QUEREM MATAR JIMMY CARTER!,

36
[ária Tanajura tinha uma diferença com
a vida, jamais iria se conformar. Nascera
com uns avantajados de ancas, que eram
de fazer inveja em trem da Central ou
Mogiana. Uma peça do conspicua grande-
za, ostentosa, graudona mesmo. Tão fora
de esquadro era a coitada, que tivera por
prêmio o tal apelido de Tanajura, com o
qual já se conformara. Era um exagero
realmente, o bastante para desancar mula
ou cavalo.
Mas o tamanho não era o único proble-
ma apresentado pela peça, o balançar,
este sim, costumava ser um grande estor-
vo na vida da moça. No andar a peça era
exageradamente buliçosa, jogava para lá e
para cá. lembrando ó jogo das águas em
alto mar. E nesa semelhança deixou muita
gente com enjôo da niaresia, pormenor
que atraiu ainda um catdume de marujos
com saudade de navegações passadas.
Certa feita deu-se uma tragédia, que
veio acarretar aborrecimentos grandes e
pequenos, numa seqüência sofrida e hu-
milhante, para a pobre mulher. Deu-se que
ao tentar passar pela roleta de um coletivo,
viu-se entalada de tal modo desajeitado,
que não houve mão ou mãozinha que des-
se jeito. Foi na base do empurra aqui e
puxa lá, que deram entrada na oficina da
empresa, onde foi preciso serrar com ma-
çarico os ferros e ferrinhos da peça (a
roleta, è claro).
Esta operação foi feita ao som do pala-
vrório de baixo calão, que a Maria fazia
escapar pelo vão escancarado da boca,
derramando sob a progenilora dos presen-
tes,dos quais nemumao menos deixou de
ser louvado. Acabada a missão do maçari-
co dona Maria Tanajura estava altamente
Coletivo
avariada das partes. Mas isso não ficaria
assim, isso é que não. Onde já se tinha
visto tamanho desrespeito. O que é que
estavam pensando? E foi sob tais protes-
tos que a Maria arrastou para a delegacia,
para mais de dúzia e meia de funcionários
e passageiros, além de alguns curiosos.
Para Maria poder entrar na sala do Delega-
do, tiveram que ser retiradas duas escriva-
ninhas e um investigador.
Deu-se então a discussão, uns defen-
dendo os avantajados da Tanajura, en-
quanto outros defendiam a empresa. Cada
qual de justificativa em punho.
O coletivo não tem condições de segu-
rança para os passageiros-dizia ela en-
quanto exigia a prisão preventiva para os
proprietários.
Por seu lado o cobrador dizia residir a
culpa no supérfluo da vitima, não tendo
cabimento tamanho exagero e uma só pes-
soa, só vendo como ficou a roleta, uma
sucata. Foi ao cabo dessas palavras que o
distintovooú 'de gaivota pela janela, no
embalo de um tremendo sopapo, indo bei-
jar o asfalto com estragos mil na focinhei-
ra.
Na distribuição gratuita de pancadas
saiu gente por tudo quanto era buraco, até
dentro da jaula dos presos foi encontrada
gente fugida da fera.
Depois de muita luta e muita cabeça
quebrada a mulher foi acalmada. Olhou
para o delegado encolhidinho em seu gabi-
nete, todo trêmulo e gaguejante.
Esteja a vontade.senhorita-disse a auto-
ridade.
Ela então esboçou um sorriso sem jeito,
puxou duas cadeiras e sentou-se.