XONDARO – UMA ETNOGRAFIA DO MITO E DA DANÇA ... - Unisul
XONDARO – UMA ETNOGRAFIA DO MITO E DA DANÇA ... - Unisul
XONDARO – UMA ETNOGRAFIA DO MITO E DA DANÇA ... - Unisul
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
aos domingos. Cuidou da filha de Carmem desde bebê e sentiu muito sua morte, aos quinze<br />
anos. Segue para Curitiba, acompanhando Carmem que foi fazer uma cirurgia. Fica como sua<br />
enfermeira, cuidando diariamente e incentivando-a a lutar contra o câncer.<br />
Voltando a Florianópolis, conclui o segundo grau e faz curso na Empresa Back de<br />
Vigilância, saindo da casa de Carmem. Após trabalhar por sete anos na Back, passa para a<br />
Empresa RBS (Diário Catarinense), onde exerceu cargos de recepcionista, segurança e<br />
telefonista. A seguir, presta vestibular para Pedagogia, na <strong>Unisul</strong>, sendo aprovada.<br />
Na universidade causava espanto entre os professores por falar calmamente. Um<br />
dos professores dirigiu-se à SEC informando que “havia uma índia estudando na faculdade”.<br />
Então, Joana recebe um convite da SEC para trabalhar como professora junto aos indígenas de<br />
Morro dos Cavalos. No início de 2002, leva sua documentação à SEC, sendo conduzida em<br />
carro oficial até a aldeia e apresentada ao cacique Artur Benite. Logo após, vai a Camboriú<br />
fazer o curso de magistério indígena. Joana conta que, ao chegar no hotel “viu” toda a sua<br />
família nos rostos dos que lá estavam. Emocionada, diz que “não consegue nem falar”. Hoje,<br />
está feliz na aldeia como professora. Os alunos costumam visitá-la em sua casa na cidade de<br />
Palhoça.<br />
Quando ainda trabalhava na RBS, fez amizade com Rose,aluna de Ciências<br />
Sociais da UFSC que aconselhou-a a telefonar para o Museu Universitário e contar que<br />
“falava Guarani”. Joana segue o conselho e trava conhecimento com o professor Aldo Litaiff,<br />
cuja amizade conserva até hoje.<br />
Emociona-se profundamente ao falar do que considera “a pior parte de sua vida”:<br />
o assassinato de seu irmão e de um sobrinho em Foz do Iguaçu. Por essa época, sua filha<br />
Francisca, então com um ano e meio, foi-lhe retirada pela família de seu ex-marido. A menina<br />
nasceu em 1998 e, depois de muita luta na justiça, foi-lhe devolvida em dezembro de 2003.<br />
Durante esse tempo, Joana relata que tinha uma tristeza profunda, depressão. Hoje, tem planos<br />
de seguir estudando e fazer pós-graduação na UFSC. Atualmente, transferiu-se da <strong>Unisul</strong> para<br />
Udesc, onde cursa a última fase de Pedagogia.<br />
Sua vida divide-se entre o magistério na aldeia e a universidade no centro de<br />
Florianópolis, além das constantes visitas ao Morro dos Cavalos, às vezes acompanhando seus<br />
líderes a São Paulo “ver os Mbya de lá”, outras vezes visitando as aldeias de Massiambu e<br />
Mbiguaçu. Filha de mãe Guarani e pai paraguaio, Joana mantém a tradição de sua gente:<br />
caminhar sempre rumo aos seus objetivos de vida.<br />
129