LITERATURA BRASILEIRA II - Universidade Castelo Branco
LITERATURA BRASILEIRA II - Universidade Castelo Branco
LITERATURA BRASILEIRA II - Universidade Castelo Branco
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,<br />
— Da cor das areias batidas do mar;<br />
— As aves mais brancas, as conchas mais puras<br />
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.<br />
Se ainda me escuta meus agros delírios:<br />
— “És alva de lírios”,<br />
Sorrindo responde, “mas és Marabá:<br />
“Quero antes um rosto de jambo corado,<br />
“Um rosto crestado<br />
“Do sol do deserto, não fl or de cajá.”<br />
— Meu colo de leve se encurva engraçado,<br />
— Como hástea pendente do cáctus em fl or;<br />
— Mimosa, indolente, resvalo no prado,<br />
— Como um soluçado suspiro de amor! —<br />
“Eu amo a estatura fl exível, ligeira,<br />
Qual duma palmeira”,<br />
Então me respondem; “tu és Marabá:<br />
“Quero antes o colo da ema orgulhosa,<br />
Que pisa vaidosa,<br />
“Que as fl óreas campinas governa, onde está.”<br />
Já nesse texto, Gonçalves Dias trata do tema da mestiçagem<br />
e da ausência de lugar destinado aos primeiros fi lhos<br />
do intercurso cultural entre indígenas e portugueses.<br />
A Poesia Ultra-Romântica, o “Mal-do-Século”<br />
Liderada por poetas adolescentes, muitos mortos precocemente,<br />
a geração romântica de meados do século<br />
XIX dedicou-se à exploração do intenso subjetivismo na<br />
poesia, desenvolvendo os temas do amor, da morte, da<br />
saudade, da ironia e da dúvida, do tédio e da melancolia,<br />
rompendo, numa atitude estética fi nalmente radical<br />
para o período com tudo aquilo que não remetesse diretamente<br />
aos problemas do “eu”, entidade que por vezes<br />
beira o sagrado. Daí se infere o sufocamento de sensibilidades<br />
juvenis aprisionadas no ambiente burguês da<br />
época. O importante, nos dizeres de Alfredo Bosi (1994:<br />
110), é que “todo um complexo psicológico se articulou<br />
em uma linguagem e em um estilo novo, que se manteve<br />
por quase trinta anos na esfera da história literária e<br />
sobreviveu, esgarçado e anêmico, até hoje, no mundo<br />
da subcultura e das letras provincianas”.<br />
O nome que mais se destaca desta geração encontrase<br />
no paulista Álvares de Azevedo, morto de tuberculose<br />
antes de completar 21 anos, mas que legou uma<br />
obra de incontestável valor literário, composta nos<br />
— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,<br />
— O oiro mais puro não tem seu fulgor;<br />
— As brisas nos bosques de os ver se enamoram<br />
— De os ver tão formosos como um beija-fl or!<br />
Mas eles respondem: “Teus longos cabelos,<br />
“São loiros, são belos,<br />
“Mas são anelados; tu és Marabá:<br />
“Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,<br />
“Cabelos compridos,<br />
“Não cor d’oiro fi no, nem cor d’anajá,”<br />
————<br />
E as doces palavras que eu tinha cá dentro<br />
A quem nas direi?<br />
O ramo d’acácia na fronte de um homem<br />
Jamais cingirei:<br />
Jamais um guerreiro da minha arazóia<br />
Me desprenderá:<br />
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,<br />
Que sou Marabá!<br />
três gêneros literários: Lira dos Vinte Anos (poesia),<br />
A Noite na Taverna (narrativa) e Macário (poema<br />
dramático), para fi carmos com as mais importantes.<br />
SE EU MORRESSE AMANHÃ!<br />
Se eu morresse amanhã, viria ao menos<br />
Fechar meus olhos minha triste irmã;<br />
Minha mãe de saudades morreria<br />
Se eu morresse amanhã!<br />
Quanta glória pressinto em meu futuro!<br />
Que aurora de porvir e que manhã!<br />
Eu perdera chorando essas coroas<br />
Se eu morresse amanhã!<br />
Que sol! que céu azul! que doce n’alva<br />
Acorda a natureza mais louçã!<br />
Não me batera tanto amor no peito<br />
Se eu morresse amanhã!<br />
Mas essa dor da vida que devora<br />
A ânsia de glória, o dolorido afã...<br />
A dor no peito emudecera ao menos<br />
Se eu morresse amanhã!<br />
Poeta “maldito”, herdeiro de Byron, Musset, Heine<br />
e Lamartine, Álvares de Azevedo revela a boêmia<br />
19