XONDARO – UMA ETNOGRAFIA DO MITO E DA DANÇA ... - Unisul
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dança uma parte integral da “mousiké”, a arte das musas, que também incluía música e<br />
poesia. A dança era para ele uma parte essencial da educação de uma pessoa jovem, porque<br />
permitia infundir o ritmo e a harmonia ao mesmo tempo em que, junto a outros estudos,<br />
ajudava a alcançar, como cidadão da polis, a Justiça. O pensamento de Platão era que a<br />
música, a dança e a poética contribuiriam para a harmonia da alma e para uma boa<br />
organização da comunidade, ou seja, a formação de cidadãos eticamente bons.<br />
alma, afirma:<br />
Entretanto, Nietzche (op.cit., p.41), contrário ao dualismo platônico entre corpo e<br />
O corpo é uma razão em ponto grande, uma multiplicidade com um só sentido, uma<br />
guerra e uma paz, um rebanho e um pastor. Instrumento de teu corpo é também a tua<br />
razão pequena, a que chamas espírito [...] o que os sentidos apreciam, o que o<br />
espírito conhece, nunca em si tem seu fim; mas os sentidos e o espírito quereriam<br />
convencer-te de que são fim de tudo, tão soberbos são. Os sentidos e o espírito são<br />
instrumentos e joguetes; por detrás deles se encontra o nosso próprio ser. Ele<br />
examina com os olhos dos sentidos e escuta com os olhos do espírito [...] Por detrás<br />
dos teus pensamentos e sentimentos, meu irmão, há um senhor mais poderoso, um<br />
guia desconhecido. Chama-se “eu sou”. Habita no teu corpo; é o teu corpo. Há mais<br />
razão no teu corpo do que em tua melhor sabedoria. E quem sabe para que<br />
necessitará o teu corpo da tua melhor sabedoria?<br />
No que se refere à dança, considerando-a num sentido muito diferente daquele de<br />
Platão, como uma atitude em direção às coisas, ao significado da vida, à busca da verdade,<br />
Nietzche (op.cit, p.21) pensou-a num estado ético <strong>–</strong> estético da atividade humana, não se<br />
detendo nos seus tipos particulares nem nos movimentos. A dança de Zaratustra, na obra<br />
homônima, é uma simples aceitação de todas as coisas, ainda que contraditórias, como a<br />
alegria e a dor. Em Zaratustra todos os opostos estão fundidos em uma nova unidade. A vida,<br />
o corpo, a terra representam Dionísio e sua dança afirma a existência do homem dentro da<br />
concepção do eterno retorno. Assim falava Zaratustra (NIETZCHE, op.cit, p.21): “Os deuses<br />
são imortais e a alegria aspira a ser imortal; a dor tende a ir-se, porém deixa suas marcas; a<br />
alegria quer eternidade e recorrência, quer ser eternamente a mesma.”<br />
O significado metafísico da dança é a imortalidade expressando-se pela alegria<br />
vivida como uma frenética proposta contra morte. Pois, toda pessoa que dança, salta e<br />
controla o seu corpo, alimenta-se de uma espiritualidade que desdenha a morte. Nictzche<br />
considera a dança como fonte de expansão, de elevação e liberação, de necessidade e impulso<br />
de vida, como um fogo dionisíaco. Diz ele não ser possível separar de uma educação distinta,<br />
o dançar de qualquer forma, dançar com os pés, com os conceitos, com as palavras, assim<br />
afirma Nictzche (op.cit.p.184-185):<br />
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