QUEREM MATAR JIMMY CARTER!,

E
Aquele que era bomba.
Istava esquisito, sem
dúvida. O olhar de des-,
prezo da mulher, o medo
que sentiam os filhos e a
cara de espanto dos ami-
gos, não seria sem moti-
vo. Passava horas e horas
no banheiro, se olhando e
se medindo de cima a bai-
xo e não descobria nada.
Voltava pra sala e depara-
va com as caras de nojo,
de espanto, de medo.
Chegava no bar, pedia
uma cerveja e lá vinha o
garçon prendendo o sor-
riso com a cara mais cini-
.ca do mundo. Em volta,
todos de olho nele. Um
dia aconteceu o fato que
mais lhe irritou: ao entrar
num campo de futebol,
percebeu que despertava
mais atenção que a movi-
mentada partida. Não da-
va mais pra suportar. Saiu
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dali desesperado, correu
pra casa e se trancou no
banheiro. Ia descobrir de
qualquer jeito, naquele
momento, o que tinha de
errado ou de exagerada-
mente certo. Ficaria o
tempo que fosse preciso
trancado ali dentro. Revi-
raria a cara aos avessos,
mas acabaria descobrin-
do. Parou o olhar num
pequeno e irresponsável
fio de cabelo que lhe so-
brava no bigode:
— Não poder ser - sus-
surrou admirado - não é
possível que um fio de bi-
gode, só por estar um
pouco maior que os de-
mais, possa escandalizar
tanta gente.
Apanhou uma tesoura
e, calmamente, prenden-
do a respiração, cortou o
bichinho. Segurando o
LUlS PIMENTEL
ingênuo fio entre os de-
dos, sorriu e confiden-
ciou:
— Então foi você, seu
travesso, o causador de
tanta confusão ?!
A mulher e os filhos
estavam na sala a comen-
tar o que poderia aquele
transtornado pai de famí-
lia estar a fazer trancado
no banheiro, diante do
espelho a contemplar
aquela cara que já se tor-
nava monstruosa. Ouvi-
ram um estrondo de vi-
dros partidos, vasos
espedaçados e cabeças
quebradas. Correram pra
lá alucinadas e encontra-
ram o homem no chão, o
corpo esticado no piso de
flores, còm o pequenino
fio de cabelo na mão,
ainda soltando fumaça.