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LITERATURA BRASILEIRA II - Universidade Castelo Branco

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16<br />

1.2 - A Poesia Romântica Brasileira<br />

Como afi rmamos acima, a produção poética do período<br />

romântico no Brasil acompanhará o percurso<br />

de três momentos distintos nos campos do tema e da<br />

linguagem utilizados: uma primeira geração, preocupada<br />

com a implantação do novo fazer literário<br />

e voltada para a exploração do tema indígena (daí a<br />

alcunha poesia indianista) e da paisagem brasileira<br />

como marcas da nacionalidade a serem confi rmadas<br />

pela escrita lírica, cujos principais nomes seriam<br />

Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães e Porto<br />

Alegre; a segunda, de inspiração no romantismo<br />

egóico de Byron, e responsável pela tradução tropical<br />

do clima do mal-do-século, marcada pela melancolia<br />

no trato de temas como a infância, o amor<br />

impossível, a morte e tédio, presentes nos textos de<br />

poetas como Álvares de Azevedo, Fagundes Varela,<br />

Casimiro de Abreu, Junqueira Freire, Laurindo<br />

Rabelo; e fi nalmente, a terceira geração, também<br />

conhecida como “condoreira”, portadora dos ideais<br />

liberais e abolicionistas da década de 1870, e que<br />

tem em Castro Alves seu maior representante, ladeado<br />

por Sousândrade, poeta mais experimental.<br />

I<br />

No meio das tabas de amenos verdores,<br />

Cercadas de troncos — cobertos de fl ores,<br />

Alteiam-se os tetos d’altiva nação;<br />

São muitos seus fi lhos, nos ânimos fortes,<br />

Temíveis na guerra, que em densas coortes<br />

Assombram das matas a imensa extensão.<br />

São rudos, severos, sedentos de glória,<br />

Já prélios incitam, já cantam vitória,<br />

Já meigos atendem à voz do cantor:<br />

São todos Timbiras, guerreiros valentes!<br />

Seu nome lá voa na boca das gentes,<br />

Condão de prodígios, de glória e terror!<br />

As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,<br />

As armas quebrando, lançando-as ao rio,<br />

O incenso aspiraram dos seus maracás:<br />

Medrosos das guerras que os fortes acendem,<br />

Custosos tributos ignavos lá rendem,<br />

Aos duros guerreiros sujeitos na paz.<br />

No centro da taba se estende um terreiro,<br />

Onde ora se aduna o concílio guerreiro<br />

Da tribo senhora, das tribos servis:<br />

Os velhos sentados praticam d’outrora,<br />

E os moços inquietos, que a festa enamora,<br />

Derramam-se em torno dum índio infeliz.<br />

I- JUCA-PIRAMA<br />

A Poesia Indianista de Gonçalves Dias<br />

Maranhense, Antônio Gonçalves Dias dizia-se descendente<br />

das três raças que compuseram a etnia brasileira<br />

(pai português e mãe cafusa). Estudando em<br />

Coimbra, entra em contato com a obra de Garrett e<br />

Herculano. Ao voltar ao Brasil, aproxima-se do grupo<br />

de Magalhães e consolida sua posição como poeta ao<br />

publicar seus Primeiros Cantos, em 1846, que seriam<br />

seguidos pelos Segundos Cantos e Sextilhas de Frei<br />

Antão, em 1848, e Últimos Cantos, em 1851.<br />

Excepcional poeta lírico, Gonçalves Dias volta-se<br />

para a criação de uma mitologia indígena (como o<br />

faria na prosa José de Alencar), na qual a fi gura do<br />

índio aproxima-se da imagem do bom selvagem preconizada<br />

por Montaigne, Rousseau e Chateaubriand,<br />

deixando de lado, contudo, os confl itos com o colonizador<br />

português, entendido na mesma chave dócil.<br />

Ao lado da temática indianista, também fi guram na<br />

produção do escritor poemas amorosos, ocasionalmente<br />

entrelaçados à preocupação nativista.<br />

Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,<br />

Sua tribo não diz:— de um povo remoto<br />

Descende por certo— dum povo gentil;<br />

Assim lá na Grécia ao escravo insulano<br />

Tornavam distinto do vil muçulmano<br />

As linhas corretas do nobre perfi l.<br />

Por casos de guerra caiu prisioneiro<br />

Nas mãos dos Timbiras: — no extenso terreiro<br />

Assola-se o teto, que o teve em prisão;<br />

Convidam-se as tribos dos seus arredores,<br />

Cuidosos se incubem do vaso das cores,<br />

Dos vários aprestos da honrosa função.<br />

Acerva-se a lenha da vasta fogueira<br />

Entesa-se a corda da embira ligeira,<br />

Adorna-se a maça com penas gentis:<br />

A custo, entre as vagas do povo da aldeia<br />

Caminha o Timbira, que a turba rodeia,<br />

Garboso nas plumas de vário matiz.<br />

Em tanto as mulheres com leda trigança,<br />

Afeitas ao rito da bárbara usança,<br />

O índio já querem cativo acabar:<br />

A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,<br />

Brilhante enduape no corpo lhe cingem,<br />

Sombreia-lhe a fronte gentil canitar,

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