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Ensinar com afecto O segredo do bom professor - Página

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48<br />

a página<br />

da educação<br />

julho 2003<br />

DA CIÊNCIA<br />

e da vida<br />

Rui Namora<strong>do</strong> Rosa<br />

magma@netc.pt<br />

Universidade de Évora<br />

FOTO ciência<br />

<strong>com</strong> legenda<br />

Luís Tirapicos<br />

Os conceitos de tempo e de memória<br />

são inseparáveis, sem memória não<br />

haveria tempo. O passa<strong>do</strong> pressupõe<br />

uma memória já preenchida, o futuro é<br />

uma memória por preencher ainda; e o<br />

presente tem uma acepção cujo valor é<br />

apenas subjectivo.<br />

O tempo tem um senti<strong>do</strong> mas os<br />

acontecimentos exibem recorrência.<br />

Senti<strong>do</strong> e recorrência também só aparentemente<br />

são contraditórios; inicio e<br />

termo de um ciclo não se equivalem,<br />

porque justamente há memória; correspondem-se<br />

num percurso de evolução<br />

mais longo.<br />

Existem ciclos astronómicos - diurno,<br />

lunar e anual - que condicionam e<br />

organizam a vida biológica e social <strong>do</strong><br />

homem. Existem ciclos biológicos -<br />

diurno, sazonal e geracional - bem <strong>com</strong>o<br />

ciclos socio-culturais - jornada,<br />

semana e ritos - que são a substância<br />

mesma da vida <strong>do</strong> homem ser individual<br />

e colectivo. E existem também ciclos<br />

astronómicos milenares (os ciclos<br />

de Milankovitch) que, determinan<strong>do</strong><br />

variações climáticas longas, por sua<br />

vez determinaram longas migrações e<br />

profundas mudanças culturais (perío<strong>do</strong>s<br />

glaciares e interglaciares <strong>do</strong> Pleistocénico).<br />

Foi no termo da última glaciação<br />

e durante a ulterior relativa estabilização<br />

climática que tem vigora<strong>do</strong><br />

até ao presente (Holocénico), que<br />

ocorreram primeiro a transição mesolítica<br />

e depois a revolução neolítica.<br />

Irreversibilidade ou o tempo<br />

assimétrico<br />

Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX foi-se insinuan<strong>do</strong><br />

e impon<strong>do</strong> no conhecimento<br />

científico o conceito de irreversibilidade.<br />

No <strong>do</strong>mínio da Mecânica, a ciência<br />

moderna por excelência desde o dealbar<br />

<strong>do</strong> século XVII, o modelo da Filosofia<br />

Natural cuja evolução tanto influenciou<br />

a marcha de pensamento filosófico,<br />

reversibilidade era aceite e<br />

significava a simetria <strong>do</strong> tempo físico<br />

(<strong>do</strong> movimento <strong>do</strong>s corpos eternos no<br />

Maternidade<br />

estelar<br />

O tempo [2]<br />

RETEMOS A PERCEPÇÃO DE UM INSTANTE, EXPERIMENTAMOS<br />

UMA SUCESSÃO DE INSTANTES E CONSTATAMOS UMA<br />

PERSISITÊNCIA. O TEMPO É PERCEPCIONADO COMO SENDO<br />

ASSIMÉTRICO E TRANSITIVO, OFERECE-SE A UMA ABORDAGEM<br />

OBJECTIVA E MATEMÁTICA. A REALIDADE COMPORTA<br />

TRANSFORMAÇÃO E CONSERVAÇÃO, CONCEITOS QUE SÓ<br />

APARENTEMENTE SÃO CONTRADITÓRIOS COMO SE VERÁ,<br />

AMBOS CORRESPONDEM A MANIFESTAÇÕES<br />

(OU APENAS ENUNCIADOS) DE UMA ÚNICA REALIDADE,<br />

COM O TEMPO SUBJACENTE.<br />

espaço infinito) e metafísico (<strong>do</strong>s elementos,<br />

das substâncias ou <strong>do</strong>s seres<br />

no universo). Mas o <strong>do</strong>mínio filosófico<br />

era campo fértil de contradições. A assimetria,<br />

por seu la<strong>do</strong>, era reconhecida<br />

no ordenamento entre causa e efeito<br />

(sem em absoluto negar uma eventual<br />

reciprocidade entre estes), era reconhecida<br />

entre os actos de percepção<br />

e de cognição (“eu penso logo<br />

existo”) e seria mesmo uma necessidade<br />

ao aceitar ou procurar um senti<strong>do</strong><br />

teleológico nos acontecimentos.<br />

Uma síntese entre simetria e assimetria<br />

parecia necessária.<br />

Adriano Rangel_isto é<br />

Irreversibilidade teve e tem vários<br />

enuncia<strong>do</strong>s e manifesta-se em to<strong>do</strong>s<br />

os <strong>do</strong>mínios. No <strong>do</strong>mínio das Ciências<br />

Exactas, a consistência entre o<br />

senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> tempo observa<strong>do</strong> em varia<strong>do</strong>s<br />

fenómenos físicos (<strong>com</strong>o a difusão,<br />

a propagação de ondas ou o<br />

decaimento radioactivo) veio a conferir<br />

um senti<strong>do</strong> universal ao tempo. O<br />

Segun<strong>do</strong> Princípio da Termodinâmica<br />

veio a fixar uma relação determinada<br />

entre forças e fluxos que implicitamente<br />

fixa um senti<strong>do</strong> para o correr<br />

<strong>do</strong> tempo. De um outro ponto de vista<br />

e por outras palavras, a “conserva-<br />

Foto: NASA, ESA e J. Hester. Julho, 2003<br />

ção” de energia não nega antes se<br />

<strong>com</strong>pleta <strong>com</strong> o reconhecimento da<br />

“transformação” da sua qualidade, a<br />

dita “dissipação” de energia. O conceito<br />

de entropia (Ru<strong>do</strong>lph Clasius,<br />

1865) foi então concebi<strong>do</strong> para aferir<br />

essa qualidade, conceito fecun<strong>do</strong>,<br />

hoje corrente em diversos <strong>do</strong>mínios<br />

<strong>do</strong> conhecimento (e ocasionalmente<br />

abusa<strong>do</strong>). Sinteticamente, o crescimento<br />

da entropia aponta o senti<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> tempo, a seta <strong>do</strong> tempo.<br />

Este Segun<strong>do</strong> Princípio entra em<br />

rotura <strong>com</strong> o conhecimento fixa<strong>do</strong> na<br />

Mecânica newtoniana, segun<strong>do</strong> a qual<br />

o movimento <strong>do</strong>s corpos é reversível<br />

num tempo simétrico. Essa rotura implicou<br />

o reconhecimento que corpos<br />

extensos, <strong>com</strong>postos por inúmeras<br />

partes elementares, manifestam propriedades<br />

não existentes ou perceptíveis<br />

nessas partes elementares quan<strong>do</strong><br />

consideradas separadamente. O<br />

to<strong>do</strong> não se reduz à soma das partes,<br />

pois que novas grandezas e novas<br />

propriedades emergem <strong>do</strong> to<strong>do</strong>; a<br />

contradição entre os mun<strong>do</strong>s microscópico<br />

e o macroscópico era pois aparente,<br />

isto é, superável. E, demonstran<strong>do</strong><br />

a conciliação entre as leis reversíveis<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> microscópico <strong>com</strong> as<br />

leis irreversíveis <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> macroscópico,<br />

as propriedades médias e as flutuações<br />

<strong>do</strong>s corpos em esta<strong>do</strong> de<br />

equilíbrio gozam e exibem permanência<br />

e reversibilidade. Só em 1998, no<br />

CERN e no Fermi Lab, viria a ser confirmada<br />

a quebra de simetria <strong>do</strong> tempo<br />

á escala microscópica, concretamente<br />

no <strong>com</strong>portamento de certas partículas<br />

elementares, o que havia trinta<br />

anos se suspeitava já, em resulta<strong>do</strong> da<br />

então descoberta quebra de simetria<br />

carga-paridade; esta quebra de simetria<br />

será responsável pela prevalência<br />

da matéria sobre a antimatéria no universo.<br />

Quer dizer que a seta <strong>do</strong> tempo<br />

também existe à escala microscópica,<br />

embora <strong>com</strong> pequeníssima expressão,<br />

mas <strong>com</strong> enorme consequência à escala<br />

<strong>do</strong> tempo cósmico. Enfim, poderse-á<br />

dizer que o mun<strong>do</strong> existe <strong>com</strong>o é<br />

Esta imagem, obtida pelo Telescópio<br />

Espacial Hubble, mostra um plano<br />

aproxima<strong>do</strong> da Nebulosa M17, na<br />

constelação <strong>do</strong> Sagitário (que dista 5<br />

500 anos-luz da Terra). Aqui se podem<br />

observar estruturas em forma de casu-<br />

lo que se julga serem locais de forma-<br />

ção de novas estrelas. Os gases den-<br />

sos e frios da nebulosa estão a ser ilu-<br />

mina<strong>do</strong>s e aqueci<strong>do</strong>s pela radiação e<br />

pelos ventos que emanam de estrelas<br />

quentes e jovens nas proximidades.<br />

Estas estrelas encontram-se fora da<br />

imagem, para além <strong>do</strong> canto superior<br />

esquer<strong>do</strong>.

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