XONDARO – UMA ETNOGRAFIA DO MITO E DA DANÇA ... - Unisul
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com isto, a alegria e a saúde”. O canto e a dança são realizados para limpeza do corpo. Busca-<br />
se a leveza, a rapidez e a agilidade em sua analogia com saúde e juventude, constituindo-se a<br />
dança também “uma luta contra espíritos de doenças”.<br />
Para a presente dissertação, foram observadas as danças realizadas para o público<br />
e a prática diária do Xondaro fora da opy. Embora houvesse o convite pra observar as rezas<br />
dentro da opy, tal fato não se efetivou por considerar (a pesquisadora) que o poraéi representa<br />
a essência dessa etnia, não cabendo a presença de estranhos no ritual. Assim também, não<br />
foram realizadas perguntas sobre o que acontece dentro da opy para saber se são usadas<br />
substâncias (bebidas) outras além do tabaco e da erva-mate. Ignora-se, também, se há nesses<br />
rituais, transe por possessão, incorporação ou por ingestão de substâncias psicoativas, como<br />
ocorre no Santo Daime 16 . Ari B. Sell (apud LANG<strong>DO</strong>N, op.cit.p.358) faz referência aos<br />
estudos de Ornstein e Sobel (1987) que afirmam ser o hemisfério direito do cérebro o das<br />
emoções e o esquerdo o da lógica. Segundo eles, “muitas formas de êxtases rituais, incluindo<br />
meditação, bem como estados hipercinéticos estão relacionados com o hemisfério direito”. O<br />
mais intrigante a respeito dessas pesquisas é a hipótese de o hemisfério direito assumir “um<br />
papel dominante nas perspectivas estéticas, emocionais, e mesmo religiosas, processos<br />
fundamentais não-acessíveis à análise lógica e, contudo, fundamental às inter-relações<br />
humanas”.<br />
Os alucinógenos (soma, peiote, ayhauasca, Daime e outros) favorecem esses<br />
estados alterados de consciência, ou seja, a possibilidade de viajar pelo mundo dos espíritos e<br />
com eles conversar. Todavia, há sistemas xamânicos que utilizam outros métodos, sem<br />
recorrer aos alucinógenos, atingindo a mesma interação inter-hemisférica.<br />
O xamanismo, enquanto instituição, expressa as preocupações centrais da cultura<br />
onde está inserido, como o cuidado com o fluxo de energias e sua influência no bem-estar dos<br />
humanos. Ao abranger o sobrenatural, tanto quanto o social e o ecológico, é uma instituição<br />
cultural que unifica o passado mítico com a visão de mundo, através do ritual, e os projeta nas<br />
atividades diárias (LANG<strong>DO</strong>N, 1996, p.28).<br />
Como pilar da cultura indígena, sua qualidade mais importante é, conforme Mehl<br />
(apud LANG<strong>DO</strong>N, op.cit.p.278) reconhece que:<br />
Na tradição xamânica, respeitar o sagrado significa reconhecer que estamos<br />
fora de controle, que não governamos a tessitura completa de nossas vidas, e<br />
16 A esse respeito, veja-se o artigo de Alberto Groisman <strong>–</strong> Santo Daime: Notas sobre a “Luz Xamânica” da<br />
Rainha da Floresta, na obra de LANG<strong>DO</strong>N (op.cit.p.333).<br />
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