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XONDARO – UMA ETNOGRAFIA DO MITO E DA DANÇA ... - Unisul

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Meu retorno à aldeia deu-se no início de outubro, por ocasião das festividades do<br />

Dia da Criança, data em que conheci pessoalmente seu Artur Benite, cacique no Morro dos<br />

Cavalos. A primeira impressão que tive do seu Artur permanece até hoje, a cada encontro: é<br />

uma figura carismática e enigmática.<br />

Saudamo-nos mais através de olhares do que de palavras, talvez desnecessárias no<br />

momento. Em contraste, ele foi saudado efusivamente com beijos nas faces por duas<br />

funcionárias da Secretaria da Educação, ao que respondeu com um sorriso reservado. Como<br />

eu levara-lhe erva-mate e fumo em rolo de presente, logo sentamos na varanda da escola e ele<br />

se pôs a explicar como era feito fumo em rolo “pelos antigos”. Ao dizer-lhe da minha<br />

predileção por “cigarros palheiros”, constatei sua satisfação esboçada num sorriso franco e<br />

aberto. Após, fiz-lhe a entrega de donativos de frutas para as crianças, pois, no meu<br />

entendimento, dever-se-ia evitar enviar balas, pirulitos e assemelhados, dando preferência a<br />

alimentos mais naturais e nutritivos. Com relação a isso, tive total apoio das professoras Eliete<br />

e Joana. Infelizmente, chegam à aldeia imensos pacotes de pipoca doce (semelhante a isopor),<br />

salgadinhos e bolachas, bem como refrigerantes. As atividades referentes ao Dia das Crianças<br />

também contaram, além de lanche comunitário e entrega de balões com palestras de senhoras<br />

da Pastoral da Saúde, com um grupo de universitários de teatro, de Joinville, que<br />

permaneceram na aldeia por três dias, realizando jogos recreativos e dramatizações com os<br />

pequenos.<br />

Voltei à aldeia quinze dias após e me detive na casa do Artesanato para observar<br />

as mulheres em seu trabalho de cestaria. Duas delas, sentadas à frente da porta trançavam fios<br />

de bambu, já tingidos criando cestos de vários tamanhos. No interior da casa, de chão batido,<br />

crianças (5 a 7 anos) brincavam de roda, danças e o que parecia ser um programa de TV, com<br />

uma delas fazendo-se de apresentadora e escolhendo “os cantores”.<br />

Saindo dali em direção à escola, para a aula com Daniel Werá, passei por uma<br />

jovem índia, de cócoras, lavando roupa no ponto de água instalado pela Fundação Nacional de<br />

Saúde (FUNASA). Várias pulseiras coloridas adornavam seu braço esquerdo e tinha seu filho<br />

(de poucos meses) colocado às costas e seguro por uma faixa de algodão. Tal prática de<br />

segurar os filhos pequenos é observada pela maioria das mulheres da aldeia, mesmo em seu<br />

trabalho diário de cozinhar e lavar <strong>–</strong> os filhos menores estão sempre junto às mães.<br />

É de notar-se que as crianças bem pequenas andam descalças; já as da faixa de<br />

oito anos em diante usam calçados, mesmo nos dias ensolarados. Em seus folguedos, por<br />

várias vezes, perdem os chinelos, voltando em seguida para buscá-los.<br />

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