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LITERATURA BRASILEIRA II - Universidade Castelo Branco

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18<br />

Já sem maracás;<br />

E os meigos cantores,<br />

Servindo a senhores,<br />

Que vinham traidores,<br />

Com mostras de paz.<br />

Aos golpes do imigo,<br />

Meu último amigo,<br />

Sem lar, sem abrigo<br />

Caiu junto a mi!<br />

Com plácido rosto,<br />

Sereno e composto,<br />

O acerbo desgosto<br />

Comigo sofri.<br />

Meu pai a meu lado<br />

Já cego e quebrado,<br />

De penas ralado,<br />

Firmava-se em mi:<br />

Nós ambos, mesquinhos,<br />

Por ínvios caminhos,<br />

Cobertos d’espinhos<br />

Chegamos aqui!<br />

O velho no entanto<br />

Sofrendo já tanto<br />

De fome e quebranto,<br />

Só qu’ria morrer!<br />

Não mais me contenho,<br />

Nas matas me embrenho,<br />

Das frechas que tenho<br />

Me quero valer.<br />

Então, forasteiro,<br />

Caí prisioneiro<br />

Neste longo poema, cujo fragmento está extraído de<br />

Os Timbiras, unanimemente elogiado pela crítica quanto<br />

à riqueza dos processos estilísticos, conta-se a história<br />

do guerreiro tupi capturado pelos Timbiras e que<br />

deverá entoar seu canto de morte preparatório para o ri-<br />

Eu vivo sozinha, ninguém me procura!<br />

Acaso feitura<br />

Não sou de Tupá!<br />

Se algum dentre os homens de mim não se esconde:<br />

— “Tu és”, me responde,<br />

“Tu és Marabá!”<br />

— Meus olhos são garços, são cor das safi ras,<br />

— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;<br />

MARABÁ<br />

De um troço guerreiro<br />

Com que me encontrei:<br />

O cru dessossêgo<br />

Do pai fraco e cego,<br />

Enquanto não chego<br />

Qual seja, — dizei!<br />

Eu era o seu guia<br />

Na noite sombria,<br />

A só alegria<br />

Que Deus lhe deixou:<br />

Em mim se apoiava,<br />

Em mim se fi rmava,<br />

Em mim descansava,<br />

Que fi lho lhe sou.<br />

Ao velho coitado<br />

De penas ralado,<br />

Já cego e quebrado,<br />

Que resta? — Morrer.<br />

Enquanto descreve<br />

O giro tão breve<br />

Da vida que teve,<br />

Deixai-me viver!<br />

Não vil, não ignavo,<br />

Mas forte, mas bravo,<br />

Serei vosso escravo:<br />

Aqui virei ter.<br />

Guerreiros, não coro<br />

Do pranto que choro:<br />

Se a vida deploro,<br />

Também sei morrer.<br />

tual canibal. Na seqüência, preocupado com a saúde do<br />

velho pai, Juca Pirama pede pela liberdade, conseguida;<br />

mas, entendido como vergonhoso pela ética guerreira<br />

indígena, o jovem será devolvido pelo pai aos inimigos<br />

e enfrentará dignamente seu destino sacrifi cial.<br />

— Imitam as nuvens de um céu anilado,<br />

— As cores imitam das vagas do mar!<br />

Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:<br />

“Teus olhos são garços”,<br />

Responde anojado, “mas és Marabá:<br />

“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,<br />

“Uns olhos fulgentes,<br />

“Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!”

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