Ensinar com afecto O segredo do bom professor - Página
Ensinar com afecto O segredo do bom professor - Página
Ensinar com afecto O segredo do bom professor - Página
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
04<br />
a página<br />
da educação<br />
julho 2003<br />
fórum educação<br />
EDUCAÇÃO<br />
desportiva<br />
Manuel Sérgio<br />
Universidade<br />
Técnica de Lisboa<br />
dia-a-dia<br />
Da Educação Física à Educação Desportiva<br />
NÃO SEI DE NINGUÉM QUE, COM TANTA FRONTALIDADE E SIMULTANEAMENTE COM PRUDENTE ATITUDE CRÍTICA, TENHA<br />
ESCRITO QUE A DISCIPLINA ESCOLAR DE EDUCAÇÃO FÍSICA (EF) SE ENCONTRA «NUMA PROFUNDA CRISE DE IDENTIDADE<br />
E DE CREDIBILIDADE EDUCATIVA E SOCIAL».<br />
O artigo que o Doutor Gustavo Pires<br />
escreveu em O Desporto de Madeira<br />
(6 a 12 de Junho de 2003) há-de<br />
“fazer história”. Com efeito, não sei<br />
de ninguém que, <strong>com</strong> tanta frontalidade<br />
e simultaneamente <strong>com</strong> prudente<br />
atitude crítica, tenha escrito<br />
que a disciplina escolar de Educação<br />
Física (EF) se encontra “numa<br />
profunda crise de identidade e de<br />
credibilidade educativa e social”.<br />
Com efeito, “o desporto tem vin<strong>do</strong> a<br />
assumir-se <strong>com</strong>o o instrumento pedagógico<br />
e a própria substância da<br />
EF”. E se assim é; e se o discurso<br />
não é uma realidade petrificada e<br />
inerte, pois que deve transformar-se<br />
ao próprio ritmo da transformação<br />
<strong>do</strong> conhecimento e da sociedade –<br />
é evidente que não há EF, mas sim<br />
Educação Desportiva (ED). Continuar<br />
<strong>com</strong> a expressão EF será pretender<br />
estancar a imparável revolução<br />
paradigmática que atravessa<br />
actualmente as ciências. Eu sei que<br />
há gente na EF (não são muitos, felizmente)<br />
que se sente bem no ambiente<br />
remansoso de meia dúzia de<br />
práticas que se vão perpetuan<strong>do</strong> e<br />
definhan<strong>do</strong>, em benefício <strong>do</strong> seu <strong>com</strong>odismo,<br />
quer físico, quer intelectual.<br />
Eu sei que o Gustavo Pires, o<br />
André Escórcio e eu mesmo temos<br />
de pagar um tributo quase inevitável,<br />
exigi<strong>do</strong> em todas as épocas,<br />
aos que não afinem pelo diapasão<br />
de um corporativismo obsoleto e<br />
medíocre. De facto, nós proclamamos<br />
que nem cientifica, nem pedagogicamente<br />
existe qualquer educação<br />
de físicos; que a expressão<br />
EF se acha incrustada numa ambiência<br />
social onde o estu<strong>do</strong> desta<br />
04.06<br />
Governo admite<br />
liberalizar o Superior<br />
Dentro de três anos o sector <strong>do</strong> ensino<br />
superior público poderá ser liberaliza<strong>do</strong>,<br />
caso seja essa a vontade<br />
<strong>do</strong>s reitores e presidentes <strong>do</strong>s<br />
politécnicos. O mesmo é dizer que<br />
para além da definição das propinas,<br />
seriam as instituições a definir -<br />
sem uma intervenção regula<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />
Esta<strong>do</strong> - o número de vagas disponíveis<br />
em cada curso.<br />
matéria não é conheci<strong>do</strong>; que a EF<br />
deve morrer o mais rapidamente<br />
possível para surgir no seu lugar<br />
uma nova área científica que mereça<br />
<strong>do</strong>s “homens de ciência” credibilidade,<br />
respeito e admiração.<br />
Falava eu, há pouco, <strong>com</strong> um<br />
<strong>professor</strong> da Faculdade de Medicina<br />
da Universidade de Coimbra que<br />
me perguntava pormenores sobre a<br />
minha tese, acerca da ciência da<br />
motricidade humana (CMH). Disselhe<br />
os caminhos epistemológicos<br />
que delineei para chegar a uma teoria<br />
que tenho <strong>com</strong>posto <strong>com</strong> alguma<br />
originalidade, embora os limites<br />
<strong>do</strong> meu mingua<strong>do</strong> saber. E que,<br />
mesmo assim, já merece teses de<br />
<strong>do</strong>utoramento e mestra<strong>do</strong>, tanto em<br />
Portugal <strong>com</strong>o no estrangeiro. Ele<br />
ouviu-me e pouco habitua<strong>do</strong> às estupefacções<br />
<strong>do</strong> senso <strong>com</strong>um, inquiriu:<br />
“Conhece os currículos <strong>do</strong>s<br />
cursos de Medicina?”. E eu sem me<br />
esquivar à resposta: “Conheço muito<br />
mal”. E ele: “Também em Medicina<br />
há a disciplina de medicina física<br />
que significa um aspecto <strong>do</strong>s múltiplos<br />
olhares em que a Medicina pode<br />
ser observada, é uma disciplina<br />
ao la<strong>do</strong> das outras. Por analogia,<br />
enten<strong>do</strong> que a EF não pode representar<br />
a totalidade de uma área<br />
científica, designadamente uma<br />
ciência humana. As pessoas humanas<br />
não são apenas físicos”. Tenho<br />
05.06<br />
Agravamento recorde<br />
<strong>do</strong> desemprego atinge<br />
7,3 por cento<br />
Portugal é o país da União Europeia<br />
que registou a maior taxa de desemprego,<br />
que já atinge 7,3 por cento no<br />
mês de Abril, segun<strong>do</strong> números publica<strong>do</strong>s<br />
pelo Eurostat, voltan<strong>do</strong> a<br />
ser a economia <strong>com</strong> o pior desempenho<br />
neste indica<strong>do</strong>r. De acor<strong>do</strong><br />
<strong>com</strong>o Eurostat, a proporção <strong>do</strong>s desemprega<strong>do</strong>s<br />
manteve-se em 8,8<br />
por cento, enquanto que na União<br />
Europeia a taxa piorou 1 ponto, até<br />
aos 8,1%, o que em termos absolutos<br />
representa 12,4 milhões e 14,3<br />
milhões de pessoas sem trabalho,<br />
consulta<strong>do</strong> febrilmente livros atrás<br />
de livros que se ocupam da EF e, ou<br />
encontro uma cultura estruturada<br />
<strong>com</strong> certa precipitação ou uma indigência<br />
intelectual que aflige. Não<br />
ponho em causa a honestidade de<br />
quem escreve. Lastimo a vetustez<br />
das ideias onde se fundamentam.<br />
Uma insaciável curiosidade e menor<br />
absentismo eram suficientes para a<br />
EF ser contemplada, no museu das<br />
frases feitas das palavras-de-ordem<br />
e respeitada pela luta admirável de<br />
uma classe profissional em prol <strong>do</strong><br />
seu estatuto, na sociedade.<br />
Conheci no Brasil o alemão Reiner<br />
Hildebradt-Stramann, <strong>do</strong>utor<br />
em Desporto e <strong>professor</strong> titular da<br />
Universidade Técnica de Braunschweig,<br />
na Alemanha. A Editora<br />
OS IMPROPRIAMENTE chama<strong>do</strong>s <strong>professor</strong>es<br />
de educação física são imprescindíveis na escola,<br />
no trabalho, na saúde, no lazer, precisamente porque<br />
não trabalham físicos, mas a motricidade humana, ou seja, pessoas.<br />
UNIJUI (Rio Grande <strong>do</strong> Sul) traduziu,<br />
para português, em 2001, o seu<br />
livro Textos Pedagógicos sobre o<br />
Ensino da Educação Física. Nele<br />
pode ler-se: “O conceito de esporte<br />
<strong>com</strong>o assunto principal <strong>do</strong> ensino,<br />
frequentemente qualifica<strong>do</strong> <strong>com</strong>o<br />
conteú<strong>do</strong> das aulas de Educação<br />
Física, determina, precisamente, de<br />
forma indiscutível, o transcorrer<br />
dessas aulas” (p.21). Este autor é<br />
um, ao la<strong>do</strong> de muitos, que desiludem<br />
os que defendem as aulas de<br />
EF, ao jeito tradicional, e presenteiam<br />
a nossa sociedade <strong>com</strong> uma<br />
fácil e falsa via de acesso à creduli-<br />
dade ansiosa <strong>do</strong>s que pretendem<br />
um rápi<strong>do</strong> bem-estar e outros ardis<br />
para esconder que a prática em<br />
questão não é física mas de pessoas<br />
em movimento intencional, ou<br />
melhor: no movimento intencional<br />
<strong>do</strong> desporto. Os impropriamente<br />
chama<strong>do</strong>s <strong>professor</strong>es de educação<br />
física são imprescindíveis na<br />
escola, no trabalho, na saúde, no<br />
lazer, precisamente porque não trabalham<br />
físicos, mas a motricidade<br />
humana, ou seja, pessoas. Eu volto<br />
ao que venho afirman<strong>do</strong> já há um<br />
<strong>bom</strong> par de anos: a EF nasceu<br />
quan<strong>do</strong>, no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> ser humano,<br />
matéria e espírito deviam ser resolutamente<br />
estrema<strong>do</strong>s de acor<strong>do</strong><br />
<strong>com</strong> os ditames <strong>do</strong> racionalismo<br />
que então amanhecia.<br />
O facto de o corpo ser apenas físico<br />
e nada mais que isso; ser objecto<br />
ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s outros objectos –<br />
permitiu a criação de fundamentos<br />
insuspeita<strong>do</strong>s para a fisiologia e a<br />
patologia, conquanto a influência<br />
<strong>do</strong>s teólogos não deixasse de gravar-se<br />
nas dificuldades em considerar<br />
a união alma-corpo. Por isso,<br />
quan<strong>do</strong> a EF nasce, em finais <strong>do</strong><br />
séc. XVII era impensável politizar<br />
uma aula de EF (eu disse politizar,<br />
não disse partidarizar), da<strong>do</strong> que o<br />
seu objectivo era a criação <strong>do</strong> homem-máquina,<br />
<strong>do</strong> corpo-objecto e<br />
não <strong>do</strong> cidadão e <strong>do</strong> corpo-sujeito.<br />
Ora, o que eu defen<strong>do</strong> (e não estou<br />
só) é que nasçam as aulas de Educação<br />
Desportiva, <strong>com</strong>o espaço insubstituível<br />
da promoção de uma vida<br />
activa e saudável e de uma consciência<br />
crítica <strong>do</strong> Homem, da Sociedade,<br />
e da História. Uma aula que<br />
respectivamente. 07.06<br />
Contratação<br />
colectiva em queda<br />
O número de contratos colectivos de<br />
trabalho celebra<strong>do</strong>s em Portugal diminuiu<br />
4,5% entre 2001 e 2002. De<br />
acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> o estu<strong>do</strong> sobre as relações<br />
laborais elabora<strong>do</strong> pelo Observatório<br />
Europeu das Relações Industriais<br />
Europeias (Firo), a quantidade<br />
de acor<strong>do</strong>s negocia<strong>do</strong>s ou renegocia<strong>do</strong>s<br />
em 2002 foram 337, contra<br />
353 verifica<strong>do</strong>s no ano anterior.