Ensinar com afecto O segredo do bom professor - Página
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28<br />
a página<br />
da educação<br />
julho 2003<br />
olhares de fora<br />
RIO acima<br />
José M. A. Carvalho<br />
EB1 Serapicos Nº2<br />
Valpaços<br />
alves-carvalho@clix.pt<br />
solta<br />
VAMOS ULTRAPASSAR O PELOTÃO DA FRENTE. VAMOS PARA A CABEÇA DA CORRIDA.<br />
OS JOVENS PORTUGUESES VÃO TER DE FAZER UMA DÚZIA DE ANOS NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA.<br />
Foi <strong>com</strong> galhardia, regozijo, pompa<br />
e alguma petulância que as altas<br />
instâncias governativas anunciaram<br />
que os nossos jovens terão que<br />
passar 12 anos na escola. Nem outra<br />
pose se justificaria para tão nobre<br />
desígnio. O Rei D. Manuel I terá<br />
si<strong>do</strong> mais modesto quan<strong>do</strong> anunciou<br />
que era Rei de Portugal, <strong>do</strong>s Algarves,<br />
d’Aquém e d’Além Mar em<br />
África.<br />
Idêntica pose terá si<strong>do</strong> assumida<br />
quan<strong>do</strong> alguém anunciou vários outros<br />
desígnios tão ou mais nobres<br />
que aquele: acesso à saúde; estruturas<br />
desportivas e lazer; estradas e<br />
auto-estradas a ligar o litoral português<br />
<strong>com</strong> o interior não se sabe se<br />
português ou “espanholês”; etc. No<br />
entanto, apesar das melhorias das<br />
últimas décadas, das salas e listas<br />
de espera de muitos estabelecimentos<br />
de saúde, ainda escorrem rios<br />
de paciência e desespero; nas ditas<br />
estradas escorre o sangue <strong>do</strong>s incautos<br />
e outras vítimas da sua própria<br />
incúria mas também <strong>do</strong>s traça<strong>do</strong>s<br />
mal concebi<strong>do</strong>s; da criação de<br />
estruturas desportivas chegam-nos<br />
realizações megalómanas e organizações<br />
de grandes eventos a nível<br />
internacional para interesse de uns,<br />
gáudio de outros e capricho de outros<br />
mais, mas nunca pensan<strong>do</strong> que<br />
Mais da metade <strong>do</strong>s imigrantes não<br />
<strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong>s da Europa Ocidental<br />
- estima<strong>do</strong>s entre 250 e 350 mil -,<br />
candidatos, na sua maioria, ao asilo<br />
político, estão na prática reféns <strong>do</strong><br />
seu estatuto ilegal devi<strong>do</strong> ao crescente<br />
controlo fronteiriço implanta<strong>do</strong><br />
para <strong>com</strong>bater o terrorismo, refere<br />
um estu<strong>do</strong> da Universidade das<br />
Nações Unidas divulga<strong>do</strong> no Dia<br />
Mundial <strong>do</strong> Refugia<strong>do</strong>. "O rápi<strong>do</strong><br />
aumento deste trânsito humano re-<br />
ainda há milhares de jovens e cidadãos<br />
que querem e têm necessidade<br />
de praticar qualquer modalidade<br />
desportiva ou de outra forma passar<br />
os seus tempos livres e não têm<br />
onde, ou se têm, não há quem os<br />
oriente.<br />
Mediante estas brechas, entre<br />
outras que merecem análise específica,<br />
algumas questões legitimamente<br />
se impõem:<br />
• A escolaridade obrigatória até<br />
ao 12º ano é mais uma obra<br />
para arranjar a fachada ou uma<br />
injecção de betão nos alicerces?<br />
• Os jovens vão andar 12 anos na<br />
escola a passear os livros, importunar<br />
os pais, <strong>professor</strong>es e<br />
funcionários, a gastar dinheiro<br />
aos contribuintes? Ou vão frequentá-las<br />
<strong>com</strong> efectivo interesse<br />
e resulta<strong>do</strong>s justificativos<br />
<strong>do</strong> investimento feito?<br />
• Quan<strong>do</strong> chegarem ao fim <strong>do</strong><br />
académico percurso, vão direitinhos<br />
para a universidade, para<br />
as fábricas, para esta ou<br />
aquela empresa? Ou vão bater<br />
à porta <strong>do</strong> Centro de Emprego?<br />
• Serão encontradas soluções<br />
para a enorme diversidade de<br />
capacidades e vocações de milhões<br />
de crianças e jovens? Ou<br />
Imigração<br />
Luta antiterrorista alimenta a imigração ilegal<br />
flecte, em parte, uma inesperada<br />
consequência das políticas restritivas<br />
de asilo", afirma Khalid Koser,<br />
um <strong>do</strong>s autores <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento.<br />
"O início da guerra contra o terrorismo,<br />
bem <strong>com</strong>o outros factos a<br />
este associa<strong>do</strong>s, fecharam as portas<br />
a muita gente que precisa de refúgio<br />
por causa de problemas políticos<br />
ou religiosos, conflitos e violência",<br />
acrescenta Hans Van Ginkel,<br />
reitor daquela universidade, criada<br />
continuaremos <strong>com</strong> os inconsequentes<br />
currículos alternativos<br />
para os “incapacita<strong>do</strong>s”, o<br />
deixa-andar para os médios e<br />
o afinamento <strong>com</strong> explicações<br />
para os outros?<br />
• Os programas e os manuais escolares<br />
que os apoiam, continuarão<br />
a ser ambiciosos e concebi<strong>do</strong>s<br />
para uma camada privilegiada?<br />
Ou optar-se-á pela<br />
simplificação privilegian<strong>do</strong> a<br />
qualidade e exigir-se-á às editoras,<br />
manuais menos maçu<strong>do</strong>s<br />
que promovam mais a autonomia<br />
<strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>s alunos?<br />
• Continuaremos <strong>com</strong> um ensino<br />
livresco e abstracto? Ou serão<br />
criadas condições para que se<br />
possa fazer uma constante ligação<br />
à realidade e ao concreto?<br />
• Os <strong>professor</strong>es e funcionários<br />
passarão a poder exercer o seu<br />
direito ao respeito e à dignidade?<br />
Ou continuaremos a ter<br />
que suportar a rebeldia, o desinteresse,<br />
a insolência e as<br />
ameaças de muitos alunos e<br />
até de alguns encarrega<strong>do</strong>s de<br />
educação?<br />
• Os alunos poderão continuar a<br />
dissimular o seu laxismo nos<br />
magotes de 30 alunos por tur-<br />
há 30 anos para estudar os problemas<br />
da <strong>com</strong>unidade internacional.<br />
Edward Newman, outro autor <strong>do</strong><br />
trabalho, refere, por seu la<strong>do</strong>, que as<br />
rígidas políticas de emigração ocidentais<br />
reflectem a preocupação de<br />
que os exila<strong>do</strong>s sejam fonte de instabilidade<br />
e potencial origem <strong>do</strong> terrorismo<br />
mas, sublinha, "existem<br />
poucas evidências desta ligação".<br />
Desde os ataques <strong>do</strong> 11 de Setembro,<br />
cujos autores entraram nos<br />
Ana Alvim_isto é<br />
ma? Ou houve já alguma mente<br />
iluminada que finalmente concluiu<br />
que isso é um enorme factor<br />
de insucesso <strong>do</strong>cente e discente?<br />
• E já que estão a pensar mexer<br />
na Lei de Bases: alguém já pensou<br />
em criar um ano 0, antes <strong>do</strong><br />
1º ano de escolaridade? Não se<br />
esqueçam que <strong>com</strong> bases sólidas<br />
também se <strong>com</strong>bate o insucesso<br />
<strong>do</strong>s ciclos seguintes.<br />
• Justificar-se-á um alargamento<br />
até ao 12º ano? Ou deveria antes<br />
optar-se por colmatar as<br />
inúmeras lacunas que ainda<br />
existem nos actuais 9 anos?<br />
Fica lança<strong>do</strong> o mote para o debate,<br />
esperan<strong>do</strong> que dele saia uma solução<br />
que contribua para a formação<br />
de cidadãos cultos, responsáveis<br />
e capazes de manter este edifício<br />
sóli<strong>do</strong>, harmónico e funcional<br />
tanto por fora <strong>com</strong>o por dentro. Depois<br />
então faça-se a festa e venham<br />
to<strong>do</strong>s discursar e aplaudir regozijadamente,<br />
mas desta vez <strong>com</strong> motivos<br />
para isso.<br />
Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s <strong>com</strong>o estudantes, o<br />
grupo de imigrantes mais afecta<strong>do</strong><br />
no que diz respeito à política de admissão<br />
naquele país foi o de refugia<strong>do</strong>s<br />
"reassenta<strong>do</strong>s", ou seja, aqueles<br />
que procuram um terceiro país para<br />
se estabelecer, diz ainda o estu<strong>do</strong>.<br />
Fonte: AFP