17.04.2013 Views

Ensinar com afecto O segredo do bom professor - Página

Ensinar com afecto O segredo do bom professor - Página

Ensinar com afecto O segredo do bom professor - Página

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

08<br />

a página<br />

da educação<br />

julho 2003<br />

fórum educação<br />

TECNOLOGIAS<br />

Ivonal<strong>do</strong> Leite<br />

Universidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte,<br />

UERN. Brasil.<br />

SUBLINHADO<br />

João Rita<br />

O QUE PASSOU A ACONTECER NOS ÚLTIMOS TEMPOS, ONDE AS NOVAS RETÓRICAS SOBRE EDUCAÇÃO E TRABALHO SÃO<br />

EMBLEMÁTICAS, É QUE O DISCURSO GESTIONÁRIO ABSORVEU AS FORMULAÇÕES PRODUZIDAS PELOS DISCURSOS ALTERNATIVOS.<br />

Se é verdade que, ao contrário <strong>do</strong><br />

que pensam os <strong>do</strong>gmáticos, as formulações<br />

teóricas não são impermeáveis<br />

às modificações e, trocan<strong>do</strong><br />

de pena <strong>com</strong>o só acontece <strong>com</strong><br />

ideias-força, permanecem vivas noutros<br />

contextos ou <strong>com</strong> outras cores,<br />

nem sempre contu<strong>do</strong> isto resulta da<br />

tensão dialéctica que a gula pela<br />

busca de novas sínteses conceptuais<br />

desperta. As transmutações<br />

também podem revelar-se fraudulentas.<br />

A este respeito, os novos discursos<br />

sobre educação e trabalho são<br />

um exemplo paradigmático.<br />

Não é necessário repisar muitos<br />

da<strong>do</strong>s - ten<strong>do</strong>-se ainda os impedimentos<br />

para tal num artigo <strong>com</strong>o<br />

este - no senti<strong>do</strong> de demonstrar<br />

que, nos últimos tempos, se tem<br />

verifica<strong>do</strong> uma intensa metamorfose<br />

discursiva no campo temático educação<br />

& trabalho. Trata-se de um<br />

processo, nos contextos de trabalho,<br />

que aprisiona a dimensão social<br />

das novas tecnologias e utiliza a<br />

flexibilidade que elas proporcionam<br />

<strong>com</strong>o forma de instituir um gerir cuja<br />

lógica pre<strong>do</strong>minante, globalmente,<br />

é a apropriação privada <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />

obti<strong>do</strong>s. Entretanto, este<br />

mo<strong>do</strong> de gerir flexível não se coadune<br />

<strong>com</strong> as categorias discursivas<br />

No Iraque, sob a actual administração<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América,<br />

as forças militares ocupantes<br />

pulverizaram, <strong>com</strong> misseis, uma coluna<br />

de automóveis onde poderiam<br />

viajar Saddam Hussein e os seus<br />

<strong>do</strong>is filhos mais chega<strong>do</strong>s.<br />

O ataque foi tão devasta<strong>do</strong>r que os<br />

serviços secretos norte-americanos<br />

tiveram de fazer testes ao ADN <strong>do</strong>s<br />

cadáveres para eventual confirmação<br />

(ainda não divulgada) da morte de<br />

que tradicionalmente deram expressão<br />

às relações no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho.<br />

É por esta via que surge a metamorfose<br />

retórica.<br />

Sabe-se que o estilo de gestão<br />

tradicionalmente consagra<strong>do</strong>, à taylorismo,<br />

preza por relações mecânicas<br />

e repetitivas, sem margem para<br />

movimentos autónomos. Mais ainda,<br />

no passa<strong>do</strong>, era difícil dissociar<br />

as organizações de grandes aparatos<br />

burocráticos, <strong>com</strong> hierarquias ri-<br />

gidamente estruturadas. Aliás, o<br />

próprio Esta<strong>do</strong>, nos regimes totalitários,<br />

era isto. Tal configuração foi<br />

tomada em consideração por análises<br />

sociológicas de cariz weberiano,<br />

ten<strong>do</strong> estas si<strong>do</strong> popularizadas<br />

sobretu<strong>do</strong>, nos anos 1940-1960,<br />

pela crítica trotskista aos aparelhos<br />

de Esta<strong>do</strong> totalitários. Isto é, a rejeição<br />

à rigidez hierárquica e a defesa<br />

de categorias <strong>com</strong>o autonomia,<br />

criatividade e participação emergem<br />

inscritas no mapa <strong>do</strong>s discursos al-<br />

ternativos, não institucionaliza<strong>do</strong>s,<br />

sen<strong>do</strong> elas porta<strong>do</strong>ras de uma lógica<br />

que não se reduz à sua mera designação<br />

abstracta, pois têm a intencionalidade<br />

de construir novas<br />

relações de sociabilidade e estruturar<br />

novas dinâmicas políticas.<br />

Todavia, o que passou a acontecer<br />

nos últimos tempos, onde as novas<br />

retóricas sobre educação e trabalho<br />

são emblemáticas, é que o<br />

discurso gestionário absorveu as<br />

NOÇÕES <strong>com</strong>o a de trabalho em equipa e de formação polivalente,<br />

longe de representarem autonomia, no senti<strong>do</strong> daquele/a que se governa<br />

por si próprio/a (…) e formação integral, no que concerne às múltiplas<br />

dimensões ontológicas, pelo contrário, consubstanciam subtis estratégias<br />

de centralização-descentralizante e de formação unidimensional…<br />

formulações produzidas pelos discursos<br />

alternativos, o que o fazen<strong>do</strong><br />

<strong>com</strong>o instância normativa, evidentemente<br />

as depura da intencionalidade<br />

que lhes fornece conteú<strong>do</strong>. E é<br />

assim que os novos discursos sobre<br />

educação e trabalho revelam-se <strong>com</strong>o<br />

uma falsificação da cópia.<br />

Dessa maneira, noções <strong>com</strong>o a<br />

de trabalho em equipa e de formação<br />

polivalente, longe de representarem<br />

autonomia, no senti<strong>do</strong> daquele/a<br />

que se governa por si próprio/a<br />

Morte preventiva no Iraque<br />

Saddam e filhos. Os alvos teriam si<strong>do</strong><br />

identifica<strong>do</strong>s por escuta telefónica.<br />

Ao que parece, os serviços secretos<br />

norte-americanos terão intercepta<strong>do</strong><br />

conversas telefónicas, via satélite,<br />

que indiciariam a presença de<br />

Saddam no <strong>com</strong>boio de automóveis<br />

que viria a ser <strong>bom</strong>bardea<strong>do</strong>. Na dúvida,<br />

a opção foi o ataque devasta<strong>do</strong>r.<br />

As forças militares ocupantes <strong>do</strong><br />

Iraque dispararam a matar antes de<br />

saber quem seguia nos automóveis<br />

transforma<strong>do</strong>s em alvo. Mesmo que<br />

um <strong>do</strong>s passageiros fosse Saddam<br />

Hussein, seria sempre mais civiliza<strong>do</strong><br />

julgá-lo antes de o executar numa<br />

morte inapelável.<br />

Que diferença existe entre um acto<br />

desta natureza e a explosão de um<br />

carro armadilha<strong>do</strong>, contra incertos,<br />

numa qualquer capital de um país<br />

ocidental? Tu<strong>do</strong> isto é assusta<strong>do</strong>r...<br />

Tu<strong>do</strong> isto é tão assusta<strong>do</strong>r que<br />

até parece legítimo sentir me<strong>do</strong> a<br />

Adriano Rangel_isto é<br />

– o que, decerto, pressupõe atenção<br />

aos universos <strong>do</strong> cooperativismo e<br />

da autogestão –, e formação integral,<br />

no que concerne às múltiplas<br />

dimensões ontológicas, pelo contrário,<br />

consubstanciam subtis estratégias<br />

de centralização-descentralizante<br />

e de formação unidimensional,<br />

<strong>com</strong>promissada esta <strong>com</strong> padrões<br />

societais que são apresenta<strong>do</strong>s sem<br />

que se tenha possibilidade de se discutir<br />

a pertinência da opção por eles.<br />

Portanto, operan<strong>do</strong> <strong>com</strong> elaborações<br />

que são originárias das perspectivas<br />

alternativas, os novos discursos<br />

sobre educação e trabalho se<br />

enformam <strong>com</strong> categorias que os<br />

contradizem, não só por elas serem<br />

exógenas a eles, mas fundamentalmente<br />

por terem si<strong>do</strong> constituídas<br />

<strong>com</strong> uma intencionalidade que é in<strong>com</strong>patível<br />

<strong>com</strong> as pressuposições<br />

<strong>do</strong>s mesmos.<br />

Por assim ser, apesar de os novos<br />

discursos sobre a relação educação<br />

e trabalho recorrem aos mais<br />

varia<strong>do</strong>s recursos retóricos, eles<br />

não conseguem ocultar o seu carácter<br />

perante uma abordagem sócio-histórica.<br />

Apoiada na objectividade.<br />

Analiticamente, esta nos diz o<br />

que as coisas são: uma falsificação<br />

da cópia.<br />

sublinhar notícias que possam desagradar<br />

a quem, <strong>com</strong>o a administração<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da América,<br />

tem o absoluto poder da vida e<br />

da morte sobre os outros.<br />

Sensivelmente na mesma altura,<br />

o presidente <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s da<br />

América insinuava que a coligação<br />

ocupante <strong>do</strong> Iraque não encontrou<br />

armas de destruição no país porque<br />

os iraquianos as teriam destruí<strong>do</strong><br />

antes da guerra <strong>com</strong>eçar.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!