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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ<br />

LUIZ FILIPE ALVES GUIMARÃES COELHO<br />

PEDRO AFONSO E O HERÓIS DA RECONQUISTA: EL CID NA CRÔNICA<br />

GERAL DE ESPANHA<br />

CURITIBA<br />

2009


Luiz Filipe Alves Guimarães Coelho<br />

Pedro Afonso e o Herói da Reconquista<br />

El Cid na Crônica Geral de Espanha<br />

Curitiba<br />

Junho, 2009<br />

Monografia apresentada à disciplina<br />

de Estágio Supervisiona<strong>do</strong> em<br />

pesquisa Histórica como requisito<br />

parcial à conclusão <strong>do</strong> Curso de<br />

História, Setor de Ciências Humanas,<br />

Letras e Artes, Universidade Federal<br />

<strong>do</strong> Paraná.<br />

Orienta<strong>do</strong>ra: Fátima Regina<br />

Fernandes<br />

2


Agradecimentos<br />

Aos meus pais que pelo amor incondicional e apoio possibilitaram tu<strong>do</strong><br />

que sou.<br />

À minha mãe que pelo exemplo de esforço e luta me mostrou como<br />

nenhuma barreira é intransponível.<br />

Ao meu pai que me mostrou como nossos sonhos são importantes e<br />

como, através de muita batalha, podemos alcançá-los.<br />

Ao meu irmão pela amizade e camaradagem que apenas irmãos podem<br />

compartilhar.<br />

À Mariana cujo amor, carinho e apoio me renovaram as forças e<br />

possibilitaram alcançar limites impensáveis. Sua inteligência e amizade me<br />

presentearam com uma orientação valiosa fornecen<strong>do</strong> idéias e opiniões<br />

incomensuráveis.<br />

À Yara e Nilo, sem os quais minha “saga” em Curitiba poderia ter<br />

chega<strong>do</strong> a vários fins prematuros.<br />

À Minha orienta<strong>do</strong>ra, Fátima, pelo apoio, paciência e ajuda. Seu cuida<strong>do</strong><br />

com seus “pupilos” inspira a admiração de to<strong>do</strong>s os meus colegas. Sua<br />

orientação não se limitou ao campo acadêmico e me forneceu um exemplo<br />

valioso de professora, pesquisa<strong>do</strong>ra e profissional, que vou guardar pelo resto<br />

de minha vida.<br />

Aos meus amigos, para os quais não é preciso citar nomes. A<br />

camaradagem e apoio não só inspiraram meu senso de propósito como deram<br />

cor à minha estória em Curitiba. Não importa a distância, nenhum, jamais será<br />

esqueci<strong>do</strong>.<br />

3


Sumário<br />

Resumo .........................................................................................................5<br />

1. Introdução................................................................................................6<br />

2. A Lenda Castelhana..............................................................................11<br />

3. O Nobre Português Autor e Ator em seu tempo ................................18<br />

4. A Crônica Geral de Espanha de 1344 .................................................26<br />

5. Conclusão ...............................................................................................34<br />

Referências Bibliográficas........................................................................37<br />

4


Resumo<br />

No ano de 1344, Pedro Afonso, conde de Barcelos, termina a produção de uma de suas<br />

maiores obras: a Crônica Geral de Espanha. Em tal escrito nota-se uma elevada importância<br />

dada a um personagem histórico de grande influência em Castela e nos reinos peninsulares,<br />

Rodrigo Diaz de Vivar, conheci<strong>do</strong> como El Cid. Este homem foi um guerreiro que durante a<br />

Reconquista ficou marca<strong>do</strong> pela grande habilidade militar e capacidade inigualável de vencer<br />

batalhas contra os mouros e por vezes mesmo contra cristãos. É sobre este personagem<br />

histórico que trata o Poema de Mio Cid, que é considera<strong>do</strong> a primeira grande obra redigida em<br />

língua castelhana, datada aproximadamente de fins <strong>do</strong> século XII e início <strong>do</strong> século XIII. Em tal<br />

obra já se pode constatar um distanciamento <strong>do</strong> homem real e o princípio da construção de um<br />

<strong>do</strong>s maiores mitos ibéricos. Partin<strong>do</strong> destes pressupostos, esta pesquisa tem como objetivo<br />

clarear o porquê de tal herói ter recebi<strong>do</strong> tanto prestígio de um escritor português, após quase<br />

<strong>do</strong>is séculos e meio de sua morte.<br />

5


1. Introdução<br />

Através da ligação entre a Literatura e a História nasce uma variedade<br />

incrível de mitos, lendas e interpretações idealizadas. Ora, este é o caso de um<br />

<strong>do</strong>s maiores heróis da cultura Ibérica. Como a própria palavra “herói” já<br />

evidencia o cavaleiro medieval, que através de sua perícia militar recebeu o<br />

título de El Cid, se tornou alvo de toda uma idealização literária. Sua vida e<br />

seus feitos até hoje geram histórias fantásticas que não mostram qualquer<br />

compromisso com alguma “verdade histórica”. Entretanto, essas<br />

interpretações, enquanto afastam e dificultam uma “busca de El Cid”, como<br />

muitos autores já se aventuraram a empreender, servem muitas vezes para a<br />

compreensão <strong>do</strong>s contextos em que as mesmas foram escritas. É a partir <strong>do</strong><br />

viés escolhi<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s valores aponta<strong>do</strong>s e da escolha de diversos outros fatores<br />

pelos autores, que podemos revelar o que estava acontecen<strong>do</strong> no momento<br />

que tais obras foram escritas.<br />

Devemos lembrar sempre que durante o desenvolvimento da literatura<br />

na Idade Média a arte de escrever se mostrava algo difícil e dispendioso, sen<strong>do</strong><br />

assim extremamente importante que tal esforço tivesse um objetivo defini<strong>do</strong><br />

para que se alcançasse um retorno. Embora a escrita contemporânea se<br />

mostre algumas vezes despida de motivações além <strong>do</strong> entretenimento, sua<br />

antecessora medieval jamais poderia ser semelhante. Portanto, o escritor<br />

medieval sempre escreve para alguém com um objetivo claro em sua mente.<br />

É a partir dessas reflexões que essa pesquisa se origina. Quan<strong>do</strong> o<br />

personagem histórico castelhano em questão é cita<strong>do</strong> e relata<strong>do</strong> por um<br />

português três séculos depois, se inicia uma possibilidade de estu<strong>do</strong> através da<br />

criação de interpretações. Ora esse mesmo Cid que muitas vezes foi<br />

caracteriza<strong>do</strong> de maneira idealizada, ganha agora uma leitura portuguesa. Por<br />

que Pedro Afonso, Conde de Barcelos, cronista real da coroa portuguesa em<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIV, dedicou grande parte de uma de suas maiores obras, a<br />

Crônica Geral de Espanha terminada no ano de 1344, a um herói estrangeiro,<br />

castelhano e cruza<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que a luta contra os mouros estava quase no fim<br />

(ten<strong>do</strong> tal fato si<strong>do</strong> marca<strong>do</strong> no fim da Batalha de Sala<strong>do</strong> com a vitória cristã<br />

<strong>do</strong>s reinos português e castelhano em 1340)? É tal questionamento que esta<br />

6


pesquisa tenciona se não responder, colaborar para a compreensão e debate.<br />

Para a concretização deste projeto a pesquisa teve de ser dividida.<br />

Primeiramente, por uma analise <strong>do</strong> Cid histórico juntamente com o Cid<br />

lendário, utilizan<strong>do</strong> as seguintes obras respectivamente: para o primeiro, a de<br />

Richard Fletcher- Em busca de El Cid - e para o outro, La España Del Cid, de<br />

Ramon Menendez Pidal, historia<strong>do</strong>r que por muito tempo foi ti<strong>do</strong> como<br />

especialista nas “questões cidianas”, mas que com o avanço da historiografia<br />

foi sen<strong>do</strong> critica<strong>do</strong> e julga<strong>do</strong> como detentor de uma visão romanceada sobre o<br />

personagem em questão.<br />

Outra fonte é o Poema de Mio Cid, considera<strong>do</strong> a primeira grande obra<br />

redigida em língua castelhana e que por muito tempo foi classifica<strong>do</strong> como<br />

fonte contemporânea ao personagem histórico, mas que graças a pesquisas<br />

mais recentes foi data<strong>do</strong> de quase um século após a morte de seu objeto, o<br />

que para alguns historia<strong>do</strong>res já pode ser o suficiente para que se inicie to<strong>do</strong><br />

um processo de mitificação e, portanto, já demonstra a existência de um<br />

afastamento entre o real e o mito.<br />

A partir <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> personagem histórico e <strong>do</strong>s processos<br />

de mitificação que ocorrem ao seu re<strong>do</strong>r a pesquisa mu<strong>do</strong>u o foco. Mostrou-se<br />

necessário um esclarecimento sobre quem foi Pedro Afonso, quan<strong>do</strong> escreveu<br />

e finalmente, por que escreveu. Para tanto, foram lidas obras que tratam sobre<br />

o contexto de Portugal à época da produção da obra e como essa realidade<br />

histórica poderia ter influencia<strong>do</strong> de alguma maneira a sua elaboração. Em<br />

seguida se iniciou um estu<strong>do</strong> sobre o próprio autor da fonte: o conde de<br />

Barcelos.<br />

A obra que foi tomada como referência para o tema El Cid foi: Em Busca<br />

de El Cid, de Richard Fletcher. Apesar de o próprio autor julgar em sua<br />

introdução que seu livro não poderia ser utiliza<strong>do</strong> como uma leitura acadêmica,<br />

por faltar no que concerne a “parafernália acadêmica” 1 , o livro evidencia um<br />

rico debate historiográfico relacionan<strong>do</strong> os trabalhos anteriores com as<br />

descobertas atuais sobre o tema, feito a partir da visão de um historia<strong>do</strong>r.<br />

Assim, apesar da modéstia <strong>do</strong> autor o livro acabou por se revelar um excelente<br />

guia para uma analise histórica de El Cid e para um acompanhamento <strong>do</strong>s<br />

1 FLETCHER, R. Em busca de El Cid, São Paulo, UNESP 2002, p 18<br />

7


debates historiográfico acerca desse assunto. Ramón Menendez Pidal, com<br />

seu livro La España Del Cid também foi elenca<strong>do</strong>. Entretanto, devi<strong>do</strong> à sua<br />

visão mais idealizada, a obra não pode ser utilizada como referência histórica<br />

sen<strong>do</strong> utilizada antes como uma visão romanceada de Cid para ser analisada e<br />

debatida pelos trabalhos mais atuais de outros pesquisa<strong>do</strong>res. Assim Pidal<br />

pôde oferecer à pesquisa um exemplo de idealização de personagens<br />

históricos que pode ser utiliza<strong>do</strong> para colaborar na compreensão da construção<br />

feita pelo conde de Barcelos.<br />

Para o entendimento <strong>do</strong> contexto Ibérico foi observada a existência de<br />

uma vasta gama de livros tratan<strong>do</strong> o tema, mas como grande maioria<br />

trabalhava o perío<strong>do</strong> de maneira semelhante apenas os de maior<br />

expressividade foram seleciona<strong>do</strong>s. Em primeiro lugar, por ser um livro de<br />

referência, a ser utiliza<strong>do</strong> para uma primeira compreensão <strong>do</strong> assunto, foi<br />

utilizada a coleção História de Portugal organizada por Damião Perez. Esta<br />

obra forneceu uma primeira visão sobre o momento em que passavam os<br />

reinos ibéricos, oferecen<strong>do</strong> uma aproximação das figuras históricas de maior<br />

importância e <strong>do</strong>s acontecimentos que se destacaram.<br />

A seguir para ser realizada uma analise mais aprofundada <strong>do</strong> tema, foi<br />

selecionada a obra de Jose Mattoso, História de Portugal. Nesse trabalho<br />

Mattoso, um <strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res de maior destaque na linha de Portugal<br />

Medieval, oferece um relato mais profun<strong>do</strong> acerca <strong>do</strong>s acontecimentos,<br />

possibilitan<strong>do</strong> um conhecimento mais abrangente sobre o perío<strong>do</strong> em questão.<br />

Outras obras, por sua proximidade ao tema também foram selecionadas.<br />

Dentre estas, a de maior importância é a tese de mestra<strong>do</strong> de Adriana Mocelin,<br />

“‘POR METER AMOR E AMIZADE ENTRE OS NOBRES FIDALGOS DA<br />

ESPANHA’: O Livro de Linhagens <strong>do</strong> Conde Pedro Afonso no contexto tar<strong>do</strong>-<br />

medieval português”. A obra de Adriana trata a nobreza medieval através <strong>do</strong><br />

viés de Pedro Afonso representa<strong>do</strong> em uma de suas maiores obras: O Livro de<br />

Linhagens. E para tal projeto a pesquisa<strong>do</strong>ra, que segue a linha<br />

prosopográfica 2 , realizou um estu<strong>do</strong> sobre o próprio conde e sua relação com<br />

sua conjuntura histórica. Apesar de ter apenas o mestra<strong>do</strong> concluí<strong>do</strong><br />

recentemente esta é a pesquisa<strong>do</strong>ra que mostra maior relevância para a minha<br />

2 Meto<strong>do</strong>logia que presa pelo estu<strong>do</strong> individual das personagens históricas com a intenção de recriar suas<br />

trajetórias<br />

8


pesquisa atual. O tema aborda<strong>do</strong>, tanto na conclusão da graduação, quanto na<br />

<strong>do</strong> mestra<strong>do</strong>, demonstra grande proximidade com minha pesquisa: O Livro de<br />

Linhagens de Pedro Afonso Conde de Barcelos. Por tratar <strong>do</strong> mesmo autor e<br />

de contextos muitos próximos, a autora deu grande contribuição a uma<br />

aproximação com o tema e à apresentação de outras obras de referências de<br />

onde poderíamos aprofundar nosso conhecimento.<br />

De importância menor, porém indispensável, é a própria análise<br />

desenvolvida sobre a sua fonte (que junto com a Crônica Geral de Espanha<br />

formam as duas maiores obras de Pedro Afonso) onde através da mesma<br />

poderíamos nos aproximar <strong>do</strong> pensamento de Pedro Afonso e sua forma de<br />

expressa-lo. Ora através disto o trabalho fornece importantes informações para<br />

a solução da problemática de minha pesquisa (Por que Pedro Afonso teria<br />

escrito sobre El Cid?) no Livro de Linhagens nota-se a grande importância <strong>do</strong><br />

Conde em tentar demonstrar o papel da nobreza, seus deveres, seus direitos e,<br />

principalmente, sua necessidade.<br />

De grande importância para o desenvolvimento da presente pesquisa foi<br />

também as análises de Luís Filipe Lindley Cintra na introdução de sua<br />

transcrição da Crônica, transcrição esta que foi a utilizada como fonte em<br />

nosso trabalho. A contribuição de Cintra para a Historiografia Ibérica dispensa<br />

comentários e assim a pesquisa realizada pelo filólogo acerca da fonte que<br />

transcreveu demonstra um valor imprescindível à nossa análise, oferecen<strong>do</strong><br />

grandes contribuições e novos questionamentos.<br />

Assim esse trabalho tenciona, a partir de uma crônica medieval, ajudar<br />

no esclarecimento da situação <strong>do</strong> reino português no século XIV, explicitan<strong>do</strong><br />

como o personagem El Cid é utiliza<strong>do</strong> pelo autor para relatar a sua própria<br />

época, utilizan<strong>do</strong>-o como espelho, como exemplo ou para qualquer outro<br />

objetivo que possa ser desvenda<strong>do</strong>. Partin<strong>do</strong> de uma visão otimista, este<br />

trabalho pode servir também para enriquecer o debate sobre a construção <strong>do</strong><br />

conhecimento histórico. Como um personagem de destaque pode ser li<strong>do</strong> de<br />

diversas maneiras e como essas mesmas maneiras de se relatar, ou escrever<br />

história, muitas vezes dizem mais sobre o presente <strong>do</strong> autor <strong>do</strong> que o passa<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> qual o mesmo tenciona relatar.<br />

É clara, para to<strong>do</strong> brasileiro, a importância da cultura lusitana na<br />

construção da nossa própria cultura e identidade. Apesar disso pouco se<br />

9


trabalha com relação à Idade Média Portuguesa em nosso país. Por meio desta<br />

pesquisa, minha intenção é desvendar porque, e como, essa cultura tão<br />

próxima da nossa constrói um herói medieval, baseada em seus próprios<br />

valores. Dessa maneira, alian<strong>do</strong> a isso o fato de o herói que usarei para<br />

trabalhar tal ponto seria um personagem castelhano, estrangeiro, portanto, em<br />

relação ao autor. Tal situação adiciona à problemática inicial um novo<br />

questionamento e uma outra linha epistemológica: a análise da alteridade, ou<br />

seja, como esse cronista medieval português iria modelar um cavaleiro<br />

castelhano para servir de modelo à nobreza baixo-medieval portuguesa e quais<br />

os objetivos desta construção em seu perío<strong>do</strong>.<br />

10


2. A Lenda Castelhana<br />

Em 1099 morria o primeiro governante cristão de Valência desde a<br />

tomada da cidade pelos mouros 3 . Este homem, um guerreiro que lutou em<br />

diversas batalhas e defendeu várias bandeiras, representaria na memória<br />

futura o símbolo da luta entre os cristãos e os islâmicos na Península Ibérica<br />

conhecida como Reconquista. Assim que Rodrigo Diáz faleceu um processo se<br />

iniciou: era a criação de um mito 4 .<br />

Para qualquer historia<strong>do</strong>r que ambiciona pesquisar sobre esse<br />

personagem histórico logo de inicio se evidencia um grande problema: as<br />

fontes. Enquanto, por um la<strong>do</strong>, quanto mais próximo <strong>do</strong> tempo de El Cid em<br />

vida mais raros são os <strong>do</strong>cumentos que possam oferecer informações, por<br />

outro, após a sua morte observa-se uma boa quantidade de obras escritas<br />

sobre esse herói. Citaremos aqui os principais <strong>do</strong>cumentos: o primeiro em que<br />

aparece o termo Cid foi um poema em latim escrito em celebração da<br />

conquista de Alméria, em 1147. O autor anônimo por duas vezes se refere a<br />

Rodrigo Díaz como mio Cidi 5 . A maneira como o termo é utiliza<strong>do</strong> demonstra<br />

que o autor esperava uma pronta identificação por parte <strong>do</strong> seu público com o<br />

personagem ao qual se referia. O termo Cid provém de uma transliteração <strong>do</strong><br />

árabe sayyid que significa “senhor”. Portanto, El Cid equivaleria a “o senhor” ou<br />

“o líder”. Não há registros que comprovem a utilização deste termo durante a<br />

vida de seu porta<strong>do</strong>r, porém não há provas para o contrário. 6<br />

A primeira obra dedicada inteiramente ao El Cid se mostra na forma de<br />

poesia. Parte de um manuscrito copia<strong>do</strong> em Ripoll por volta <strong>do</strong> ano 1200. Um<br />

<strong>do</strong>s três poemas conti<strong>do</strong>s no <strong>do</strong>cumento é um conjunto de versos em latim,<br />

sem título, que se dedicam às primeiras façanhas militares de Rodrigo,<br />

mencionan<strong>do</strong>-o diversas vezes como campi <strong>do</strong>ctor (campea<strong>do</strong>r). Foi desta<br />

característica que o poema ganhou o título atual de Carmem Campi Doctoris<br />

(Canção <strong>do</strong> Campea<strong>do</strong>r). O perío<strong>do</strong> exatamente no qual esta obra foi<br />

produzida ainda causa debates na historiografia. Porém existe certo consenso<br />

3 FLETCHER, R. Em busca de El Cid, São Paulo, UNESP 2002, p 13<br />

4 RIVAIR, José Mace<strong>do</strong>. Mouros e Cristãos: A Ritualização da Conquista no Velho e no Novo Mun<strong>do</strong>.<br />

http://paginas.terra.com.br/arte/gtmedieval/mouros_e_cristaos.pdf.<br />

5 FLETCHER, R. Em busca de El Cid, São Paulo, UNESP 2002, p 13<br />

6 Ibid<br />

11


de que teria si<strong>do</strong> escrita no monastério de Ripoll, Castela, pouco tempo depois<br />

<strong>do</strong> último acontecimento relata<strong>do</strong> no poema: a batalha de Almenar que se deu<br />

em 1082. 7<br />

Por outro la<strong>do</strong>, outra obra escrita pouco tempo depois se mostra mais<br />

útil: a História Roderici. Esta também recebeu um título moderno, pois no<br />

formato que chegou a nós se encontrava desprovida de um. Estava apenas<br />

escrito em seu cabeçalho “Aqui começam os feitos de Rodrigo, o Campea<strong>do</strong>r”. 8<br />

Este texto trata da vida de Rodrigo até a sua morte. Porem é depois <strong>do</strong><br />

primeiro exílio <strong>do</strong> El Cid que o escritor demonstra um grau de detalhe<br />

consideravelmente maior <strong>do</strong> que nos capítulos anteriores. Sua data é outra<br />

grande dúvida, pois o manuscrito que chegou até os nossos tempos é uma<br />

cópia datada por volta de 1230.<br />

Entretanto, para Fletcher o <strong>do</strong>cumento original poderia ser data<strong>do</strong> entre<br />

os 20 anos seguintes à morte de El Cid por <strong>do</strong>is motivos: o primeiro provém de<br />

uma análise de grafia, “no patronímico ‘Sánchez’ (filho de Sancho) no capítulo<br />

23 <strong>do</strong> manuscrito mais antigo a letra ‘a’ foi substituída pela letra ‘u’”. Durante a<br />

passagem <strong>do</strong> século XI para o século XII a escrita tradicional castelhana foi<br />

sen<strong>do</strong> modificada, passan<strong>do</strong> da escrita visigótica para a escrita que ficou<br />

conhecida como francesa. Uma das diferenças entre as duas escritas se<br />

encontrava na primeira letra <strong>do</strong> alfabeto: na escrita visigótica o “a” não era<br />

fecha<strong>do</strong> na parte de cima, o que poderia causar a impressão de “u”. É nesse<br />

erro de cópia que podemos supor, segun<strong>do</strong> Fletcher, que o autor original da<br />

obra tenha usa<strong>do</strong> a forma escrita visigótica o que causou uma falha na<br />

tradução muitos anos depois quan<strong>do</strong> o responsável pela cópia não devia estar<br />

acostuma<strong>do</strong> com a escrita visigótica. Sen<strong>do</strong> assim a obra teria si<strong>do</strong> produzida<br />

entre o final <strong>do</strong> século XI e os primeiros anos <strong>do</strong> século XII. 9<br />

A segunda razão que leva o historia<strong>do</strong>r a crer na proximidade da obra<br />

com o tempo em vida <strong>do</strong> seu objeto é mais simples: segun<strong>do</strong> o pesquisa<strong>do</strong>r a<br />

relação entre a narrativa e o que pode ser comprova<strong>do</strong> com outros <strong>do</strong>cumentos<br />

7 A obra trata <strong>do</strong>s momentos anteriores à batalha, onde se encontra Rodrigo se preparan<strong>do</strong>. Entretanto o<br />

poema é interrompi<strong>do</strong> nesta parte e algo entre 10 estrofes foram apagadas, ou de forma deliberada ou pelo<br />

próprio tempo, o que poderia levar a conclusões diferentes. Ibid p. 123<br />

8 FLETCHER, R. Em busca de El Cid, São Paulo, UNESP 2002, p 124<br />

9 Ibid, p 127<br />

12


é tão precisa que o autor deveria estar vivo durante os acontecimentos para tê-<br />

los de maneira tão “fresca” em sua memória. 10<br />

Considerada a primeira grande obra redigida em língua castelhana,<br />

nenhum outro <strong>do</strong>cumento sobre El Cid recebeu tanto prestígio e foi alvo de<br />

tanto debate como o Poema de Mio Cid. O Poema chegou até nossa época em<br />

um único manuscrito copia<strong>do</strong> a mão por volta de 1350. Ao fim <strong>do</strong> texto há uma<br />

frase que gerou grande debate entre a historiografia: “Per Abbat le escrevió en<br />

el mes de mayo en era de mil e CC xvl años” (Per Abbat escreveu no mês de<br />

mayo na era de 1245, que na nossa datação atual seria equivalente a 1207).<br />

Tais palavras abriram um questionamento: a palavra “escrevió” se referia a<br />

uma cópia, uma anotação de uma tradição oral, ou a composição em si <strong>do</strong><br />

canto? Isso abria a questão de quan<strong>do</strong> a obra teria si<strong>do</strong> escrita. Seria Per<br />

Abbat o seu autor?<br />

Lidera<strong>do</strong>s por Ramón Menedez Pidal, um grande filólogo espanhol que<br />

dedicou sua vida às questões “cidianas”, um grupo de historia<strong>do</strong>res defendia a<br />

fundamentação histórica contida no poema, principalmente no que se referia ao<br />

exílio de 1081 a 1086, o nome de membros <strong>do</strong> séqüito de Rodrigo e o seu<br />

relacionamento com o conde de Barcelona. A teoria de Pidal estava baseada<br />

na idéia de que tradições orais passadas a cada geração poderiam conter<br />

informações históricas corretas. Para sustentar suas hipóteses, Pidal tentava<br />

provar que Per Abbat era apenas um copista e que a obra tinha si<strong>do</strong> escrita por<br />

volta de 1140, quarenta e um anos após a morte <strong>do</strong> Cid. Entretanto algumas<br />

pesquisas, analisan<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> de escrita e algumas referências a<br />

procedimentos judiciais e burocráticos, sugeriram que a obra fosse datada de<br />

1175, na verdade, mais de cento e cinqüenta anos após a morte <strong>do</strong> cavaleiro. 11<br />

Reinhardt Dozy, um pesquisa<strong>do</strong>r holandês que havia descoberto textos<br />

árabes que tratavam <strong>do</strong> El Cid foi pelo caminho contrário. Julgan<strong>do</strong> o poema<br />

como “ficção e vazio de qualquer valor como testemunho histórico”. Dozy<br />

caracterizou Rodrigo como um homem rude, um mercenário interessa<strong>do</strong><br />

apenas em seu enriquecimento e disposto a fazer o necessário para tal e, o<br />

mais importante, “mais muçulmano que católico” 12 .<br />

10 Ibid<br />

11 Ibid, p254<br />

12 Ibid, p 263<br />

13


Já Fletcher utiliza três características para mostrar o El Cid <strong>do</strong> Poema de<br />

mio Cidi como apenas fruto de uma produção literária sem grande<br />

profundidade histórica: em primeiro lugar o fato de Rodrigo ser enfaticamente<br />

castelhano. Durante a primeira parte da obra observa-se que acima de tu<strong>do</strong><br />

Rodrigo sente a perda de “sua terra natal” 13 . Jordi Par<strong>do</strong> Pastor, em seu texto<br />

A Representação <strong>do</strong> Cavaleiro na Épica Espanhola: o Cid Campea<strong>do</strong>r um<br />

Canto de Fronteira, corrobora essa idéia: “A pátria é o que de mais grandioso<br />

existe para o Cid. Tu<strong>do</strong> o que nela se encontra é profundamente ama<strong>do</strong> por<br />

nosso herói, os palácios, as casas, a gente”. 14 Contu<strong>do</strong> esse tipo de relação<br />

patriótica com a terra natal é algo totalmente anacrônico se for atribuí<strong>do</strong> a um<br />

cavaleiro medieval. Principalmente quan<strong>do</strong> este cavaleiro em questão lutou ao<br />

la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s muçulmanos, inclusive contra os seus antigos alia<strong>do</strong>s cristãos, algo<br />

que o Poema nem menciona.<br />

Esse ponto leva à segunda crítica que Fletcher faz ao <strong>do</strong>cumento: El Cid<br />

é mostra<strong>do</strong> como um cristão fervoroso. Mais <strong>do</strong> que um cristão comum, o<br />

Poema mostra o cavaleiro “rezan<strong>do</strong>, invocan<strong>do</strong> São Tiago, receben<strong>do</strong> a graça<br />

de uma visão <strong>do</strong> Arcanjo Gabriel, desejan<strong>do</strong> recuperar Valência para a<br />

cristandade” 15 e etc. As poucas vezes que o Poema menciona as várias<br />

alianças que Rodrigo fez com os muçulmanos, estas são retratadas como<br />

meras estratégias para manipular seus tributários contra outros infiéis.<br />

Por último, a maneira sempre leal ao rei, mesmo que o herói fosse vítima<br />

de injustiça desse mesmo senhor, demonstra outra discrepância com o El Cid<br />

histórico para Fletcher. O Cid histórico não poderia ser mais diferente que este:<br />

o cavaleiro representa na verdade insubordinação para com seu rei. O primeiro<br />

exílio de Rodrigo simboliza sua personalidade independente: após um ataque e<br />

saque feito ao castelo de Gormaz por bandi<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>s das regiões de Tole<strong>do</strong>,<br />

El Cid organiza suas hostes e, sem esperar por ordens reais, invade o reino<br />

muçulmano, saquean<strong>do</strong> e devastan<strong>do</strong> suas terras. Algumas das razões que<br />

talvez tenham leva<strong>do</strong> o cavaleiro a tal impetuosidade seriam as terras próximas<br />

as suas na região e a chance de recebê-las, ou tomá-las, com o ataque. De<br />

qualquer mo<strong>do</strong> tal insubordinação mostra como Rodrigo agia por conta própria<br />

13 Ibid, p 254<br />

14 PASTOR, Jordi P.. A Representação <strong>do</strong> Cavaleiro na épica Espanhola: o Cid Campea<strong>do</strong>r, um Cante<br />

de Fronteira. HTTP: \\www.hottopos.com\rih8\jordi.htm<br />

15 FLETCHER, R. Em busca de El Cid, São Paulo, UNESP 2002, p 255.<br />

14


sem se preocupar com a autorização de seu governante, que, aliás, há anos<br />

lutava para assegurar a manutenção <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r de Tole<strong>do</strong>, seu protegi<strong>do</strong>,<br />

algo que foi intensamente dificulta<strong>do</strong> pelo ataque <strong>do</strong> nobre cavaleiro.<br />

Para ajudar a compreender o Poema de Mio Cid vale a pena levar em<br />

conta o que se passava na Península Ibérica durante o perío<strong>do</strong>: Uma nova<br />

seita de caráter beligerante crescia entre os muçulmanos, os almôadas. Em<br />

1173 esta seita já controlava a totalidade <strong>do</strong> al-Andaluz. Os <strong>do</strong>mínios<br />

castelhanos se viam novamente dividi<strong>do</strong>s e com a morte de Sancho III ficou<br />

apenas seu filho, Afonso VIII, um bebe, para reinar. As disputas pela regência<br />

só tiveram fim com a maioridade <strong>do</strong> rei em 1169. Entretanto, a ameaça<br />

almôada crescia cada vez mais e em 1195 os castelhanos amargam uma<br />

derrota decisiva na batalha de Alarcos contra os muçulmanos. Apenas em<br />

1212 que Afonso VIII conseguiria desacelerar o crescimento <strong>do</strong>s almôadas.<br />

Não é necessária demasiada análise para perceber a relação entre o<br />

herói <strong>do</strong> poema e os problemas da época. Castela estava sen<strong>do</strong> ameaçada por<br />

um inimigo árabe novamente e pelos conflitos internos <strong>do</strong>s que colocavam<br />

seus interesses acima das necessidades <strong>do</strong> reino, esquecen<strong>do</strong> seu dever para<br />

com o rei. Era preciso um herói que mostrasse aos nobres como eles deveriam<br />

agir. O autor misterioso da obra provavelmente queria mostrar um grande<br />

cavaleiro, habili<strong>do</strong>so no campo de batalha como nenhum outro, mas nobre de<br />

coração, fiel ao rei e temente a Deus, que, agin<strong>do</strong> por esses princípios<br />

alcançou grande prestígio e riqueza. 16<br />

José Rivair Mace<strong>do</strong> em seu texto: Mouros e Cristãos: A Ritualização da<br />

Conquista no Velho e no Novo Mun<strong>do</strong> comenta a utilização <strong>do</strong> Cantar (Poema)<br />

de Mio Cidi para divulgar imagens e valores relaciona<strong>do</strong>s à cristandade e na<br />

transformação <strong>do</strong> Cid como um exemplo a ser copia<strong>do</strong>. 17 O texto de Jordi<br />

Pastor vai pelo mesmo caminho: a idéia que o pesquisa<strong>do</strong>r defende é a de que<br />

o Poema tinha si<strong>do</strong> escrito por um habitante da fronteira para a fronteira. Dessa<br />

maneira o personagem mitifica<strong>do</strong> de El Cid serviria para arrebatar as pessoas<br />

em um romance envolvente e ao mesmo tempo didático geran<strong>do</strong> um exemplo a<br />

16 FLETCHER, R. Em busca de El Cid, São Paulo, UNESP 2002, p 257<br />

17 RIVAIR, José Mace<strong>do</strong>. Mouros e Cristãos: A Ritualização da Conquista no Velho e no Novo Mun<strong>do</strong>.<br />

http://paginas.terra.com.br/arte/gtmedieval/mouros_e_cristaos.pdf.<br />

15


ser segui<strong>do</strong>. Pastor conclui dizen<strong>do</strong> que o El Cid encontra<strong>do</strong> no <strong>do</strong>cumento<br />

deveria ser enxerga<strong>do</strong> como “a esperança da sociedade da época” 18<br />

O próprio Pidal, o maior defensor <strong>do</strong> Poema de Mio Cidi, mostra-se<br />

vulnerável ao mesmo tipo de análise contextual que utilizamos à sua fonte mais<br />

querida: Ramón Menendez Pidal nasceu em Corunna em 1869 de país de<br />

origem asturiana. Foi seu tio, o marquês de Pidal, coleciona<strong>do</strong>r de gosto<br />

erudito, que lhe apresentou o personagem histórico El Cid, O marques havia<br />

compra<strong>do</strong> o único manuscrito <strong>do</strong> Poema de Mio Cid. E assim já pequeno Pidal<br />

iniciava uma relação que duraria por toda a sua vida.<br />

Entretanto foi durante sua lua-de-mel que o pesquisa<strong>do</strong>r vivenciou um<br />

momento que marcaria sua forma de ver <strong>do</strong>cumentos e fontes: ele “e sua<br />

mulher ouviram uma lavadeira as margens de um rio cantar uma balada, até<br />

então sem registro, sobre a morte <strong>do</strong> filho mais velho de Fernan<strong>do</strong> e Isabel,<br />

ocorrida quase quatrocentos anos antes. Eles reconheceram nela informações<br />

históricas autênticas” 19 , informações estas que eram presumivelmente além <strong>do</strong><br />

conhecimento de uma simples lavadeira.<br />

O tratamento da<strong>do</strong> por Dozy ao Cid gerou uma revolta em Pidal, o qual<br />

anos mais tarde o acusaria de “ci<strong>do</strong>fobia”. Em sua La España del Cid, Pidal<br />

crítica por inteiro a tese <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r holandês, acusan<strong>do</strong>-o de deixar se<br />

“desencaminhar pelo racionalismo”. Esta crítica demonstra a influência de outro<br />

escritor espanhol: Marcelino Menéndez y Pelayo, um defensor ferrenho da<br />

idéia de Espanha como a defensora da Fé Católica.<br />

A última década <strong>do</strong> século XIX foram anos de humilhação para a<br />

Espanha, a decadência econômica e a perda de territórios em derrotas<br />

vergonhosas para os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s durante a Guerra Hispano-Americana de<br />

1898, que durou apenas três meses, faziam com que os historia<strong>do</strong>res<br />

olhassem para trás para tentar entender “onde erraram”. Foi nesse contexto de<br />

humilhação internacional e sau<strong>do</strong>sismo que Pidal produz seu texto. Ora<br />

observamos com grande clareza em seu livro a tentativa de construção de uma<br />

identidade espanhola fundada em valores castelhanos. É uma tentativa <strong>do</strong><br />

pesquisa<strong>do</strong>r de “levantar a moral” de seu país através de heróis <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

18 PASTOR, Jordi P.. A Representação <strong>do</strong> Cavaleiro na épica Espanhola: o Cid Campea<strong>do</strong>r, um Cante<br />

de Fronteira. HTTP: \\www.hottopos.com\rih8\jordi.htm<br />

19 FLETCHER, R. Em busca de El Cid, São Paulo, UNESP 2002, p 265<br />

16


No próprio prefácio da primeira edição de La Espanha del Cid assim como na<br />

conclusão Pidal admite que sua obra tinha também um caráter didático.<br />

“Menéndez Pidal tinha lições a ensinar à sua geração, talvez de forma muito<br />

semelhante ao autor <strong>do</strong> Poema de mio Cid, que tinha lições – bastante<br />

semelhantes, por sinal – a ensinar para a versão de Pidal” ·. 20<br />

20 Ibid, p. 264<br />

17


3. O Nobre Português Autor e Ator em seu tempo<br />

Concebi<strong>do</strong> em ilegalidade por Grácia Alves no ano de 1285, o filho<br />

bastar<strong>do</strong> <strong>do</strong> rei português D. Dinis, logo seria acolhi<strong>do</strong> na corte régia pela<br />

própria rainha Isabel. Tal situação era na verdade uma estratégia comum entre<br />

as rainhas européias para se utilizar destes filhos ilegítimos a fim de criar uma<br />

rede de alianças através de casamentos.<br />

Entretanto, os bastar<strong>do</strong>s eram comuns na sociedade portuguesa e os<br />

filhos fora <strong>do</strong> casamento eram tão numerosos que o termo representava<br />

apenas um conceito jurídico e não qualquer espécie de condenação ou<br />

reprovação moral, e mesmo esta diferença poderia ser revogada se o pai<br />

emitisse uma carta de legitimação, eximin<strong>do</strong> os beneficia<strong>do</strong>s de ações<br />

contestatórias de suas heranças, carta esta que Pedro Afonso também recebeu<br />

de seu pai. No próprio Livro de Linhagens encontram-se filhos bastar<strong>do</strong>s que<br />

procuram justificar suas linhagens, sen<strong>do</strong>, portanto o livro um eficiente<br />

instrumento ideológico, cujas personagens não valem tanto pelo que são,<br />

realmente, mas pela imagem, pela construção que é feita deles. 21<br />

Pedro Afonso contou com grande apoio de seu pai, receben<strong>do</strong> uma série<br />

de <strong>do</strong>mínios e cargos como o de Mor<strong>do</strong>mo da Infanta Beatriz, o conda<strong>do</strong><br />

vitalício de Barcelos e o cargo de Alferez-mor. Os últimos sen<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong>s já<br />

em meio a guerra civil de 1319-1324<br />

Essa realidade tende a crescer depois da a<strong>do</strong>ção da sucessão agnática<br />

que definia que a hereditariedade se dava pelo parentesco masculino, diferente<br />

da cognática, em que prezava pelo parentesco por ambos os progenitores,<br />

utilizada na estrutura germânica; e a feminina característica <strong>do</strong> direito<br />

romano. 22<br />

A bastardia régia também se exibia como uma estratégia de associação<br />

com outras famílias importantes tanto de Portugal como de outros reinos, alem<br />

de prover bons auxiliares para o governo <strong>do</strong> rei, seu pai, como foi o caso <strong>do</strong>s<br />

21 MOCELIM, Adriana, “POR METER AMOR E AMIZADE ENTRE OS NOBRES FIDALGOS DA<br />

ESPANHA”: Livro de Linhagens <strong>do</strong> Conde Pedro Afonso no contexto tar<strong>do</strong>-medieval português,<br />

Dissertação de mestra<strong>do</strong> apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal <strong>do</strong><br />

Paraná, 2006 p. 15<br />

22 PIZARRO, José Augusto de Sotto Mayor. A nobreza portuguesa no perío<strong>do</strong> dionisino. Contextos e<br />

estratégias (1279-1325). In: Em La España Medieval nº 22. Madrid: Universidad Complutense, 1999 p 75<br />

18


filhos de D. Dinis: “<strong>do</strong>is <strong>do</strong>s filhos bastar<strong>do</strong>s <strong>do</strong> rei ocuparam <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s mais<br />

importantes cargos <strong>do</strong> reino português. O conde Pedro Afonso ocupou o cargo<br />

de Alferes Mor, com atribuições militares, enquanto Afonso Sanchez ocupou o<br />

cargo de Mor<strong>do</strong>mo Mor que era por assim dizer, o ‘chefe da casa civil’ <strong>do</strong> rei,<br />

exercen<strong>do</strong> atribuições honorárias administrativas e políticas.” 23 Tais cargos<br />

eram reserva<strong>do</strong>s para os membros mais altos da nobreza, e o fato de D. Dinis<br />

os ter relega<strong>do</strong> aos seus filhos reflete o distanciamento que já ocorria entre o<br />

monarca e a nobreza.<br />

D. Dinis assumiu o trono em 1279, depois da morte de seu pai Afonso III,<br />

o qual dera início à construção de um código de leis em Portugal. Por<br />

demonstrar um caráter altamente centraliza<strong>do</strong>r seu reina<strong>do</strong> fora permea<strong>do</strong> por<br />

conflitos com a nobreza e nos últimos <strong>do</strong>ze anos a situação saíra <strong>do</strong> controle<br />

<strong>do</strong> rei, que já bastante <strong>do</strong>ente, não conseguia dirigir a administração pública,<br />

provocan<strong>do</strong> um aumento da criminalidade e da violência no campo social. As<br />

primeiras medidas de Dinis foram relativas a retomar o controle da<br />

administração régia e o fortalecimento da justiça para a repressão da<br />

criminalidade.<br />

D. Dinis daria continuidade ao processo centraliza<strong>do</strong>r de seu pai e seu<br />

reina<strong>do</strong> seria marca<strong>do</strong> como “a primeira administração completa que houve em<br />

Portugal, com leis assentadas na realidade política econômica e social, alem<br />

da obrigatoriedade de seu cumprimento” 24 e também pela autonomia <strong>do</strong> reino<br />

independente ao âmbito castelhano e sua coroa reconhecida e respeitada,<br />

méritos de Dinis pela implementação de sua soberania pelo interior <strong>do</strong> reino.<br />

Alem desses fatores o reino português se destacaria pela estabilidade interna<br />

que durou mais de trinta anos, enquanto que Castela era dilacerada por<br />

conflitos sociais.<br />

O primeiro conflito que o rei teve que se deparar foi com relação a seu<br />

irmão o Infante Afonso, que se declarava o herdeiro legítimo da coroa devi<strong>do</strong> a<br />

certa anulação papal que ocorrera no casamento <strong>do</strong>s pais de Dinis quan<strong>do</strong><br />

este nasceu. Responden<strong>do</strong> a esta alegação Dinis acusava o casamento <strong>do</strong><br />

23 MOCELIM, Adriana, “POR METER AMOR E AMIZADE ENTRE OS NOBRES FIDALGOS DA<br />

ESPANHA”: Livro de Linhagens <strong>do</strong> Conde Pedro Afonso no contexto tar<strong>do</strong>-medieval portugués,<br />

Dissertação de mestra<strong>do</strong> apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal <strong>do</strong><br />

Paraná, 2006 p. 16<br />

24 Ibid. p. 19<br />

19


Infante com Violante de Castela de ilegalidade por seu grau de parentesco. A<br />

estratégia de Dinis era impedir que os terrenos herda<strong>do</strong>s por Afonso, que se<br />

localizavam na fronteira com Castela e livres da jurisdição real, passassem<br />

para os esposos castelhanos das filhas com Violante. Tais esposos poderiam,<br />

principalmente pela proximidade com Castela, tentar se separar de Portugal e<br />

passar sua vassalagem ao rei castelhano causan<strong>do</strong> assim perda territorial para<br />

o reino. Dessa maneira anulan<strong>do</strong> o casamento se anulava a hereditariedade<br />

<strong>do</strong>s terrenos que após a morte de Afonso, uma vez que não havia varão ou<br />

parente mais próximo para herdá-los, voltaria ao <strong>do</strong>mínio da coroa<br />

portuguesa. 25<br />

O inevitável ocorreu e o primeiro conflito arma<strong>do</strong> se deu após Afonso<br />

fortificar algumas partes de suas terras sem pedir permissão ao rei, em 1281 (o<br />

que seria extremamente perigoso para o reino português, por estar na fronteira<br />

com Castela). Um ano depois o Infante foi força<strong>do</strong> a derrubar suas fortificações<br />

e se armar cavaleiro <strong>do</strong> rei, no trata<strong>do</strong> seguinte a sua derrota. No segun<strong>do</strong><br />

conflito, de 1284, Afonso se junta aos nobres descontentes com a Inquirição de<br />

1284, instigan<strong>do</strong>-os a pegar em armas. O erro <strong>do</strong> Infante foi se aliar a Álvaro<br />

Nunes de Lara, inimigo da coroa castelhana o que fez com que os <strong>do</strong>is reinos<br />

se aliarem para suprimir sua revolta (Dinis já havia se alia<strong>do</strong> a Sancho IV rei de<br />

Castela contra seu pai, então o rei Afonso X). Novo acor<strong>do</strong> de paz: renovar os<br />

votos feitos na primeira derrota e a troca de uma vila da fronteira por uma <strong>do</strong><br />

interior (Arronches por Armamar). Estratégia de Dinis para afastar o Infante<br />

turbulento da fronteira e separar suas forças. 26<br />

O terceiro conflito por sua vez, aconteceu em abril de 1299 quan<strong>do</strong> o<br />

Infante cercou Portoalegre com a ajuda das ordens militares de Avis e <strong>do</strong><br />

Templo. Este ultimo confronto resultou na troca de mais território fronteiriços<br />

por, outros interioranos, uma nova renovação <strong>do</strong>s votos de fidelidade e um<br />

grande fortalecimento da figura <strong>do</strong> rei como punho firme contra as pretensões<br />

nobiliárquicas. 27<br />

A obra legislativa de Dinis se caracterizava pelo intuito de assegurar a<br />

cobrança de foros e rendas da coroa, sonegadas por muitas vezes pela<br />

25 SERRÂO, Joaquim Veríssimo. História de Portugal. Vol. I. Lisboa: Edital Verbo, 1979 p. 248<br />

26 MATTOSO, José. org. e SOUSA, Armin<strong>do</strong> de, História de Portugal: a Monarquia feudal (1096-1480),<br />

Lisboa: Editorial Estampa, 1993 p. 160<br />

27 Ibid p. 152<br />

20


nobreza. Para tal lançou mão muitas vezes das odiadas inquirições que<br />

avaliavam to<strong>do</strong>s os privilégios que tal nobre tinha direito e conferia-os para<br />

garantir qual eram as suas origens e limitar assim a expansão política e<br />

material desse mesmo nobre. 28 O conflito com seu irmão mostra apenas o<br />

começo de uma luta lenta e insidiosa contra a proliferação senhorial, que<br />

apesar de demonstrar muita resistência acabaria por se tornar inexorável.<br />

Tal processo gerou insatisfação por parte <strong>do</strong>s nobres que em 1285<br />

protestaram nas Cortes de Lisboa, geran<strong>do</strong> um clima de contestação no reino.<br />

Desde tal acontecimento até 1316 os nobres tentaram realizar uma oposição<br />

passiva ao rei através de discursos e manobras legais. Porém o rei continuou<br />

firme em seus propósitos, adian<strong>do</strong> respostas e apelos judiciais, ou ainda<br />

obten<strong>do</strong> sentenças a seu favor. Será em Afonso, filho varão de Dinis,<br />

desgostoso com a predileção de seu pai para com seus filhos bastar<strong>do</strong>s, que<br />

os nobres irão encontrar a liderança que necessitavam para iniciar uma<br />

oposição mais ativa que finalmente ira gerar a Guerra Civil de 1319-1324.<br />

Muitos nobres, condena<strong>do</strong>s por Dinis se aproximavam de Afonso em busca de<br />

proteção e anulação da ordem <strong>do</strong> rei. Dessa maneira o maior conflito entre as<br />

duas gerações se deflagrou quan<strong>do</strong> Afonso começou a exigir o regimento da<br />

justiça <strong>do</strong> reino, o que parecia para Dinis algo desastroso, uma vez que to<strong>do</strong>s<br />

os castigos impostos a alguns nobres por eles poderiam ser retira<strong>do</strong>s, e que<br />

assim perderia sua maior base para o processo de centralização <strong>do</strong> poder, a<br />

justiça real. 29<br />

Exibi<strong>do</strong> muitas vezes pelos nobres partidários <strong>do</strong> príncipe Afonso como<br />

o favorito de Dinis, Afonso Sanches foi escolhi<strong>do</strong> como alvo das críticas, ten<strong>do</strong><br />

até mesmo si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> um boato de que o mesmo substituiria Afonso na<br />

sucessão <strong>do</strong> rei. Portanto o Infante apresentava três razões para sua oposição<br />

aberta: o prestígio ofereci<strong>do</strong> ao rei aos seus filhos bastar<strong>do</strong>s, a “desordenada<br />

cobiça” <strong>do</strong> rei para cobrar os tesouros <strong>do</strong>s nobres e a resistência <strong>do</strong> rei em<br />

ceder-lo o regimento da justiça <strong>do</strong> reino.<br />

28 MOCELIM, Adriana, “POR METER AMOR E AMIZADE ENTRE OS NOBRES FIDALGOS DA<br />

ESPANHA”: Livro de Linhagens <strong>do</strong> Conde Pedro Afonso no contexto tar<strong>do</strong>-medieval portugués,<br />

Dissertação de mestra<strong>do</strong> apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal <strong>do</strong><br />

Paraná, 2006 p. 24<br />

29 Ibid p. 27<br />

21


Dinis, ven<strong>do</strong> nuvens negras a se aproximar, man<strong>do</strong>u que se fizesse em<br />

to<strong>do</strong> o reino uma grande preparação de armas. Foi durante esse perío<strong>do</strong> que<br />

Dinis, temen<strong>do</strong> perder o apoio de alguns filhos começou a distribuir<br />

concessões, como o próprio Conda<strong>do</strong> de Barcelos a Pedro Afonso. 30<br />

Ao la<strong>do</strong> de Afonso, se mantiveram os bispa<strong>do</strong>s de Lisboa e <strong>do</strong> Porto,<br />

membros da nobreza de Corte, alguns membros da segunda ou terceira<br />

nobreza, sen<strong>do</strong> seus mais ativos partidários os filhos segun<strong>do</strong>s e bastar<strong>do</strong>s,<br />

principais “vitimas” da justiça <strong>do</strong> rei. Totalizan<strong>do</strong> um numero maior que <strong>do</strong>s<br />

partidários de seu pai. Já Dinis contava com o apoio de seus filhos bastar<strong>do</strong>s,<br />

alguns nobres de segunda categoria, o bispo de Évora, o deão <strong>do</strong> Porto, os<br />

mestres das ordens militares e alguns chefes de linhagens, fidalgos, filhos<br />

segun<strong>do</strong>s e indivíduos de pouca expressão, alem <strong>do</strong>s membros <strong>do</strong> Conselho. 31<br />

Pedro Afonso permaneceu fiel ao rei na primeira parte <strong>do</strong> conflito,<br />

tentan<strong>do</strong>, entretanto se aproximar de Afonso. Dessa maneira, frente a uma<br />

acusação de traição feita por seus irmãos João Afonso e Afonso Sanchez,<br />

devi<strong>do</strong> a uma constante defesa de Pedro Afonso no que concernia à<br />

legitimidade de seu irmão Afonso, Dinis se viu força<strong>do</strong> a condenar o Conde<br />

Pedro ao desterro, confiscan<strong>do</strong> assim, todas as suas posses.<br />

Com tal proclamação <strong>do</strong> rei a postura demonstrada por Afonso com seu<br />

irmão Pedro Afonso mu<strong>do</strong>u radicalmente. Ten<strong>do</strong> antes o coloca<strong>do</strong> no mesmo<br />

patamar que Afonso Sanchez, após o desterro Afonso se aproximou de Pedro,<br />

inclusive interceden<strong>do</strong> junto à Rainha de Castela para lhe oferecer assistência<br />

em seu exílio. 32<br />

No ano de 1322, Afonso enviou uma mensagem pedin<strong>do</strong> o apoio de seu<br />

irmão, Pedro Afonso. Dessa maneira, regressan<strong>do</strong> de seu exílio, o conde fez<br />

um papel duplo, permanecen<strong>do</strong> ao la<strong>do</strong> de Afonso, mas tentan<strong>do</strong> se aproximar<br />

de Dinis para restituir, assim, suas posses. Acabou por desempenhar, ao la<strong>do</strong><br />

da Rainha Isabel, um importante papel na definição da concórdia entre os<br />

parti<strong>do</strong>s e na restituição da paz.<br />

30 Ibid p. 28<br />

31 Ibid p. 29<br />

32 Ibid p. 32<br />

22


Afonso se tornará Afonso IV com a morte de seu pai em 1325 e Pedro<br />

Afonso irá ostentar grande prestigio novamente com o Rei, ten<strong>do</strong> grande<br />

participação nos conflitos com Castela.<br />

Menos <strong>do</strong> que representar uma oposição entre grupos sociais a guerra<br />

estava relacionada ao fato de aceitar ou não a centralização política. E durante<br />

o reina<strong>do</strong> de Afonso IV foi a vez <strong>do</strong>s Conselhos protestarem. Além disso, o<br />

confronto servia para mostrar que não seria tão fácil retirar os privilégios da<br />

nobreza, sen<strong>do</strong> marca<strong>do</strong>, entretanto como o ultimo grande suspiro das grandes<br />

vantagens que esse grupo podia ostentar. 33<br />

Apesar de seu desfecho ambíguo a guerra viria a dar continuidade ao<br />

processo que Afonso III começara e que Dinis estava dan<strong>do</strong> seguimento:<br />

Afonso IV também irá pautar sua administração no fortalecimento <strong>do</strong> poder<br />

central <strong>do</strong> rei, para grande decepção da nobreza que se via dessa maneira<br />

desamparada e desorientada. 34<br />

Em 1340 os reinos de Portugal e Castela firmaram aliança para impedir<br />

o avanço mouro que parecia tomar novo fôlego. Porém em 30 de outubro de<br />

1340 na Batalha de Sala<strong>do</strong> os mouros seriam derrota<strong>do</strong>s uma ultima vez. Esta<br />

batalha marcaria o fim da Reconquista e os muçulmanos nunca mais<br />

apresentariam qualquer ameaça à soberania <strong>do</strong>s reinos católicos na Península<br />

Ibérica. 35<br />

Entretanto no tempo de Pedro Afonso, nota-se também um importante<br />

processo com relação à identidade da nobreza que merece destaque. Até o fim<br />

<strong>do</strong> século XIII o que designava os membros da nobreza senhorial era sua<br />

origem familiar que, baseada no direito de sangue, garantia a imunidades<br />

judiciais e isenções fiscais. Porém durante a baixa idade média a hierarquia<br />

<strong>do</strong>s valores que definiam a nobreza vai sen<strong>do</strong> modificada e, para o primeiro<br />

lugar, avança o serviço ao rei e as ações em prol de seu reino. Em seguida se<br />

encontra o patrimônio e depois a origem familiar. 36<br />

33<br />

MATTOSO, José, A guerra civil de 1319-1324. In: Estu<strong>do</strong>s da História de Portugal Vol. 1 – Séculos X-<br />

XV. Lisboa, Estampa, 1982 p. 176<br />

34<br />

MATTOSO, José, Identificação de um país: ensaio sobre as origens de Portugal, Lisboa: Estampa<br />

1985, 2 vols. P 66<br />

35<br />

MOCELIM, Adriana, “POR METER AMOR E AMIZADE ENTRE OS NOBRES FIDALGOS DA<br />

ESPANHA”: Livro de Linhagens <strong>do</strong> Conde Pedro Afonso no contexto tar<strong>do</strong>-medieval portugués,<br />

Dissertação de mestra<strong>do</strong> apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal <strong>do</strong><br />

Paraná, 2006 p. 40<br />

36<br />

Ibid, p. 43<br />

23


Para que a nobreza pudesse exercer, de maneira efetiva, suas<br />

prerrogativas senhoriais, deveria possuir recursos econômicos, força militar, ou<br />

proteção <strong>do</strong> rei suficiente. Portanto, com o crescente fortalecimento <strong>do</strong> poder<br />

régio português, o prestígio com relação ao rei vai se tornan<strong>do</strong> decisivo para a<br />

manutenção <strong>do</strong>s direitos senhoriais. Tal processo se deve também a um<br />

enfraquecimento da nobreza que viu grande parte de seus membros caírem<br />

nas revoltas constantes e nas batalhas contra os muçulmanos, assim como um<br />

gradual esvaziamento <strong>do</strong>s proveitos econômicos que a Reconquista, sua<br />

principal fonte de renda, tinha para oferecer 37 .<br />

Anteriormente visto como serviço de vilões, o combate a cavalo<br />

começou a receber, nesse processo um novo valor para a aristocracia e seus<br />

jovens, assim, se tornariam os novos profissionais da guerra, estabelecen<strong>do</strong><br />

então uma intima relação entre o combate a cavalo, o serviço de corte e à<br />

vassalagem.<br />

Dessa forma foi sen<strong>do</strong> difundi<strong>do</strong> uma nova concepção de nobreza: a<br />

cavalaria, vista como uma “virtus” pessoal e como profissão querida por Deus<br />

para promover o bem-estar <strong>do</strong> homem. Para tal movimento começam a se<br />

alastrar epopéias vindas ou imitadas de Castela, o culto generaliza<strong>do</strong> da poesia<br />

trova<strong>do</strong>resca, a assimilação crescente <strong>do</strong> espírito cortês alem da difusão<br />

progressiva de romances de cavalaria, que iriam proporcionar novos modelos<br />

basea<strong>do</strong>s em um ideal de serviço desinteressa<strong>do</strong> ou mesmo da recompensa<br />

mítica. 38<br />

De tais acontecimentos surge uma nova nobreza, pequena e de origens<br />

fundiárias de zonas setentrionais e montanhosas. Eram nobres que até então<br />

pertenciam a uma camada inferior, de poucas tradições familiares e um<br />

passa<strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong>. Para superarem tal barreira muitos se apropriavam <strong>do</strong>s<br />

mitos e tradições das famílias a quem se assimilavam pelo casamentos ou<br />

patrocinavam escritores que poderiam oferecer novas histórias sobre seu<br />

sucesso inespera<strong>do</strong>, os associan<strong>do</strong> a um passa<strong>do</strong> vitorioso. É nesse momento<br />

que se verifica uma grande incidência da literatura genealógica que poderia<br />

37 Ibid<br />

38 Ibid, p. 46<br />

24


servir para tal propósito, como outra grande obra <strong>do</strong> próprio conde Pedro<br />

Afonso, o Livro de Linhagens 39<br />

Letra<strong>do</strong> de grande importância, o Conde de Barcelos foi autor de uma<br />

série de obras literárias de variada natureza, na qual se incluem diversas<br />

cantigas, o Livro de Linhagens e a Crônica Geral de Espanha, sen<strong>do</strong> estes<br />

últimos as suas principais obras.<br />

A produção da Crônica Geral de Espanha chegou a seu fim em 1344.<br />

Em seus setecentos e vinte sete capítulos, a obra relata a história da Península<br />

Ibérica desde sua gênese até o reina<strong>do</strong> <strong>do</strong> rei português Afonso IV. Quanto ao<br />

autor, após alguns anos em que se acreditou ter si<strong>do</strong> Afonso IX, o sábio, foi<br />

comprova<strong>do</strong> que seria realmente Dom Pedro Afonso, Conde de Barcelos.<br />

O lega<strong>do</strong> cultural <strong>do</strong> Conde de Barcelos é um <strong>do</strong>s mais importantes da<br />

Idade Média peninsular e sua obra é considerada ainda uma das melhores<br />

fontes para o estu<strong>do</strong> da história social portuguesa no perío<strong>do</strong> da Dinastia<br />

Afonsina 40 .<br />

39 Ibid, p. 49<br />

40 Ibid p. 11<br />

25


4. A Crônica Geral de Espanha de 1344<br />

Apesar de ter si<strong>do</strong> concluída em 1344 a Crônica só receberá o devi<strong>do</strong><br />

valor no final <strong>do</strong> século XIX. Perdida entre os tantos manuscritos da produção<br />

literária de Afonso X, o Sábio, por muito tempo se acreditou que seria apenas<br />

mais uma parte <strong>do</strong> lega<strong>do</strong> <strong>do</strong> famoso rei letra<strong>do</strong>. Será Menendez Pidal quem<br />

“redescobrirá” a obra fazen<strong>do</strong> uma referência a uma Crônica Geral que estava<br />

sen<strong>do</strong> redigida por volta de 1344. 41 Desde então a sua importância foi se<br />

tornan<strong>do</strong> cada vez mais evidente e a contribuição que esta poderia oferecer<br />

para os pesquisa<strong>do</strong>res da Península Ibérica medieval esta longe de chegar ao<br />

seu fim.<br />

Alguns manuscritos em galego-português foram seleciona<strong>do</strong>s como<br />

versões da Crônica de 1344, um da Biblioteca da Academia das Ciências de<br />

Lisboa, um da Biblioteca Nacional de Paris e três castelhanos da Biblioteca<br />

Real de Madrid. Foi através da analise conjunta destes códices que Luís Filipe<br />

Lindley Cintra realizou a sua edição e publicação da Crônica Geral de Espanha<br />

que é a utilizada como fonte em nossa pesquisa. É importante relatar que tal<br />

esforço pôde apenas levar a uma aproximação da segunda refundição da obra<br />

de fins <strong>do</strong> século XIV, estan<strong>do</strong> assim a primeira versão de 1344 perdida para<br />

nossos tempos até este momento. 42<br />

O primeiro debate, e um <strong>do</strong>s mais importantes, que cercou a “nova” obra<br />

foi com relação a suas origens. Desde Menendez Pidal, com exceção de José<br />

de Bragança, to<strong>do</strong>s partiam <strong>do</strong> princípio mais plausível de que a obra teria si<strong>do</strong><br />

redigida em castelhano na Espanha seguin<strong>do</strong> a linha criada por Afonso, o<br />

Sábio, e definin<strong>do</strong> o manuscrito da Biblioteca da Academia de Ciências de<br />

Lisboa como uma tradução ordenada por D. Diniz. 43<br />

Porém Cintra irá comprovar uma nova visão para esse debate: a<br />

hipótese da Crônica de 1344 ter si<strong>do</strong> redigida em português. Tal idéia já havia<br />

si<strong>do</strong> defendida por José de Bragança em um artigo intitula<strong>do</strong> “É portuguesa a<br />

Crônica Geral de Espanha de 1344” publica<strong>do</strong> em 1935. Bragança baseava<br />

41 CINTRA, Luís F. Lindley, Crônica geral de Espanha de 1344 / edição crítica <strong>do</strong> texto português por<br />

Luís Filipe Lindley Cintra. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1951-1961, p. 13<br />

42 Ibid, p. 18<br />

43 Ibid, p. 42<br />

26


seu argumento em certas partes <strong>do</strong> texto em que discorda das obras de Afonso<br />

X em senti<strong>do</strong> favorável a Portugal, e de “certas particularidades da lista de reis<br />

go<strong>do</strong>s e de reis de Leão e de Castela que nesse texto precede imediatamente<br />

a menção da data em que a Crônica se redigiu.” 44 Em tal lista se nota uma<br />

contagem <strong>do</strong>s reis de Castela e de to<strong>do</strong>s os reis de Portugal até o tempo de<br />

Afonso IV. Entretanto não havia uma contagem <strong>do</strong>s reis de Navarra e de<br />

Aragão, outros <strong>do</strong>is reinos de grande importância na Península Ibérica. É na<br />

elevação da importância dada a contagem <strong>do</strong>s reis de Portugal que se nota a<br />

parcialidade <strong>do</strong> autor. 45<br />

Cintra por sua vez irá realizar uma extensa análise “palavra por palavra”<br />

gramatical pelo texto, selecionan<strong>do</strong> diversos trechos onde se nota erros de<br />

redação que apontam para erros de tradução, como a “ultracorreção”, onde o<br />

tradutor corrige uma palavra que já estava certa; ou erros onde aparecem<br />

palavras ou frases sem senti<strong>do</strong> ou de senti<strong>do</strong> obviamente adultera<strong>do</strong>, marcas<br />

de uma má compreensão de partes de um texto que se quer traduzir; ou<br />

mesmo o aparecimento de formas caracteristicamente galego-portuguesas.<br />

Além da análise restrita a redação da obra, o filólogo também se baseia<br />

em evidências contextuais, partes <strong>do</strong> texto onde o autor demonstra um<br />

interesse particular pela história portuguesa e certa preocupação em defender<br />

qualidades ou personagens portugueses. Nesse senti<strong>do</strong> os argumentos de<br />

Cintra convergem com os de Bragança e demonstram uma série de trechos<br />

onde se nota tal parcialidade. Um <strong>do</strong>s quais seria o episódio da prisão de<br />

Afonso Henriques em Badajoz: Segun<strong>do</strong> a Primeira Crônica Geral (Baseada no<br />

Toledano) ao fugir das hostes de Fernan<strong>do</strong> II de Leão o rei português quebrou<br />

a perna no ferrolho de uma porta, é preso e oferece o seu reino e a sua pessoa<br />

ao rei leonês reconhecen<strong>do</strong> as culpas que Fernan<strong>do</strong> lhe atribuía. Este aceitou<br />

apenas o que achou justo e libertou Afonso para voltar para Portugal. Porém o<br />

rei português nunca mais pôde cavalgar graças ao ferimento na perna 46 .<br />

O acontecimento é narra<strong>do</strong> de maneira semelhante na Crônica de 1344,<br />

porém alguns detalhes chamam a atenção: Ao narrar as causas <strong>do</strong> ferimento<br />

na perna de Afonso Henríquez afirma que isto teria aconteci<strong>do</strong> “quan<strong>do</strong> ‘aquele<br />

44 Ibid, p. 45<br />

45 Ibid, p. 89<br />

46 Ibid, p. 90<br />

27


que era o mais valente e esforça<strong>do</strong> cavaleiro que se podia saber’ avançava<br />

para atacar o inimigo”; ao ser captura<strong>do</strong> a proposta que faz a Fernan<strong>do</strong> II<br />

mostra também uma diferença, a condição de que voltaria para se curar <strong>do</strong><br />

ferimento em Portugal e que, assim que estivesse apto a cavalgar novamente,<br />

retornaria a Leão para se entregar a prisão. Teria si<strong>do</strong> então, segun<strong>do</strong> a<br />

Crônica Geral de Espanha, por esse motivo que Afonso Henriques nunca mais<br />

iria cavalgar. 47<br />

Estes detalhes nos evidenciam uma versão nitidamente favorável ao rei<br />

de Portugal, que não tem sua figura heróica danificada como poderia parecer<br />

na Primeira Crônica Geral 48 . O exemplo cita<strong>do</strong> acima faz parte de um conjunto<br />

de informações adicionais possíveis de serem encontradas segun<strong>do</strong> toda a<br />

narração da Crônica de 1344, e todas elas demonstram um favorecimento ao<br />

la<strong>do</strong> português, seja para eximir seus personagens de qualquer culpa, para<br />

legitimar suas ações ou mesmo para ampliar sua importância.<br />

Após argumentar, apontan<strong>do</strong> para Portugal como a mais provável<br />

origem da Crônica, Cintra irá desenvolver sua teoria apontan<strong>do</strong> a autoria de tal<br />

obra a Pedro Afonso Conde de Barcelos. Através de uma análise da obra em si<br />

em conjunto com outra obra já relacionada ao conde, o Livro de Linhagens, o<br />

filólogo irá trazer uma série de evidências para sustentar sua idéia: em primeiro<br />

lugar aponta<strong>do</strong> à semelhança na seleção das fontes utilizadas para a redação<br />

das duas obras, em especial a utilização comum da Crônica <strong>do</strong> Mouro Rasis.<br />

Tal texto teve o seu original em árabe traduzi<strong>do</strong> para o português por ordem <strong>do</strong><br />

pai de Pedro Afonso, o rei D. Dinis, de mo<strong>do</strong> que dificilmente o conde não teria<br />

ti<strong>do</strong> conhecimento dessa importante tradução.<br />

Outro ponto é o inicio da primeira redação da Crônica Geral onde se<br />

nota uma genealogia universal e na inclusão, em toda a obra, de breves<br />

noticias de caráter genealógico, evidencian<strong>do</strong> o interesse <strong>do</strong> autor pela<br />

genealogia, interesse o qual Pedro Afonso demonstra no seu Livro de<br />

Linhagens.<br />

Em seguida o historia<strong>do</strong>r emprega a biografia <strong>do</strong> Conde de Barcelos<br />

para fornecer mais evidências: a estadia na Espanha, durante o exílio, tê-lo-ia<br />

posto em contato com os letra<strong>do</strong>s castelhanos que seguiam o méto<strong>do</strong><br />

47 Ibid.<br />

48 Ibid.<br />

28


historiográfico de Afonso X e que iam refundin<strong>do</strong> ou continuan<strong>do</strong> a Primeira<br />

Crônica Geral pon<strong>do</strong> ao seu alcance as fontes castelhanas que o conde teria<br />

usa<strong>do</strong> na redação da Crônica de 1344. Mais adiante, por volta de 1344, a<br />

situação privilegiada e a calma que dispunha necessários para dedicar-se a<br />

este tipo de empreendimento, além de sua atividade literária, de que são<br />

testemunhos a composição de alguma cantigas, a provável organização de<br />

uma coletânea de poesias e a compilação <strong>do</strong> Livro de Linhagens tornam o<br />

Conde de Barcelos a “pessoa mais indicada, no Portugal <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> quartel<br />

<strong>do</strong> século XIV, para a realização deste empreendimento”. 49<br />

O fato de a Crônica mostrar um notável grau de detalhes no que<br />

concerne à vida <strong>do</strong> conde e às situações que este esteve presente, toman<strong>do</strong><br />

sempre uma posição de justifica<strong>do</strong>ra ou legitima<strong>do</strong>ra das ações deste em<br />

momentos importantes de sua vida, como o seu posicionamento durante a<br />

Guerra Civil, apenas en<strong>do</strong>ssa a teoria de Cintra aumentan<strong>do</strong> a possibilidade de<br />

que Pedro Afonso seja, de fato, o autor a um grau suficiente para que minha<br />

pesquisa assuma a teoria como a mais plausível.<br />

E é a partir de tais idéias que podemos iniciar uma análise da Crônica<br />

Geral de Espanha, delinean<strong>do</strong> as evidências que o século de Pedro Afonso<br />

refletirá através de seus escritos.<br />

Primeiramente cabe evidenciar como a lenda de El Cid se encaixa em tal<br />

momento literário, sen<strong>do</strong> o herói, um exemplo de virtude e de capacidade<br />

bélica, um verdadeiro modelo <strong>do</strong> novo cavaleiro que aspiravam ser os jovens<br />

aristocratas. Por muitas vezes a Crônica elogia a habilidade de Rodrigo, seja<br />

durante as diversas batalhas ou ao lidar com outros nobres.<br />

É interessante, também, apontar que diferente de outras obras<br />

posteriores como o próprio Cantar de Mio Cid, Pedro Afonso não demonstra<br />

grande embaraço ao tratar das varias alianças que El Cid teria feito com os<br />

mouros. Muitas vezes esses são mostra<strong>do</strong>s como alia<strong>do</strong>s, companheiros e<br />

amigos. Entretanto não se deve cair no erro de crer que o autor teria retrata<strong>do</strong><br />

Rodrigo Diaz como um servo ou vassalo de reis mouros, o que poderia estar<br />

mais próximo da realidade, mas como um senhor. Isto pode ser nota<strong>do</strong> com o<br />

exemplo <strong>do</strong> episódio onde ao ver o castelo de Almenar cerca<strong>do</strong> por tropas <strong>do</strong><br />

49 Ibid. p. 189<br />

29


ei de Denya e <strong>do</strong> conde Reymond, Rodrigo vai até o rei de Saragoça, seu<br />

alia<strong>do</strong>,<br />

E elle recebeuho muy bem e diselhe que Jidassem cõ aquella hoste<br />

que tiinha cerca<strong>do</strong> o castello. E o Cide lhe disse:<br />

- Melhor seeria que desses alguũ aver a teu irmãao / e que<br />

descerque o castelo, ca elles som tantos como as areas <strong>do</strong> mar e nõ<br />

poderemos cõ elles<br />

E el rei disse ao Cide:<br />

- Farey o que me tu mandares. 50<br />

Embora a Crônica Geral de Espanha cite o campea<strong>do</strong>r como “honra<strong>do</strong> e<br />

temi<strong>do</strong> tanto por mouros como cristãos”, esta também diz que to<strong>do</strong> mouro,<br />

quan<strong>do</strong> se encontra com o Cid perde sua coragem, e sente suas pernas<br />

tremerem, não importan<strong>do</strong> quem fosse. Como quan<strong>do</strong> o sultão da Pérsia<br />

manda um emissário para presentear Rodrigo, e este ao vê-lo sofre da mesma<br />

sina que to<strong>do</strong>s os mouros quan<strong>do</strong> se encontram com o cavaleiro pela primeira<br />

vez.<br />

E ha hũa muy grande virtude ẽ sua catadura, ca to<strong>do</strong> o mouro,<br />

quã<strong>do</strong> o primeiramẽte vee toma tal me<strong>do</strong> que fica fora de seu<br />

acor<strong>do</strong>. E esto vejo eu em cada hũu dia que, quan<strong>do</strong> algũus<br />

messejeiros vẽe a elle, primeiramẽte que lhe falem ficam esmori<strong>do</strong>s<br />

de tal guisa que nom sabem de si parte 51<br />

Vale apontar que a razão para o sultão enviar presentes para o Cid teria<br />

si<strong>do</strong> pelo me<strong>do</strong> que ele sentia que o nobre cavaleiro se juntasse com os outros<br />

reinos cristãos e participasse de uma cruzada em seus territórios.<br />

É importante, também, citar o episódio que após ser desterra<strong>do</strong> pro<br />

Sancho, este volta atrás na sua decisão e manda buscarem Rodrigo e<br />

passarem o seu perdão. Após receber as novas, o campea<strong>do</strong>r se junta com<br />

outros cavaleiros de seu séqüito e pede conselho se deveria voltar para um rei<br />

que não sabia se podia confiar. Neste momento um deles afirma que “melhor<br />

era de ficar com el rei enna terra e servyr a Deus ca servir aos mouros”. 52<br />

Essas características apontadas por Pedro Afonso evidenciam os<br />

resquícios que permaneceram da mentalidade de cruzada que permeou toda a<br />

50 Ibid, 3 v. p. 447<br />

51 Ibid, 4 v. p. 167<br />

52 Ibid, 3 v, p 380<br />

30


Reconquista. Ora, apesar de a ultima ofensiva de grande destaque <strong>do</strong>s mouros<br />

ter chega<strong>do</strong> ao fim na Batalha de Sala<strong>do</strong>, esta não foi vencida sem seus custos<br />

e para os nobres e cavaleiros ibéricos era uma prova de que os mouros ainda<br />

eram uma ameaça. Por outro la<strong>do</strong>, a Reconquista desempenhou um papel de<br />

grande importância no desenvolvimento <strong>do</strong>s reinos da Península Ibérica e tal<br />

processo não seria encerra<strong>do</strong> de maneira tão súbita.<br />

Tal ponto leva a segunda característica mais marcante deste Rodrigo<br />

Diaz, sua religiosidade. Sempre, antes de cada batalha, o cavaleiro se volta<br />

para Deus confian<strong>do</strong> na Sua proteção e ajuda para conquistar a vitória. Além<br />

disso, notam-se passagens em que o herói grita por nomes de santos como<br />

São Tiago, durante a batalha, desafia os “deuses falsos” <strong>do</strong>s muçulmanos,<br />

recebe uma benção de São Lazaro, ajuda divina para afundar embarcações<br />

inimigas 53 ou até mesmo a visita que São Pedro teria feito a El Cid para avisá-<br />

lo de sua morte 54 .<br />

Entretanto para Pedro Afonso tal proximidade <strong>do</strong> cavaleiro com a religião<br />

católica não significa um afastamento <strong>do</strong>s mouros e, por exemplo, ao abordar<br />

<strong>do</strong> governo de Cid em Valência, este é retrata<strong>do</strong> como um governante tolerante<br />

que respeita a cultura islâmica e permite que mantenham suas mesquitas na<br />

cidade.<br />

A conquista de Valencia é outro ponto de destaque <strong>do</strong> autor, separan<strong>do</strong><br />

vinte e sete capítulos para narrar desde a morte <strong>do</strong> rei de Valência, até a<br />

condenação de seu assassino, o alcaide Abemafa, após a conquista da cidade<br />

pelo campea<strong>do</strong>r. Alias, foi, segun<strong>do</strong> Pedro Afonso, ao saber que o alcaide tinha<br />

toma<strong>do</strong> o lugar <strong>do</strong> rei da cidade e ordena<strong>do</strong> a sua execução que Rodrigo teria<br />

toma<strong>do</strong> como meta, a sua tomada e a punição de Abemafa pela sua traição.<br />

Após uma longa e dispendiosa batalha o cavaleiro finalmente consegue<br />

a rendição da cidade. A narrativa da reconquista de Valência oferece mais<br />

elogios ao cavaleiro, mostran<strong>do</strong>-o, novamente como hábil, seja na batalha, seja<br />

nos ardis cria<strong>do</strong>s para derrotar seus inimigos, e, principalmente como justo:<br />

depois da rendição Abemafa tenta ganhar a amizade <strong>do</strong> campea<strong>do</strong>r através de<br />

presentes, mas falha uma vez que este recusa a oferenda sob a suspeita de<br />

53 Ibid, 4 v. p. 75<br />

54 Ibid, p. 174<br />

31


terem si<strong>do</strong> rouba<strong>do</strong>s <strong>do</strong> rei deposto; El Cid respeita as tradições da população<br />

e oferece o trai<strong>do</strong>r para ser julga<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> as suas leis.<br />

Após tomar o poder Cid fez um pronunciamento:<br />

Homẽe bõos de Vallẽça e de Juballa, bẽ sabedes quanta ajuda<br />

defendimento eu fiz sempre a vosso senhor el rei e a vos ataa que<br />

foy morto e despois como o vĩguey, vos o sabedes. E passey muyta<br />

lazeira por guaanhar Vallença e prougue a Deus de dar a mỹ e aos<br />

meus e me fazer senhor dells, reservan<strong>do</strong> o senhoria real del rei <strong>do</strong>m<br />

Affonso de Castella, cujo vassalo eu som. E, pois me Deus fez tãta<br />

mercee de a meter ẽ meu poder e vos to<strong>do</strong>s outrossi, porẽ tenho por<br />

ben que to<strong>do</strong>llos mais honrra<strong>do</strong>s de vos moredes ẽ vossas casas e<br />

ajades vossas herdade e que nẽ hũu de vos nõ tenha se nõ hũa<br />

besta muar e que nõ husedes d’armas nẽ as tenhades se nõ quan<strong>do</strong><br />

eu mandar; e toda a outra gente quero que se saya da villa e vaasse<br />

morar ao arreval<strong>do</strong>; e que ajades vossos alcaides e alguazil, assy<br />

como vos ey posto, e que me dedes o dizimo <strong>do</strong>s fruitos, e a justiça<br />

que seja minha e que eu mande lavrar moeda qual eu quiser. E os<br />

que quiserdes ficar cõmigo a esta condiçõ, fiquẽ e os que nõ, vãasse<br />

com seus corpos e eu os mandarei poer ẽ salvo. 55<br />

Apesar de mostrar certa compaixão aos mora<strong>do</strong>res da cidade tomada –<br />

Cid oferece até levar para fora <strong>do</strong>s territórios com segurança, aqueles que<br />

discordassem – muitos mouros acabam aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> a cidade, tanto que foi<br />

necessário <strong>do</strong>is dias para to<strong>do</strong>s saírem da cidade, segun<strong>do</strong> Pedro Afonso.<br />

Entretanto o aspecto mais destaca<strong>do</strong> nesta leitura <strong>do</strong> herói e a fidelidade<br />

constante que o cavaleiro oferece ao seu rei. Mesmo sen<strong>do</strong> muitas vezes alvo<br />

de difamações mentirosas de outros nobres invejosos – que são sempre os<br />

motivos aponta<strong>do</strong>s pela Crônica para os desentendimentos com o rei – Rodrigo<br />

jamais deixa de apresentar sua fidelidade ao rei: em todas as vitórias que<br />

consegue guarda partes <strong>do</strong>s espólios para oferecer como presente ao mesmo;<br />

assim que conquista Valência, se dirige ao rei para oferecer sua vassalagem e<br />

a da cidade; recompensa seus inimigos quan<strong>do</strong> estes demonstram a mesma<br />

lealdade – chegan<strong>do</strong> a liberar os cavaleiros captura<strong>do</strong>s em uma batalha contra<br />

o Conde de Barcelona quan<strong>do</strong> este se oferece para o cativeiro em troca de<br />

seus companheiros 56 – e sempre afirma que o que o seu rei desejar ele o fará.<br />

Tanto El Cid faz que por fim seu monarca reconhece o grande valor que o<br />

cavaleiro possuía e se desculpa pelo engano causa<strong>do</strong> pelo mau<br />

aconselhamento que estava receben<strong>do</strong> – <strong>do</strong>s nobres “covardes” que a Crônica<br />

55 Ibid, p. 98<br />

56 Ibid, p. 51<br />

32


aponta como os conselheiros <strong>do</strong> rei – bem como apóia Rodrigo em to<strong>do</strong>s os<br />

conflitos subseqüentes, principalmente no que concerne ao incidente com os<br />

Infantes de Carrión.<br />

Esse acontecimento merece um grande destaque e uma análise<br />

individual. Apesar de já ter si<strong>do</strong> contesta<strong>do</strong> pela historiografia atual, a<br />

passagem que conta <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is irmãos de linhagem alta que se oferecem para<br />

desposar as filha de El Cid e que depois por uma vingança mal embasada, 57<br />

as despiram e espancaram até darem-nas como mortas, recebe uma grande<br />

atenção <strong>do</strong> nosso autor sen<strong>do</strong> reservadas quase um terço de toda a narrativa<br />

em que o autor fala da vida <strong>do</strong> herói.<br />

Este grande destaque ofereci<strong>do</strong> por Pedro Afonso pode encontrar uma<br />

explicação na diferenciação que tal episódio faz da antiga nobreza de sua irmã<br />

mais atual. A primeira representada pelos Infantes de Carrión, que basea<strong>do</strong>s<br />

apenas por sua forte ascendência se mostram, malignos e cruéis e por seus<br />

atos acabam por levar a sua casa ao esquecimento – o autor revela que após a<br />

morte <strong>do</strong> ultimo descendente a casa <strong>do</strong>s Carrión chegou ao fim. Enquanto, por<br />

outro la<strong>do</strong>, representada pelo Cid, a nova nobreza se assenta nos seus atos e<br />

serviços para com seu rei, e, mesmo não poden<strong>do</strong> ostentar origens muito altas<br />

podem, alcançar o prestígio. Através de sua lealdade constante e grande<br />

serviço, durante este conflito alcança mais prestígio que qualquer outro nobre<br />

da corte de Afonso VI, poden<strong>do</strong> sentar ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rei, mesmo com a tentativa<br />

de outros nobres para impedir. 58<br />

57 Na versão da Crônica de 1344 o motivo teria si<strong>do</strong> uma noite onde o leão de Rodrigo teria<br />

escapa<strong>do</strong> e ao se aproximar <strong>do</strong>s infantes estes mostraram grande covardia enquanto que o<br />

campea<strong>do</strong>r ao ver o leão o controlou e levou de volta a sua jaula. Para os infantes isto teria<br />

si<strong>do</strong> uma tentativa de seu sogro para humilhá-los. Ibid, p. 118-120<br />

58 Ibid, p 142.<br />

33


5. Conclusão<br />

Portanto chegamos a um perfil deste cavaleiro segun<strong>do</strong> Pedro Afonso e<br />

podemos defini-lo: um homem com grande habilidade em armas, capacidade<br />

diplomática para evitar uma guerra ou enganar o inimigo; um fiel fervoroso, que<br />

enfatiza sua fé seja em momentos de perigo ou após grandes conquistas, e por<br />

isso recebe bênçãos e aparições de santos; um senhor justo e generoso, que<br />

mesmo ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> traí<strong>do</strong> oferece mercês a quem se redime a ele 59 , e que,<br />

mesmo estan<strong>do</strong> em guerra contra o “deus falso” <strong>do</strong>s mouros, age sempre de<br />

maneira justa e tolerante com suas tradições e costumes; mas acima de tu<strong>do</strong><br />

esse El Cid é um homem leal ao seu rei, em momento algum ele se vira contra<br />

Afonso IV, mesmo após os exílios, em todas as conquistas ele manda<br />

presentes e espólios, faz o seu máximo para obedecê-lo em todas as ordens, e<br />

reflete esta lealdade com to<strong>do</strong>s os outros com que lida, seja recompensan<strong>do</strong>-<br />

os quan<strong>do</strong> estes a demonstram, ou punin<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> estes a traem – como no<br />

caso de Abemafa, razão para El Cid ter toma<strong>do</strong> Valência e puni<strong>do</strong> o assassino.<br />

Através desta lealdade e <strong>do</strong> serviço que oferece ao rei Rodrigo Diaz se<br />

transforma em El Cid e alcança recompensas grandiosas, tanto de seu rei<br />

como <strong>do</strong> próprio Deus.<br />

Ora podemos notar uma clara relação com o tempo <strong>do</strong> Conde de<br />

Barcelos que escrevia após uma Guerra Civil contra seu pai. Por suas<br />

inquirições alguns nobres tomaram em armas e se aliaram a Afonso para depor<br />

o rei D. Dinis. Entretanto ao fim da guerra e com a coroação <strong>do</strong> novo rei, as<br />

inquirições irão voltar e talvez a obra fosse uma tentativa de assentar os<br />

ânimos e ampliar a lealdade <strong>do</strong>s nobres para evitar um novo conflito.<br />

O certo, que me parece ao final desta pesquisa, é que este El Cid de<br />

Pedro Afonso era um exemplo de nobre para ser espelha<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os<br />

outros. Então voltamos à questão: por que El Cid? Por que um cavaleiro<br />

castelhano? Por que não pegar um personagem português para servir de<br />

exemplo?<br />

Para tal pergunta, sinto que não posso oferecer uma resposta exata.<br />

Entretanto levanto três possíveis razões, que se não podem demonstrar as<br />

59 Ibid, 3 v. p. 308<br />

34


causas de fato, com certeza ajudarão a compreendê-las: primeiramente, na<br />

época de Pedro Afonso a lenda de El Cid já havia toma<strong>do</strong> um tamanho<br />

considerável e o cavaleiro mítico já havia si<strong>do</strong> construí<strong>do</strong>. Basta lembrar que o<br />

Poema de mio Cid, grande responsável por fazer da lenda de El Cid o que ela<br />

é hoje, já havia si<strong>do</strong> escrito a mais de um século, pelo menos, e é muito<br />

provável que já tivesse alcança<strong>do</strong> grande notoriedade no século XIV. Não é a<br />

toa que podemos até notar uma série de semelhanças entre o Cid da Crônica<br />

Geral de Espanha, <strong>do</strong> Poema de Mio Cid e da La España del Cid, de Ramón<br />

Menéndez Pidál<br />

Outro ponto importante é lembrar <strong>do</strong> exílio de Pedro Afonso em Castela,<br />

aonde “bebeu” da fonte de Afonso, o sábio, e entrou em contato com os seus<br />

pupilos, para, mais tarde, voltar a Portugal e iniciar a construção de sua<br />

Crônica Geral de Espanha. Ora, durante esta estadia, é certo considerar que o<br />

nobre português tenha entra<strong>do</strong> em contato com a lenda <strong>do</strong> campea<strong>do</strong>r e tenha<br />

nota<strong>do</strong> a sua importância para as obras castelhanas. Podemos considerar<br />

também a importância que este cavaleiro deve ter demonstra<strong>do</strong> nas fontes que<br />

o próprio conde utilizou para escrever sua obra.<br />

Por ultimo podemos relacionar a intenção que o conde demonstra ter, na<br />

sua outra grande obra, o Livro de Linhagens, onde ele demonstra o interesse<br />

em mostrar que to<strong>do</strong>s os nobres são irmãos ou parentes no intuito de fortalecer<br />

a amizade e impedir as guerras. Assim, El Cid seria um herói Ibérico, e não<br />

castelhano, representan<strong>do</strong> a união entre os nobres, e os incentivan<strong>do</strong> a<br />

fortalecer sua lealdade, senso de justiça e piedade.<br />

Através dessa breve análise das interpretações sobre a personagem El<br />

Cid algumas conclusões podem ser levantadas. Por mais insubordina<strong>do</strong>, cruel<br />

ou mesquinho que um herói possa parecer ter si<strong>do</strong> em vida, a construção de<br />

um ideal heróico prevê a omissão de suas ações efetivas que desabonem o<br />

mito. Mesmo entre os primeiros <strong>do</strong>cumentos que falam <strong>do</strong> Cid observa-se, da<br />

parte <strong>do</strong>s autores, certa admiração – com exceção <strong>do</strong>s autores muçulmanos<br />

por razões óbvias. Esse mesmo cavaleiro que lutava para si, que era tão justo,<br />

ou tão cruel, quanto qualquer outro guerreiro de sua época, séculos após sua<br />

morte viraria símbolo de uma pretensa “espanidade”. E apenas por ter si<strong>do</strong> um<br />

excelente guerreiro e estrategista.<br />

35


Além desse caráter santo que podemos notar nos processos de<br />

mitificação de personagens históricos, devemos observar um outro la<strong>do</strong>, o la<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> exemplo: como os heróis são usa<strong>do</strong>s para ensinar. É exatamente em<br />

tempos difíceis que os homens mais buscam heróis em quem se espelhar. O<br />

próprio Ramón Menéndez Pidal, grande pesquisa<strong>do</strong>r que dedicou sua vida às<br />

questões “cidianas”, demonstra isso: seu El Cid, assim como o El Cid <strong>do</strong><br />

Poema de mio Cid, são mais <strong>do</strong> que meramente pessoas de tempos passa<strong>do</strong>s,<br />

eles são professores – ou santos. Eles servem para ensinar e para guiar as<br />

pessoas. Assim, a escrita histórica deixa de ter um papel apenas narrativo, ela<br />

serve para relembrar as pessoas da grandeza passada, seja ela a grandeza de<br />

um homem ou a grandeza de seu próprio país.<br />

36


Referências Bibliográficas<br />

Fonte:<br />

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