LITERATURA BRASILEIRA II - Universidade Castelo Branco
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Tu que, da liberdade após a guerra,<br />
Foste hasteado dos heróis na lança<br />
Antes te houvessem roto na batalha,<br />
Que servires a um povo de mortalha!...<br />
Fatalidade atroz que a mente esmaga!<br />
Extingue nesta hora o brigue imundo<br />
Ao lado de Castro Alves, aparece na última geração<br />
romântica o nome de Joaquim de Sousa Andrade, ou<br />
Sousândrade, poeta pouco reconhecido à sua época,<br />
dada a carga de originalidade. Ambientado com o<br />
1.3 - A Prosa Narrativa<br />
Além das tardias incursões de Basílio da Gama e<br />
Santa Rita Durão no campo da epopéia, ao fi nal do<br />
Arcadismo, nossas letras não conheciam ainda uma<br />
expressão signifi cativa do gênero narrativo. Será no<br />
contexto do Romantismo que os leitores brasileiros<br />
verão afl orar o romance como principal modelo literário<br />
que, trazido à publicação em meio ao fl orescer<br />
do sentimento de nacionalidade, fi nalmente autorizado<br />
pelo processo da independência, fertilizará nossa<br />
narrativa. O primeiro romance brasileiro a ser publicado<br />
foi O Filho do Pescador, de Teixeira e Sousa,<br />
em 1843. No entanto, serão outros nomes que irão se<br />
destacar, publicando os textos que compõem o principal<br />
legado romântico para nossa prosa de fi cção: Joaquim<br />
Manuel de Macedo, responsável por narrativas<br />
que tentavam registrar, ainda de forma algo edulcorada,<br />
os modos e costumes da corte, como em A Moreninha,<br />
O Moço Loiro, A Luneta Mágica; Bernardo<br />
Guimarães e Visconde de Taunay, que dedicarão<br />
seus escritos à pintura da vida interiorana, regional,<br />
escondida pelos sertões e fazendas, e no caso do segundo,<br />
dedicando especial atenção ao falar brasileiro;<br />
Manuel Antônio de Almeida, jovem escritor cujo<br />
único romance, Memórias de um sargento de milícias<br />
(1853-55), revela uma veia satírica, de certo realismo<br />
grotesco, destinada a tratar com humor o tema do<br />
anti-herói, incomum até então entre nossos principais<br />
autores. No entanto, o grande nome de nossa prosa<br />
fi ccional, responsável pelos romances mais justamente<br />
destinados à construção literária da identidade brasileira,<br />
projeto consciente de seu autor, encontra-se na<br />
fi gura de José de Alencar.<br />
Nascido em Mecejana, Ceará, Alencar construiu<br />
uma importante carreira pública e política tanto<br />
em sua terra natal, como deputado, como na Corte,<br />
ao atuar no Ministério da Justiça, conservador.<br />
Notoriamente ambíguo em suas posições (até retrógradas,<br />
como em face do problema da escravidão),<br />
o escritor acabou por se afastar da vida política,<br />
ressentido com o Imperador Pedro <strong>II</strong>, por não ter<br />
O trilho que Colombo abriu nas vagas,<br />
Como um íris no pélago profundo!<br />
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga<br />
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!<br />
Andrada! arranca esse pendão dos ares!<br />
Colombo! fecha a porta dos teus mares!<br />
ambiente capitalista da Europa e dos Estados Unidos,<br />
por onde viajou longamente, o poeta era atento às técnicas<br />
de composição, com arranjos sonoros ousados,<br />
plurilingüismo, inovações sintáticas e verbais.<br />
sido indicado por este para o Senado. Como escritor,<br />
José de Alencar notabiliza-se não apenas pela<br />
vasta produção, entre numerosos romances, algumas<br />
peças de teatro, crônicas, ensaios, biografi a e<br />
doutrina política, mas também pelas polêmicas em<br />
que se envolveu, como o embate público com Gonçalves<br />
de Magalhães, em torno da Confederação<br />
dos Tamoios, com a censura a As Asas de um Anjo<br />
e a Lucíola, e com os puristas lusófi los, por conta<br />
de suas inovações lingüísticas nos textos literários,<br />
rompendo os padrões gramaticais portugueses, em<br />
prol de uma linguagem brasileira.<br />
De modo geral, a obra romanesca de Alencar pode<br />
ser subdividida em romances, listando aqui os mais<br />
importantes, indianistas: O Guarani (1857), Iracema<br />
(65), Ubirajara (74), nos quais o escritor dedicou-se<br />
a fazer da fi gura do índio o elemento protagonista<br />
como herói nacional, bem como do casal<br />
mestiço, nos dois primeiros, a matriz primordial para<br />
o surgimento da raça brasileira; urbanos: Cinco Minutos<br />
(1860), Lucíola (62), A Pata da Gazela (70),<br />
Senhora (75), em que, além de apresentar, numa tentativa<br />
inicial de realismo, os hábitos e costumes da<br />
cidade do Rio de Janeiro e traçar perfi s de mulher em<br />
personagens femininas de intensa reverberação até<br />
hoje, traz novamente uma certa inspiração francesa<br />
através do molde do melodrama (mais assumido em<br />
seus textos teatrais) na construção das tramas; regionalistas:<br />
O Gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (71),<br />
Til (72), O Sertanejo (75), marcados pelo anseio de<br />
registro das diversidades culturais que o vasto país<br />
apresentava; e históricos, afi nados com a tendência<br />
nacionalista e romântica de preservar a memória da<br />
nação, fortalecendo o projeto de construção fi ccional<br />
da identidade brasileira, através dessa vez, do relato<br />
de passagens importantes da história: As Minas de<br />
Prata (1862), A Guerra dos Mascates (73). Segue,<br />
adiante, uma das mais famosas cenas de Iracema,<br />
que registra o idílico encontro da jovem indígena<br />
com o colonizador português Martim.