua predileção
pela beterraba, pelo chouriço
e o bife mal passado...
além do vinho «sangue de
boi», que os mais pobres simplesmente
adoram.
Nada tenho contra eles -
meu negócio é viver e deixar
viver (logo, sou contra o Esquadrão
da Morte, não é?),
mas precisava deixar aqui minha
denúncia, antes que seja
tarde. Vamos aos fatos:
Minha mulher tem um tio
em terceiro grau que é vampiro.
Seis primos meus e mais
uma tia, que moram em Santa
Catarina são vampiros, assim
como o marido dela, para infelicidade
do nosso tronco fami-
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SYLVIO ABREU
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liar; minha secretária é vampi-
ra, como provam os próprios
dentes (e é tão flagrantemente
dominada por sua natureza
que dorme em quarto escuro,
pendurada pelos pés numa
espécie de poleiro fixado no
teto e só veste roupas pretas.
Meus amigos e clientes a cha-
mam carinhosa e sutilmente
de «viuvinha»). O gerente do
banco em que tenho conta é
vampiro declarado (graças a
denúncia do guarda do banco,
a quem ele atacou e quase lhe
mordeu a carótida); o sindico
de meu prédio é vampiro. A
mulher do sindico - por exten-
são?, olhai, feministas, me
expliquem isso direitinho! - é
vampira. De um time de fute-
bol de salão que costuma jo-
gar no aterro aos domingos,
consegui descobrir nada mais
nada menos que quatro vampi-
ros legítimos. Três choferes e
sete trocadores do ônibus
Caxias-Mauá são vampiros pe-
rigosíssimos, assim como do-
ze funcionários da Companhia
- quem diria! - Estadual de Gás
e mais dezesseis da Light. O
padre de uma paróquia próxi-
ma ao centro do Rio de Janeiro
é vampiro; dezesseis constru-
tores de alto - o que não sur-
preende - gabarito são vampi-
ros e quinze jogadores profis-
sionais de futebol de Belo Ho-
rizonte são vampiros, um dos
quais até recentemente deu
declaração em contrário nos
jornais... Para encurtar con-
versa, na minha rua, da
esquerda para a direita, entre o
quarteirão em que fica aquela
manicure até o daquele mer-
cado, há quatrocentos e vinte
e seis vampiros (alguns até
inscritos no IML, com exame
de sangue e tudo)...
Mas não fiquem alarmados
com esses dados. Não estão
organizados nem são comple-
tos. Colhi-os aleatoriamente
só para dar uma pálida páli-
da?, disse-o bem! - idéia de a
quantas anda nossa socieda-
de. Alarmem-se antes com os
dados que estão por ser levan-
tados sobre milhares, milhões
de pessoas com que vocês
mantêm contato diário. Os
vampiros enrustidos estão aí,
perambulando pelas esquinas
da vida, de óculos escuros pa-
ra esconder as olheiras boê-
mias, terno completo, rosto
muito bem barbeado e cabeli-
nho cortado rente. Acesos
por trás da palidez, vigilantes
por trás da aparente indiferen-
ça... para atacar na próxima
meia-noite, quando a barra
estiver limpíssima, não houver
na rua nem um táxi, nem um
pequeno jornaleiro para teste-
munharem...
Continuem trancando a por-
ta pra eaquecer o problema,
comodistas. Uma hora dessas
eles começam a entrar pela
TV.