17.04.2013 Views

Trabalhadores - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

Trabalhadores - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

Trabalhadores - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

cada no Brasil, através da redução progressiva das alí-<br />

quotas <strong>de</strong> importação <strong>de</strong> bens, do fim à limitação quanti-<br />

tativa das importações ("quotas"), da intenção <strong>de</strong> substi-<br />

tuir a lei <strong>de</strong> informática em vigor, <strong>de</strong> reconhecer as pa-<br />

tentes da industria farmacêutica, reduzir os níveis <strong>de</strong> na-<br />

cionalização exigidos dos bens <strong>de</strong> capital aqui produzi-<br />

dos (até um máximo <strong>de</strong> 70%), entre outros.<br />

AS ETAPAS DA INDUSTRIALIZAÇÃO:<br />

DA SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES A<br />

"INTEGRAÇÃO COMPETITIVA"?<br />

A idéia <strong>de</strong>fendida pelo governo Collor <strong>de</strong> que a indus-<br />

tria brasileira haveria já esgotado a etapa <strong>de</strong> crescimento<br />

impulsionado pela "substituição <strong>de</strong> importações" e <strong>de</strong><br />

que o próximo estágio pressupõe um maior grau <strong>de</strong> aber-<br />

tura da economia brasileira à concorrência intemacional<br />

não é nova e vem sendo já há algum tempo colocada por<br />

diferentes entida<strong>de</strong>s e analistas <strong>de</strong> política industrial, li-<br />

gados a diferentes matizes do pensamento político e<br />

econômico brasileiro. O <strong>de</strong>bate maior parece residir nas<br />

ações que <strong>de</strong>vem acompanhar estas medidas, como par-<br />

te <strong>de</strong> uma política industrial e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O diagnóstico da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma revisão da polí-<br />

tica <strong>de</strong> proteção à indústria advém da perda <strong>de</strong> sua fun-<br />

cionalida<strong>de</strong> nos últimos anos, enquanto elemento promo-<br />

tor <strong>de</strong> setores selecionados. Até recentemente, na práti-<br />

ca, todos os setores estavam protegidos contra a compe-<br />

tição externa, através <strong>de</strong> uma complexa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> medidas<br />

tarifárias, controles administrativos, incentivos e benefí-<br />

cios creditício-fiscais, quotas <strong>de</strong> importação, regimes es-<br />

peciais, <strong>de</strong>cretos, portarias etc. Tal re<strong>de</strong>, ampliada a cada<br />

nova etapa do processo <strong>de</strong> industrialização, apesar das<br />

críticas que possam ser feitas, serviu, no entanto, à ins-<br />

talação dos vários compartimentos <strong>de</strong> produção industrial<br />

até o início dos anos 80.<br />

Assim, vale lembrar que a industrialização brasileira,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos trinta até o final da década <strong>de</strong> setenta, ca-<br />

racterizou-se por uma forte intervenção do Estado, seja<br />

como produto, seja como formulador <strong>de</strong> políticas indus-<br />

triais. E neste último campo <strong>de</strong> ação situam-se as medi-<br />

das <strong>de</strong> estímulo à instalação <strong>de</strong> industrias no país e me-<br />

didas <strong>de</strong> proteção que constituíram, implícita ou explici-<br />

tamente, reservas <strong>de</strong> mercado à indústria incipiente.<br />

Dessa forma, foi-se configurando ao longo do tempo o<br />

<strong>de</strong>senho da atual estrutura produtiva do país. Em gran<strong>de</strong><br />

linhas, po<strong>de</strong>-se dizer que a primeira etapa (1930/1950)<br />

foi a <strong>de</strong> constituição da infraestrutura e da indústria <strong>de</strong><br />

insumos básicos, ambas promovidas diretamente pelo<br />

Estado - sáo exemplos importantes a Companhia Si<strong>de</strong>-<br />

rúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce, a Pe-<br />

trobrás, a Companhia Nacional <strong>de</strong> Álcalis. Depois insta-<br />

lou-se, numa segunda fase (décadas <strong>de</strong> 50 e 60), a in-<br />

dustria <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo duráveis e, finalmente, nu-<br />

ma terceira e mais recente etapa (meados da década <strong>de</strong><br />

70) a diversificação e expansão da industria <strong>de</strong> bens <strong>de</strong><br />

capital e complementação da indústria básica, como a<br />

petroquímica.<br />

Com esse <strong>de</strong>senho industrial já configurado, na déca-<br />

da <strong>de</strong> 80, e face às discrepãncias entre custos e preços<br />

entre os produtos brasileiros e os do mercado intemacio-<br />

nal, e à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ampliar os instrumentos para<br />

a estabilização <strong>de</strong> preços (controle <strong>de</strong> inflação), tomou-se<br />

cada vez mais evi<strong>de</strong>nte o esgotamento <strong>de</strong>sta estratégia<br />

<strong>de</strong> crescimento industrial, baseado no controle e restri-<br />

ções à importação (entre outros).<br />

Mas um outro elemento viria agregar-se às exigências<br />

<strong>de</strong> mudança na década <strong>de</strong> 80: o próprio crescimento das<br />

exportações vem obrigando a atualização do parque pro-<br />

dutivo, que por sua vez levaria a um aumento das impor-<br />

tações <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> maior conteúdo tecnológico.<br />

Configurando o quadro das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mudan-<br />

ça, caberia então perguntar a razão pela qual não houve,<br />

até então, uma efetiva liberação <strong>de</strong> importações nos<br />

anos 80, ainda que muitas intenções tenham sido anun-<br />

ciadas. A resposta a essa questão repousa sobretudo<br />

nas restrições impostas pela balança <strong>de</strong> pagamentos, ou<br />

seja, pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar exportações e redu-<br />

zir importações como forma <strong>de</strong> gerar superávits comer-<br />

ciais imensos para a rolagem da dívida externa. A eco-<br />

nomia brasileira passou então a viver uma espécie <strong>de</strong><br />

"protecionismo não planejado", em que a reserva <strong>de</strong><br />

mercado era utilizada não mais como instrumento <strong>de</strong> po-<br />

lítica industrial, mas como uma conseqüência da política<br />

econômica voltada para a geração <strong>de</strong> divisas.<br />

Com isso, preservou-se na prática a baixa concorrên-<br />

cia, seja a nível interno, seja em relação aos produtores<br />

internacionais.<br />

COMENTÁRIOS SOBRE AS MEDIDAS ANUNCIADAS<br />

ATÉ 27/6/90<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista sindical, a discussão das medidas<br />

anunciadas não é simples. Primeiro, porque boa parte<br />

das diretrizes é ainda <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> intenções. Segundo,<br />

porque essas medidas foram lançadas <strong>de</strong> maneira "sol-<br />

ta", isto é, sem estarem vinculadas a uma estratégia <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento mais ampla e explicitamente formulada<br />

pelo Estado e discutida com os diferentes segmentos<br />

sociais, entre eles o próprio movimento sindical - estra-<br />

tégia esta que busque enfrentar os graves problemas<br />

porque passa a maioria da população e que se refletem<br />

em sua renda, emprego e condições <strong>de</strong> trabalho. Tercei-<br />

ro, porque o movimento sindical nunca <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a carte-<br />

lização, a cartorialização e um Estado privatizado, volta-<br />

do para os interesses privados. Quarto, porque interessa<br />

aos trabalhadores que o país atinja níveis mais elevados<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico. E quinto, porque, embo-<br />

ra esta noticiada liberação <strong>de</strong> importações possa trazer<br />

consigo alguns elementos favoráveis aos assalariados<br />

(como um eventual barateamento <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> con-<br />

sumo popular), ela até o momento não é acompanhada<br />

<strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> emprego que promova a realocação e<br />

o retreinamento da máo-<strong>de</strong>-obra que venha a ser dispen-<br />

sada. E, mais grave ainda, tal estratégia é proposta em<br />

pleno processo recessivo, on<strong>de</strong> se verifica um crescimen-<br />

to acentuado do nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego.<br />

Então, gostaríamos <strong>de</strong> comentar estes e outros aspectos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!