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universidade federal do paraná luiz filipe alves guimarães coelho ...

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Já Fletcher utiliza três características para mostrar o El Cid <strong>do</strong> Poema de<br />

mio Cidi como apenas fruto de uma produção literária sem grande<br />

profundidade histórica: em primeiro lugar o fato de Rodrigo ser enfaticamente<br />

castelhano. Durante a primeira parte da obra observa-se que acima de tu<strong>do</strong><br />

Rodrigo sente a perda de “sua terra natal” 13 . Jordi Par<strong>do</strong> Pastor, em seu texto<br />

A Representação <strong>do</strong> Cavaleiro na Épica Espanhola: o Cid Campea<strong>do</strong>r um<br />

Canto de Fronteira, corrobora essa idéia: “A pátria é o que de mais grandioso<br />

existe para o Cid. Tu<strong>do</strong> o que nela se encontra é profundamente ama<strong>do</strong> por<br />

nosso herói, os palácios, as casas, a gente”. 14 Contu<strong>do</strong> esse tipo de relação<br />

patriótica com a terra natal é algo totalmente anacrônico se for atribuí<strong>do</strong> a um<br />

cavaleiro medieval. Principalmente quan<strong>do</strong> este cavaleiro em questão lutou ao<br />

la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s muçulmanos, inclusive contra os seus antigos alia<strong>do</strong>s cristãos, algo<br />

que o Poema nem menciona.<br />

Esse ponto leva à segunda crítica que Fletcher faz ao <strong>do</strong>cumento: El Cid<br />

é mostra<strong>do</strong> como um cristão fervoroso. Mais <strong>do</strong> que um cristão comum, o<br />

Poema mostra o cavaleiro “rezan<strong>do</strong>, invocan<strong>do</strong> São Tiago, receben<strong>do</strong> a graça<br />

de uma visão <strong>do</strong> Arcanjo Gabriel, desejan<strong>do</strong> recuperar Valência para a<br />

cristandade” 15 e etc. As poucas vezes que o Poema menciona as várias<br />

alianças que Rodrigo fez com os muçulmanos, estas são retratadas como<br />

meras estratégias para manipular seus tributários contra outros infiéis.<br />

Por último, a maneira sempre leal ao rei, mesmo que o herói fosse vítima<br />

de injustiça desse mesmo senhor, demonstra outra discrepância com o El Cid<br />

histórico para Fletcher. O Cid histórico não poderia ser mais diferente que este:<br />

o cavaleiro representa na verdade insubordinação para com seu rei. O primeiro<br />

exílio de Rodrigo simboliza sua personalidade independente: após um ataque e<br />

saque feito ao castelo de Gormaz por bandi<strong>do</strong>s vin<strong>do</strong>s das regiões de Tole<strong>do</strong>,<br />

El Cid organiza suas hostes e, sem esperar por ordens reais, invade o reino<br />

muçulmano, saquean<strong>do</strong> e devastan<strong>do</strong> suas terras. Algumas das razões que<br />

talvez tenham leva<strong>do</strong> o cavaleiro a tal impetuosidade seriam as terras próximas<br />

as suas na região e a chance de recebê-las, ou tomá-las, com o ataque. De<br />

qualquer mo<strong>do</strong> tal insubordinação mostra como Rodrigo agia por conta própria<br />

13 Ibid, p 254<br />

14 PASTOR, Jordi P.. A Representação <strong>do</strong> Cavaleiro na épica Espanhola: o Cid Campea<strong>do</strong>r, um Cante<br />

de Fronteira. HTTP: \\www.hottopos.com\rih8\jordi.htm<br />

15 FLETCHER, R. Em busca de El Cid, São Paulo, UNESP 2002, p 255.<br />

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